Um Amor De Natal escrita por Maremaid


Capítulo 2
Solangelo - Como Nico quebrou o Natal


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Tudo bem com vocês? Eu voltei com mais um capítulo!

Confesso que esse foi o primeiro capítulo yaoi que eu escrevi na vida. Pensei que ia ser difícil por eu não ter prática, mas acabou sendo bem mais fácil do que eu esperava.. Talvez esse ship maravilhoso tenha ajudado um pouquinho haha.

Ah, esqueci de dizer no primeiro cap, mas queria agradecer imensamente à Gabi por ter me ajudado a desenvolver esta fic. Sempre ouvindo as minhas ideias loucas, dando opiniões e lendo os capítulos para ver se estavam bons... Muito obrigada, Gabi ♥ (Você sabe que essa fic talvez nem saísse se não fosse a sua grande ajuda, né? rs)

Enfim... Boa leitura e nos vemos nas notas finais!



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Nico di Angelo nunca pensou que passaria aquele final de tarde na Emergência de um hospital, mas era exatamente ali em que ele estava naquele exato momento.

E era por um motivo tão bobo que ele até se sentia envergonhado por isso! Nico havia acabado de sair da faculdade e lembrou-se que sua geladeira estava praticamente vazia. Ele então andou rapidamente pelas ruas da cidade com o intuito de chegar logo ao mercado devido ao frio, porém ele havia esquecido totalmente que havia nevado na noite anterior. Resultado: ele escorregou em uma poça de gelo derretida e acabou se apoiando no braço ao cair. Agora, em vez de ir para o seu amado e quentinho apartamento, teve que pegar um táxi e ir para o hospital da região.

Quando ele chegou lá, o seu braço já estava bem inchado, então ele sabia que não tinha sido apenas uma torsão leve. Preencheu a ficha no balcão — quer dizer, a moça fez isso, pois Nico era tão sortudo que ainda havia machucado o braço direito — e sentou-se em uma das cadeiras da Emergência, enquanto aguardava ser chamado.

Nico odiava hospitais. Estar naquele lugar lhe trazia lembranças ruins que ele gostaria muito de esquecer. Sua cabeça estava começando a doer por causa disso, então ele fechou os olhos, tentando ignorar o barulho ao redor.

— Céus! O que aconteceu com o seu braço? — Alguém exclamou perto dele. Nico abriu os olhos, sem conseguir disfarçar a surpresa por descobrir quem era o dono daquela voz. Cabelos loiros encaracolados que viviam sempre bagunçados, olhos azuis da cor do céu, sorriso brilhante, rosto perfeitamente esculpido pelos deuses e um corpo atlético que o fazia parecer com um surfista, mesmo morando na fria Washington D.C. — Ah, desculpe. Você sabe quem eu sou, não é?

Oh, com certeza Nico sabia quem ele era: Will Solace, do apartamento 502. Também conhecido como o garoto no qual Nico nutria uma pequena quedinha.  

— Sim, você fica em cima de mim. — Nico perceber o duplo sentido da sua frase e pigarreou, se sentindo constrangido. — Hm, quis dizer que o seu apartamento fica em cima do meu.

— Isso! — o garoto riu. — Eu me chamo Will, a propósito.

“Eu sei”, Nico pensou. Mas ele não iria admitir que já havia mexido na correspondência do seu adorável vizinho apenas para descobrir o nome dele.

— Eu sou o Nico. — Respondeu.  — Não sabia que você era... Enfermeiro.

Nico sempre o via sair de manhã vestido de branco, então deduziu que ele deveria fazer residência em Medicina. Mas, ao olhar para o crachá de Will, percebeu que estava escrito a palavra “Enfermagem” logo abaixo do seu nome.

— Você ainda não sabe muitas coisas sobre mim. — Will deu uma piscadinha. — A propósito, você ainda não me disse o que aconteceu.

— Ah... — Nico olhou para o seu braço machucado, pensando em uma forma de contar aquilo sem parecer um idiota. — Não foi nada, eu apenas caí.

— Duvido. — O enfermeiro tinha um sorriso divertido no rosto, como se tentasse adivinhar o que aconteceu. — Está bem inchado.

— Nem está doendo tanto assim. — Ele mentiu.

— Deixe-me ver. — Will se inclinou na direção de Nico para tocar o seu braço, o que fez o garoto surtar internamente. Felizmente, eles foram interrompidos antes.

— Sr. Di Angelo? — Uma enfermeira em frente à sala do Raio X o chamou.

— Sim, sou eu. — Nico se levantou rapidamente.

— Ok, entre. Vamos ver o estrago que aconteceu no seu braço. E, Solace — ela olhou para Will com um olhar severo —, você não está aqui para ficar batendo papo com os pacientes durante o seu turno, então vá procurar algo para fazer!

— Eu já estava indo agora mesmo, Sra. Sullivan. — Will deu um grande sorriso a ela e fez sinal a Nico que falava com ele depois.

Então Nico entrou na sala para fazer o raio X. O médico que lhe atendeu tinha uma beleza no estilo Deus Grego. Seu crachá dizia que ele se chamava “Apolo”. Loiro, cabelos ondulados, porte atlético, um rosto de dar inveja a qualquer modelo da Calvin Klein, um sorriso divertido nos lábios e dentes branquíssimos. Um tipo de médico que provavelmente deveria aparecer nas fantasias sexuais de muitos pacientes. E talvez aparecesse nas de Nico também, se não fosse por causa um certo enfermeiro que já ocupava os seus pensamentos... 

