Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 39
"Esse vai ser o Dia!"


Notas iniciais do capítulo

Eu deveria postar só no meio da semana, mas esse capítulo está pronto há meses, sim, mais precisamente eu escrevi isso aqui em junho do ano passado...
Assim, vocês tem ideia da ansiedade para postá-lo logo?
Um adendo, uma parte do diálogo entre Gibbs e Jenny na cena em que estão dançando, vem da música Shut Up And Dance do Walk The Moon, que inspirou a cena toda, vale a pena ler a letra e conferir a versão acústica da música!
Não vou dizer muito mais, só que o título fala muita coisa...

""Esse vai ser o dia!" - Foi o Jethro me disse quando eu disse que eu o..." - Jenny conversando com DiNozzo ao telefone no Episódio Hiatus Parte 1.

Se segurem aí e boa leitura!



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JULHO 1999

— Então... temos uma noite de folga, hein? – Ela ronronou em meu ouvido quando notou que eu havia acordado.

— Sim. – Respondi me virando mais na sua direção. – E eu tenho uma ótima ideia onde podemos passá-la. – Agarrei a cintura dela para mostrar o meu intento.

— Sem essa Jethro! Estamos em Paris! PARIS!!! – Ela estendeu os braços para provar o seu ponto. – Pelo menos por algumas horas podemos curtir a cidade....

— Curtir a cidade, Jen? – Eu ainda estava tentando entender o ponto dela, ainda acreditava que ficaríamos bem melhor onde estávamos.

— Sim! E não me olhe assim, dessa vez você não vai me convencer a passar mais um dia na cama com você!  - Ela apontou o dedo na minha direção. - Vamos fazer algo diferente do que apenas fingir sermos um casal em lua-de-mel! Podemos ir a algum bar, casa noturna... 

— Jen, nós passamos os três últimos dias explorando Paris. Tiramos fotos em diversas armadilhas para turistas.... por favor.

— Leroy Jethro Gibbs pedindo por favor? Você deve estar realmente desesperado, hein? – Ela me lançou o sorriso mais malicioso que ela conseguiu.

— Você não faz ideia. – Mais uma vez eu tentei trazê-la na minha direção pela cintura. Não deu certo, mas pelo menos ganhei um beijo.

— Pelo visto temos um impasse. – Ela meneou a cabeça, finalmente ruiva e com os cabelos mais compridos e levantou a sobrancelha na minha direção.

— Sim, temos um impasse. – Eu a respondi. – E não me venha com essa sobrancelha levantada e esse sorriso, Jennifer Shepard, eu sei muito bem que você tem um plano se formando na sua cabeça.

— Quando foi que você ficou fluente em mim, Jethro? Que coisa! – Ela fez o que eu só posso classificar como um beicinho – Mas sim, eu tenho um plano.... posso dizer que é o melhor meio termo que encontraremos. Já que parece que você não anda querendo muito usar o seu cérebro hoje...

— Por Deus, Jenny.... uma noite! – A essa altura eu já estava sentado encostado na cabeceira da cama.

— Vamos dividir a noite em duas. A primeira metade, vamos aonde eu quero... – Ela começou, mas não terminou.

— E a segunda metade? – Perguntei curioso.

— Vai depender se você vai aguentar! – Ela gargalhou na minha cara e correu em direção à cozinha.

— Quantos anos você acha que eu tenho? – Perguntei indignado. – E para o seu governo. Quem não aguenta uma noitada é você! Foi você quem quase morreu de ressaca na Sérvia!

— Olha a semântica da coisa Jethro! – Ela apareceu na porta do quarto, usando a minha camisa do NIS - Eu não “quase morri” de ressaca por conta da noitada. Foi por conta do Bourbon!! Não invente as coisas!

— O fato é que foi você e não eu quem ficou murmurando no banheiro que iria morrer, que estava passando mal. – Constatei lançando a ela o melhor sorriso vencedor que consegui.

— Mas quem foi que reclamou do horário mesmo? E do frio? Se bem me lembro, depois da nossa segunda garrafa, era você quem queria ir embora! Eu estava muito bem lá. – Ela cruzou os braços e se apoiou na porta.

Não respondi nada. E ela interpretou o meu silêncio da maneira que lhe era mais conveniente.

