Sorriso Insano escrita por LoneGhost


Capítulo 24
Solidão


Notas iniciais do capítulo

boa leitura.



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 Thomas estava quase caindo por cima de mim, passando um braço por trás de meu pescoço para se apoiar, e outro contra a barriga, tentando estancar um pouco do sangue.

 

Quando chegamos perto da cortina, eu a empurrei fortemente para o lado e passamos por ela, e fiz isso com a outra também. Chegamos ao camarim e lá estavam algumas pessoas que corriam de um lado para o outro sem saber o que fazer, outros estavam escondidos nos mais variados lugares, e ninguém nos notou.

—Vamos sair logo.- Thomas disse.

—A polícia está rodeando o local!

—Não interessa! O que você prefere? Ficar ou ir?

Ouvia tiros e pessoas gritando por toda parte e sabia que Jeff poderia aparecer ali. Eu não queria ficar. Respirei fundo e fui até o lugar por onde entramos, arrastando Thomas comigo.

Quando saímos, estava muito escuro, e as únicas coisa que nos iluminavam eram as luzes meio amareladas das barracas e dos trailers. Uns oito policiais nos cercaram, ficando em semicírculo em nossa frente e apontaram armas para nós.

—Fiquem parados!- um deles gritou- Coloquem as mãos na cabeça!

Outro policial falou por um ok-toque com alguém. "Dois possíveis suspeitos atrás do circo."

Coloquei uma mão na cabeça e continuei segurando o corpo de Thomas com a outra, para ele não cair no chão. Thomas não colocou nenhuma das mãos na cabeça e policiais miraram as armas para ele.

—Ele está ferido!- eu gritei.- Nós precisamos sair daqui!

Eu só pensava em como aqueles policiais imbecis estavam atrapalhando e que Jeff poderia nos golpear pelas costas a qualquer momento. Thomas virou um pouco a cabeça e sussurrou:

—Me solta.

Não olhei para ele.

—O que...?

—Me solta!- ele insistiu.

O obedeci, sem mais perguntas. Ele gemeu e colocou as duas mãos na barriga, quase caindo no chão. Pensei em ajudá-lo, mas certamente ele sabia o que estava fazendo. Os policias ficaram mais alertas.

—Não se mexa! - um deles gritou.

Thomas levantou as mãos, vermelhas de sangue. Quando me dei conta, vi outros policias chegando, pegando nós dois pelos braços, colocando-os atrás de nossas costas e os algemando. Thomas rosnou, estranho.

—O que estão fazendo?!- gritei.- Jeff está lá dentro, seus idiotas! Não é ele quem vocês querem?

Um policial no meio do semicírculo se virou para o lado esquerdo.

—Vão olhar lá dentro!- gritou.

—Wendy...- sussurrou Thomas, quase sem mexer a boca.- Preciso que me dê cobertura.

—Fazer o que?

—Distraia eles. Apenas chame a atenção deles para outro lugar.- respondeu rápido.

Eu não queria fazer mais perguntas, então apenas fiz o que ele mandou.

—Vejam! Jeff!- berrei, mirando os olhos arregalados para trás deles.

Todos se viraram rapidamente para trás e, em questão de segundos... ou melhor, milésimos, Thomas se soltou das algemas e quando os policiais se viraram, tentaram atirar em nós. Mas quando as armas dispararam, as balas batiam no ar e caíam no chão, como se houvesse um escudo invisível em nossa frente. Os homens ficaram espantados e enquanto ainda disparavam, Thomas começou a se contorcer, como se estivesse tendo uma convulsão de pé, e falava palavras estranhas em uma língua diferente... latim, eu acho. Ele parecia estar sendo possuído. Seus dedos ficaram longos, como se fossem garras e ele começou a ficar mais alto e magro, até atingir mais ou menos uns dois metros. Seus olhos estavam completamente brancos, sem íris ou pupila e seus dentes pontudos como os de um tubarão. O lugar ferido parecia estar regenerado. Nessa hora eu já estava quase vomitando de medo e minhas pernas estavam bambas, mas algo não me deixava sair do lugar. Os policiais já tinham parado de atirar, e apenas olhavam horrorizados para Thomas (que já não era mais Thomas). Ele parou de se contorcer e olhou para os homens assustados. E em um piscar de olhos, começou a aparecer atrás de um por um, como se pudesse se teletransportar, enfiando as garras que passavam das costas direto para a barriga deles. O tiroteio desesperado começou na hora, mas não durou muito tempo, porque Thomas matou todos eles bem rápido.

Quando acabou, começou a lamber os dedos como um animal. E depois, começou a devorar um dos corpos, como um leão comendo uma zebra, rosnando. Não queria chegar perto dele, mas peguei rapidamente uma arma de um dos policias caídos no chão. Foi quando Thomas parou de comer e olhou para mim. Dei um pulo para trás de susto e comecei a recuar.

—T-Thomas...?- gaguejei.- Sou eu.

Ele sorriu, ainda macabro.

—Eu sei.-respondeu.