O exame constatou o óbvio: seu braço estava mesmo quebrado. O seu osso foi colocado de volta no lugar — o que doeu muito, mas Nico conseguiu fingir muito bem que não na hora —, botaram uma tala e enfaixaram para imobilizar. Daqui a 20 dias, Nico precisaria voltar ao hospital para fazer outro raio X, depois disso ficaria de 6 a 8 semanas maravilhosas com um gesso no braço. 

Ótimo. Era tudo que Nico precisava considerando que ele morava sozinho. Ele provavelmente teria que arrumar uma diarista para cuidar do seu apartamento durante esse tempo.

Quando finalmente foi liberado para ir embora, ele olhou em volta disfarçadamente para ver se via Will, mas não o encontrou nos arredores da Emergência. Então pegou um táxi na frente do hospital e foi finalmente para casa.

Nico chegou ao seu apartamento por volta das 8 da noite, mas ele se sentia tão esgotado que pensou que seria ótimo dormir agora e acordar só no dia seguinte.

***

Nico acordou assustado com a campainha tocando. Ele pegou o celular e viu que eram 10:27 da noite. Tarde demais para uma visita. Ignorou a campainha e virou para o lado, mas ela começou a tocar de novo. E de novo.

Quem era o maldito que ousara atrapalhar o seu sono?

Ele se levantou com dificuldade devido ao braço, calçou sua pantufa e foi até a porta, abrindo apenas o suficiente para ver quem estava do outro lado devido à trava de segurança.

— Ei, 402! — Will sorriu para ele pela fresta da porta.

Mesmo que Nico já morasse naquele prédio há quase um ano, a conversa de hoje no hospital foi a mais longa que os dois tiveram até hoje. O máximo que eles faziam era dizer um “Olá, como vai?”, ou “Bom dia” quando se encontravam no elevador ou perto das correspondências. Mas agora Will estava parado na sua porta com aquele sorriso lindo no rosto!

— Hm, o que foi? — Nico perguntou, tentando parecer casual.

— Eu não te vi na hora que saiu do hospital, então vim saber como você estava e... Será que daria para você abrir a porta inteira? É estranho conversar desse jeito. — Will fez uma careta.

Nico não estava no seu melhor momento. Usava moletom, o cabelo deveria estar todo desgrenhado e a cara amassada de dormir, mas abriu a porta mesmo assim. Afinal, ele podia culpar o braço machucado.

Will entrou e olhou em volta. Ele deveria ter parado ali assim que veio do hospital, pois ainda estava vestido todo de branco e com uma mochila nas costas.

Por sorte, Nico havia arrumado o apartamento antes de se machucar, então ele não estava muito bagunçado.

— Você já jantou? — Will perguntou, agora olhando diretamente para Nico.

— Hm, não.

Comer foi a última coisa que Nico pensou ao chegar em casa ainda meio enjoado. Mas após ter tido seu sono interrompido, ele estava começando a sentir um pouco de fome.

— Você precisa comer algo! Sei que cozinhar pode ser difícil, mas você não tem, pelo menos, algum pão na dispensa para fazer um sanduíche? 

— Infelizmente, não. Eu estava indo ao mercado quando isso aconteceu. — Ele fez sinal para o braço machucado.

— Ah! Bem, mas você deve ter algo na geladeira, não é? Posso preparar algo para você comer.

— Não precisa… — disse. Nico apreciava a boa ação de Will, mas ele podia facilmente colocar algo no micro-ondas para esquentar.

— Claro que precisa. Vejamos o que temos aqui, com licença… — Will largou sua mochila na bancada da cozinha e foi até a geladeira. — Nossa! Você realmente precisava ir ao mercado! Não tem quase nada aqui!

— Ainda tem no freezer. — Nico se sentou no banquinho que tinha na bancada com certa dificuldade.

Will abriu o freezer.

— Comida pronta congelada? Você está doido? Isso não faz bem para a saúde!

“É gostoso e fácil de fazer”, pensou Nico, mas não se atreveu a dizer isso em voz alta. Como enfermeiro, Will deveria prezar muito por uma alimentação saudável.

— Isso não vai dar certo! — Will coçou a nuca. — Que tal eu ir ao meu apartamento buscar algumas coisas e preparar um jantar para nós?

— N-nós dois? — Nico engoliu em seco.

— Sim, eu acabei de chegar do hospital e ainda não jantei. Além disso, ainda não aprendi a viver sozinho, sempre faço comida demais e acaba sobrando mesmo! — Ele riu.

Nico queria negar e voltar para a sua cama quentinha, mas a fome estava falando mais alto naquele momento. E Will estava ali disposto a preparar algo para eles comerem...

— Ok… — murmurou.

— Ótimo! Eu já volto então. — Will pegou sua mochila e saiu. Nico apoiou a cabeça no granito gelado e fechou os olhos.

“Isso só pode ser um sonho!”, Nico pensou. “Afinal, por qual outro motivo, Will Solace estaria no meu apartamento a essa hora da noite?”.

Nico deu um beliscão no braço direito, o que acabou doendo muito mais do que o esperado por estar machucado. Não era um sonho!