— Ótimo! Vamos sair hoje! E eu sei exatamente aonde vamos. Lembra daquela casa noturna que passamos na porta e tinha uma fila imensa? Então, consegui pesquisar alguma coisa sobre o lugar e você vai adorar!! – Ela caminhou em direção à cama me deu um selinho e saiu dançando em direção à cozinha!

— Eu não disse que concordava com você! – Gritei.

— Nem que não concordava! Agora levanta dessa cama e vem tomar café! Está do jeito que você gosta!

Não esperei que ela chamasse duas vezes. Até porque ela nunca faria isso!

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Tirar Jethro de dentro do nosso mundinho particular era basicamente uma missão impossível. Eu sei exatamente o que ele queria ficar fazendo dentro daquele apartamento, mas eu não podia evitar! Tem algo em Paris que me chama para ficar nas ruas. Que me chama e me diz que eu preciso dividir tudo isso com alguém. Dividir isso com ele. Eu não sei, mas parece que Paris é a nossa cidade. Que é aqui que vamos ser realmente felizes.

Então, depois de convencê-lo muito bem do meu plano. Finalmente conseguimos sair. Ele queria ir de táxi. Mas para que?

— Sério Jethro?! Táxi? Vamos a pé mesmo! Nem é tão longe. E além do mais, poderemos ir beirando o Sena e ver a paisagem.

Ele não disse mais nada, mas vi claramente que ele não tinha gostado! Jethro nada mais é do que uma criança grande que precisa ser recompensada quando está de mau humor ou é obrigado a fazer algo que ele não quer.

— Lembre-se da segunda parte da noite... vai ser só sua... – Sussurrei no ouvido dele e dei um beijo na sua bochecha. O que pareceu animá-lo um pouquinho mais.

Quem olhasse, parecia que realmente estávamos em lua-de-mel. Mas não tanto em sintonia. Não nessa noite, pelo menos. Eu estava empolgada com tudo e qualquer coisa que via. Podia ser o brilho de uma estrela, eu não me importava. Já ele, bem ele era o “marido” mal-humorado sendo arrastado pela “esposa” através das ruas parisienses.

Levamos pouco tempo para chegarmos ao local, seria menos se eu não parasse tanto para tirar tantas fotos, mas era basicamente irresistível. As luzes, a arquitetura, tudo. Tudo pedia, implorava para ser fotografado. E eu só estava cumprindo o desejo da cidade...

— Chegamos!! – Minha empolgação a um nível que eu nunca pensei que poderia ficar novamente. Eu era a caloura na primeira festa da universidade.

Tive que praticamente rebocá-lo para dentro do lugar. Que não era nem de longe tão ruim quanto eu sei que ele estava imaginando que seria.

Sim, era uma casa noturna. Mas não uma que tinha um bando de adolescentes com carteiras de identidades falsas bebendo e vomitando no nosso pé. Era um local onde os casais realmente iam para curtir um ao outro. Claro tinha uma enorme pista de dança, um bar e seu balcão que cobriam toda a parede, mas tinha mesas elegantes espalhadas e um mezanino que era especial.

Passei os olhos pelas bebidas expostas atrás do bar. Para a alegria de Jethro eles tinham bourbon, não somente whiskey. Pedi duas doses. E quando entreguei a dele, tive que encher a sua paciência.

— Viu? Não é tão ruim quanto você pensou.... – Eu sorria genuinamente para ele.

— Você está realmente gostando disso, não está? – Ele me perguntou com um meio sorriso, enquanto levava o copo aos lábios.

— Amando! – eu não tinha outra resposta. Tudo bem que o nosso tempo infiltrados me deixou completamente alheia ao que estava fazendo sucesso, seja na música ou na TV. Eu ainda tinha que me atualizar, e até agora eu não estava lá muito animada com a playlist do DJ. Mas uma hora sempre voltam para o passado, e quando a música certa tocasse, eu não pensaria duas vezes em ir para pista de dança e arrastar Jethro comigo.

Ele pode até não ter gostado muito de ter saído do apartamento, mas parecia estar confortável ali. Escolhemos uma mesa no mezanino e dali, podíamos ver tudo o que acontecia, e, ao mesmo tempo, tínhamos a privacidade necessária.

Foi quando as músicas mudaram e eles resolveram que era uma excelente hora para voltar ao passado. E começaram justamente com a minha favorita.

Eu não pensei no que eu fazia, eu simplesmente agarrei a mão de Jethro e o puxei para a pista de dança.

