Carta para você escrita por Carol McGarrett


Capítulo 126
Explicações


Notas iniciais do capítulo

E hoje é o aniversário de dois anos da fic! Foi nesse dia, 19/01/2019 que eu postei o primeiro capítulo e nunca imaginei que chegaria e passaria dos 50 capítulos! E cá estamos nós no de nº 126...
Saindo do momento festa, Jenny quer dar a versão dela sobre os acontecimentos.
Espero que gostem!
Boa leitura!



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Eu escutei a voz da minha filha muito antes de vê-la. E se Sophie estava aqui, Jethro também tinha chegado. Logo fiquei nervosa, afinal, eu sabia que ele esperava por uma explicação, que eu ainda não sabia qual seria.

A enfermeira que me levava de volta ao quarto não teve a menor pressa em empurrar a cadeira, e se o meu braço esquerdo não estivesse em uma tipoia, eu mesma estaria me levando até onde eu podia ouvir que as vozes estavam.

Vi Jethro antes que ele me visse, ele estava conversando com Callen e eu sabia muito bem sobre o que, Hetty tinha me contado um pouco antes tudo o que acontecera. Junto com os dois, Kelly, que não parecia muito feliz com o que o pai havia dito, e me perguntei se um dia ela iria se acostumar que Jethro faz o que ele quer, quando ele quer...

Meu campo de visão se ampliou, e logo pude ver que além dos três próximos à porta do quarto, havia outros ocupantes no corredor. Hanna, Deeks, Hetty e Kensi, que estava sentada no chão, com a boneca de pano no colo conversando com minha filha, que estava de pé em sua frente abraçada com o Mushu.

— Até no meio do hospital, você consegue fazer bagunça, Miniatura? – Fui obrigada a falar, de todas as pessoas de quem senti falta, era Sophie a mais importante.

Parecia que eu a estava vendo em câmera lenta, e pude observar os menores detalhes, desde a forma como ela rapidamente tencionou os músculos ao ouvir a minha voz, até a forma como seus olhos estavam arregalados quando se virou na minha direção. Na mesma hora ela veio correndo até mim, e eu notei como os últimos cinco dias haviam afetado a minha filha. Ela tinha grandes olheiras embaixo do rosto, e eu podia jurar, estava até um pouquinho mais magra. Sophie tinha a péssima mania de não querer se alimentar quando está ansiosa. Por fim, deixei para focar em seus olhos, que hoje, para a minha surpresa, estavam pareados em um tom de verde esmeralda tão forte quanto o meu.

Assim que ela se aproximou de mim, estendi o meu braço direito em sua direção, a convidado para um abraço, que ela não recusou, mas não era o abraço costumeiro, pois ela estava preocupada com o meu bem estar e assim que envolveu o meu pescoço em seus bracinhos, começou a chorar e a falar ao mesmo tempo:

— Mamãe! A senhora está bem? Tá doendo? Eu tô tão aliviada que a senhora esteja viva.... eu tive um monte de pesadelos com a senhora, ainda bem que não foi igual ao que sonhei!! Mas eu fiquei com tanto medo da senhora não voltar para casa!

Eu já a tinha visto assim, quando era Jethro, e não eu, no hospital.

— Xii, Miniatura. Eu estou bem. Agora tudo vai ficar bem. Eu te prometo. – Tentei acalmá-la fazendo pequenos círculos em suas costas.

— Eu não gosto de promessas. – Ela disse, se afastando minimamente de mim e encarando os meus olhos.

— Confie em mim, filha. Tudo vai terminar bem. – Garanti e a puxei para dar um beijo em sua testa. Eu não queria soltá-la, por um momento desejei que ela ainda fosse um bebê para que eu tivesse a desculpa de que ela precisava totalmente de mim e, portanto, era necessário que ela ficasse em meu colo. Afinal, não há no mundo abraço como o de uma filha! Porém, Kelly pediu que Sophie me soltasse, dizendo que eu precisava descansar. E relutantemente, nos soltamos, e logo Sophie desceu do meu colo e começou a ir em direção à Kensi para pegar sua mochila. Acontece que o tom de voz de Kelly não passou despercebido por ninguém, muito menos pela irmã mais nova que, reconhecendo a entonação, apenas soltou, para o desespero de Kelly e o deleite do restante:

— Você está com ciúmes, Kells? Igual você ficou quando eu conheci o Tony?? – Falou encarando a irmã mais velha com um sorriso no rosto.

