Christmas Carol escrita por CrazyCullen


Capítulo 1
Esme e Carlisle


Notas iniciais do capítulo

Sinopse: Esme e Carlisle não se conhecem, mas os dramas da vida fazem com que se encontrem, por acidente, em um 24 de dezembro, trazendo esperança para a vida de ambos.



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Trilha: Angel – Sarah Mclachlan

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"A vida é a arte do encontro,
Embora haja tanto desencontro pela vida."

(Vinicius de Moraes)

Três anos haviam se passado, e mesmo assim a dor era a mesma que sentira naquele 24 de dezembro, quando a vida de Esme Cliff parecia ter parado e ela fora capaz de sentir uma dor que acreditava ser humanamente impossível. Fora como se alguém tivesse aberto seu peito e arrancado seu coração fora. E Esme sabia que uma vez arrancado, sua vida estava acabada. Ela continuava andando, trabalhando, fingindo seguir em frente e ouvir o que as pessoas lhe diziam, mas não dava para enganar a si mesma, ela não vivia mais. Não realmente.

Enquanto a maioria das pessoas se preparava para receber amigos e familiares em casas aconchegantes que cheiravam a guloseimas, ou corriam para lá e para cá em busca dos últimos presentes, a mulher de cabelos castanhos e rosto em formato de coração atravessava as pesadas portas de ferro forjado e fazia o caminho que já conhecia de cor, rumo ao local onde sua vida estava enterrada.

"Ei, bebê..." – ela começou a dizer em meio às lágrimas enquanto se ajoelhava em frente a uma sepultura, onde na lápide podia-se ler:

"Andrew Cliff (2005 – 2009)

Que em sua curta passagem pela terra

espalhou amor e alegrias à sua volta."

"...sonhei com você noite passada. Você estava tão lindo com aquela camisa de marinheiro, brincando com seus carrinhos. Eu chegava em casa e você corria para os meus braços, como sempre acontecia. E você me dizia para não chorar mais e ser feliz. Foi tão, tão real, que acordei sentindo seu perfume ao meu redor, o que só fez doer ainda mais. Sinto muito meu amor, mas acho que a mamãe vai falhar com você uma vez mais... eu não tenho como cumprir essa promessa. Não existe felicidade para mim em um universo onde você não exista."

E com essas palavras Esme se entregou novamente às lágrimas, debruçada sobre a lápide do filho que perdera brutalmente. Se olhasse ao seu redor, ela veria que não estava sozinha. A alguns jazigos de distância, Carlisle Cullen também lutava contra as lágrimas enquanto as lembranças felizes compartilhadas com a mulher que amara desde que aprendera o que era o amor lhe tomavam a mente e o coração.

Carlisle e Elizabeth foram vizinhos durante toda a infância e começaram a namorar no último ano do segundo grau, quando o rapaz finalmente deixou a timidez de lado e convidou a vizinha e amiga para um cinema. Os dois se divertiram muito naquela noite, enquanto assistiam Casablanca e os convites foram se repetindo até que, no baile de formatura da escola, eles oficializaram o namoro. Os dois foram juntos para a Yale e se formaram com méritos, ele como advogado e ela como jornalista. E naquela nova formatura da vida de ambos Carlisle repetiu o gesto, desta vez pedindo a amiga e amante em casamento.

Dois anos depois eles estavam casados e felizes, mas o conto de fadas não durou muito. Alguns meses após o casamento Elizabeth se viu grávida, e o que era para ser o momento que coroa a felicidade de qualquer casal, se tornou um verdadeiro pesadelo na vida do casal Cullen. Elizabeth sofreu uma queda no sétimo mês de gravidez, o que a fez ter uma hemorragia interna. Os médicos fizeram de tudo, mas foi impossível salvar mãe e bebê. Assim, naquela que foi a decisão mais difícil de sua vida, Carlisle seguiu o que sua mulher havia lhe feito jurar alguns dias antes, quando acordara assustada depois de um pesadelo, e escolheu salvar a vida de sua filha.

Tanya Cullen chegou ao mundo em uma tarde chuvosa. Ela tinha os cabelos loiros como os da mulher que lhe dera a vida, e como se sentisse que algo estava errado, chorara sem parar até que os médicos a aconchegassem nos braços de seu pai. E durante o que pareceram horas, pai e filha choraram juntos.

Esme Cliff e Carlisle Cullen nunca haviam se visto antes, embora ambos fossem frequentadores assíduos do Grove Street Cemetery. Mas naquele 24 de dezembro de 2012 o destino, ou talvez Andrew e Elizabeth, resolveu intervir. Os dois saíram do cemitério no mesmo instante, mas cada um deles por uma saída. Enquanto Carlisle se sentia leve depois de algumas horas conversando com Elizabeth, contando para ela o quanto Tanya estava crescendo rápido e se tornando cada dia mais parecida com ela, Esme sentia seu coração ainda mais pesado. Foi por isso que, ao ver o carro preto se aproximando do local onde estava parada, ela deu um passo para frente, sua mente totalmente nublada, sem pensar em nada além de parar com a dor que vinha sentindo.