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Era certo que eu não queria vir, mas até que valeu à pena. Não pelo lugar, ou pela bebida. Valeu à pena por vê-la tão feliz.

Desde o momento em que ela saiu daquele apartamento, seus olhos verdes não deixaram de brilhar um único segundo. Ela realmente ama Paris. Tem algo nessa cidade que simplesmente parece ter esse efeito nela. Tudo o que ela vê, o que ela fotografa parece mil vezes mais importante ou bonito do que realmente é. E assim eu comecei a ver a cidade. Não aquilo que os turistas viam, mas vi a cidade pelos olhos dela, pelas reações dela.

E essa noite não estava sendo diferente. Por todo o caminho ela tirou fotos, eu realmente não sei o que tanto a atraia, mas queria ver o resultado disso tudo, talvez pendurado em uma parede, ou em um porta-retratos ao lado da cabeceira da cama... não sei. Paris parecia ser o lugar mais importante da face da terra para ela, e passou a ser para mim também. Podia jurar que era o nosso lugar.

E então, chegamos à casa noturna que ela escolheu, e não sei por qual motivo eu acabei por me surpreender. Mas é claro que ela não iria a qualquer lugar. Lógico que não. E ela soube escolher bem, como sempre.

Não tínhamos a obrigação de dançar ou de ficar no meio das pessoas, aqui, você poderia escolher. E eu deixei que ela guiasse. E ela nos levou para o lugar mais distante do barulho, um lugar onde poderíamos ficar só nós dois, e esquecer do mundo.

A música fazia só o pano de fundo. Vi que algumas vezes ela tentava reconhecer alguma, mas dava de ombros, nosso tempo isolados na missão estava cobrando o preço. Por fim, Jen parou de se importar com o que estiva tocando e resolveu que era melhor aproveitar. Ficamos nós dois, nossas bebidas e conversas ocasionais, bem de minha parte, pois Jen sabe preencher o silêncio como ninguém, mas também sabe ficar em silêncio, aquele tipo confortável que nós dois às vezes apenas deixamos que aconteça.

E estávamos assim quando a música trocou, das não muito agradáveis novas músicas, fomos transportados para os anos 80. E isso teve um efeito imediato em Jen. Ela se levantou com pressa, agarrou minha mão e me puxou para a pista de dança.

Eu quis protestar. Tinha anos que não dançava. Oito anos para ser mais preciso. Mas isso não pareceu importar para ela.

— Não se atreva a olhar para trás. Apenas mantenha os seus olhos em mim. – Ela disse agarrando ainda mais forte o meu braço quando chegamos bem no meio da pista de dança.

— Jen, dançar não estava....

— Apenas cale a boca e dance comigo, Jethro. Só por hoje.

E, quando vi, ela estava com suas mãos em meus ombros e me olhava, sua boca e seus olhos sorrindo. O sorriso mais lindo que tinha visto.

Instintivamente levei minhas mãos até sua cintura e a mantive ali. Nós dois. Somente nós, em nosso próprio mundo. Um preso no olhar do outro. E foi ali que percebi, eu senti em meu próprio peito, nós dois estávamos destinados a ficar juntos.

Em alguns momentos, ela cantarolava a letra da canção baixinho, tão baixo que se ela não estivesse com a cabeça apoiada em meu ombro eu nem teria notado.

— Você está se controlando. Por que não canta mais alto?

— Shhh Jethro... eu não vou estragar logo essa música. Every Breath You Take é perfeita demais para isso.

E olhando no fundo dos olhos dela, eu acho que vi o futuro. E percebi que ela era a minha última chance de ser feliz. Quando essa missão terminasse, eu realmente veria alguém colocar uma aliança na mão de Jennifer Shepard. Pois eu faria isso.

Não sei o que ela viu em meus olhos, mas um pouco antes da música terminar ela sorriu em minha direção e perguntou:

— O que está na sua cabeça que te fez sorrir desse jeito, Jethro?

— Nada, Jen. Nada. – E eu a girei pela pista apenas para ouvir a sua risada.

— Se é o que você diz...  – Ela se aconchegou a mim e ficamos ali por mais algumas músicas e tenho a certeza de que nenhum de nós dois sabemos dizer quais eram....

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Eu ainda quero saber o que foi o que aconteceu naquela pista de dança. Porque eu não sei explicar... foi diferente de tudo até agora. Tudo.

