Punição divina escrita por Aislyn


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

O final desse capítulo ficou tão "oowwwnnnn", se é que me entendem XDD
Ah, e não é o final aqui, ok?
Boa leitura!



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Movimentos de um lado para o outro e então sussurros, um toque quente em sua testa, depois algo frio na mesma região, momentos de consciência e inconsciência. Algo acontecia ao seu redor, mas não tinha forças para abrir os olhos e descobrir. Estava muito cansado e ali estava confortável e quente, se sentia seguro também, aquilo era importante, mesmo sem entender o motivo.

 

— Padre? Consegue me ouvir? – era uma voz baixa, suave e gentil. Queria responder, mas não era capaz. Sua garganta estava seca e seus olhos pesados – Pode apertar minha mão?

 

Aquilo pareceu impossível também. Podia ouvir a voz de uma mulher, sentia ela à sua volta, às vezes segurando sua mão, às vezes só conversando, mas não encontrava forças para atender seus pedidos.

 

— A febre baixou, mas ele ainda não acordou…

 

Ouviu-a sussurrar com alguém, a resposta baixa demais para ser entendida e então tudo ficou quieto novamente.

 

Andava em uma floresta. Estava escuro, mas ele conhecia uma parte do caminho. Contudo, por mais que andasse, ele nunca encontrava a saída. Nunca encontrava ninguém. Não devia ter um viajante por ali? Sentado perto de alguma árvore? No topo das árvores também devia ter alguém. Se sentia observado, mas quando olhava para cima, não havia nada.

 

— Akaashi?

 

Parou de andar, olhando ao redor, mas não encontrou o dono da voz. Ele sabia a quem ela pertencia! Onde estava?

 

— Akaashi! Vamos, eu estou ficando preocupado… Você não é preguiçoso assim, é? Não fica dormindo até tarde… Por que não acorda?

 

Ele estava dormindo? Era por isso que não conseguia sair da floresta? Isso explicava porque não encontrava ninguém… fazia um tempo que não ouvia a voz da mulher também. E tinha a voz daquele homem que o chamava… de quem era mesmo?

 

Sentia dedos entrelaçados aos seus, mas não os via e não podia apertar de volta.

 

E então a inconsciência voltou…

 

— Oi… pode me ouvir?

 

Ele podia. E dessa vez conseguiu abrir os olhos. Lentamente. A luz os machucava, causando ardência.

 

— Acordou! Que bom! – era a mesma mulher que falava consigo enquanto dormia. Ela afastou alguns fios de sua testa, umedecendo a toalha pousada na região – Estávamos preocupados que fosse necessário chamar um médico. Iria demorar um tempo até vir…

 

Olhando ao redor, Akaashi se descobriu em um quarto pequeno; a mulher sentada de um lado, a porta aos pés da cama e uma janela à sua esquerda, por onde uma brisa morna passava. Ainda estava claro lá fora, então devia estar no meio da manhã. Não ouvia barulhos além da porta e nem através da janela. Podia estar numa casa afastada ou no meio do campo. Isso explicaria seu sonho com florestas.

 

Precisou de ajuda para se sentar e comer no início, mas ao final do segundo dia já conseguiu se virar sozinho, mesmo que de forma lenta e desajeitada.

 

A mulher, que descobriu se chamar Shimizu, explicou que alguns conhecidos o encontraram desacordado na estrada que levava à aldeia. Ele não tinha nada consigo, mala de viagem, dinheiro ou qualquer coisa que identificasse de onde era. Além das roupas, o único objeto que levava consigo era o crucifixo, agora pousado na mesa de cabeceira.

 

Akaashi se apresentou à moça e confirmou as suspeitas de todos sobre ser um padre. Disse que fazia parte de um grupo pequeno de uma cidade vizinha, mas tanto Shimizu quanto os outros que vieram visitá-lo depois, disseram não saber onde ficava. Akaashi só pode supor que fora parar em algum lugar bem longe de onde morava anteriormente. Evitando perguntas, por não saber como responder, ele disse que não se lembrava do que aconteceu em sua viagem. Estava cumprindo uma promessa e parte dela envolvia uma longa caminhada, mas em algum momento do percurso tudo ficou confuso, escuro… Ele não podia afirmar se havia passado mal e foi atacado depois ou se fora o ataque de algum bandido pelas redondezas que o deixou no estado que o encontraram.