Me virei bem a tempo de ver Kelly ficar vermelha, e depois, vi a reação da pessoa que chegou do meu lado, Hetty, que sorria abertamente, aquele sorriso que eu já conhecia muito, o que de que ela tinha encontrado o agente perfeito bem diante dos olhos dela.

— Tinham me falado que ela era única, agora vejo o motivo... – Disse-me, e eu li cada uma das nuances que aquela simples frase implicava. Sophie seria o próximo projeto de Hetty, e ela não descansaria até que a tivesse como sua pupila.

— Ela ainda é muito nova para ser treinada por você, Hetty. – Falei enquanto nós duas observávamos Sophie ir até Kensi para guardar as coisas e se despedir, com um abraço e um beijo, não só da agente como de Hanna e Deeks também.

— Nunca é cedo demais. – Hetty comentou e foi além. - E eu sei quem a treina de vez em quando, uma Oficial do Mossad, chamada Ziva David. Se um dia você quiser que ela passe um verão na Califórnia, eu posso ensiná-la uma ou duas coisinhas. – É claro que a famosa Henrietta Lange saberia de tudo, e não duvido que já tinha monitorado até as notas da minha menina. Ao meu lado, vi Kelly com os olhos arregalados de susto. Tudo o que fiz foi sorrir complacente para Hetty, ela entenderia que ainda não era o momento e, se um dia, Sophie realmente virasse uma agente do NCIS, eu queria que fosse por conta dela, não porque foi treinada para isso, como Eli David havia feito com Ziva. Sophie teria a liberdade de escolher, diferentemente do que aconteceu com a israelense.

E como que para encerar a conversa que eu Hetty estávamos tendo, Callen falou.

— Eu sabia... esses agentes estão cada dia mais novos! Aposto que ela pega o meu lugar antes dos doze anos, e aos dezoito vai ser a nova diretora! – Só mesmo ele para soltar uma dessas e distrair a todos. E, antes de voltar para o Escritório, ainda combinou com Jethro o que eles iriam fazer, depois se despediu de mim e de Sophie, indo para o elevador, junto com os demais.

Sem plateia ou testemunhas, era o momento que eu tanto ansiei e tanto temi. Então, tive que lançar mão de uma cartada específica para que o assunto que pairava no ar não fosse comentado perto de Sophie.

— E é claro que você vai se unir a eles para pegar McAllister. – Falei sem encará-lo. E Jethro, na mesma hora, começou a empurrar a minha cadeira e me respondeu de seu modo costumeiro, com outra pergunta:

— Como você sabe quem é?

— Estava em coma, Jethro, não morta. Escutei muita coisa que foi falada perto de mim. – Comentei, fingindo um sorriso e uma confiança que não tinha. E precisei improvisar para conseguir um tempo a sós com ele. – Agora, eu quero saber de uma única coisa... – Ignorei a presença dele ao meu lado e falei para minhas filhas. – Quem vai pegar um sorvete para mim? – Era uma tática boba, Kelly jamais cairia, mas Sophie sim, afinal, ela sabia que acabaria ganhando um também e foi dito e feito, pois logo ela se prontificou a ir, Jethro entregou algum dinheiro para ela e Kelly a seguiu porta afora.

Era agora ou nunca.

— E você, Jethro? Quer me perguntar algo? – Olhei em seus olhos pela primeira vez.

— Sobre o que? – Então ele buscava uma confissão completa minha. Creio que merecia isso.

— Você sabe muito bem, sobre o que...

Jethro se ajeitou na poltrona que estava ao lado do leito do hospital, cotovelos apoiados nos joelhos, rosto a centímetros do meu e olhos indecifráveis.

— Está disposta a se explicar? – Foi tudo o que ele me disse.

— Na verdade, estou disposta a implorar, se for necessário. – E isso era a mais pura das verdades, eu tinha estragado tudo, algo me dizia isso, eu quase joguei a vida que lutei tanto para ter, fora. E, eu não sabia muito bem o motivo, tudo o que eu queria e precisava fazer era me explicar e ter a certeza, a mais absoluta das certezas, de que Jethro me perdoaria por mais essa vez. Assim, sem desviar os meus olhos das orbes azuis claras na minha frente, respirei fundo e comecei:

— Você tem todo o direito de me odiar nesse momento, Jethro. Eu sei o que fiz, e sei que, para você, o como e o porquê jamais serão aceitos, mas quero que me entenda, era necessário, era preciso...

Ele se recostou na cadeira, aumentando a distância entre nós, não gostei do que isso poderia significar, mas tomei a coragem necessária para contar uma verdade que eu só havia dito uma vez, muitos anos atrás.