Carlisle mal teve tempo de pisar no freio, descendo correndo do carro para auxiliar a mulher caída à frente do seu carro; seu coração batendo acelerado enquanto checava seus sinais vitais em busca de algum sinal de vida. Ele não aguentaria a responsabilidade de outra morte sobre seus ombros.

Esme não demorou muito a voltar a si, sentindo uma leve dor na perna que fora atingida pelo carro e, respirando fundo, se atreveu a abrir novamente os olhos, tentando entender por que Deus se recusava a levá-la logo para junto do seu pequeno anjo. Aquilo era a única coisa que ela ainda se atrevia a pedir; morrer em paz.

Carlisle sentiu um imenso alívio ao ver a morena abrir os olhos, ao mesmo tempo em que parecia ter sido atingido por um soco no estômago. Aqueles olhos não continham nenhum tipo de emoção, tudo o que ele podia ver naquele mar de chocolate era dor e vazio. Um vazio inquietante que não condizia com a beleza de sua dona. Não que ele fosse uma pessoa muito diferente; mas ao contrário de Esme, ele não podia deixar que a dor levasse o melhor de si, ele tinha que ser forte para cuidar de Tanya, sua pequena de apenas 6 anos.

"Você se machucou, precisa que eu a leve ao hospital?" – Carlisle perguntou quando se sentiu novamente em condições de falar.

"Não precisa, obrigada." – Esme respondeu, já se colocando de pé e começando a andar para longe de onde o advogado e seu carro estavam.

"Ei, espera, você não tem condições de dirigir neste estado. Deixe-me ao menos te dar uma carona."

"Não, eu... eu..."

"Eu faço questão. Entra."

"Onde estamos?" – Esme perguntou depois de alguns minutos, quando Carlisle estacionou diante do que parecia ser um pequeno café, em uma parte da cidade que ela não costumava frequentar muito.

"Eu combinei de buscar minha filha aqui e, além disso, depois do susto de agora a pouco achei que você gostaria de um café."

"Obrigada." – Esme se limitou a responder enquanto os dois se dirigiam à entrada. O local era realmente pequeno, com apenas cinco mesas redondas, mas a luz baixa e o mobiliário de madeira davam um ar aconchegante ao ambiente. Os atendentes estavam todos trajando gorros de Papai Noel e Esme se viu pensando o quanto até quatro anos atrás aquela era uma de suas festas preferidas, e como ela podia passar horas e horas enfeitando a casa e fazendo biscoitinhos em sua cozinha. O momento se tornou ainda mais especial depois do nascimento de Andrew. Ela jamais esqueceria o brilho nos olhos de seu garotinho quando vira a árvore iluminada e repleta de presentes pela primeira vez, ou do seu sorriso ao tirar uma foto com o Papai Noel em um dos shoppings da cidade.

"O que vão querer?" – a voz da atendente a tirou de seu devaneio e ela se limitou a pedir um chai latte, enquanto Carlisle parecia pedir por um batalhão, escolhendo café, suco e algumas variedades de bolo.

"Tanya deve estar chegando logo e ela geralmente não gosta de esperar, por isso já estou pedindo as coisas que ela gosta também." – ele explicou ao ver o olhar confuso da mulher sentada à sua frente.

"Tanya?"

"Sim, minha filha."

Carlisle teve a impressão de ver um flash de dor passar pelo rosto da morena, mas não sabia dizer com exatidão se aquilo acontecera mesmo ou se fora apenas sua imaginação.

"Você tem filhos?" – arriscou perguntar, tendo então a certeza da dor nas feições da mulher sentada a sua frente.

"Tinha. Ele... ele morreu há quatro anos." – ela respondeu tentando a todo custo conter as lágrimas. Seu anjo não gostava de vê-la chorando.

"Sinto muito", Carlisle respondeu, e Esme pode perceber que não fora uma simples frase feita que as pessoas costumam dizer nessas situações. Ele realmente parecia saber do que estava falando. "Foi por isso que você se jogou na frente do meu carro? Você me deu um belo susto, falando nisso."

"Sim, foi mais ou menos por isso. Hoje faz quatro anos que ele morreu, e a dor é sempre pior nesses dias. É como se todo 24 de dezembro eu tivesse a sensação que o telefone vai tocar novamente, como tocou naquele maldito fim de tarde me informando que houvera um acidente na estrada."

Como Carlisle ficou calado, apenas a encarando com um olhar triste como se a encorajasse a falar, Esme se deixou ser tomada pelas lembranças que a consumiam.

"Até hoje eu tenho pesadelos com a imagem do carro completamente queimado quando eu cheguei ao local do acidente. Minha irmã levara Andrew para comprar meu presente de Natal, e na volta para casa estava chovendo muito e o carro dela bateu de frente em um caminhão-tanque, explodindo."

"Papai!" – o grito que ecoou pelo local foi seguido por uma linda garotinha loira em um vestido vermelho e com uma tiara no cabelo, que se jogou com os braços abertos no colo de Carlisle. Esme pode perceber que aquele fora o único momento em que o homem a sua frente sorrira desde que eles chegaram ao pequeno café.

