Havia algo incomodando. Rey estava feliz por voltar a encontrar seus amigos, mas estava diferente dessa vez. Ela continuava a se lembrar da cena de Finn com outra moça e esta lembrança a causava sensações que nunca havia imaginado existir. Principalmente, depois de terem contado a ela sobre o beijo que aconteceu entre os dois.

Talvez Finn tivesse encontrado um grande amor e ela estava feliz por ele, mas era inevitável sentir-se um pouco abalada. Eles passaram por tantas coisas juntos, desde o momento em que se conheceram. Ele foi a única pessoa a voltar por ela, a protegê-la, a salvá-la, ainda que não precisasse ser salva. Rey pensava que, depois de tudo isso, havia uma conexão mais forte entre eles, mas parecia estar enganada.

Não o culpava, afinal. Ela esteve tanto tempo longe, tentando resolver outras coisas, tentando salvar pessoas que não queriam ser salvas. Talvez isso tenha feito Finn seguir em frente e ela não podia culpá-lo. E mesmo assim doía.

Ela continuava a olhar para ele ao lado de Rose, como era chamada, e a sensação era de dor e de inveja. No fundo, entendia que queria estar no lugar dela, mas não podia cobrar nada. Então, continuava observando-o de longe.

Finn conversava com Poe e Rose. Eles não se desgrudavam, fazendo Rey lembrar de quando conheceu Finn. Também não desgrudou do seu lado. Era uma característica dele, manter as pessoas sempre por perto. E, no entanto, Rey já não estava tão próxima dele assim. Não se sentia confortável entre os dois, então preferia ficar sozinha. Entretanto, no fundo, torcia para que ele notasse sua distância e viesse em seu encontro.

Ao invés de Finn, quem veio em sua direção foi BB8. Rey não escondeu um sorriso ao receber o antigo amigo. Ele pareceu perceber sua angústia e distância, e resolveu fazer-lhe companhia. Aceitando-a de bom grado, Rey decidiu caminhar pela Millenium Falcon com o robô e se sentar ainda mais distante dos outros.

BB8 bipou algumas vezes, chamando a atenção. Estava preocupado com o desânimo de Rey.

— Não é nada. Eu estou bem, está tudo bem. — ela comprimiu os lábios e virou o rosto. Mesmo de onde estava, conseguia observar Finn.

O droide percebeu e também olhou na mesma direção, entendendo o que estava acontecendo. Novamente, bipou.

— Ele parece feliz, não parece? — Rey sorriu triste, abaixando o olhar.

"Mas você não", a entonação do droide soou clara em sua mente. "Está com ciúmes?"

Ciúmes. Rey arqueou as sobrancelhas. Então, era isso o que estava sentindo.

Era estranho reconhecer esse sentimento, considerando que era derivado do amor. Ama-se, por isso há ciúmes, pois há a insegurança e o medo de perde quem se ama. E esta era a verdade que Rey demorou a entender.

— É estranho sentir esse tipo de sentimento. Eu não sei nada sobre ele, pois eu nunca tinha sentido nada parecido antes.

Nesse momento, Finn havia pensado em algo para compartilhar com Rey. Ela parecia distante, bem diferente da última vez que estiveram juntos, o que o fazia evitar contato. Pensou que Rose estivesse certa e Rey teria se tornado uma mulher diferente, depois de tudo o que aconteceu. Por isso, tinha medo de ser um completo idiota diante daquela mulher tão poderosa e, então, permanecia distante, observando-a de longe. No entanto, suas saudades eram grandes demais e não cabia apenas em um olhar longínquo.

Encontrou-a junto de BB8, em uma conversa íntima. Não quis atrapalhar, pensou em falar com ela depois, mas algumas palavras chamaram sua atenção. Sabia que era errado, mas não conseguiu evitar continuar ouvindo.

— Eu sei o que é se sentir abandonada e esquecida. Conheço o sentimento da solidão. Conheci o medo, de verdade, nesses últimos tempos diante de Kylo Ren. Sei quase todos os tipos de sentimentos ruins, pois senti cada um deles, todos esses anos sozinha... mas os sentimentos bons, todos eles vieram junto com Finn. — Rey revelou para BB8, sem saber que Finn também escutava.

BB8 percebeu a presença do rapaz, mas nada revelou. Ele deveria ouvir o que Rey não tinha coragem de dizer. E ela prosseguiu.

— Com ele descobri o que é amizade e lealdade. Não senti mais solidão. Quando ele se arriscou para me salvar, não senti mais medo. — ela sorriu ao se lembrar de cada momento ao lado dele. — Talvez eu esteja mesmo com ciúmes, como você diz, BB8. Porque eu também descobri o amor bem diante de mim.

O droide bipou, um pouco exaltado, fazendo Rey sorrir.

— O que eu quero dizer... eu acho que amo o Finn. Por isso, tenho ciúmes da Rose. Eu deveria estar feliz por ele, eu sei... Parte de eu amá-lo é querer que ele seja feliz, mas a outra parte queria que fosse eu no lugar dela.

Finn sentiu-se nu diante daquela revelação. Olhou de um lado para o outro, um pouco atordoado. Seu coração estava acelerado e as palavras de Rey continuavam a ecoar em sua mente. Era tão intenso porque era exatamente o que ele sentia por ela. Foi como ouvir suas palavras através da boca de outra pessoa.

Sentiu que deveria falar algo. Era a sua brecha. Precisava dizer a ela que também sentia o mesmo, mas como fazer isso? Quando olhava para trás, via Rose e todo o sentimento que ela tinha por ele. Tinha medo, mas precisava ser sincero. O problema era não saber como fazê-lo.

— Finn?! — sua demora para raciocinar, fez Rey perceber sua presença, deixando-o desesperado. — Há quanto tempo está aqui?

BB8 bipou, entregando a verdade. Apesar de não entender sua língua, ele se adiantou, atropelando os bipes do droide.

— Tempo suficiente.

Rey pareceu tensa.

— Então, você escutou tudo? — sentia um frio na barriga que a incomodava. Ele anuiu, ainda nervoso. — Por que não disse nada?

Ele desviou o olhar e retorceu a boca. Se olhasse para trás, veria Rose. Deveria olhar para frente, olhar para Rey. Para a Rey que amava.

— Porque...

— Você gosta dela? — Rey o interrompeu, pois a resposta parecia óbvia. Ele não havia dito nada, porque gostava de outra pessoa e não era justo.

Finn respirou fundo, se aproximando de Rey.

— Sim, eu gosto. Ela é especial para mim, salvou a minha vida e gosta de mim do jeito que eu sou, apesar dos pesares. — disse e viu nos olhos de Rey o impacto daquelas palavras.

Rey comprimiu os lábios, sentindo o peso de cada palavra que saiu da boca de Finn. Não havia mais nada que pudesse fazer, apenas lamentar. Havia descoberto o amor tão recentemente e já havia quebrado o coração.

— Eu gosto da Rose, mas eu amo você. — finalmente, a verdade. Rey o encarou, incrédula. — E eu não disse nada porque você já havia dito tudo o que eu queria te dizer.

Finn sentiu-se aliviado. Se olhasse para trás, veria Rose, mas não sentia-se mais pressionado. Sabia que ela entenderia. Por isso, adiantou-se para beijar os lábios de Rey, que foi surpreendida, mas retribuiu junto com um sorriso bobo de moça que ama pela primeira vez.

Rose estava certa, Rey estava diferente, mas ainda era a sua Rey, que o olhava como ninguém nunca tinha olhado. Rey olhava para Finn como alguém que descobre o amor bem diante de seus olhos.