— Eu precisei fazer isso e aceitar qualquer consequência que viesse a surgir dos meus atos porque... – Eu detestava como, para mim, sempre fora difícil admitir uma fraqueza, um ponto fraco. – eu jamais poderia conviver com a minha consciência se algo te acontecesse por minha culpa, Jethro, eu não saberia como continuar a viver, a criar a nossa filha, sabendo que você não estaria aqui, só porque eu fui fraca em 99, e não consegui cumprir o que me fora ordenado, por minha simples e única culpa. Assim, achei muito mais fácil fazer uso da sua regra 44 e ajeitar tudo o que precisava por mim mesma. – Tentei ler alguma reação em seus olhos, mas eles continuavam guardados, achei, por um mísero segundo que tinha visto a tempestade se formando ali, mas logo ele piscou e não havia nada. - Eu me dispus a morrer para te salvar, porque não posso viver em um mundo onde você não exista, eu já tentei fazer isso uma vez, por seis anos, e falhei miseravelmente. E seria ainda pior, eu teria a nossa filha para criar e olhar para ela e ver tudo o que ela herdou de você, tudo em que ela é exatamente igual a você, só pioraria a situação, só aumentaria a minha culpa e a minha dor... assim, eu encarei a morte de frente, sabendo que estava fazendo a coisa certa. A coisa certa para mim... 

E aqui começava a parte complicada, assim, tomei fôlego e continuei:

— Eu só notei que o ato heroico que eu tentei executar não era tão perfeito assim, quando eu acordei. Dentro daquele restaurante, enquanto eu esperava que o destino me achasse quando as portas se abrissem, eu achei que estava pensando no bem da minha família, quando, na verdade, eu pensava em mim, em meu orgulho, e em evitar que meu coração fosse partido por uma última vez. Eu não pensei nas consequências que a minha morte traria para você, para Kelly, para nossa família do NCIS, para Sophie... – Parei para respirar e olhei para o teto, para a porta, para a janela, pisquei incontáveis vezes para evitar que as lágrimas que se acumulavam em meus olhos, caíssem, mas foi em vão.

— Pela segunda vez na minha vida eu fiz algo que achei que era o certo, mas era completamente o oposto. Na primeira vez, isso quase custou a felicidade de Sophie, a sua felicidade. Dessa vez... eu nem consigo imaginar como seria... para você. – Sussurrei o final e Jethro me encarou. – Porque tudo cairia nas suas costas, de novo. E, como se não bastasse isso, eu quase me matei em vão, pois Svetlana jamais esteve naquele restaurante... e você teve que fazer todo o trabalho que eu deveria ter feito tantos anos atrás!

Me espantei quando senti a mão dele limpando as lágrimas que escorriam em minha bochecha. Quanto mais eu pensava nas coincidências do meu ato insensato e egoísta, com o que havia acontecido com Jethro e Kelly em 1991, mais culpada eu me sentia. Como eu pude fazer isso com ele? Como eu pude acreditar na minha desculpa de que ele conseguiria criar Sophie, pois ele já tinha passado por isso? Como? Segurei a sua na minha e o encarei, eu realmente fiz isso, como se eu fosse capaz de ver a sua alma e soltei uma frase que eu, raramente usava:

— Você será capaz de me perdoar por mais essa vez? Será capaz de me perdoar quando tudo o que tentei fazer foi me proteger, achando que estava fazendo isso pelos outros?

Jethro segurou a minha mão boa e ficou um tempo me olhando, buscando algo em meu rosto. Não sei exatamente quanto tempo foi, poderia ser um minuto ou uma hora, daria no mesmo, pois eu estava completamente concentrada nos olhos dele e em tentar ler ali o que ele estava realmente sentindo.

Ele não me deu resposta alguma e, também, não soltou a minha mão, era como se eu fosse prisioneira das suas ações. Como se o meu futuro dependesse de uma única reação vinda dele. E o problema era, dependia. Minha vida desse momento em diante dependia totalmente do que ele fosse me dizer. E pensei na ironia da situação, eu que sempre me proclamei dona de mim e rainha do meu destino, tinha acabado de entregar o meu futuro nas mãos do pai da minha filha.

Mais alguns segundos (ou seriam minutos?) se passaram e vi a expressão de Jethro mudar, se tornar menos controlada e estudada, para uma mais tranquila e, eu lia diversão em seus olhos.

— Você está aqui, Jen. – Foi tudo o que ele me disse. – Contra todas as possibilidades, você está viva. E quem sou eu para julgá-la quando sei que faria a mesma coisa? Quando, na verdade, talvez até tenha feito. – Ele parou e me encarou. E eu entendi o que ele disse.

