Uma Seleção com Rosie Ambers escrita por ANA


Capítulo 49
Capítulo 46




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As coisas não estavam 100% perdidas. Lorenzo poderia dar um jeito de desmentir, Violet e Phoebe seriam testemunhas e poderíamos achar uma forma de incriminar Oliver e salvar minha pele e a de Osten. Eu não precisaria cortar contato com Osten sob a justificativa de não aumentar a margem do escândalo, nem enfrentaria a crítica nacional e internacional.

Eu deveria ser forte, mais otimista.

Deveria.

Porque a ardência nos meus olhos e o fato de abafar os soluços na camisa de Osten como uma criancinha que não quer ser ouvida pelos outros não traduziam uma postura tranquila. Ele bateu a porta quando mal a fechei. Eu tinha certeza de que seria Phoebe, por isso precisei de uns segundos para acreditar em estar vendo-o ali. Deduzi que ele sabia de tudo quando me abraçou de imediato.

"Eu estava no jardim com a Violet e a Delfina. Só te vi correr, e te segui, mas você já tinha usado o elevador. Violet estava nos contando sobre o que Oliver fez. Delfina está uma fera com ele, e ouvi dizer que Lorenzo já está tentando resolver isso, certo? Não se preocupe, nós vamos dar um jeito."

Só assenti, me dando conta rapidamente de que Violet ainda não havia falado sobre aquele assunto com ele.

"Como as pessoas reagiram quando viram?"

"Quando viram o quê?"

"Viram aquilo... no telão. Estão especulando o que eu já espero que especulem?"

"Do que você tá falando?

"Da nossa filmagem no telão."

"Espera, passaram isso no telão? Não era a homenagem da minha tia e de Simon?" Olhei perdida para seu rosto indignado. "Ele realmente passou aquilo para todos verem?"

"Sim, eu saí por causa disso.Como você não viu? NÃO ESPERA AÍ, NÃO VAI NÃO! Eu preciso de você aqui, Osten, por favor, uma briga com ele a essa altura já não adianta mais, NADA ADIANTA MAIS."pontuei trancando a porta.

Ele pareceu cair em si, e concordou com a cabeça. Sentamos lado a lado na cama em um silêncio constrangedor.

"Eu sinto muito, se eu tivesse te contado mais cedo sobre ler a carta que você fez para Delfina, não teríamos entrado lá naquela sala."

"Você está realmente se culpando por isso?"

"Tendo culpa ou não, o fato é que estamos numa fria,e eu me sinto uma burra por nunca ter pensado que Oliver chegaria a me prejudicar dessa forma."

"Como assim, ele te ameaçou?"

Suspirei.

"Quando eu descobri sobre Oliver e Clarabela, falei que iria contar para Delfina e ele disse que havia descoberto que eu e você somos amigos, e toda aquela história de que eu não estava na Seleção por um motivo justo. Meneei a cabeça."Eu fui ingênua em achar que ele poderia me fazer ter que sair do palácio por causa de um rumor desses, e ele também prometeu coisas contra você: iria pagar alguma das selecionadas para dar um boato falso sobre você ter se aproveitado dela."A indignação estava estampada no rosto do príncipe."Eu sei, é muito cinismo. E, no fim, a genialidade do cidadão foi juntar eu e boato na mesma fórmula."

"Você podia ter me contado sobre todos esses detalhes..."

"Desculpa.Não fiz isso primeiro por Delfina, segundo que você já tinha motivos suficientes para querer acabar com ele, e não seria bom que caíssem numa briga."

"Entendo... Quando penso que não consigo odiar mais aquele ser, vem ele e me surpreende."

"Isso para mim é apenas mais um baque..."sussurrei chamando-lhe atenção."Se, hipoteticamente, uma pessoa chegasse pra você, perguntasse sua idade e dissesse que já viu alguém muito parecido com você e com o mesmo colar que você está usando e é seu desde que foi abandonado recém-nascido na frente do seus pais adotivos...o que faria?"

"Não, calma, me explica isso melhor e mais devagar, por favor."sorri fraco atendendo ao seu pedido.

"Sra. Beaufoy?" Essa foi sua resposta assim que ouviu sobre minha estranha conversa com Aimee, ao que assenti hesitante."Oliver Beaufoy..."disse devagar" Esse é o sobrenome da família do Oliver. Eles são franceses, mas se naturalizaram na Itália."