 

— Foi Deus quem mandou o senhor aqui, padre! – afirmou uma senhora de idade que viera visitá-lo – Estávamos abandonados à sorte! É um milagre!

 

Milagre… o milagre, do seu ponto de vista, era estar vivo.

 

Ainda na conversa com a senhora, descobriu que o padre que prestava serviços para a cidade morreu há alguns anos, de velhice, e nenhum outro quis ocupar seu lugar. Afinal de contas, que rapaz iria sair de uma boa cidade para viver no meio do nada, numa aldeia com pouco mais de cem moradores? Os padres mais velhos também dispensaram o serviço, com a desculpa de não aguentar a longa viagem devido à saúde frágil. Realmente, era um presente de Deus que ele fosse mandado até ali!

 

Diante daqueles pedidos e olhares, Akaashi se viu impedido de negar. Eles cuidaram de si, sabe-se lá por quantos dias, oferecendo um teto, comida e um lugar para dormir. Não era tão ingrato ao ponto de simplesmente virar-lhes as costas.

 

Somente após uma semana de cama, garantindo aos seus cuidadores que não faria nada de mais, nenhum esforço desnecessário, é que Keiji teve autorização para sair e conhecer o lugar. Acompanhantes para mostrar tudo também não faltou. Descobriu que viviam do que plantavam e colhiam por ali, além de um pequeno gado que cuidavam. Sendo pessimista, parecia mesmo que estavam abandonados à própria sorte.

 

A capela, que ficava na parte leste da aldeia, era minúscula e estava aos pedaços. Pelo visto não era usada há muitos anos, mas os restos de velas queimadas na entrada mostravam que eles ainda tinham fé. Quem o viu visitando o lugar garantiu que, se assim quisesse, iriam reformar tudo o quanto antes.

 

Akaashi só pode agradecer e afirmar que, se fosse da vontade deles, poderia rezar com todos em qualquer lugar, até mesmo a céu aberto. A comemoração foi audível.

 

Somente depois de voltar para a casa que o abrigou, somente depois que todos foram dormir, é que Akaashi conseguiu respirar aliviado. Seus ombros pesavam com a certeza que precisavam dele ali, mas seu coração estava apertado. Aquilo parecia errado…

 

Observando uma parte da aldeia pela janela, Keiji se perguntou se realmente deveria estar ali. Se era certo alimentar a fé daquelas pessoas. Quando pensava que devia ter morrido…

 

— Boa noite.

 

Akaashi sobressaltou com o cumprimento, depois sorriu ao reconhecer quem era, se afastando da janela para que Bokuto saísse do telhado e entrasse no quarto.

 

— Estava mesmo demorando para você aparecer…

 

— Eu vim antes. Você estava dormindo. – Bokuto se acomodou no meio da cama, batendo no espaço ao seu lado num convite.

 

— Eu te ouvi me chamando… Foi você quem me trouxe pra cá, não foi?

 

— Sim, até a entrada. Kenma achou mais seguro que te encontrassem. Eu sabia da situação do lugar e achei que seria ideal pra você.

 

— São boas pessoas… obrigado. – ignorando aquela ponta de medo, Keiji aceitou o convite, se sentando ao lado do anjo e recebendo um sorriso amigável de volta – Já que falou de Kenma… ele é um anjo como você? Kuroo quis evitá-lo quando o encontramos na estrada…

 

— Ah, achei que ia descobrir sozinho. – Bokuto sorriu travesso e um pouco envergonhado – Kuroo não estava exatamente evitando, os dois até que se entendem. Ele estava tirando você de perto do Kenma. Se te deixasse segui-lo, não teria volta.

 

— Por que? Acho que não entendi…

 

— Kenma é o anjo da morte.

 

Aquilo acendeu uma luz na mente do padre. Agora tudo fazia sentido. Durante a viagem, o cansaço e a sede o deixaram aéreo. O viajante tinha água consigo. Se o seguisse… ele ia saciá-la, já que acabaria com tudo.

 

Esfregou os braços com as mãos, sentindo um frio estranho percorrer seu corpo.

 

— É por isso que ele não pode interferir. Ele tem uma regra muito forte de seguir o curso natural das coisas. Tudo tem seu tempo de duração e durante esse processo ele só pode observar. O único momento em que pode agir é no fim. Ele é quem acaba com tudo quando a hora chega.