"Oi princesa, você se divertiu com a tia Irina, hoje?"

"Aham! Ela e tia Kate me deram um monte de presentes, e tia Carmen me deu uma pulseira que foi da mamãe quando ela tinha a minha idade. Olha." – ela disse estendendo o braço e mostrando uma pulseira dourada com algumas pedrinhas coloridas. "Não é linda, papai?"

"É sim, meu amor."

"Você acha que lá do céu a mamãe vai se importar de eu estar com a pulseira dela?" – a menina perguntou parecendo um pouco preocupada.

Do outro lado da mesa Esme, que até então tentava controlar suas lágrimas, não conseguiu segurar mais. Agora ela podia compreender porque aquele homem parecia entender tão bem a sua dor. Enquanto ela sentia falta do seu pequeno anjo, aquele homem tinha que engolir sua dor para ser capaz de continuar vivendo por sua filha.

"Quem é ela, papai?" – ouviu a menina perguntar, enquanto sentia os grandes olhos azuis sobre si.

"Uma conhecida do papai, querida. Por que você não diz oi para ela?"

"Oi." – Tanya disse, parecendo levemente desconfiada. "Por que você está chorando?"

"Oi." – Esme respondeu tentando abrir um sorriso que mais parecera uma careta de dor. "Não é nada, minha querida, é apenas que você me fez lembrar de alguém de quem eu sinto muita falta."

"Você conheceu a minha mamãe?"

"Infelizmente não, mas olhando para você eu tenho certeza que ela era muito bonita."

"Você também é muito bonita. Não é, papai?"

Esme e Carlisle trocaram um olhar, ambos um pouco envergonhados, mas a morena não conseguiu conter o sorriso ao ouvir o homem concordar com sua filha. Fazia tanto tempo que ela não deixava que ninguém lhe dissesse aquilo.

"Papai, já está na hora." – Tanya chamou ao ver começar a escurecer do lado de fora.

Apesar dos esforços de Esme para pagar por seu chai, Carlisle, como o cavalheiro que era, fez questão de pagar toda a conta. E apesar de ela ter dito que poderia pegar um táxi para voltar para sua casa, ele fez questão de levá-la.

O pequeno percurso até West Haven foi preenchido pela conversa de Tanya, que não parava de querer saber mais sobre Esme, por mais que Carlisle tenha tentado conter sua filha. A pequena menina quis saber tudo; quantos anos ela tinha, o que ela fazia, onde ela e seu pai tinham se conhecido, qual era a sua cor preferida, sua comida preferida, sua princesa da Disney preferida... e claro, se ela também tinha filhos.

Pressentindo o desconforto, Carlisle tentou mudar o foco da conversa, mas pela primeira vez Esme se sentiu tranquila para falar sobre o assunto e contou para Tanya como ela fora mãe de um lindo garotinho de cabelos loiros como o dela e que agora ele estava, assim como a mãe da pequena menina, tomando conta deles lá no céu.

Não demorou muito e eles estavam se despedindo, e Tanya surpreendeu a todos ao dar um beijo estalado na bochecha de Esme, já que a menina não era muito de demonstrar afeto, a não ser para o seu pai. Ainda tentando assimilar tudo o que acontecera naquele dia Esme entrou em casa, mas mal fechou a porta e ouviu a campainha tocando. Ao abrir a porta viu Carlisle parado à sua frente, com um pequeno sorriso no rosto.

"Eu sei que você já deve ter compromisso, mas Tanya insistiu para que eu voltasse e te convidasse para ir conosco ao East Rock Park para assistir ao Quebra Nozes. Eu a levo todo ano. Era o ballet preferido de Elizabeth, e foi uma forma que eu encontrei de conectar as duas e de não sentir demais esse dia."

Carlisle pode ver a surpresa no olhar da mulher, e sentiu a necessidade de se explicar. "Você não foi a única a perder alguma coisa essencial em sua vida no dia 24 de dezembro, Esme."

Ela parecia estar em uma espécie de luta interna, mas por fim acabou vestindo novamente seu casaco e fechando a porta atrás de si antes de seguir Carlisle até o carro.

"Ela é uma criança adorável, você parece estar fazendo um ótimo trabalho." – ela disse enquanto olhava para uma Tanya sorridente dentro do carro.

"Ela é. Sabe o que ela me disse para que eu fosse convidá-la?"

Esme apenas meneou a cabeça em sinal negativo e ele então, fechando seus olhos, repetiu as palavras de sua pequena garota. "Papai, se o filho dela está fazendo companhia para a mamãe lá no céu, nós temos que fazer companhia pra ela aqui na terra."

Ao se encararem, ambos tinham os olhos repletos de lágrimas e nada precisava ser dito. Suas emoções eram um espelho do que o outro sentia e os dois sabiam que, pelo menos naquele Natal, eles seriam como milhares de famílias assistindo ao ballet no parque e depois vendo os fogos de artifício e, talvez, com a ajuda de Andrew e Elizabeth, aquele fosse apenas o primeiro de muitos Natais alegres na vida de Esme, Carlisle e Tanya.

FIM


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