Ele correu até o quarto. A cama estava bagunçada, mas ele não deixaria Will entrar ali mesmo. Foi ao banheiro e constatou que seu cabelo estava pior do que imaginava. Molhou e passou o pente para ajeitar um pouco. Pensou em trocar de roupa também, mas com o braço assim demoraria muito mais do que o previsto, então só pegou uma jaqueta e colocou por cima do ombro. Pegou o celular na cama e olhou as notificações. Mais mensagens de Hazel. Ele nem precisava abrir a conversa para saber exatamente o que sua irmã mais nova queria. Simplesmente ignorou.

Assim que Nico se sentou no sofá da sala, Will entrou novamente no apartamento. Ele havia trocado de roupa. Estava usando jeans, um moletom laranja, All Star azul-marinho e carregava uma sacola de compras.

— Ok, não vai ser um super jantar, mas acho que dará para o gasto!

— O que você precisa que eu faça? — Nico perguntou, levantando-se e seguindo Will para a cozinha.

—... Que você fique paradinho aí.

Nico revirou os olhos.

— Mas...

— Nada de “mas”. Ordens médicas. — Will apontou para a banqueta. — Sente aí e apenas me diga onde posso arrumar uma faca.

— Segunda gaveta, do seu lado esquerdo.

— Certo!

Nico sentou-se na banqueta da bancada e ficou o observando trabalhar. Ele parecia ser um bom cozinheiro, bem diferente de Nico. Um dos motivos dele comer tanta comida congelada era por ser um desastre na cozinha. Suas comidas sempre queimavam, ou ficavam sem gosto, ou salgadas demais. Sem falar que ele tinha a incrível capacidade de sempre cortar o dedo ou se queimar. 

Nico ficou tão entretido vendo Will trabalhar que nem viu o tempo passar, quando percebeu, a comida já estava pronta. Ele até tinha posto a mesa que, no caso, era a própria bancada. Nico não tinha uma mesa em casa, achava desnecessário já que ele nunca recebia visitas mesmo.

— Prontinho! — Will colocou um prato de macarrão a bolonhesa na frente dele.  — Vamos, prove!

Nico deu uma garfada e… Uau! Estava delicioso! Fazia tanto tempo que ele não comia uma comida caseira de verdade. Só agora ele percebeu como sentira falta disso.

— Hm, nada mal… — Nico disse, não querendo revelar o quanto havia gostado da comida.  

— Vindo de você, eu acho que posso considerar isso como um elogio. — Will riu.  

Ele limpou as mãos na toalha e sentou-se na outra banqueta, ao lado de Nico. Eles ficaram um tempo em silêncio, apenas comendo.

— Você tem algo contra o Natal?  — Will perguntou de repente.

— O quê?! — Nico foi pego de surpresa por essa pergunta.

— Parece que você não é muito fã desta época. Quer dizer, você não tem nem sequer uma árvore pequena no canto da sala como todo mundo. — Ele apontou em volta.

— Ah. Digamos apenas que não é o meu feriado favorito… — deu de ombros.

 — Qual é o seu feriado favorito então?

— Halloween.

— Por quê? — Will perguntou. Ele era mais curioso do que Nico imaginava. 

— Porque é o único dia do ano em que podemos nos fantasiar, ser quem quisermos e ninguém pode nos julgar por isso.

— Interessante o seu ponto de vista.

— Hm... E o seu? — Nico perguntou mais por educação.

— Ah, eu amo todos os feriados! Sem exceções! Cada um tem o seu significado e importância.

— Mas você ainda precisa trabalhar neles. — Nico o lembrou.

— É… Nem tudo é perfeito. — Will riu. — Mas adoro Enfermagem!

— Por que você escolheu essa área? — foi a vez de Nico não conseguir conter a sua curiosidade. 

— Eu sempre quis ser enfermeiro, mas minha mãe queria que eu fosse médico e não ficou muito feliz com a minha escolha. Para ela, enfermagem era uma profissão apenas para mulheres. — Ele deu uma risada amarga. — Mas como meu pai me apoiou, ela acabou se dando por vencida. Eu gosto de ajudar as pessoas. Eu me sinto útil quando vejo que alguém está se sentindo melhor por minha causa.

— Acho que isso explica o porquê de você ter vindo aqui hoje então. — Nico deixou escapar.

Will olhou de relance para ele, deu um grande gole no seu suco, mas não respondeu.

Assim que eles terminaram de comer, Will se prontificou em lavar a louça suja, mesmo Nico dizendo que não precisava. Depois de tudo limpo, ele foi embora. Disse que passaria no apartamento de Nico antes e depois de voltar do hospital. Nico disse que ele não precisava se preocupar, que ia se virar sozinho. Mesmo assim, Will fez questão que, pelo menos, eles comessem juntos à noite, já que estava sempre sozinho também.

Comer todos os dias com Will Solace? Isso era algo que Nico não conseguiu e nem queria negar!

***

Um dia depois da visita surpresa do enfermeiro, Nico finalmente conseguiu ir ao mercado. Como ele não queria ganhar uma bronca de Will novamente, comprou alguns alimentos mais saudáveis.  

Ele pensou em se aproveitar do braço machucado para faltar aula. Mas ele sabia que ficar preso dentro do apartamento só traria pensamentos ruins do passado à tona. Por sorte, seus professores deixaram que ele gravasse as aulas, então ele não precisava se preocupar em tentar virar canhoto da noite para o dia apenas para copiar a matéria.

Nico sempre se sentia um pouquinho ansioso para ver o seu vizinho do apartamento de cima, mas infelizmente ele não aparecia todas as noites. Às vezes, ele tinha plantão no hospital e virava a madrugada trabalhando. Quando isso acontecia, ia na manhã seguinte e eles tomavam café juntos antes de Nico ir para a faculdade e Will voltar para seu apartamento e dormir.

