Sementes de girassol escrita por Izabell Hiddlesworth


Capítulo 1
no seu coração


Notas iniciais do capítulo

Hey!

Obrigada por dar um pulinho aqui. Essa é a primeira vez que escrevo sobre NaruHina e, também, sobre um casal canon (e hétero) de Naruto. Espero que você se divirta por aqui. :)

Boa leitura!



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Hinata levou um susto quando topou com o garoto parado ao lado dos canteiros. E quase deixou o regador cair ao perceber que era Naruto Uzumaki.

— Y-Yo. — Ele lhe acenou com um sorriso nervoso. Seu olhar se desviou para o canteiro, então voltou com um ar de culpa. — Então… Sabe… Aconteceu um acidente…

Demorou alguns segundos para que Hinata se desse conta o estrago. Na curva do canteiro, a quadra de mudas de girassol estava destruída. Uma flor continuava intacta, outras duas estavam com os caules dobrados e as outras haviam sido esmagadas.

O regador caiu de suas mãos, molhando seu uniforme e o chão de cimento.

— Foi mal! Eu juro que não foi de propósito! — Naruto exasperou, colocando-se de joelhos. — Estamos treinando na quadra aberta hoje. Eu dei um chute muito forte… — Gesticulou afetadamente com a bola de futebol que trazia. — E-Eu te ajudo a arrumar! É só me dizer o que fazer!

Os sinos para o início da primeira aula soaram pelo colégio. Hinata pôde ouvir uma agitação nas escadas atrás das janelas que davam no canteiro. Mas sua atenção estava voltada para os girassóis esmagados.

— Ah, merda… — Naruto murmurou. Pôs-se de pé em um salto, correndo em direção ao setor esportivo. — Foi mal! Eu volto aqui para falar com você depois!

Estática, Hinata observou as costas dele sumirem além do pátio aberto. Só conseguiu digerir a situação uma hora mais tarde, quando finalmente teve tempo de contar às amigas sobre os girassóis destruídos.

— Está escondendo o rosto por quê? — Ino perguntou aos risos depois do fim da história.

— O Naruto não está aqui, Hinata. — Sakura a cutucou gentilmente, rindo-se também.

— Mas o que realmente importa é: você falou com ele?

Houve um momento de silêncio cheio de expectativa entre elas. Hinata afastou os dedos do rosto para encarar as amigas e balançou a cabeça em negação.

— Nem um oi? — Sakura pestanejou.

— Ah, não! Essa foi a sua grande chance, Hina!

Sakura fez questão de dizer mais alguma coisa, mas, então, o professor Kakashi já estava entrando na sala para a segunda aula do período. E até o intervalo, não houve chance para que voltassem a falar de Naruto, quando ele próprio surgiu à porta da sala. Estava esbaforido, com a camisa do uniforme por abotoar no colarinho – sem gravata – e um pão de melão pela metade.

Ino deu uma cotovelada sutil em Hinata para mostrar-lhe o garoto. Porém, Kiba já estava anunciando a visita para a turma inteira:

— Ei, Hinata! Naruto está aqui para te ver.

Ela não podia ver, mas tinha certeza de que seu rosto ficara instantaneamente rosado, como os cabelos de Sakura. Com seu obentou em mãos, teve vontade de sair pela outra porta e desaparecer de vista. Mas as amigas a impeliram na direção de Naruto.

— Hinata-san! Foi mal, foi mal! — Ele juntou as mãos à frente do corpo e curvou-se em uma reverência exagerada, o que atraiu olhares no corredor. — Não consegui me desculpar direito mais cedo.

— T-Tudo bem… — Hinata murmurou com a voz quase sussurrante.

— ...e a Anko-sensei ralhou comigo depois que contei o que aconteceu, mas eu ia me redimir de qualquer jeito. — Naruto não ouviu, falando sem parar. — Você acha que dá para salvar as flores? Eu ajudo em qualquer coisa!

Hinata comprimiu os lábios, encarando os pés. Não sabia se conseguiria conversar propriamente. Estava acompanhando Naruto de longe desde o ensino fundamental, mas nunca tivera grandes oportunidades para interagir com ele. E quando finalmente estava acontecendo, parecia ter ficado muda.

— Hinata-san?

— Ora, ora, se não é o delinquente que estragou nossos girassóis. — Ino surgiu ao seu lado, passando um braço por seus ombros. — Francamente, Naruto, você quase fez a Hinata chorar, Naruto.

— Eu não tive a intenção! — O garoto desesperou-se.

