Amigo Secreto escrita por Ero Hime


Capítulo 4
O capitão e a líder de torcida conversando pacificamente


Notas iniciais do capítulo

Gente é sério eu to morrendo de fome e não aguento mais esperar os parentes atrasados, esse wifi é uma droga e eu to querendo dormir ALGUÉM ME SALVAAAA
Se não fosse pela Phoenix eu estaria mortinha da silva e são só nove e meia



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O refeitório, assim como as salas de aula, estava deserto. Apenas uma parte da cantina funcionava, e se havia vinte pessoas, era muito. Naruto acompanhou Hinata até a fila, e, enquanto ela escolhia o que comer, ele pediu um café grande e puro. Ainda estava quente, como constou com sorte. Pediu também um muffin, para forrar o estômago – não descartava a possibilidade de colocar tudo para fora no próximo instante. Avistou a mesa de seus amigos, ao fundo, e estava indo até eles, mas parou quando viu a garota se sentar sozinha em uma das mesas ali perto. Moveu os olhos de um para outro, confuso, e, por fim, lamuriou, assentando-se a sua frente.

— O que está fazendo? – ela questionou, parando sua xícara na metade do caminho. A testa tinha vários vincos, contudo, não parecia verdadeiramente irritada.

— Ué, estou me sentando com você. – respondeu como se fosse realmente óbvio. Hinata crispou a boca, sem falar nada. Bebeu um gole do que parecia café com leite.

— Achei que fosse sentar com seus amigos. – comentou como quem não quer nada, mordiscando um pão doce cheio de chocolate.

— São seus amigos também. – os dois tinham a língua afiada.

— Não sou tão próxima. – ela pareceu ceder, dando de ombros. Por fim, ficaram em silêncio. Naruto continuou com seus devaneios, tentando adivinhar no que ela estava pensando.

— Gosta de doces de manhã? – puxou assunto, apontando para os pães com açúcar e melado que ela comia.

— Gosto. – deu de ombros – Gosto de doces a qualquer hora. – opa, informação útil. Carros, perfume, doces. É, talvez não fosse uma missão impossível, afinal.

Hinata não parecia interessada em conversa mole. Terminou seu lanche e se ergueu, jogando o lixo e voltando pelo corredor. Naruto a seguiu com pressa. O café ajudou a despertar e amenizou a dor de cabeça, tornando as próximas horas mais suportáveis.

Na sala, seus companheiros pareciam tão acabados quanto antes. Ele riu de Kiba, com seus óculos escuros mesmo dentro do prédio. O loiro puxou sua mochila e a arrastou para perto de Hinata, que folheava distraidamente um livro. Ela não pareceu se importar com sua presença. A professora, na outra mesa, continuava tão disposta quanto seus alunos.

— Tudo bem, o que é para fazer? – cochichou, inclinando-se até sentir melhor seu perfume. De perfil, o nariz sinuoso era bem desenhado, e a franja, solta da touca, cobria até seus olhos. Ela se virou minimamente, o encarando com desconfiança.

— Jura? Não sabe o que é para fazer? – parecia inconformada. Bem, Naruto também ficaria – Um relatório sobre algum livro da era clássica ou renascentista, que tenha te marcado. Descrever, roteirizar e explicar quais os principais pontos que divergem das obras atuais. – ela explicou como uma verdadeira professora; e Naruto não entendeu nada.

— Tipo... um livro? – confirmou devagar – E fazer o que com ele? – ela suspirou, deixando de lado seu caderno. Seria mais difícil do que esperava.

— É como uma estratégia de jogo. – ele soltou um “ah” – Sabe, você escolhe uma tática de corrida, um recebedor e um movimento. Por que você escolheu esse? Ele é importante? Qual a diferença desse movimento para um movimento realizado por Tom Brady ano passado? – Naruto tentou não deixar o queixo cair de admiração, mas ele estava pensando seriamente em propor casamento. Quer dizer, quem era aquela garota, que sabia citar jargões do futebol e o jogador bi-campeão mais famoso da liga? De qualquer maneira, ele tinha entendido, e arrancou uma folha para terminar logo aquela atividade tediosa.

Não conhecia muitos livros que não fosse sobre futebol, ou ilustrados, ou de regras. Lembrou-se, então, de Orgulho e Preconceito, um dos preferidos da sua mãe. Anotou sobre os personagens – e como ele achava Darcy um idiota –, e sobre a história – confusa demais com fofocas demais –. Enquanto escrevia, tentou arrumar mais motivos para conversarem.

— Quer saber que livro eu escolhi? – perguntou, ansioso.

— Algo que me diz que você vai falar de qualquer jeito. – ela parecia estar brincado. Naruto sorriu mesmo assim.

Orgulho e Preconceito. — triunfou. Hinata pareceu levemente surpresa – Você gosta?