Na sexta-feira, Will apareceu à noite. E, como sempre, foi logo para a cozinha preparar o jantar. Enquanto isso, Nico ficou na bancada com o seu notebook, tentando terminar de escrever um conto que o seu professor havia lhe dado um prazo maior para terminar.

Nico fazia Letras-Inglês. Seu sonho era virar um grande escritor de contos de terror. Ele sempre teve um gosto peculiar, desde criança, para coisas desse gênero. Talvez seja por isso que os seus primos e suas irmãs nunca deixavam que ele escolhesse o filme que eles iam assistir.   

Ele sempre teve facilidade em escrever histórias assim, mas além de ser difícil digitar com apenas uma mão, ainda havia uma distração de cabelos loiros passeando por sua cozinha. Quanto mais ele olhava para Will, mais cogitava que poderia talvez escrever um romance.

Sério, Nico? Seu lado racional ralhou com ele.

— Prontinho! — Will colocou a comida na bancada.

Nico fechou o notebook e o botou de lado, pronto para comer. Talvez conseguisse pensar em algo quando seu estômago estivesse cheio. Ou quando um certo enfermeiro não estivesse mais por perto. 

— Ah! Desculpe, acho que teremos que beber água como acompanhamento hoje. Aquele refrigerante pela metade na sua geladeira definitivamente já está sem gás. E o meu suco acabou, por isso não trouxe nada. — Will estava com leves olheiras nos olhos e parecia esgotado.

Nico notara que Will estava passando mais tempo no hospital do que em casa nos últimos dias. Mas também sabia que ele não era ninguém para ficar se metendo na vida do vizinho.  

— Acho que tenho algo melhor… Espere um pouco. — Nico se levantou e foi até um pequeno armário que ele tinha no corredor para o seu quarto. Ele se abaixou e abriu, revelando quatro garrafas de vinho. Ele pegou uma delas e voltou para a cozinha.

— Uau! — Will olhou para ele sem conseguir disfarçar a surpresa no seu rosto. — Onde você arrumou isso?

— Meu pai me deu. Ele tem uma pequena vinícola em casa. Sempre que vou para lá, ele me dá uma garrafa. — Explicou.

— E deixe-me adivinhar: você não usou nem uma até agora, não é?

— Hm, não. Essa vai a primeira. — Ele confessou, se sentindo envergonhado de repente.  

— Uau! — Will colocou a mão no peito e deu um sorriso torto que fez o coração de Nico disparar. — Devo me sentir honrado?

Nico desviou o olhar.

— Hm, tem um abridor em uma das gavetas. E as taças estão na parte de cima do armário.

— Ok! — Will facilmente achou as coisas, pois já estava familiarizado com a cozinha de Nico. Ele inclinou-se na bancada, ficando bem de frente para Nico. — Mas, espere, você pode beber isso?

— Posso, eu não estou tomando nenhum remédio. Acredite, eu bem que pedi, mas o médico não quis me dar alegando que eu podia lidar com “uma dorzinha”.

— Não era isso que eu quis dizer… Você é maior de idade? — Will franziu o cenho.

Nico sabia que Will tinha 24 anos, pois facilmente fez as contas quando ele mencionou algumas noites atrás o ano que havia entrado na universidade.

— Para a sua informação, eu tenho 22 anos, ok? — Nico revirou os olhos.

— Eu estava brincando, bobinho. — Will sorriu e bagunçou o seu cabelo ao dizer: — Mesmo se você fosse um pouco mais novo... Isso não seria um problema.

Espera! Por acaso, isso foi um flerte?!  

Não, claro que não! Era apenas o cérebro de Nico tentando lhe pregar uma peça devido a aproximação deles nos últimos dias.

— Hã… Vamos comer logo antes que esfrie. — Nico enfiou uma garfada na boca, um pouco atrapalhado. E não era só por causa do braço.

Nico não sabia se era por causa do vinho, ou porque eles estavam se vendo com mais frequência agora, mas ele se sentia mais à vontade perto de Will agora.

Ele podia ter sangue de italiano e um pai que amava vinhos, mas não era forte para bebidas alcoólicas. Só alguns goles já eram o suficiente para deixar ele meio tonto e com o rosto corado, mas ainda bem lúcido.

Quando terminaram de jantar, sentaram no sofá e continuaram bebendo o resto do vinho que havia sobrado da garrafa. De alguma forma, o assunto havia voltado para o Natal.

— Esse era o feriado favorito de Bianca. — As palavras escaparam da boca de Nico antes que ele percebesse.

Talvez fosse o álcool falando por Nico, mas ele decidiu que agora iria até o fim. Afinal, não era algo que ele poderia falar com a sua família, precisava ser um “desconhecido”, alguém que estava fora desse problema.

— Quem é Bianca? — Will perguntou, soltando sua taça de vinho e olhando para ele com atenção. — Sua… Sua ex-namorada?  

— Não. — Nico respondeu, reprimindo uma careta ao ouvir a palavra “namorada”. — Minha irmã mais velha.

— Ah, não fazia ideia. Você apenas comentou que tinha uma irmã mais nova outro dia. — Will disse. E Nico sabia que ele era filho único.

Eles ficaram em silêncio por torturantes segundos.

— O que aconteceu com ela? — Will prosseguiu. Nico abaixou a cabeça.  — Desculpa. Se for muito difícil para você, não precisa falar nada. Eu vou entender.