— Você foi atrás de Svetlana sozinho, Jethro? – Eu não estava em posição de criticá-lo, mas ao pensar que Sophie poderia ter ficado órfã...

— Como você disse, foi necessário, e, no fim, fizemos pelo mesmo motivo. Ela não iria encostar a mão em você, Jen. E muito menos na Ruiva. Mas foi bem interessante vê-la planejar o futuro de Sophie quando nem você e nem eu estivéssemos por perto, como se minha filha fosse ficar desprotegida.

— Então você a matou? Svetlana está morta?

— Sim. – E lá estava a diversão no fundo de seus olhos.

— Como?

— Oficialmente ou extraoficialmente? – Ele quis saber.

— Os dois, Jethro. Entre nós, será sempre os dois.

— Oficialmente, Svetlana, ou Natasha Lenkov, não existem e nem estão mortas, dentro da sua casa em chamas era uma ladra qualquer. Extraoficialmente, eu a matei dentro do seu escritório, com um tiro no meio da testa e para apagar qualquer vestígio de quem ela era e que futuras investigações chegassem até o seu erro, coloquei fogo na sua casa, e o cadáver que jazia no primeiro patamar era de uma provável assaltante que entrou na casa errada e na hora errada. O corpo ficou tão destruído, que nem DNA foi possível de se extrair. E, assim como La Grenouille, Svetlana Cherminyskaya morreu e ninguém nunca vai saber como.

Eu tinha muito o que processar, mas muito mesmo, porém, uma pergunta ainda era a mais importante.

— Como acreditaram que um cadáver com um tiro no meio da testa morreu em uma explosão?

— A teoria da MCRT, que foi quem ficou encarregada do caso, é a de que a mulher tinha um parceiro que fugiu, por conta do fogo e de toda a destruição é impossível de se saber quem era e se chegou a roubar algo... ou seja, um assalto que deu errado e que vai virar um grande mistério. – Ele terminou.

— Obrigada, por mais esse. Já te devo tanto que... - E então algo clicou em minha mente. – EXPLOSÃO? Fogo?! Jethro! Onde vamos morar? E as... Sophie já sabe? Como você pôde explodir e incendiar todas os pertences da sua filha?

E foi aí que a diversão que estava no fundo de seus olhos se fez presente totalmente.

— Se você quer uma boa notícia...

— A única boa notícia, Jethro, é que, apesar de um prejuízo absurdo, eu sei que a nossa filha está segura. Mas era realmente necessário colocar fogo em tudo?

— A boa notícia, Jen, é que a porta que você tanto ama, e que tanto tentou proteger há alguns meses, ficou inteira. – Ele disse em um tom de deboche.

— A casa foi para os ares e a porta ficou intacta? – Perguntei incrédula.

— Pelo menos nossa nova casa já tem uma porta da qual você gosta, Jen. Assim você não vai precisar ficar reclamando da minha caminhonete.

Nova casa? O que Jethro falava? De repente me senti exausta... era informação demais para absorver. Principalmente se se levar em conta que minha filha perdeu tudo.

— O gato comeu a sua língua, Jen? Nunca te vi aceitar algo com tanta facilidade. – Jethro tinha entrado no modo de provocação.

Sacudi negativamente a cabeça e ia responder algo, quando Sophie carregando uma embalagem de sorvete extragrande entrou no quarto, e veio se sentar do meu lado, e curiosa como sempre, me olhou assustada e perguntou para o pai:

— O senhor contou para a mamãe que a nossa casa explodiu, né? Só isso para explicar a cara de susto dela.

Jethro só riu.

— Sim, Ruiva. Contei, e ela parece mais abalada que você.

— Não fica assim, mamãe. Estamos bem em Alexandria. Nossas coisas estão lá!

Arregalei os olhos. Então...

— Você planejou encontrar “você sabe quem” sozinho, dentro da minha casa! – Eu não sabia o que era pior. Se era Svetlana descobrindo quem Jethro era e onde ele estava, quando ele não sabia que ela sabia, ou se era pensar que ele tinha se usado como cobaia.

— Como eu te disse, foi necessário, Jen. Mas, a Ruiva está certa, ela com a ajuda de Abbs, Noemi e Ziver, esvaziaram muita coisa da sua casa.

Decidi ignorar a dor de cabeça que seria me mudar permanentemente para a casa de Jethro e me concentrei no pote de sorvete na minha frente. Porém, Jethro ainda esperava por uma resposta minha e ficou me encarando, enquanto Sophie apenas se ajeitou na cama do hospital e se deitou com todo cuidado do mundo ao meu lado.

