Lembranças e reconciliação escrita por Jack O Frost


Capítulo 1
Capítulo único: lembranças




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Ele virou-se, praticamente girando sobre os calcanhares e apanhando o casaco perto da porta, passando os braços pelas mangas e abrindo a porta com raiva. E ao atravessa-la, sua raiva não se dissipou e deixou que sua mão puxasse a mesma, com força. O som forte da batida ecoou pela varanda e como combinado, o vento frio do inverno soprou-lhe no rosto, gelando as faces e o fazendo respirar mais forte, pela boca.

Ouviu-se então o som da TV sendo ligada e sua raiva disparou-se, rangendo os dentes e tentando se controlar para não voltar para dentro e gritar como um louco, empurrou o pequeno portão de madeira com o punho cerrado e saiu para dar uma volta naquele dia frio e horrível. Os olhos verdes poderiam ter colorido aquela rua branca em outros dias, mas não naquele. Seu verde, quase sempre claro quanto as folhas, estavam um cinza esverdeado, ofuscado pela enorme raiva crescente em seu peito.

Odiava aquilo. Odiava o modo como o mais novo era teimoso. Odiava tudo, naquele momento, principalmente o de cabelos lilases.

Mais uma vez o vento frio soprou contra seu rosto, fazendo-o com que escondesse o pescoço na gola longa do casaco. Um cachecol seria mil vezes melhor em um momento como aquele.

E então sua mente buscou memórias, lembranças de momentos que pareciam não serem importantes, mas no final eram tudo.

Os olhos azuis de Hajime combinavam com o xadrez de preto e azul do cachecol, os longos cabelos jogado sobre os ombros e escondendo parcialmente o tecido felpudo. Os fios eram longos e lisos, sedosos e toda vez que Souji notava os fios desorganizados, arrumava-os com carinho, tocando-os com suavidade. Hajime, por sua vez, se derretia com os carinhos e mimos que o mais velho costumava fazer, agradando-o de todos os modos possíveis. Naquele momento Souji esquecerá de pegar o cachecol no armário de seu trabalho por ter corrido até onde o mais novo o esperava e por isso Hajime desenrolou o tecido do pescoço e o passou sobre o do namorado, sorrindo levemente e caminhando mais rápido do que ele.

Souji sorriu, daquele modo peculiar de quem iria aprontar algo, e o seguiu tão rapidamente quanto ele.

Os braços do mais velho rodearam a cintura do mais novo, puxando-o contra seu peito e escondendo o nariz atrás da orelha dele, esfregando-se levemente ali. O sorriso no rosto era escondido pelos cabelos longos do mais novo, mas não importava de fato realmente vê-lo para saber que estava lá.

—Você é tão bonzinho! — O mais velho dizia, mordiscando a ponta da orelha.

Souji sorriu, tão leve que parecia que nem estava sorrindo, e seus olhos pousaram-se sobre o solo branco, a neve acumulada o recordou de como aquele dia acabou por terminar. Ele estivera cansado por causa das horas extras no trabalho, mas Hajime sempre conseguia lhe tirar o cansaço...

Ele remexeu-se contra os tecidos avermelhados da cama, as pálpebras fechando-se de sono e o cansaço tomando-lhe conta de todo seu ser, mas foi quando Hajime acabou por capturar um livro entre as palmas das mãos que nada mais importava. A cueca vermelha dava um certo destaque a pele pálida do mais novo e a expressão travessa fazia com o que o seu corpo tremesse, mesmo que a parte superior a cintura não estivesse vestida.

— O que está lendo, Hajime-kun? — Perguntava, embora soubesse que ele não estava lendo o livro no momento.

E então o sorriso brotava nos finos lábios, malicioso.

— Um livro sobre massagens.

E então o mais novo acabava por empurrar o de cabelos castanhos contra a cama e sentando-se sobre ele, empurrando a camiseta do pijama para cima.

— Deixe-me testar uma coisa, sim?

Souji assentia, fechando os olhos e apreciando o toque modesto do namorado.