Ele levantou a cabeça, mas não olhou para Will, ficou encarando algum ponto invisível no outro lado do cômodo.

— 6 anos atrás, eram férias de verão. Um carro desgovernado a atropelou na calçada. Ela tinha 18 anos, estava tão feliz que iria para a faculdade… — Nico se interrompeu. Finalmente falar sobre isso em voz alta era muito mais difícil do que ele havia imaginado.

— Eu sinto muito, Nico.

— Tudo bem... — Nico fungou.

— Tudo te faz lembrar-se dela, não é? É por isso que você não gosta do Natal.

Nico assentiu.

— Sempre é difícil, mas esta época é a pior de todas.

— Eu sei como é o sentimento. Todos os dias eu convivo com isso. Por mais que isso já tenha virado parte da minha rotina, não significa que ficou mais fácil. A morte… É sempre algo difícil de lidar para quem fica. — Will fez uma pausa. — Acabamos vivendo no passado, pensando no tempo que convivemos com a pessoa e esquecemos que estamos no presente. Por mais que saibamos que a vida é algo passageiro, que um dia todos nós iremos morrer também, não queremos admitir que a pessoa que amamos não está mais aqui conosco.  — Sua voz estava carregada de tanta tristeza que Nico imaginou que ele não estava apenas falando da boca para fora, realmente havia passado por algo semelhante.

— Você também perdeu alguém próximo?

— Sim, minha avó. Ela tinha câncer. Mesmo que eu tenha tido mais tempo para me “preparar”, não significa que foi mais fácil.

— Sinto muito… — Foi tudo que Nico conseguiu dizer.

— Tudo bem… Eu ainda era criança. Eu soube aprender a lidar com isso e é por experiência própria que eu estou te dando esse conselho: Apenas pense nos bons momentos que vocês passaram juntos. Se ela amava tanto o Natal, aproveite esta época. Faça o que Bianca gostaria de estar fazendo. Não fique pensando que ela não está mais aqui, apenas aja como se ela estivesse em uma viagem longa, mas em breve vocês irão se reencontrar. Tenho certeza que sua irmã não gostaria de ver você assim triste.

Nico não falou nada. Ele sabia que Will estava certo, mas mesmo assim era difícil de admitir isso para si mesmo.

Ele tinha só 16 anos na época, mas nunca ia se esquecer daquele dia quando ligaram para a sua casa dizendo que Bianca havia sofrido um acidente. Seu estado era crítico, mas ele achou que ela ficaria bem após a cirurgia. Sua irmã era tão forte, ele tinha certeza que ela conseguia vencer isso. Ele mal pôde acreditar quando o médico saiu da sala de cirurgia com o semblante sério e começou a dizer “Nós fizemos tudo que podemos, mas infelizmente a Srta. Di Angelo...”.

Nico se lembrava de gritar que aquilo era uma mentira, de tentar entrar na sala e ser impedido pelos enfermeiros e também por seu pai. Em como ele chorou tanto, chegou a desmaiar e teve que tomar soro.

Tudo aquilo havia acontecido há 6 anos, mas parecia tão recente. A ferida ainda estava aberta dentro do peito de Nico e ele achava que nunca iria cicatrizar.

Porém, Bianca não foi a primeira pessoa da família que Nico perdera. Quando ele ainda era um bebê, Maria di Angelo, sua mãe, faleceu. Ele não sentia muito a sua falta já que ele nem se lembrava dela. Só não havia esquecido o seu rosto totalmente devido as fotos e vídeos que seu pai havia guardado. E então, dois anos depois, seu pai casou-se novamente com uma moça de pele morena muito bonita chamada Marie. Não muito tempo depois, ela ficou grávida e nasceu Hazel. Então Nico e Bianca finalmente tinham uma figura materna por perto — por mais que nunca tivessem conseguido chamá-la de “mãe”, certamente a viam como uma — e, de bônus, ganharam uma irmãzinha. Durante algum tempo, os di Angelo foram felizes. Até acontecer isso com Bianca.

Ela esteve ao seu lado desde que Nico conseguia se lembrar, sempre disposta a ouvi-lo e ajudá-lo, com o seu sorriso gentil e palavras doces. Bianca foi a primeira pessoa a perceber que Nico gostava de meninos, quando nem ele ainda tinha certeza sobre isso. Foi Bianca que consolou Nico quando ele estava sofrendo porque o seu primeiro amor, Percy, primo deles, havia arrumado uma namorada. Foi Bianca que lhe ajudou a contar para a sua família e ficou ao lado do irmão quando Hades, o pai deles, não ficou muito contente ao descobrir que seu filho de 14 anos era gay.

Bianca era a sua melhor amiga, a pessoa favorita de Nico no mundo. E agora ela se fora.

— Terra chamando Nico di Angelo. — Will balançou a mão na frente do rosto dele, o fazendo voltando ao presente.

— Desculpe, o que você disse?

— Eu perguntei se você vai para casa no Natal.

— Eu não sei.

— Por quê?

— Aquela casa me traz muitas recordações de Bianca. O lugar dela à mesa, o quarto vazio, os porta-retratos com nós todos reunidos. Sem falar em todo mundo tentando fingir que está bem.

Um dos motivos para Nico ter escolhido fazer faculdade em Washington D.C era a distância. Assim era mais fácil de arrumar um motivo para não ir para casa nos feriados. Afinal, sempre tinha uma nevasca fechando aeroportos como desculpa.