E eu quero saber o que se passou na cabeça de Jethro, pois, de repente, ele tinha um sorriso imenso nos lábios. Sim, eu o tinha visto sorrir, vários tipos de sorrisos, e posso dizer que sei identificar o que cada um significa. Sim, eu o conheço a esse ponto, agora. Mas aquele sorriso. Aquele eu não pude decifrar. Pois era o mesmo daquela manhã em Londres...

Seria possível, que a esse ponto, um ano e meio depois, ele ainda era capaz de me surpreender?

Saímos da casa noturna não muito tempo depois. Nós dois ainda em uma bolha. Em um mundo particular onde nada, nem ninguém, poderia nos interromper.

Caminhamos lado a lado, sem rumo certo, pela primeira vez com nossas mãos entrelaçadas. Algo mais natural, impossível. Dessa vez, eu deixei minha câmera em minha bolsa. O que eu via, nenhuma imagem seria capaz de capturar com tamanha exatidão.

Quando vi estávamos parados em uma ponte, admirando o Rio Sena. E não era uma ponte qualquer. Era a Pont des Arts. A própria, onde milhares de cadeados estão fechados em suas grades. Cada um fechado contendo uma jura de amor. Quisera eu ter um cadeado ali. Mas se eu não tinha um... talvez eu poderia ter a minha chance.

Eu sabia o que eu sentia por ele, de verdade, desde Marselha. Na verdade, desde Positano, mas só tive a certeza em Marselha. Eu sabia que não tinha mais jeito, pelo menos não para mim. Até hoje eu tinha guardado esse sentimento dentro de mim, eu caí de cabeça nesse relacionamento que começou como um falso casamento, se tornou passional demais, às vezes, até demais. E eu quis isso, e sabia que iria sofrer. Mas não tinha mais jeito. Não depois de como nós dois nos olhamos. De como nós dois dançamos. Nos beijamos.

Talvez tenha sido a história da Ponte. Talvez era só eu mesma querendo dizer em voz alta o que eu já sabia. Mas eu não me contive. Cheguei o mais perto que pude dele, encostei minha cabeça em seu peito e olhei para ele.

Céus, ele é tão lindo!

Ele me olhou, ainda com um sorriso no rosto, acariciou a minha bochecha e colocou uma mexa do meu cabelo atrás de minha orelha. Seus olhos me dizendo o que sua voz não dizia, e eu o ouvi dentro de minha própria cabeça: “O que você está aprontando agora, Jen?” Era o que ele diria.

Ele queria saber.

Eu tinha que falar.

Eu senti o frio na barriga em antecipação.

São só quatro palavras.

Respirei fundo e tomei coragem.

— Jethro, eu te amo.

Eu não esperava nenhuma resposta de volta. Eu sei que ele é confuso com os sentimentos e pior ainda em expressá-los.

Contudo eu não esperava aquela resposta.

Esse vai ser o dia.

Isso me machucou, mas eu sabia desde o início que tudo isso poderia me machucar. Eu soube e aceitei o risco. Eu aceitei sabendo que poderia ter meu coração partido.

Mas eu não pensei que doeria tanto. Uma dor que me tirou o ar. Acho que se eu tomasse um soco na boca do estômago doeria bem menos.

Eu continuei sorrindo, mas somente por fora. Eu não entendi suas palavras. O que será que tinha acontecido?

Tive que lembrar a mim mesma que tudo aquilo era para ser encenado. Era para ser uma mentira.

Mas para mim não era. Não foi. Era real. Sempre seria.

Meu cérebro trabalhava a mil. Eu tentava achar desculpas para o que ele tinha falado.

Era eu a culpada?

Foi cedo demais?

Não tão cedo. Nossa missão terminaria em três dias.

Se eu quisesse algo de verdade, essa era a hora, certo?

Três dias. Eu tinha três dias para aproveitar ao lado dele.

Que mal faria se ele não me amasse do mesmo jeito? Tenho a certeza de que não seríamos mandados para o mesmo lugar. Tenho a certeza de que a nossa parceria terminava aqui, na Cidade das Luzes.

Eu tinha mais três dias ao lado de Jethro. Ele me amando ou não. Era tudo o que me restava. E eu o teria por inteiro. Depois eu me que me virasse para reparar o dano feito. E os meus medos de ter que tomar a decisão errada quanto ao meu futuro não existiam mais.

Era o fim para tudo o que um dia eu pude sonhar em ter de volta.