— Vai ter que os ajudar a plantar mudas novas. Como o Kiba, ali, que trucidou nosso canteiro de camélias. — Ino passou pela porta, levando Hinata junto. — Esteja na estufa às três da tarde na quinta-feira. Vamos ter sementes novas para plantar. Até mais.

As duas apressaram-se pelas escadas até o pátio, com Sakura logo atrás. Só pararam para respirar e rir ao encontrar Temari e TenTen em um dos bancos.

— Hinata, por favor, você tem que falar com ele! — Ino a sacudiu pelos ombros. — Como ele vai saber que vocês foram feitos um para o outro se você não abre a boca?

— Ele quem? O Naruto? — TenTen perguntou curiosa.

— Sim! Ele foi até a nossa sala agora há pouco só para falar com a Hinata! — Sakura contou animada.

— Sobre os girassóis destruídos.

Hinata teve de recontar todo o episódio daquela manhã, e depois sofrer com as amigas fazendo uma representação dramática da conversa à porta da sala. TenTen tentou animá-la, dizendo que haveriam outras chances, mas Temari estava mais preocupada em reclamar sobre as flores mortas.

— Os clubes esportivos são piores do que pragas. Será que nós vamos conseguir cultivar um mísero canteiro em paz até o fim do ano? — Ela bufou irritada. — Já não basta os apaixonadinhos que ficam arrancando nossas flores.

O clube de jardinagem quase sempre estava em guerra com o restante do colégio. Era difícil que passassem mais de duas semanas sem Temari e Ino – às vezes as duas juntas – reclamarem e perseguirem alguém por alguma flor estragada. Os clubes esportivos, com bolas perdidas e outros acidentes, não saíam da lista de inimigos das garotas. Frequentemente, a estufa de jardinagem recebia atletas da escola para punições.

— Relaxa, a Hinata vai garantir que o Naruto plante novos girassóis. — Ino deu de ombros, largando-se no banco. Enquanto abria seu pote de frutas, lançou um olhar provocativo à amiga. — Não vai, Hinata?

Ela não respondeu. Estava ocupada observando um grupo de garotos do time de futebol do outro lado do pátio. Kiba parecia ter dito alguma coisa engraçada, e os amigos riam alto. Sasuke Uchiha surpreendeu seu olhar, indicando-a para Naruto, que ergueu a mão em um aceno.

— Vou tentar — Hinata murmurou, baixando o rosto.

 

Na quinta-feira, Hinata esperou até uma hora e meia depois do combinado. Havia ficado sozinha na estufa, enquanto Ino e TenTen adubavam os canteiros do colégio e Temari supervisionava o trabalho de Kiba. Sakura voltara para casa mais cedo, então só lhe restavam as plantas para conversar.

— Acho que ele não vem — comentou baixinho com uma leguminosa arroxeada.

Era o que parte dela queria acreditar, mesmo que a outra, a que ansiava por longas conversas desde o fundamental, desejasse o contrário com todas as forças. Naruto nunca lhe parecera o tipo que se comprometia da boca para fora, mas talvez estivesse errada.

— Se ele não vier, significa que não vamos precisar nos falar de novo e eu não vou passar mais vergonha. — Hinata sorriu timidamente.

Depois de vinte minutos, ela decidiu apanhar o pacote de novas sementes e as ferramentas para o plantio mesmo sem o menor sinal de Naruto. Ajeitaria o canteiro sozinha e depois iria para casa – como contou à pequena leguminosa. Estava acostumada a limpar a destruição dos acidentes nos canteiros sozinha, não tinha problema nenhum.

Problema nenhum além de suas expectativas um pouco quebradas.

— Desculpa pela demora!

Hinata sobressaltou-se, deixando o puxador do balde de ferramentas escorregar de sua mão. Quando virou-se para a porta da estufa, encontrou Naruto completamente molhado, ainda no uniforme de treino do time, enxugando o rosto com uma toalha. Ele tentava recuperar o fôlego, apoiando-se nos joelhos.

— A Anko-sensei… liberou o time… só agora… — Inspirou com força, endireitando as costas. — Não deu para escapar.

— Não… Não tem problema. — Hinata disse rápido demais, abaixando-se para recuperar as ferramentas.

— Ah, eu te ajudo! — Naruto correu para dentro da estufa.

Hinata esticou a mão para uma colher de ferro, mas ele a apanhou primeiro, resvalando-lhe os dedos. Depressa, ela recolheu-se, fixando o olhar no piso de ardósias.