— Eu não me importo com os bens materiais, Jethro, a única coisa que realmente me tirou do sério foi que você se fez de cobaia. Será que você não prestou nenhuma atenção no que eu te disse? – Sibilei.

— Não tinha ninguém para chamar que me desse cobertura, Jen. – Ele falou e eu tinha na ponta da língua vários nomes para retrucar. – Já que a minha parceira estava no hospital, era isso o que tinha que fazer, te defender quando você não podia fazê-lo.

E eu fui pega de surpresa por essa frase. E só pude encará-lo.

— Era necessário, Jen. Por você, por ela e até por Kells. É meu dever proteger as minhas garotas. Agora, faça igual à Ruiva, e vá descansar. Conversamos sobre comprar ou não uma casa, quando você tiver alta do hospital. – Ele me deu um beijo e tirou o pote de sorvete das minhas mãos. – Eu vou estar aqui quando você acordar.

E por mais que eu não quisesse, eu ainda precisava descansar, assim fechei meus olhos e me concentrei no ressonar de Sophie ao meu lado, certa de que agora, nada nem ninguém, viria atrás da minha família.

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Jen ficou mais três semanas no hospital e mais duas em San Diego, por ter sido proibida de voar, por conta da diferença de pressão em altas altitudes e o fato de ter costelas quebradas. Por estas cinco semanas, Sophie só desgrudou da mãe quando era estritamente necessário, e nestas horas afastadas ela tinha uma agenda cheia, quando não estava com Kelly em alguma praia tentando aprender a surfar, estava visitando o escritório de Los Angeles, tendo Hetty como anfitriã.

Logo no dia seguinte à nossa chegada, com Jen ainda hospitalizada, deixei a Ruiva com a mãe, as duas tinham muito o que conversar entre si e fui me encontrar com Callen e sua equipe. No local indicado e altamente monitorado pelos dois agentes de comunicação do escritório, encontramos McCallister pronto para deixar o país. É claro que ele tentou de tudo e negou cada uma das informações, mas ninguém mexe com uma equipe que possui dois hackers capazes de descobrir suas notas no Jardim de Infância. Riley jogou toda a culpa na única pessoa que ele pensou ser a certa, Jenny. A chamou de vários nomes e só por isso, já valia uma prisão, mas, já desesperado e se vendo sem saída, confessou que vendeu todas as informações a respeito da missão de 1999 para Svetlana, e, ainda vendeu nossas posições atuais.

— E não sei o motivo de vocês estarem aqui e defenderem a Shepard, ela morreu de qualquer forma. Ou isso é mais uma das suas vinganças, Gibbs? Quer me matar e vingar a morte da mãe da sua filha?

Com essa confissão, Callen deu a voz de prisão e informou que ele logo seria levado.

— Eu sou velho, vou alegar insanidade. – McCallister caçoou de nós.

Antes de sair da sala, cheguei perto dele e avisei:

— Só para que você saiba, a Diretora Shepard não morreu. Está viva e se recuperando muito bem, ao lado da família. Já você, não posso dizer o mesmo, talvez encontre velhos conhecidos na prisão e possa até fazer novos amigos, já que uma pena de assassinato, somada a uma tentativa, e a venda de informações privilegiadas, vai te deixar muito tempo lá dentro, espero que te deixem ver televisão para que fique informado sobre o NCIS. – Falei e o deixei gritando qualquer coisa na casa de barcos.

— Kensi e Deeks já estão trazendo o técnico de enfermagem que era o informante de dentro do hospital. Você quer participar desse interrogatório também, Gibbs? – Hanna me perguntou.

— Não. Esse eu vou deixar para vocês, tenho que voltar para San Diego antes que Kelly ou Sophie ligue me xingando.

Callen deu um sorriso e depois me acompanhou até a porta.

— Ainda acho que vamos nos ver, até porque Hetty ainda não desistiu de ter uma conversinha com a Soph, mas só queria te dar as minhas condolências.

— Posso saber o motivo?

— Gibbs, você vai penar na mão das suas duas filhas... principalmente da mais nova. Aquela lá já te controla sem saber. – Ele riu. – E você me deve uma cerveja, que já deve ter virado um engradado se levarmos em conta o tempo que tem que salvei a sua vida em Moscou.

— Deixe Jen sair do hospital que pago.

— Já vi que esse engradado vai virar dois! – Ele comentou e depois deu passagem para Kensi e Deeks que traziam o técnico em enfermagem.

— Mas o que aconteceu com esse aí? – Perguntou para Deeks.