—------------------

Eu fui pego de surpresa pela declaração de Jen. Eu já tinha percebido há tempos o que ela estava sentindo, mas nunca achei que ela fosse expressar em palavras. Sempre achei que ela fosse que nem eu, que guardava os sentimentos só para si.

Porém ela me surpreendeu.

Ela me amava. E eu já tinha sentido a intensidade desse amor.

———————-

Dois dias. É o que eu tenho. Depois da declaração fracassada na ponte, eu me mantive quieta. Não que eu não tenha aproveitado a parte dois da noite. Sim, eu aproveitei. Tirei dele tudo o que me faria lembrar que um dia eu amei alguém. Que um dia eu fora feliz. Pois eu não sei se seria capaz de amar alguém como eu amo Jethro.

Estava deitada na cama, os acontecimentos dos últimos dias passando pela minha mente. Eu andava tão focada no que dera errado que até o meu corpo começou a sentir a tensão. Eu andava enjoada e com fortes dores de cabeça. E minha vontade era a de me enterrar entre os lençóis e ficar o dia inteiro ali, deitada.

Contudo, eu ainda tinha um dever a cumprir, e o nosso último dia de vigília começava.

———————-

Quarenta e oito horas para o fim. E dentro de setenta e duas eu voltaria a ver minha filha. Estava chegando ao fim uma das maiores missões que eu assumira na vida.

Dessa vez eu voltava para casa com a certeza de que não estava incompleto. Eu estava levando alguém comigo.

————————

A ordem tinha sido dada. Chegara o dia.

E, para que tudo saísse como tínhamos planejado, teríamos que nos separar. Jethro iria acompanhar de longe Zukhov e emboscá-lo no lugar mais discreto possível, já eu esperaria Svetlana em um beco, ela sempre passava por ali sem nenhum segurança e, como eu já tinha visto previamente, tinha uma entrada falsa de uma das muitas portas onde eu poderia esperá-la.

E assim fizemos, prestes de sair, Jethro segurou a porta para mim e antes que eu passasse, ele segurou o meu braço e me virou na sua direção.

— Está tudo bem, Jen? - Seus olhos eram preocupados.

— Sim. - Por mais que eu quisesse eu não conseguia ficar indiferente a ele.

— Tem certeza? Eu ouvi você passando mal hoje, de novo. – Ele destacou a última parte.

— Não é nada, Jethro, pode ficar tranquilo. - Assegurei.

Ele me olhou bem atentamente e me puxou para um beijo, demorado, e se ele não tivesse me respondido daquele jeito, eu até diria cheio de paixão, ao qual eu respondi na hora. Por mais que eu quisesse começar a manter distância, eu não conseguia. Acho que só me mudando para o lado oposto do globo para conseguir ficar distante dele.

— É o fim, Jen, hoje acaba tudo.

Jethro não fazia ideia que, o que ele estava dizendo, era verdade. A mais pura verdade.

————————-

Dizer que eu não estava preocupado com Jen era mentira. Além de saber que essa era a primeira vez que ela tinha que executar alguém a sangue frio, tinha outra coisa me incomodando. Ela vinha passando mal em dias alternados, e seu olhar andava distante. Ela ainda era a mesma Jenny apaixonada de sempre, mas seus olhos eram guardados quando olhavam na minha direção.

Todavia, eu esperava que todas essas preocupações fossem em vão, e que logo que tudo isso terminasse, ela voltaria a ser quem sempre fora.

Pensava nela enquanto seguia Zukhov. Era hora dele pagar.

Ele pagaria por financiar aquelas malditas casas de leilões.

Ele pagaria por cada criança que nunca mais veria sua família.

E pagaria por quase ter matado a Jen na Sérvia.

E foi quando ele entrou no beco. Apressei meus passos, ele não estava nem na metade quando eu o alcancei.

Eu vi que ele havia me reconhecido. Vi o medo nos olhos dele.

— É bom que se lembre de mim. Porque eu sei que você já sabe qual o motivo disso aqui.

Ele engoliu em seco, eu tirei a arma de dentro do casaco. Apontei na cabeça dele.

Ele teve a cara de pau de tentar me comprar.

— Isso é pela Jen. - Falei e puxei o gatilho.

Com o silenciador ninguém ouvira nada. Tornei a esconder a arma, esperaria por Jen no apartamento. Nosso voo partiria no próximo dia bem cedo.