E então todas as minhas esperanças foram para o lixo.Osten achou graça quando enterrei minha cabeça em seu ombro.

"Maravilha, quer dizer que em uma realidade alternativa eu teria que crescer ao lado daquela coisa?"

"Veja pelo lado bom, de uma forma ou de outra teríamos nos conhecido, só que, parando para pensar, você poderia ser esnobe como..."

"Nem termina essa frase!"

"Desculpe."riu mais um pouco."Sinto muito por isso, sei que nem em pesadelo você poderia imaginar ser parente dele."

"Um segundo, se você conhece Oliver desde a infância, não conhece os pais dele?"

"Apenas o pai...o Sr.Alain Beaufoy," a mãe dele...sua possível mãe... está acamada há muito tempo, devido a uma doença que não lembro. Então, só Aimee ou possivelmente alguém da França deve saber quem ela é de vista. Acho que posso pedir para Ahren confirmar isso com Daphnee e outras pessoas que possam ter falado com a Sra. Beaufoy antes de, você sabe, ela ficar de cama. Podemos investigar mais sobre essa família, se você quiser, é claro. "reforçou me encarando.

"Tá, pode investigar sim, mas se for verdade, não precisa correr e dizer para eles quem sou eu, apenas se tiverem interesse... porque talvez a história seja um pouco mais complicada, talvez eles tenham me abandonado porque queriam e apenas deram qualquer justificativa. Mas, agora, voltando ao assunto escândalo, o que você vai fazer de imediato?"

Ele refletiu.

"Vou me pronunciar quando falarem sobre isso."

"Mas o que você vai dizer?"

"Eu ainda não sei ao certo, isso me pegou de surpresa."

Bufei frustrada.

"Se nem você sabe o que fazer, posso desistir."

"Não! "Segurou minha mão."Eu vou pensar, relaxa. Por hoje é apenas desmentir, mas quando começarem a encher a paciência, e marcarem alguma coletiva, já vou ter tido tempo suficiente para tentar achar alguma 'contraprova'... ou...ok. Eu não vou me iludir, nem te iludir. Se tudo der errado, as coisas vão ficar muito difíceis para a gente, e provavelmente a primeira coisa que você vai querer fazer é ter distância de tudo, de todos, inclusive de mim. Mas... você pode...você consegue me prometer que não vai me ignorar por completo e dar o seu famoso chá de sumiço? Por favor." Acrescentou após o meu suspiro.

"Bom... eu já estava com uns planos de fuga em mente, um jeito de convencer meus pais a mudar de país, quem sabe uma nova identidade..."Ele revirou os olhos" Olha, eu não sei como vou cumprir essa promessa, mas sim. Vou sim. Por você."

Com a minha mão livre segurei em seu rosto e inclinei o meu para beijar sua bochecha. Seu sorriso era terno quando o fitei.

"Obrigado."

Sua mão pousou em meu rosto e passeou por ele com ênfase no queixo onde deixou uma carícia. Voltei a me aproximar, e lhe dei um beijo mais breve.

"Não... tem por que agradecer. Quer saber, eu acho que vou descer para enfrentar isso e, seja o que tenha dado, vou falar a minha versão. Só... melhor não descermos juntos. Dê mais uns minutos, pra não acharem estranho virmos sozinhos de algum lugar, ok?"

"Ok..." ouvi-o dizer quando abri a porta.

O elevador ainda estava parado naquele andar.

Reparei que Osten ainda não tinha saído do meu quarto quando as portas se fecharam. Mas de que aquele detalhe importava? O que era aquele fato perto do turbilhão que estava na minha mente por perceber que, mais uma vez, eu quis... Eu mais uma vez quis que um beijo acontecesse. Tomei a iniciativa, e desviei no último segundo do meu primeiro alvo. Minha sorte é ter sido rápida em sair dali.

Respirei algumas vezes tentando manter a calma, tarefa um pouco difícil, visto que meu coração martelava de uma forma incontrolável.

Me dei conta de que também não havia conversado com ele sobre o que eu e Violet planejamos, mas eu tinha uma questão maior para tratar. Achava, pelo menos, pois assim que cheguei ao local da festa, todos seguiam no mesmo clima anterior.

Ninguém olhou para mim com estranheza, nenhum dos funcionários da imprensa veio em disparada me entrevistar. A única movimentação era ao redor do monitor que controlava o telão. Alguns guardas e o que entendi serem técnicos estavam em uma roda no local.