— Tentou fugir da Kensi e se vendo sem saída, pulou no cais, depois trombou com um carregamento de peixe. Nossa amiga ali. – O detetive apontou para a agente. – está que é puro ódio por conta do carro, aquele cheiro não vai sair tão cedo!

— Tá vendo com o que tenho que lidar, Gibbs?

— Se quiser troco as equipes, você não sobrevive à minha por uma hora, Callen! – Retruquei e entrei no carro.

Agora, definitivamente, tudo tinha terminado.

Na segunda semana em San Diego, a equipe veio visitar Jen, todos eles, DiNozzo até trouxe um pacote de pipoca caramelada para Sophie.

— Mas onde está a Peste Ruiva? – Ele perguntou depois de conversar com Jen e tentar se explicar sobre todo o ocorrido.

— Ela está com a equipe favorita dela. – Kelly respondeu com um sorriso travesso.

— Mas nós estamos aqui! – Abbs clamou.

— Desculpe, Abby, me expressei mal, minha irmã está com a nova equipe favorita dela.

— E quem seria? – Ziver se levantou da poltrona em que se sentava e caminhou para perto de Kelly.

— A equipe das Operações Especiais da NCIS.

— Duvido que a Pequena nos trocaria. – McGee falou. – Ela não faria isso, faria?

— E onde fica esse escritório, eu vou lá buscar o Pingo de Gente! – Ziva tirou as chaves de dentro do bolso da calça de Tony, arrumou a arma na cintura e já ia marchando para porta, puxando Tony pelo braço.

Eu só observava a conversa em silêncio, Kelly pode fazer um pandemônio quando quer.

— Ninguém vai atrás da Sophie. Ela está bem, está segura. E se ela não fosse lá hoje, tenho quase certeza de que Hetty a buscaria em D.C. só para essa visita. - Jen informou tentando acalmar os ânimos.

— Como se fosse fácil tirar a Peste Ruiva de nós.

Jenny revirou os olhos diante do ataque de ciúmes da equipe.

— Mas quando ela volta? Já está tarde! Já passa das cinco. – Abby falou indo para a janela. – Alguém falou para ela que nós viríamos hoje?

— Acho que ela sabia. – Kelly falou.

— Não, ela não sabia. – Jen pôs panos quentes. – E você, Kelly, pare de fazer com que todos se sintam enciumados.

Tony encarou Kelly, assim como Abby e Ziva.

— Tá querendo que alguém dê um surto e arremesse o grampeador na cabeça de um dos agentes de L.A. como você fez com o Tony, Kelly? – McGee perguntou.

— Por que vocês iriam querer arremessar o grampeador na cabeça deles? – Sophie parou na porta e apontou para suas costas. Ao que tudo indica, Kensi tinha tomado para si a responsabilidade de ser a motorista de Sophie.

Foi uma cena estranha, Ziva encarou Kensi que a encarou de volta, sem temer nem um pouco o olhar da israelense.

— Kensi, - Sophie ignorou o clima e resolveu fazer as apresentações. – Estes são os meus irmãos adotivos que te falei: o Tim, que deu nome para um dos meus ursinhos. – Ela apontou para McGee. – Mas você pode chama-lo de Lorde Elfo! A Abbs – apontou para Abby que, bem correu em direção à Kensi e a abraçou. – Cuidado ela ama abraçar a todos! – Esse é o Jimbo. O Tio Ducky, ele sabe um monte de coisas. E esses dois aqui. – Ela parou na frente de DiNozzo e Ziva. – São Tiva! Tony e a Tia Ziva. Assim como você e o Deeks, eles custaram a falar que estavam juntos! Não sei o porquê vocês dois não fazem isso! E aí serão chamados de.... – Ela parou e colocou o dedo no queixo. – DENSI!

Kensi abriu um sorriso e cumprimentou um por um, e ignorou os olhares de raiva vindos de Tony e Ziva muito bem.

— Só faço isso se você prometer que vem ser a minha dama de honra! – Kensi brincou.

— Se não demorar muito, acho que eu já tenho até um vestido! – Sophie disse alegre.

E a Agente Blye se despediu de nós e antes que saísse, falou:

— Na semana que vem te pego de novo, e vamos até a casa de barcos e assustar mais um pouco o Eric! – Piscou para minha filha e se foi.

A porta não tinha fechado e DiNozzo, McGee, Ziva, Abby e Palmer estavam rodeando Sophie querendo saber desde quando ela era amiguinha de outra equipe. E o que Sophie fez?