— De Jane Austin? Como não gostar? – sua voz assumiu um tom urgente e empolgado – Ela tem as melhores obras, mais tocantes. Os romances são profundos e cheios de significado. Considero ela uma das melhores escritoras do século! – Naruto descobriu que poderia ouvi-la falar animada daquele jeito por horas e horas. Apoiou a cabeça na mão, e Hinata percebeu que tinha se alvoroçado, porque pigarreou e aprumou a postura – Enfim, eu gosto bastante dela. Termine o relatório. – mandou.

Naruto estava satisfeito com mais um item para sua lista de possíveis presentes. Continuou a escrever, revigorado, e finalizou trinta linhas cheias, o suficiente para agradar a professora e garantir um belo APROVADO em seu boletim final. Ficou triste, porém, de ter que ir embora. Sabia que, se insistisse um pouco – insistisse muito —, Hinata começaria a ceder. Amanhã seria véspera de natal, e, em um estalo, ele se virou, eufórico.

— Você vai, não vai? Amanhã? – ela o encarou, confusa – No pub! Nós vamos nos reunir para a véspera de natal. – a ideia simplesmente lhe pareceu perfeita.

— Acho que ouvi algo sobre isso. – foi sua resposta.

— Legal. Eu te pego às nove. – sorriu largo, e ela o encarou com descrença.

— Perdão?

— Não se preocupe, eu sei onde você mora. – ele não sabia, mas Sakura o ajudaria a descobrir. Reuniu sua mochila e se pôs de pé em um salto, pronto para passar o dia em lojas, pesquisando o presente perfeito – Nos vemos amanhã! – se despediu roubando um beijo de sua bochecha, e, antes que ela pudesse reagir com xingamentos, ou um possível soco, ele saiu correndo.

Entregou o relatório para a professora, despedindo-se definitivamente, e disparou pela porta. Antes de sair, olhou de soslaio, e pôde jurar ter visto um sorriso no rosto dela, antes que ela percebesse e disfarçasse, desviando para baixo. Mais feliz do que nunca, caminhou para fora da escola, puxando a jaqueta para se aquecer e entrando em seu amado carro, rumo ao centro comercial – agora estava esperando pelo natal como nunca.

Era como se todas as pessoas tivessem, de repente, decidido brincar de amigo secreto, todas ao mesmo tempo. Naruto mal conseguiu estacionar há duas quadras das lojas, que se estendiam em um longo calçadão. Ruas apinhadas de gente, empurra-empurra e um xingamento aqui e acolá. Era quase véspera de natal, e o que mais se via eram sacolas. Naruto suspirou, porque ele não tinha paciência de olhar loja por loja – mesmo não fazendo ideia do que comprar –, e também porque as vitrines estariam vazias. O melhor seria esperar até o natal passar, e procurar pelo presente na próxima semana.

O que ele sabia até agora sobre Hinata: carros, perfume doce, chocolate e Jane Austin. Ah, e que ela não gostava dele. É, animador.

Uma cesta de bombons? Um Chanel? Um box de colecionador? Eram tantas opções, e nenhuma parecia certa. Ele queria algo inesquecível, memorável – não apenas para se retratar pela péssima imagem transmitida ao longo dos anos; ora, ele não tinha culpa se as garotas gostavam dele. Naruto conseguiu alcançar a livraria antes de se estressar completamente. Não era nem meio dia, e já percebeu que não adiantaria. Dando meia volta, não resistiu e passou na loja de CDs, comprando o novo álbum da sua banda preferida antes de ir para casa almoçar.

No carro, colocou as músicas, cantarolando junto. Dirigir era uma das coisas que ele mais gostava de fazer – além de sair para festas, sair com garotas e jogar futebol –. Provavelmente sua mãe estaria na casa de alguma de suas amigas, e, sozinho, ele poderia colocar uma boa série no Netflix, enquanto aproveitava o frio de dezembro e as decorações de natal por toda parte. No dia 25, o almoço de família seria ótimo, todavia, ele poderia se concentrar no encontro com Hinata, na véspera – tirando que não era bem um encontro, e não era só com Hinata. Não importava. Nada tiraria dele aquela felicidade intensa que aquecia seu coração. Seria pelos feriados mais legais do ano ou porque a garota mais linda da escola tinha sido tolerado ele? Não saberia dizer.

O dia amanheceu como tinha terminado: um tédio. Naruto cochilou entre oito e nove horas, acordou para comer, assistiu alguns filmes no canal pago e dormiu de novo. Não reparou como estava exausto, provavelmente por ter dormido, não sei, quatro horas na noite anterior. De qualquer maneira, o céu continuava azul, com nuvens escuras que ameaçavam cair a qualquer momento, e as ruas escorregadias. Na verdade, o tempo estava tão propício para dormir que, de fato, ele apenas despertou por conta do celular tocando.

Era Sasuke ligando, mas Naruto sabia que era Sakura, porque ela nunca tinha crédito para ligar e odiava falar por mensagem. Jogou conversa fora, ouviu algumas reclamações e pediu dicas de quanto Lee, um de seus recebedores, calçava.