Sua voz estava bem mais grave e rouca, como a de Jeff, e até um pouco pior. Seus olhos já estavm normais, mas as garras e os dentes afiados ainda estavam ali. Engoli em seco. Ele estava fazendo tudo aquilo consciente. Eu realmente não sabia mais quem ele era. Talvez, nunca soubesse de fato.

—O que...

—Zalgo.- falou rápido.- Espíritos. Mal. Você já devia ter se acostumado.

Ele não precisa ter explicado. Era óbvio que estava possuído por Zalgo ou seja lá o que for, mas minha cabeça estava raciocinando tudo muito devagar.

—Você... vai...- eu não conseguia falar.

Ele me olhou, frio.

—Vá embora, Wendy.- ele disse.- Fuja. Eu prometo que tomo conta de Jeff.

Senti um aperto no coração. Eu não queria deixá-lo ali. Eu não sabia o que estava acontecendo. E de qualquer forma, eu não tinha onde me esconder. Na verdade, eu não tinha mais ninguém: nem família, nem o Thomas e Jeff estava mais louco comigo do que qualquer momento. Queria pegar aquela arma e disparar uma bala contra minha própria cabeça, mas não sei o por quê não o fazia. Fui ficando mais confusa aos poucos e comecei a chorar como uma criança. Não tinha mais ninguém para tomar conta de mim. Tanto tempo tentando me virar sozinha e lá estava eu, ainda totalmente dependente de alguém para sobreviver. Eu só queria um abraço da minha mãe e ouvir sua voz doce, dizendo que tudo ficaria bem. Eu só queria acordar em sobressalto da minha cama e perceber que tudo não passou de um sonho ruim. Queria estar louca e que tudo aquilo fosse somente a imaginação pregando peças na minha mente. Mas era tudo real. E minha mãe não iria me beijar e limpar minhas lágrimas com as costas da mão. Se eu não acordo do pesadelo, talvez seja porque eu não esteja sonhando. E eu sei que a vida real é uma loucura, e que ela me tornou uma louca também. Thomas me encarava e parecia querer fazer alguma coisa, mas não fez. Então eu apenas me virei e comecei a correr para aquela multidão de desesperados, tentando encontrar meu pai e meu irmão.

Fui para frente da barraca e não me importei se Jeff aparecesse ali para me matar ou fazer qualquer coisa comigo. Eu só queria ver minha família pela última vez. Os carros da SWAT e do FBI estavam parados na frente do circo, evacuando o local. Parei na frente de uma policial e tentei falar com ela, quase gritando.

—Moça, eu preciso de ajuda! Eu era a menina que estava no palco com Jeff! Eu não tenho para onde ir!

Ela colocou a mão em meu ombro e apontou para um carro da SWAT com estacionado do outro lado da rodovia.

—Fique perto daquele carro e não saia dali até que eu chegue!

Assenti e fui correndo para perto do carro. Ele estava um pouco afastado da barraca do circo, mas me senti insegura da mesma maneira. Vi algumas crianças e adultos caídos mortos no chão e pessoas berrando e chorando intensamente. Vi carros saindo em disparada para a rodovia. Mas não conseguia ver meu pai e meu irmão. Talvez já tivessem ido embora.

Corri para perto do carro e me agachei atrás dele, como se fosse um escudo. Escutava tiros e mais tiros. E pessoas gritando. Imaginei onde estaria Jeff: se tinha sido pego, se tinha fugido, se estava morto... imaginei em quantas pessoas teria matado e quantas infâncias estariam destruídas ali. Eu não conseguia fazer nada, só estava chorando e tremendo. Eu não podia fazer nada mesmo, ou morreria. Mas, sinceramente? Acho que o fato de morrer não era o que mais me preocupava, e pra ser sincera, eu não sabia por quê ainda estava viva. Talvez quisesse deixar a maldita vida me levar, então se fosse para eu morrer naquele momento, morreria. Acho que eu tinha sobrevivido por muita coisa para simplesmente me matar. Acho que ainda havia uma pitada de esperança dentro do meu ser, algo que gritava lá dentro de mim implorando para tentar resistir a tudo isso.

 Eu olhava para o outro lado da rodovia algumas vezes e ouvia tiros sendo disparados de dentro do circo e pessoas correndo. Quase todo mundo já tinha saído dali, exceto alguns feridos que não conseguiam correr e os policiais do lado de fora da barraca que ficavam em posição de disparo, para caso Jeff saísse do circo. Algumas pessoas corriam para trás da barraca, e imaginei como estava Thomas. Nem tinha me dado conta de que provavelmente Liu também estava procurando por mim e comecei a olhar em volta, desesperada. Sentei-me no chão e encostei as costas no carro, apertando a arma com força, com as duas mãos. Eu não sabia como usá-la, mas lembrei nos filmes policiais que assisti e pensei que poderia fazer a mesma coisa que eles. Então, apenas confiei em mim.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por chegar até aqui.
Nos vemos no próximo capítulo ♡



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