O moreno sorria para si mesmo ao se dar conta de que a primeira massagem não havia durado mais do três minutos por ter-se virado e agarrado o namorado, roubando-lhe diversos beijos enquanto as posições eram trocadas. Ele adorava o modo como seus lábios deixavam marcas avermelhadas na pele pálida do mais novo, ou de como o corpo abaixo do seu reagia. Adorava ouvir a voz do mais novo e o modo como ele gemia seu nome quando seu tornava ansioso por algo.

Repentinamente, seu passo cessou e seus olhos se voltaram para o caminho que havia feito até aquele momento, não era longe mas também não era tão perto quanto queria estar. Ele ainda estaria assistindo a televisão ou teria pego sua xícara de chocolate quente enquanto o esperava, espiando pela janela? E embora a teimosia do mais novo o incomodasse, viver sem ele era a pior coisa do mundo.

Já havia tentado algumas vezes e nunca deu certo.
Entre ficar no frio e resolver as coisas com ele, preferia mil vezes ir correndo para casa para que pudesse se jogar nos braços dele. E assim o fez, não correndo mas quase. Os passos largos não pareciam rápidos mas também não arriscaria correr na neve e acabar congelando o traseiro.

Seu único pensamento era chegar até ele, tomá-lo nos braços e deixar que o silêncio dissesse por si mesmo. E quando estava a alguns passos de chegar ao portão de madeira, notou o mais novo sentado em frente ao mesmo. A xícara de chocolate quente descansava ao lado dele, perto dos pés no pequeno degrau, mas não fora isso que chamou a atenção e sim ele estar ali sem um casaco de frio.

— Você é louco. — Sua voz parecia mais um rosnado animalesco do que qualquer outra coisa. — Você é um maldito louco.

Quando ele erguia a cabeça dos braços, os olhos azuis pareciam sem vida e sua expressão chorosa era a pior coisa. Se havia algo ao qual não poderia suportar mais do que a ausência do mais novo, era saber que ele havia chorado.

— É claro que sou um louco. — Ele concordava, ficando em pé enquanto aqueles olhos magoados o fitavam profundamente. — Sou um maldito louco por ter saído e esperado você voltar aqui.

Souji recuava alguns passos enquanto o mais novo avançava, os punhos fechados e uma expressão que nada dedurava. Temendo levar um soco, ele erguia a mão em frente ao corpo para impedir que o mais novo se aproximasse mas quando ele lhe tomou a mão entre as suas e logo a levou para a bochecha gélida, Souji cedeu. Sua mão que estava livre se encaminhava para as costas do mais novo e puxava para seu corpo, abraçando-o de forma calorosa enquanto o empurrava com o corpo até o portão de madeira, abrindo-o facilmente e o guiando pelo pequeno caminho até a porta. Ele se deixava levar, embolando-se cada vez contra o peito do mais velho, fungando levemente.

Ao adentrar a casa, que parecia muito quente para ele naquele momento, soltava sua mão da dele e o abraçava com ambas, sussurrando palavras carinhosas para o acalmar.

— Nós exageramos, está tudo bem agora. — Alisava as madeixas lilases, fechando os olhos enquanto o seu queixo se apoiava no topo da cabeça dele. — Não vou dizer que não vamos mais brigar, mas hoje não mais.

Afastando-se para que pudesse ver o rosto do mais novo, os joelhos levemente dobrados, dava um sorriso.

— Não chore mais, Hajime-kun. — E ao terminar a frase, limpava algumas gotas de lágrimas e deixava que os próprio lábios fossem guiados para os dele, que retribuía gentilmente.

Esse era seu pequeno Hajime, aquele que por mais triste que estivesse, nunca o negaria.

A briga não era mais importante naquele momento e eles não falariam mais daquele episódio até que houvesse um motivo para tal assunto ser puxado. Hajime deixaria que o mais velho se desculpasse com todo o corpo e Souji se empenharia o máximo para agradar ele, de todas as formas possíveis.

Haveria outras brigas, haveria outras lembranças que despertaria o amor de ambos e havia mais reconciliações mas naquele momento, estarem juntos era tudo o que importava para sempre felizes.


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Notas finais do capítulo

Mereço algum comentário?
Betado parcialmente, pode conter erros, me notifiquem se acharem.

Até breve.
Ciao, ciao.



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