— Eu realmente não entendo nada de jardinagem. — Naruto confessou quase sem jeito. — Mas estou contando com você para me ensinar, Hinata-san.

— Sim…

— Hinata-san? — Naruto lhe franziu o cenho.

Naquele momento, Hinata precisou concentrar-se para ficar de pé e caminhar até os ganchos de aventais. Ela apanhou um para si e outro para Naruto, já colocando-se para fora da estufa.

— Vamos? — chamou sem voltar-se para ele. — Ino disse que precisamos terminar ainda hoje.

— Ah, certo!

Nenhum deles disse nada até que chegassem à fileira de canteiros próxima à quadra aberta. Vestiram os aventais e as luvas, e Hinata passou uma pequena pá a Naruto para que retirassem as flores destruídas pela raiz.

A brisa vespertina soprava suave por aquela parte do colégio, trazendo burburinhos das reuniões dos outros clubes. Hinata puxou um dos girassóis para fora da terra, pensando em uma porção de frases de diferente para iniciar uma conversa. A fala de Ino ainda rondava sua mente, e não podia negar a razão da amiga.

— Minha mãe gostava muito de girassóis — Naruto murmurou de repente, trazendo-a de volta.

Por um instante, Hinata esqueceu-se do que fazia para encará-lo.

— Ela tinha um canteiro cheio deles no jardim da nossa casa, mas eles morreram pouco depois dela. — O sorriso em seus lábios era melancólico. — Nem eu nem meu pai sabíamos cuidar deles.

O som da colher dele cavocando a terra era monótono, uma sucessão de golpes mecânicos.

Hinata lembrou-se do funeral na sétima série. Todos os colegas de classe haviam ido prestar condolências à família Uzumaki, e ela mesma levara lírios para a memória de Kushina. Naruto faltará às aulas por uma semana inteira, e demorou pelo menos dois meses para que voltasse a se animar.

— Parece que eu não consigo parar te matar girassóis, não é? — Seu riso soou forçado.

— Temos um pacote extra de sementes lá na estufa — ela disse quase sem pensar, deixando que os lábios se curvassem levemente. — Você pode levar para plantar no seu jardim… Se quiser,  claro.

Ele lhe fitou um tanto atordoado. O brilho em suas íris azuis havia diminuído um pouco, como se aquele assunto o entristecesse. No entanto, segundos mais tarde, eram os mesmo olhos de sempre.

— Obrigado, Hinata-san. — A sinceridade saltava em sua voz. — Com você me ensinando a plantar as sementes, com certeza vou conseguir devolver os girassóis da minha mãe.

Com as colheres paradas, eles sorriram um ao outro. Hinata respirou fundo discretamente, fazendo o possível para se acalmar. De certo, seria difícil dormir com as emoções daquela tarde.

Os dois terminaram o plantio das sementes no início do crepúsculo, e voltaram à estufa com Naruto tagarelando sobre o treino do dia. Hinata lhe entregou o pacote tão logo guardaram as ferramentas.

— Eu espero que ele cresçam logo!

Naquele momento, Hinata teve a súbita impressão de que o sol da tarde estava dentro da estufa. Mas não ousou encará-lo.

 

Nas semanas que se seguiram, não esbarrar em Naruto pelo colégio parecia uma tarefa quase impossível. Hinata estivera acostumada a vê-lo de longe e brevemente, mesmo compartilhando quase do mesmo círculo de amigos. Porém, depois das sementes de girassol, não se passava um dia sem que o garoto lhe acenasse – muitas e muitas vezes por dia.

— Ok, você só replantaram as flores mesmo? Ou rolou mais alguma coisa? — Ino perguntou desconfiada em uma tarde, quando o time de futebol passou correndo por elas.

Hinata tratou de esconder o rosto atrás da braçada de vasos de plástico que carregava.

— Nossa Hina-chan foi finalmente notada. — Sakura gracejou aos risos.

A verdade é que a própria Hinata não se sentia tão notada assim. Naruto era naturalmente gentil e entusiasmado com todos. Não podia deixar que suas expectativas crescessem só por alguns “ois” perdidos pelos corredores.

Ainda assim, foi difícil controlar-se ao chegar ao canteiro de girassóis na sexta-feira.

Naruto já estava lá, examinado de perto as mudas de girassol. Ele sacolejou a mão no ar ao vê-la, exibindo um sorriso caloroso.

— Olha só! Nossos girassóis estão ficando incríveis! — Levantou-se depressa, gesticulando para o canteiro ainda dominado pelo verde. Porém, um instante depois, pareceu desanimado ao observá-lo. — Os lá de casa não estão tão bonitos assim.