— Não sei o motivo de tanto ciúme, vocês não escutaram? Todos do time de Los Angeles são meus amigos, vocês são minha família, não precisam ter ciúmes!!

E foi só assim que as coisas ficaram um pouco mais tranquilas.

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Eu já tinha ouvido falar que o tempo pode se arrastar quando você quer muito que algo aconteça, porém, do jeito que ele estava andando a passos de tartaruga, estava me matando de ódio.

Tinha dado entrada há três semanas nesse hospital, e, sinceramente, ainda estava toda dolorida, o corte da cirurgia estava começando a repuxar, um claro sinal de que já estava começando a cicatrizar, meu braço – que era o único ferimento já curado de uma forma que eu já poderia mexê-lo, doía por conta das sessões de fisioterapia. Mas nada era pior do que esperar.

Jethro dormia todos os dias aqui, mesmo que eu tenha insistido que ele ficasse um pouco com as filhas, já que Sophie, estava com Kelly, porém, ele não me deu ouvidos, e, depois de ir jantar com as duas, voltava e passava a noite no desconfortável sofá do quarto.

Certa noite – a que completava exatos 21 dias desde que eu dera entrada no hospital. – eu perdi a paciência e quando a enfermeira veio me checar, perguntei.

— Vou ficar aqui por mais quantos dias?

Ela me olhou de cima até embaixo, fez uma careta e simplesmente falou:

— Você tem cara de que não segue nenhuma recomendação médica, e a Doutora Gibbs, nos deu expressa ordem de não comentar nada com a senhora sobre sua alta. Assim, vai ficar mais um pouquinho conosco, até que tenhamos a certeza de que nenhum desses ferimentos vá nos dar trabalho novamente. – Terminou com um sorriso.

— Muito obrigada. – Disse, e eu tenho certeza de que parecia uma garota mimada ouvindo os pais falarem “não” a ela pela primeira vez.

Jethro, que estava sentado no sofá, só me olhava, achando toda a cena muito divertida.

— É pior do que a Ruiva. – Ele falou assim que a enfermeira nos deixou.

— Eu já não aguento mais ficar aqui, Jethro. Eu não aguento mais ficar à toa. Eu preciso sair desse lugar! – Resmunguei.

E eu não sei se foi por conta do que perguntei, ou se eu realmente já estava apta para ser liberada, mas, na manhã seguinte, meus papéis estavam assinados pelo Doutor Taft e pela Doutora Gibbs, contudo, havia um porém:

Eu não poderia voltar para D.C. pelas próximas duas semanas.

Ou seja, ainda estava presa na Califórnia.

Não posso reclamar dessas duas semanas, afinal, por mais que eu ainda estivesse com a mobilidade reduzida, ainda fui capaz de sair do apartamento de Kelly (ela mandou que eu ficasse lá, assim tomaria conta de mim), dar uma volta na praia e até ficar sentada na areia, enquanto Sophie se divertia no mar.

— Vai sentir falta daqui quando voltarmos? – Perguntei para a minha filha que tinha acabado de sair da água, se deitado na toalha estendida ao meu lado e colocado os óculos escuros.

— Não. Está divertido vir na praia todos os dias, mas estou sentido falta de casa e do Jet. Isso sem falar na equipe. Sinto falta de treinar com a Tia Ziva, de ver filmes com o Tony, de jogar videogames com o Tim, planejar a próxima festa do NCIS com a Abbs, jogar “detetive” com o Jimbo e a Breena e de conversar com o Tio Ducky... – Ela murmurou e depois se sentou rapidamente e me olhou por cima dos óculos. – Mamãe... ninguém foi pegar o meu boletim!!!

Tive que rir da preocupação dela.

— Não se preocupe, sabemos que você passou de ano. – Afaguei os cabelos molhados dela e comecei a fazer uma trança. - Mais uma semana, filha, eu estarei liberada para voar e voltaremos para casa.

— Sim, voltar para casa e não para o trabalho, Kells quer que você possa andar sem problemas, até porque a senhora só anda de salto. Creio que a senhora só voltará ao prédio do NCIS em setembro.

— E a senhorita está muito triste com isso, hein?

— Claro que não! Eu bem que gostei dessas suas férias forçadas, mamãe, assim podemos passar mais tempo juntas, mesmo que seja na frente da TV! – Ela me abriu um sorriso.

Encarei a minha filha.

— Anda, já está na hora de voltarmos, o sol está forte demais para que você fique debaixo dele.

— Posso dar só mais um mergulho? – Sophie me pediu.

— Cinco minutos. E eu vou contar no relógio.