————————

Respirei fundo. Estava tentando conter a náusea que subia pela minha garganta. Com tantos lugares e becos dessa cidade, Svetlana tinha que passar justo no mais podre deles?

Escutei o clicar de saltos. Ela estava vindo.

Me encolhi ainda mais. E, quando ela passou por mim, agarrei seu ombro e a encostei na parede.

Eles dizem que mulheres tem memória eterna. E isso deve ser verdade, pois quando a russa me encarou ela me reconheceu na hora.

— Você?! - não era só surpresa em sua voz. Tinha um leve toque me medo também.

— Olá. - Falei.

— Eu sei o que você quer. Mas por favor, não me mate. - Ela implorou, olhando diretamente nos meus olhos.

A arma estava destravada e meu dedo no gatilho. Foi quando duas coisas aconteceram.

Svetlana continuou implorando, e disse para que eu tivesse pena, misericórdia dela e de seu bebê.

— Bebê? - Minha voz subindo várias oitavas com o que tinha acabado de ouvir.

— Sim. - E Svetlana passou a mão por sua barriga, que já mostrava a gravidez.

Foi aí que a segunda coisa me impediu.

Matar uma mulher a sangue-frio já era ruim o suficiente, mas tirar a vida de um inocente bebê!! Eu jamais poderia fazer algo assim.

Minha arma ainda estava apontada para a testa dela. Firme.

Ela olhava da arma para a barriga e, então, para mim.

Eu vacilei por um instante.

Matar aquele bebê era o mesmo de me igualar a eles.

A mulher viu a indecisão em meus olhos e tornou implorar.

Eu baixei minha arma, mas ainda a mantendo presa ali, apenas disse:

— Se você quiser que seu bebê sobreviva, fuja. Troque de nome e saia disso. Ou vocês dois serão mortos.

Soltei o aperto e a deixei ir.

Fiquei naquele beco por um tempo maior, minha náusea tinha piorado, acabei por vomitar ali.

Como encararia Jethro agora?

Ou melhor, por que eu me importava? Amanhã isso tudo já será passado a essa hora.

Voltei para o apartamento por um caminho muito mais longo do que o necessário. Quando me vi, estava no Trocadero, de frente para a Torre Eiffel, e, ali, desejei que pudesse voltar o tempo e congelá-lo em um dia em que nada disso teria acontecido.

Queria tanto poder voltar naquela véspera de Natal.

Fiquei um tempo admirando a pequena multidão que tirava fotos do monumento, ora fazendo pose sozinhos, ora com quem amavam. Por mais de dez vezes me perguntaram se poderia ser a fotógrafa deles. Respondi que sim e capturei a felicidade das pessoas, pedindo que daqui alguns meses todas elas ainda tivessem os mesmos sorrisos felizes estampados em seus rostos.

Ao chegar no apartamento, já era noite e Jethro me esperava aflito.

— Jen, deu tudo certo? D.C. quer a confirmação das mortes.

— Tudo certo. Pode confirmar. - Falei e rumei para o quarto.

Pude ouvi-lo ligando para o escritório central. Coloquei tudo isso no fundo da minha mente e resolvi tomar um banho.

Quando sai, Jethro ainda estava ao telefone. Acabei de fechar as minhas malas e me deitei.

— Última noite - pensei. E não sei se ficava feliz ou triste com isso.

Ele demorou a aparecer. Quando se deitou depois do banho, me puxou pela cintura e colocou a minha cabeça em seu peito, beijando meus cabelos me disse:

— Essa sensação vai passar, Jen. Eu te prometo.

Apenas meneei a cabeça. Por instinto acabei por abraçá-lo com mais força. Era a minha última noite ao seu lado.

Ele voltaria para D.C., e eu estava partindo para Londres. Um oceano de distância deveria ser suficiente para me fazer esquecê-lo.


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Notas finais do capítulo

Se tem uma única coisa que sempre me deixou com raiva do Gibbs foi ele ter dito "Esse vai ser o Dia!".... ele poderia ter ficado calado, ter feito um monte de coisa, mas ter dito isso... ódio define.
E eu acho que foi essa frase que definiu o futuro da Jenny pós Paris. Por mais que ela amasse o Gibbs, ela não se sentia amada, por isso partiu e o comeback dela foi da melhor forma, voltou sendo CHEFE dele.
Mas eu não vou entrar nisso agora.
Vou deixar os lencinhos e o choro para o próximo capítulo.
Muito obrigada por lerem.
xoxo



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