— Sei que você está sofrendo, mas sua família também deve estar. É por isso que vocês deveriam passar esses momentos juntos. Sei que é mais fácil falar do que fazer, mas me prometa que vai pelo menos tentar, certo? — Will pediu, colocando sua mão gentilmente sobre a de Nico.

Nico não era muito fã de contato físico. Sempre foi assim, desde pequeno. A única pessoa que ele deixava abraçá-lo, sem reclamar, era Bianca. Por isso, ele puxou sua mão automaticamente sem nem perceber. Mas, diferente das outras vezes, Nico não repudiou o contato em si, apenas se sentiu um pouco estranho, envergonhado para ser mais exato.

Will parecia ter levado um tapa pela rejeição, mas pigarreou e prosseguiu:

— Se for muito difícil, você pode voltar antes.

Nico pensou sobre isso. Ele sabia que estava fugindo de encarar a sua família, mas sabia também que mais cedo ou mais tarde teria que fazer isso. Fora que ele já havia arrumado uma desculpa para não aparecer no Dia de Ação de Graças.

— Vou tentar... — Nico murmurou e, com certa dificuldade, pegou o seu celular no bolso. Ele ainda não via pegado prática em fazer as coisas com a mão esquerda, mas já estava bem melhor do que antes.

Ele finalmente leu as várias mensagens que Hazel havia lhe mandado nos últimos dias e que ele estava ignorando. Todas perguntando como ele estava e se ia para casa no Natal.

Clicou em responder e digitou devagar apenas uma curta frase:

“Sim, eu vou.”

E então ele enviou. Estranhamente, Nico se sentiu mais leve. Como se estivesse tirando um peso enorme dos ombros. Mas ele sabia que o verdadeiro desafio ainda estava por vir: conseguir sobreviver ao mórbido natal da família di Angelo. Principalmente porque ele não havia contado a ninguém sobre o seu pequeno incidente que lhe custou uma tala no braço.

Mas algo lhe dizia que as coisas seriam um pouco mais fáceis dessa vez.

***

A véspera de Natal era na segunda-feira, então Nico iria para a sua casa em Los Angeles um dia antes, apenas por garantia. A moça da previsão do tempo havia dito que haviam grandes chances de nevar durante a madrugada e, dependendo da força, alguns aeroportos poderiam fechar por causa do mal tempo. Sua desculpa para não comparecer aos compromissos familiares não seria uma desculpa dessa vez.

Will apareceu no seu apartamento no domingo de manhã, alegando que Nico não iria conseguia arrumar a bagagem com o braço assim.

— Você não precisava desperdiçar o seu dia de folga vindo aqui me ajudar, Solace. — Nico estava sentado na cama enquanto observava Will que, com as mãos na cintura, analisava o que deveria colocar primeiro na mala.

Por causa da grande habilidade de persuasão do enfermeiro, Nico acabou sendo convencido a comprar presentes para toda sua família. Tarefa que acabou sendo muito mais complicada do que ele imaginara, afinal, ele nunca havia feito isso antes. Felizmente, Will foi com ele e lhe ajudou a escolher presentes que provavelmente sua família não iria odiar totalmente. Então agora ele tinha muito mais bagagem do que o normal para levar.

— Ah, tudo bem! Afinal, não tinha nada de bom passando na televisão mesmo. — Will sentou-se no chão e olhou para ele por cima do ombro, com um sorriso divertido no rosto.

— Obrigado… — Nico disse, baixinho.

— Imagina, eu gosto de fazer as malas! — O vizinho respondeu, enquanto tentava arrumar um jeito de colocar todos os presentes dentro de uma mala.

— Não é isso. É que você... Você é ocupado e vive cansado por causa do trabalho no hospital, mas sempre arruma um tempinho para ver como eu estou. Sei que você gosta de ajudar as pessoas, mas eu ainda sinto que estou te atrapalhando.

— Você acha que eu venho aqui como uma obrigação? — Will parou o que estava fazendo e olhou para Nico. — Apenas por eu ser um enfermeiro e você ser uma pessoa que está machucada? — Ele não parecia muito feliz ao dizer isso.

Nos últimos dias, Nico e Will ficaram mais próximos. Eles se viam todos os dias, comiam juntos, conversavam sobre vários assuntos. Eles se davam bem, mesmo sendo tão diferentes um do outro.

Mas Nico sabia que isso não duraria para sempre. Assim que o seu braço melhorasse, Will não o visitaria mais. Eles voltariam a ser apenas dois vizinhos que se cumprimentam quando se encontravam por aí. Só de pensar nisso, Nico já se sentia enjoado, como se tivesse comido algo vencido. 

Ultimamente, estava cada vez mais difícil para Nico não admitir para si mesmo que Will mexia com ele de um jeito diferente. Não era apenas uma simples quedinha. Ele sempre ficava nervoso quando o loiro estava por perto, seu coração acelerava, suas mãos suavam e, sem nem perceber, começou até a contar as horas para finalmente vê-lo. Nico sabia exatamente o que isso significava: ele estava apaixonado por Will Solace.

Nico tinha noção de como isso era arriscado. Afinal, ele nem sabia se Will gostava de garotos! Ele estava com medo de estar se iludindo por algo que nunca iria acontecer, de sofrer por mais um amor platônico.

— Não é isso? — Nico perguntou, encarando um espaço vazio no chão, sem ter coragem de olhar para Will.