 

— Mesmo assim você me mandou procurá-lo… e se ele fosse acabar com tudo ali? – Akaashi questionou num murmúrio, o medo voltando a rondá-lo.

 

— Kenma sabia que Kuroo estava por perto e tinha oferecido um acordo pra ele. Eu meio que te usei de mensageiro, eu sabia que ele não ia agir naquela hora.

 

— Como pode ter certeza? Se ele já havia aparecido antes pra mim…

 

— Estava tudo combinado. Só faltava Kuroo aceitar a proposta.

 

— O que aconteceu com ele? Quer dizer… ele não estava ajudando os demônios?

 

— Kuroo é um sacana! Estava em cima do muro, ajudando todo mundo, vendendo informação pra todo mundo, fazendo as coisas do jeito que achava melhor. Nem quero imaginar o castigo que Kenma deu pra ele.

 

— Ele escolheu o lado dos anjos, no fim das contas…

 

— Kuroo? Não mesmo! Ele está do lado da morte. É aprendiz dela. – Bokuto parou pensativo, procurando as melhores palavras para explicar – Digamos que a morte não julga… algo como não importa se é bom ou mau, pobre ou rico, ela leva a todos no fim.

 

— Acho que entendi…

 

— Não fique assim! Está tudo bem! – Bokuto tentou soar despreocupado, mas Akaashi parecia encolher e se fechar com a informação – Ah, talvez isso não te tranquilize, mas Kenma disse que virá te visitar. Ele vai te explicar melhor as coisas.

 

Com certeza aquilo não o tranquilizava. Em que estado uma pessoa ficava depois de descobrir que a morte faria uma visitinha?

 

— Vem cá. – sem esperar permissão ou que o padre entendesse o que fazia, Bokuto o puxou para sentar entre suas pernas, abraçando-o e ocultando-os entre as asas – Sei que devia me sentir culpado por colocá-lo em perigo, mas estou tão feliz que esteja bem. Você passou por tudo isso por ter se encontrado comigo, mas estou grato que tenha sido você.

 

— Bokuto…

 

— Posso ficar aqui? Só um pouco? – o anjo pediu baixinho e Akaashi relembrou do pedido na igreja, para passar a noite em seu quarto. Ele conseguia parecer uma criança.

 

— Tudo bem. Aqui é… bom.

 

Como fazer com aquele sentimento de proteção? Por mais que Bokuto tivesse se mostrado descuidado e errado algumas vezes, no fim das contas, ele cuidou de si. Akaashi se acomodou em seus braços, fechando os olhos enquanto apoiava a cabeça em seu peito. Deixaria que Bokuto passasse a noite ali, se ele quisesse.

 

— Está dormindo? – o anjo questionou baixinho, inclinando o rosto para observá-lo e recebeu um aceno negativo – O que vai fazer agora? Gostou do lugar? Pretende ficar por aqui?

 

Akaashi remexeu-se incomodado, levando a mão ao crucifixo que voltou a usar no pescoço.

 

— Eu não sei, Bokuto… parece errado… – suspirando fundo, Akaashi mandou a precaução para o alto e abraçou o anjo de volta – Depois do que passei na igreja, depois de descobrir o que o bispo fez, não só comigo, mas com Kuroo também, senti que estava no lugar errado.

 

— E o que quer fazer agora? Já pensou a respeito?

 

— Não… não sei mais se estou na profissão certa… Talvez eu fique um tempo, até me decidir, mas depois…

 

— Você pode fazer o que quiser. É esforçado, inteligente, tem a calma necessária para aprender qualquer coisa. Vai lidar bem com qualquer caminho que escolher.

 

— Eu vou pensar com cuidado…

 

— Não pense demais. – Bokuto ergueu seu rosto, o indicador servindo de apoio para seu queixo, sussurrando próximo ao seu ouvido – Siga seu coração. Ele sabe o que é o certo a fazer.

 

Contudo, o que seu próprio coração o pedia para fazer não parecia certo… Keiji ainda era um padre, afinal de contas… Mas se ele estava em dúvida, podia dar um empurrãozinho, não é?

 

Ah, ele certamente ficaria feliz de receber outra punição se fosse por aquele ato e, pensando nisso, acabou com a pequena distância que já havia entre eles, tocando os lábios de Akaashi com os seus, extasiado com o momento que o susto do padre passou e foi correspondido, da forma desajeitada e inocente que um primeiro beijo deveria ser.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!



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