— Não sei porque chama de amigo secreto. – resmungou, virando na cama – Se todo mundo conta quem tirou antes da hora.

Não é todo mundo. — ela se defendeu, do outro lado – Só perguntei para facilitar meu trabalho. A Shion me mandou mensagem irritada porque tirou a Karin, e ela tem, tipo, todos os brincos de diamantes que existem.

— Sakura! – exclamou – Eu não quero saber! Droga, você tirou toda a diversão. – fez um bico.

Ah, deixa de frescura, Naruto. Só estou contando casualmente.

— Fofocando, você quis dizer. – ironizou – Tem alguma ideia de quem me tirou? – perguntou, curioso.

Ora, ora, não era você que não queria saber? – ela rebateu, sem perder a chance de provocar – Não sei. Nenhuma das meninas comentou nada. Segredo total.

— Que beleza. – infelizmente Naruto era demasiado impaciente.

Trocaram mais algumas farpas e ele desligou. Era véspera de natal, e, em poucas horas – onze, para ser exato –, ele encontraria Hinata – e todos os outros –. Era algo a se esperar. Decidiu levantar e matar o tempo da melhor forma possível. Cumprimentou seus pais, que já estavam de saída mais uma vez, mas voltariam para o almoço do dia seguinte. Naruto pescou alguns ingredientes para um sanduíche, e esse foi o ponto alto do seu dia.

Quanto mais ele olhava para o relógio, mais ele demorava para andar. Assistiu jogos antigos de futebol, filmes de natal, séries de natal, propagandas de natal – era surpreendente a criatividade publicitária naquela época do ano – e até cochilou. Acordou babando, quase as cinco da tarde, e decidiu que já podia se arrumar.

Pediu para Sasuke pedir para Sakura – bem discretamente – descobrir o endereço de Hinata. Ela realmente morava perto, no bairro vizinho, há alguns metros. Tomou um banho demorado com sabonetes caros que ele jamais admitiria usar, e procurou por uma calça jeans nova. Ficou em dúvida se usava a camiseta de mangas longas com tecido fino ou tecido grosso. Por fim, acabou com a de tecido fino, para poder usar sua inseparável jaqueta – ele gostava mesmo dela –. Caprichou no perfume e na bagunça do cabelo. Pegou chaves, dinheiro, e um pacote pequeno, embrulhado com uma fita.

Ele tinha visto um pingente de ouro muito bonito, com mini-pompons, e pensou “por que não?”. Só esperava que ela gostasse.

As sete e meia, Naruto estava convencido de que não, não era cedo demais, e saiu para buscar Hinata. Virou duas ruas, parando em uma casa vitoriana muito bonita e muito rica. Era toda organizada e sistematicamente aparada, com o jardim na altura certa e as pedras de cimento brilhantes – muito diferente da sua própria casa, onde as roseiras se misturaram com a cerca viva e nunca mais ninguém soube identificá-las.

Saiu do carro, tocando a campainha com a ansiedade de um garoto de doze anos, em seu primeiro encontro. Por sorte, foi Hinata quem atendeu, e, por um momento, Naruto prendeu a respiração, maravilhado. Ela usava um vestido vermelho vinho, coberto por um sobretudo e meia-calça grossa. Botas que só Sakura conseguiria rotular, e o cabelo com uma fita, absolutamente linda.

— O que está fazendo aqui? – ela lhe tirou do devaneio, chamando atenção. Naruto limpou a baba imaginária, sorrindo.

— Vim te buscar, oras.

— Não são nove horas ainda. – ela recostou no batente, com um sorriso debochado, que, claro, conquistou totalmente Naruto.

— E você já está pronta. – rebateu, sem se abalar. Hinata pareceu ceder.

— Espere aqui, já volto.

Ela entrou, encostando a porta. Naruto voltou para o conversível, comemorando. Enquanto seus amigos não chegassem, poderiam conversar, a sós, em uma mesa afastada e uma música animada ao fundo. Pediria duas cervejas, para se soltarem, e, se tudo desse certo, ele se daria bem a noite. Hinata voltou, se despedindo de alguém e com uma bolsa do lado. Desceu com graciosidade, rolando os olhos quando viu que ele acenava.

— Não acredito que você veio com essa jaqueta. – a brincadeira definitivamente era um bom sinal.

— Fazer o que, é meu charme. – rebateu, garboso. Ela riu, um tanto zombeteira.

Entraram, mas, antes que Naruto pudesse dar a partida, ele estendeu o pacote para ela. Surpresa, Hinata o pegou, abrindo e depositando o pingente na palma da mão. A máscara séria pareceu desaparecer por alguns segundos, e, com os olhos brilhando, ela se virou para ele, completamente surpresa. Sorriu, um sorriso verdadeiro e emocionado, as maçãs coradas.

— Obrigada. Eu amei.

Naruto pensou que poderia fazer qualquer coisa para vê-la sorrir daquela maneira novamente. Deu partida, indo para o pub.


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