Hinata abafou um riso com o dorso da mão.

— O que faz suas flores crescerem fortes? Mágica? — Naruto coçou a nuca pensativo, como se realmente considerasse a hipótese.

— Adubo. — Ela indicou a saca de pano que arrastava, falando tão tranquilamente quanto podia. — E bastante água.

— Parece mágica para mim. — Naruto tombou a cabeça de lado. — Anko-sensei cancelou o treino de hoje. Será que eu posso te ajudar aqui? Preciso aprender a cuidar do jardim de casa.

Embora relutante com aquela proximidade – ele não parava de chegar mais perto para ouvi-la melhor –, Hinata não o impediu. Durante os primeiros trinta minutos, ela fingiu que explicava as coisas para si mesma, fazendo o possível para se manter firme. Porém, não demorou para que percebesse o quão divertido era compartilhar seus conhecimentos com Naruto. Riam a todo instante, e ele estava realmente ávido para descobrir os segredos sobre os girassóis e as outras flores da fileira.

Os dois mal se deram conta das sombras se arrastando e do céu ameaçando minguar para o crepúsculo. Mas o sinal para o fechamento do colégio soou, tirando-os do transe.

— Acabou o tempo para os clubes — Naruto murmurou para si, observando um grupo de estudantes que arrastavam colchonetes para o setor esportivo.

— Sim, há quarenta minutos atrás. Está na hora de irem para casa.

O professor Kakashi passou por eles, encarando-os com sua típica expressão entediada. Hinata anuiu encabulada, enquanto Naruto se colocava de pé para juntar as ferramentas.

— Ah, Hinata-san! — ele exasperou-se de repente. — Vai escurecer daqui a pouco. Você quer que eu te acompanhe até sua casa?

 

— Então.. — Ino debruçou-se sobre sua carteira com um sorriso enviesado. — Vocês estão saindo?

Hinata olhou dela para o restante das amigas, que a rodeavam curiosas.

— O quê? — perguntou baixinho, recuando para o encosto da cadeira.

— Queremos saber se você e o Naruto estão saindo. — TenTen riu.

— Ino acha que sim.

— Mas que você está com vergonha de contar para a gente — Temari completou.

— Por favor! — Ino revirou os olhos. — O Naruto surge na estufa pelo menos umas duas vezes por semana, e eles vão embora juntos!

Alguns dos alunos que retornavam do intervalo olharam na direção delas, fazendo Hinata enrubescer.

— Ok, a Ino tem um ponto. — Sakura meneou a cabeça positivamente.

— Dois pontos.

— E eu nunca tinha visto o Naruto indo embora com alguém além do Sasuke.

— Você deveria aproveitar, Sakura. É sua chance de ir embora com ele. — TenTen cutucou a amiga, ao que todas gargalharam.

— Mas falando sério, Hinata… — Ino acalmou-se o bastante para fitá-la. — Quando você vai se confessar para ele?

Hinata deixou o olhar recair sobre o tampo da carteira. Podia sentir as amigas mal se contendo de animação. Mesmo depois de anos de amizade, ainda não estava acostumada a confidenciar tão abertamente como elas. Não que houvesse algo para se falar.

— O sinal vai bater.

Mal Temari terminou de falar, o som do sinal para o fim do intervalo ribombou pela sala. Ela e TenTen despediram-se, então, para retornaram para suas salas. E antes que Ino ou Sakura pudesse retomar a conversa, a professora Kurenai já acomodando-se em sua mesa.

Hinata suspirou aliviada quando as amigas foram obrigadas a voltar-se para a lousa. No entanto, ainda que as duas tivessem se mantido caladas durante toda a aula, sua própria mente não a deixou em paz.

Não pôde deixar de pensar em Naruto, em raios de sol mornos e girassóis que os seguiam. Não pôde deixar no tempo que estavam passando juntos e todas as coisas que havia aprendido sobre ele.

Também ansiava para que Naruto descobrisse coisas sobre seu pequeno mundo. Como o fato de que seu coração estava sempre a meio galope quando se tratava dele. Mas talvez ainda não fosse o momento certo.

Talvez, só talvez, esse momento chegasse junto com o desabrochar dos girassóis.

— Sim — Hinata sussurrou para si mesma, lançando um olhar esperançosos pela janela.

Quase podia sentir suas flores na fileira de canteiros dois andares abaixo. E aquilo, bem como as breves tardes com Naruto, de alguma forma, era o suficiente por ora.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura!

Lollallyn ♥



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