Minha filha me entregou os óculos, atravessou a faixa de areia correndo e logo estava mergulhando em uma onda. Contei o tempo e só precisei levantar a mão para que ela voltasse.

— Agora vá tirar o sal do corpo para que eu possa te secar e te colocar uma roupa.

Sophie faltou pouco tomar um banho debaixo do chuveiro da praia de tanto que ela demorou, e depois de ouvir algumas reclamações, fomos embora, sempre devagar, com ela me dando a mão e carregando a bolsa de praia, sempre conversando e rindo de alguma piada que só nós duas sabíamos o significado.

Minha última semana na Califórnia foi de check up completo, passei por uma bateria de exames de todos os tipos, e praticamente gastei dois dias da semana dentro do hospital. E, enquanto eu estava sendo reavaliada para ser liberada para voltar para casa, minha filha, mais uma vez fora arrastada para Los Angeles, algo como uma Festa da Renascença que ela iria devidamente fantasiada acompanhada de Kensi, Deeks, Eric e Nell. Pelo que ela me falou quando chegou, Hetty tinha arrumado fantasias para todos.

E, só fui liberada para voltar para D.C, depois de Kelly me dar um sermão do tamanho do mundo de como deveria me comportar.

— Mas eu não vou ter que me preocupar muito, vou Jenny? – Ela falou parada na porta do quarto, vendo Sophie arrumar a minha mala (A que ponto tinha chegado! Minha filha de oito anos estava arrumando as minhas coisas!)

— Eu vou tomar conta da mamãe, Kells! – Sophie garantiu tirando a cabeça de dentro de uma gaveta.

— E não se esqueça, Jen, em três semanas eu estou voltando para casa. – Me informou com um tom de ameaça bem velado. – E vou ficar de olho na Madame Diretora do NCIS.

— Eu sei. – Falei para encerrar o assunto. Porém, eu tinha uma carta na manga para tirar minha filha mais velha do meu pé. - E acho que você e Henry querem mostrar algo para Sophie. – Terminei com um sorriso e Kelly me encarou.

— Claro. Espero que ela não fique tentando tirar dele o que é... – Disse e bagunçou ainda mais os cabelos de Sophie que por conta do vento, da areia e da água salgada estavam de dar dó.

— Quando chegarmos em casa, eu vou ter que dar um jeito nisso aí, né Miniatura? – Falei enquanto ela tirava o cabelo do rosto.

— Dessa vez está realmente ruim. – Ela concordou comigo.

Tive que rir, principalmente quando Jethro entrou e olhou para ela, um misto de susto e reconhecimento, como se ele já tivesse visto o cabelo dela assim.

Nossa última noite foi gasta completamente em família, em um jantar feito por todos, no apartamento de Kelly.

— Sabe, eu vou sentir falta disso aqui. Tá bagunçado, mas eu estou adorando! – A dona da casa falou, depois de arrumarmos a cozinha e nos sentarmos no sofá, Sophie, já mais dormindo do que acordada, estava abraçada com uma almofada e ficava olhando, sem prestar atenção, para a TV.

Programei meu voo de volta para que ele chegasse em um horário que não houvesse tanto movimento no aeroporto, queria evitar encontrar com pessoas que só saberiam fazer perguntas indiscretas, porém, mesmo tendo escolhido o horário em que desembarcaria, não foi possível evitar o comitê de recepção.

Todos estavam lá, até Jet, e só esperaram o momento em que saímos de perto da porta da sala de desembarque para que viessem em nossa direção.

— Finalmente, vocês voltaram!!! O Estaleiro não é mesmo sem vocês!! – Abby gritava ao nos abraçar.

Todos tiveram a sua vez e, depois de quase quarenta minutos, pudemos ir para os carros e para a nossa casa, onde, é claro, todos entraram e se fizeram à vontade, ficando conversando e brincando, felizes demais que estávamos reunidos novamente.

E quando um por um eles se levantaram para ir embora, à contragosto é claro, mas já estava tarde e tanto eles quanto Jethro voltariam ao trabalho na manhã seguinte, tudo o que eu pude fazer foi agradecer, pois teve um momento em que eu pensei que jamais pisaria na minha casa novamente. E não digo no imóvel, falo casa no sentido de ser onde a família está.

Como Jethro dissera, contra todas as probabilidades, eu estava viva!


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Notas finais do capítulo

E esse é o penúltimo capítulo!!
Espero que tenham gostado!
Muito obrigada a você que leu!
Até sábado com o último e, não fiquem tristes, vai ter um epílogo com um acontecimento especial!
Até lá!
xoxo



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