— Francamente, Nico! Eu pensei que, depois de todos esses dias que passamos juntos, as coisas já estivessem bem claras para você... — ele suspirou.

— Eu… Eu tenho medo de estar julgando tudo isso de uma forma errada. — Nico fechou a mão boa em punho, se sentindo nervoso com o rumo que essa conversa poderia tomar.

Will se levantou do chão e sentou-se na cama também, mas ainda mantendo uma distância segura entre eles.

— Eu definitivamente não te vejo como um paciente, Nico. Eu sempre te achei uma pessoa intrigante. Queria te conhecer melhor, mas não sabia como me aproximar já que você parecia ser tão reservado. Então, quando você se machucou, usei isso como uma desculpa para poder vir aqui. Eu poderia dizer que sinto muito por ter “enganado” você, mas seria uma mentira.

Espera... Wil estava falando o que ele achava que estava?

— Então... como você me vê? — questionou.

— Você está fingindo não saber apenas para que eu confesse tudo, não é? Uau, você é muito mais espertinho do que eu pensava! — Will o provocou. Os cantos da boca de Nico se curvaram um pouquinho para cima, em uma tentativa falha de não esboçar um sorriso. — Não é isso que acontece quando a gente gosta de alguém? Ficamos preocupados com o bem estar da pessoa que tanto estimamos.  

— O quê? — Nico olhou para Will, surpreso. — Você… Você gosta de mim?!

— Gosto. — Will o encarou com aqueles belos olhos azuis. — Mas a pergunta que está rondando a minha cabeça nos últimos dias é: Você sente o mesmo por mim?

— Eu… — Nico fez uma pausa. Ele sabia a resposta para essa pergunta, mas era difícil dizer em voz alta, afinal, nunca teve coragem de se confessar para um garoto antes.

Então ele fez a única coisa que conseguiu naquele momento: balançou a cabeça em concordância, incapaz de olhar para Will e sentindo que suas bochechas estavam ficando quentes.

Will não conseguiu disfarçar o sorriso que se instalou em seu rosto ao ver a reação do mais novo.

— Você está corado! Pelos deuses, como você pode ser tão fofo?

— Eu?! Fofo? — Nico quis ter certeza se ouviu certo.

Sombrio, tímido, sério, solitário… Eram os adjetivos que as pessoas costumavam usar quando queriam se referir a ele. Mas “fofo”? Nunca.

— Sim, você mesmo. — Will sorriu e se aproximou um pouco mais, tocando a mão de Nico. Então pareceu lembrar-se do que havia acontecido da última vez e a retirou rapidamente. — Ah, desculpa.  

Nico então teve que pegar a mão dele novamente para mostrar que estava bem com isso. Eles ficaram se encarando por um tempo sem falar nada. Então quando Nico começou a ficar ainda mais envergonhado com Will lhe olhando tão intensamente, resolveu que seria melhor desviar o olhar. Mas Will foi mais rápido e se inclinou para frente, tocando os seus lábios.

Ele foi pego de surpresa pela ousadia de Will, mas não se afastou e apenas fechou os olhos. Gostou da sensação de ter os lábios quentes e macios de Will colado aos seus.

Mas assim que estava ficando bom, Will se afastou.

— Esperei uma semana todinha para poder fazer isso. — Ele estava com um sorriso enorme e lindo do rosto quando passou a mão gentilmente por sua bochecha. 

— Eu também — admitiu e seu olhar foi parar nos lábios de Will.

Merda! Nico queria muito beijá-lo novamente! E, pela expressão de Will, o sentimento era mútuo. Mas ele imaginou que o enfermeiro estava tentando ir devagar e ser cavalheiro. Mas querem saber? Fodam-se os bons modos!

Ele se jogou em cima de Will — sem nem se preocupar com o seu braço machucado — e os dois caíram na cama aos risos e beijos.

***

Naquela mesma tarde, Will ajudou Nico a descer com a sua bagagem. Um táxi já lhe esperava em frente ao prédio para levá-lo até o aeroporto.

— Você precisa mesmo ir? — Will apertou o botão para chamar o elevador.

— Foi você que me convenceu que eu deveria visitar a minha família — lembrou Nico.

— Eu sei, mas já estou profundamente arrependido de ter sugerido isso — ele fez biquinho.

“Will também é fofo”, Nico pensou, não conseguindo evitar um sorriso discreto.

— Serão apenas alguns dias, Solace. Eu volto logo.  

— Eu sei, mas e se você não quiser mais voltar, pois conheceu algum cara interessante em Los Angeles?

O elevador chegou e abriu as portas.

— Isso não vai acontecer, não se preocupe. — Nico tentou pegar uma das malas, mas Will deu uma batidinha de leve na mão dele. 

— Eu levo. — Will puxou as duas malas para dentro do elevador, Nico o seguiu. — Me dê motivos para eu não me preocupar então.

— Bem, porque eu já tenho você. — Nico apertou o botão de “térreo”. — Afinal, onde eu iria achar outro enfermeiro particular? — o provocou.

Ah, então você só está interessado nos meus serviços médicos? — Will sussurrou no ouvido de Nico e apertou outro botão que ele nem notou qual era.

— Hm, bem, eu… — Nico perdeu totalmente a capacidade de formar uma frase coerente naquele momento. A única coisa que ele conseguiu fazer foi mover-se para o outro lado do elevador, o mais longe possível de Will. 

— Eu te deixo nervoso, Di Angelo? — Will deu um sorrisinho para ele.

Será que dava para ele parar de sorrir assim? Não estava ajudando!

