Crescendo - Shirbert escrita por Sabrina


Capítulo 5
Conversa de mulher




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***

— Anne? Você está bem? – Marilla estava parada na entrada no meu quarto, o olhar preocupado e o cenho franzido. – Não sai dessa cama desde que terminou as tarefas.

— Desculpe, é que... estou me sentindo indisposta hoje. Meu dia escolar não foi dos melhores.

Ela se aproximou e sentou sobre a cama. – Quer me contar o que aconteceu?

Num instante também me sentei e estendi a folha de papel amassada. – Leia isso. Leia isso, Marilla, e me diga se acha que gosto de Gilbert Blythe!

Ela franziu ainda mais a testa, mas pegou o papel. Estava com aquela expressão que faz quando precisa falar comigo sobre assuntos que julga desconfortáveis. Como a vez em que lhe perguntei sobre beijos.

— Oh! – ela exclamou. – Você leu isso na frente da turma, Anne?

Li!— gemi, me deitando novamente e escondendo a cabeça sob o lençol. – Eu sou a pior amiga do mundo!

Marilla ficou em silêncio. Eu esperei, mas continuou assim, então destampei a cabeça e a olhei, curiosa.

— Sabe, Anne, eu já venho reparando no... no comportamento no jovem Blythe quando está perto de você. Todas as vezes que o vejo, temo que vá pedir permissão para cortejar você. Ou em noivado. Não sei qual o grau de proximidade entre vocês.

“O que?!”, pensei. E só pensei mesmo, pois não conseguia falar. Pela primeira vez eu não sabia o que dizer.

— E sim, eu acho que ele gosta de você. Já faz tempo que percebi isso – ela continuou. – Você precisava ver como ficou alegre quando ganhou aquele livro de aniversário. E depois, quando dançaram no meu aniversário... – ela sorriu – foi tão bonito!

Marilla!

Eu estava chocada. Como ela podia falar assim? Eu e Gilbert Blythe dançando foi bonito? Que tipo de comentário era esse? Agrh!

— Mas é verdade – ela disse, ainda com o sorriso gentil. – Todos paramos para observar, se lembra?

Eu queria dizer que não, mas realmente todos pararam para observar, como se estivéssemos reencenando Shakespeare.

— Eu não acho que Gilbert goste de mim – falei. – Ele é só meu amigo. Um amigo que gosta de me irritar. Você confundiu as coisas.

— Você pediu minha opinião, Anne, e qualquer um que tem olhos pode ver que esse rapaz gosta sim de você. E— ela se levantou e me olhou séria – acho que você ainda não percebeu o que sente por ele. Alguns anos atrás, não sei se teria coragem de ter essa conversa com você, mas logo você fará dezoito anos, e já está na idade de... bem, de se casar.

Marilla!

— Não adianta dizer meu nome com esse tom repreendedor. É um fato e nós temos que aceitar: você já está na idade. É claro que jamais iriamos obrigá-la a isso. Sei que quer fazer faculdade antes. Mas precisa saber que... bom, que é natural que os rapazes demonstrem interesse por você agora.

Então ela me deu um sorriso triste e saiu do quarto. Como se fosse muito fácil sair depois de me dizer todas aquelas hipóteses bizarras. Pelo resto da noite, fiquei me revirando na cama, sem conseguir dormir. A ideia de que Gilbert Blythe quisesse se casar comigo era completamente absurda, e mesmo assim não conseguia parar de pensar nela.


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