— Nervoso? Ninguém está nervoso aqui. — Nico deu de ombros, fingindo não estar nada afetado. Foi então percebeu que eles não estavam se movendo. — Ei! Por que esse elevador não está descendo?

— Porque eu fiz com que ele parasse. Você não viu? — Will chegou mais perto dele e colocou uma mão na parede ao seu lado, encurralando Nico no canto. — Ah, certo, você estava muito preocupado não ficando nervoso — debochou.

Próximos. Eles estavam próximos demais.

— Solace, sério, eu preciso ir. — ele tentou apelar. — O táxi está me esperando.

— Só se você me prometer que vai me ligar todas as noites.

Nico definitivamente não gostava de falar no telefone. Nunca gostou.

— Hm, não pode ser por mensagem?

— Eu queria escutar a sua voz... — Will fez biquinho. Ao perceber que Nico não ia ceder, ele acabou desistindo. — Ok! Mas terão que ser várias para compensar — avisou.

— Fechado! — Ele concordou.

Will se afastou dele e foi até o painel, apertando o botão para que o elevador voltasse a funcionar.

— Vou sentir a sua falta... — ele disse baixinho sem olhar para Nico.  

Quando Nico percebeu, ele já estava bem perto de Will. Andou quase que involuntariamente até o loiro, como se um ímã o atraísse.

— Também vou sentir a sua. — Confessou, dando um beijo rápido na bochecha de Will.

O vizinho se virou e abriu a boca para falar algo. Neste momento, a porta do elevador se abriu. Nico aproveitou a oportunidade para sair em disparada, morrendo de vergonha pelo seu ato.

Will pegou as duas malas e saiu do elevador sem conseguir conter um sorriso gigante estampado no rosto.

No lado de fora do prédio, Nico estava esperando na frente do táxi com o braço bom enfiado no bolso do casaco grosso devido ao frio. O motorista já estava com o porta-malas aberto, então Will foi diretamente para lá deixar as coisas.

— Você pegou tudo? — Will perguntou ao colocar a última mala.

— Acho que sim. — Nico assentiu, andando em direção à porta.

Will coçou o pescoço, parecendo tímido do nada.

— Ok... então a gente se vê daqui alguns dias. 

— É, alguns dias. — Nico concordou. Quando ele ia abrir a porta traseira, Will foi mais rápido e fez isso. — Valeu.

— Imagina. — Will sorriu.

Mas Nico não conseguir entrar. Nem Will conseguiu ir embora. Os dois ficaram apenas ali se encarando sem saber o que fazer. Então o motorista buzinou, fazendo os dois se assustarem.

— Acho que você precisa ir... — Will forçou um sorriso, não parecendo nada feliz com isso.

— Sim… — Nico assentiu. De repente, ele também não queria mais ir.

— Até logo, Nico — ele encostou levemente nos dedos da mão esquerda de Nico, que seguravam a porta, e sorriu. 

— Até logo, Will. — ele sorriu de volta e se obrigou a entrar no táxi.

O veículo começou a andar. Nico olhou pela janela e viu Will acenando para ele. Acenou de volta com a mão boa.  E então quando não conseguiu mais vê-lo, virou-se para frente, deixando escapar um suspiro.

Seu celular vibrou no bolso do casaco assim que eles tinham virado a esquina. Era uma nova mensagem:

Sei que concordamos em não dar presentes um para o outro, mas eu simplesmente não conseguir resistir quando eu vi isso na vitrine. Eu coloquei na sua mochila.

P.S.: Você pode me punir quando voltar, se quiser...

— Beijos, Will

Ele pegou a mochila que estava ao seu lado e abriu, encontrando uma caixinha vermelha dentro. No bilhete preso a ela estava escrito numa caligrafia caprichada: “Que esse seja o primeiro de muito Natais que passamos juntos. Feliz Natal, Nico”.

Dentro da caixinha, havia um globo de neve. Nico o chacoalhou, fazendo a neve cair e sorriu sem nem perceber.  

Nico bateu uma foto do globo, meio tremida, e mandou para Will:

 Você é um cara sortudo, Solace, eu gostei do presente. Acho que você foi um garoto bonzinho este ano, então pegarei leve na sua punição. 

Will respondeu quase de imediato:

Oh, fico feliz em saber que você gostou! Mas, sabe, eu não sou um garoto assim tão bonzinho como você pensa, Di Angelo... 

P.S: Feliz Natal adiantado, Nico.

Ele riu ao ler a mensagem e então olhou com receio para o motorista, mas ele estava prestando atenção na estrada e nem percebeu. Respondeu de volta com um sorriso involuntário no rosto:

Hm, bom saber... Feliz Natal, Will.  

Nico sempre fora uma pessoa fechada, mas tudo piorou após a morte da irmã. Ele nunca deixava as pessoas se aproximarem e conhecê-lo melhor, temendo que alguém percebesse como ele estava quebrado por dentro.

Porém, neste, Natal, finalmente alguém estava conseguindo mudar isso. Will Solace era com um raio de sol que, aos poucos, estava derretendo a barreira de gelo que Nico di Angelo havia construído à sua volta.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Sirvo para escrever yaoi? Espero que sim kkk.

Sabe, se vocês quiserem deixar um comentário... fariam o Natal de uma garota muito feliz rs.

Ah! Espero que vocês tenham uma ótima ceia de Natal com a família de vocês.
Até o próximo capítulo! õ/

Xoxo,
Mari.



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