"Phoebe, você sabe o que houve com a filmagem que estavam passando no..."

"Ah, isso. Um copo de água pode ter escapulido acidentalmente da minha mão depois que eu tropecei num dos cabos e acabado com aquele monitor... Eu pedi tantas desculpas, e continuo sem graça" Riu.

"Você não fez isso!"Ela deu de ombros em resposta."Ah, céus. Eu te amo, garota!"

"Eu sei." Se gabou retribuindo meu abraço."Estranhei você saindo rápido e por sorte estava bem perto do local quando a filmagem começou. Nem mesmo deu tempo de aparecer a imagem do Osten saindo da sala. Vocês estão seguros, pode ficar tranquila."

"Depende..."Suspirei." Agora tudo depende se Lorenzo conseguir impedir o jornal..."

"Por falar nisso, aquele não é o Lorenzo?"

Segui seu olhar. Ele cruzou o olhar conosco em seu caminho, mas o foco final de sua caminhada estava conversando com Ahren e Camille, que ficaram chocados, assim como o resto da plateia que assistiu ao soco cinematográfico que o italiano desferiu em seu cunhado.

Um breve momento de silêncio se seguiu enquanto Oliver limpava o canto da boca com o punho cerrado.

"O que deu em você?"

"Conta pra Delfina! Ou melhor: Conta para o MUNDO que você vem fazendo um belo par de chifres nela!"

"Eu não disse NADA." Phoebe ergueu as mãos. Dividi a atenção entre ela e a real briga entre Lorenzo e Oliver, que por sorte, foi rapidamente parada por Nathaniel, Aaron e outros seguranças.

...

" Isso significa que você pode ser da aristocracia francesa? Uau. Quando tempo eu dormi?" Phoebe gargalhou."Incrível, cara! Mas, por outro lado, que irmãozinho seu, hein!"

" Ele não é necessariamente meu irmão."

" Mas e se for?"

" Se for... ARGH. Eu não SEI, Phoebe! Só sei que tem algo ainda mais perturbador no momento pra me preocupar."

"Com o quê, exatamente?"

"Com o jornal."

"Deixa de neura, menina. Vai dar tudo certo, você vai ver."

Após a saída de Oliver, Lorenzo e o resto da família de Delfina, Jessica e Bridget começaram a cantar uma música suave, e aos poucos o repertório foi ficando mais agitado. Algumas selecionadas estavam já descalças de tanto dançar.

Lorenzo ressurgiu com um gelo no rosto, recebendo olhares de todas as partes, mas se encaminhou até a mesa onde eu e Phoebe estávamos.

"Já pode se acalmar."Me encarou ao sentar" Está tudo resolvido."

"Hã?!"

"Tudo certo com as notícias. Luigi e eu conversamos com o jornalista que iria fazer aquela matéria e conseguimos suborná-lo."

"Com o quê, ouro? "Interviu Phoebe.

" Eu ofereci uma proposta melhor de emprego para ele.Na Itália. Fora que encontramos o tal colaborador de Oliver. O Paolo. Ele disse que tinha como provar que Oliver vinha traindo Delfina há mais tempo com muitas mulheres, e esse jornalista vai poder fazer algumas matérias a respeito."Piscou"Além disso, recuperamos o vídeo, e é claro que apagamos. Apagamos tudo."

"Nem tudo, uma das cópias fui euzinha que destruí. Com apenas um copo d'água!"

"Lorenzo..."me levantei instantaneamente para abraçá-lo. "Obrigada, obrigada e obrigada, um milhão de vezes."Ri" Você... não tem NOÇÃO do quanto eu sou grata a você. Muito. Muito mesmo. Você salvou a minha vida, literalmente. Vocês dois." Pontuei encarando a carranca da minha amiga.

"Hum..."

"Disponha."Lorenzo sorriu e segurou ambas minhas mãos depositando um beijo casto, e eu estava tão eufórica, que realmente não liguei muito se alguém (leia-se outras selecionadas) poderiam ver interpretar isso de uma forma errada."Oliver está numa sala se explicando para minha mãe e minhas tias. Delfina também está lá e por incrível que pareça, já sabia da traição. Só fiquei sabendo por Luigi, até vocês já sabiam pelo que ela me falou! Me sinto um palhaço."

"Desculpe, não contamos a pedido dela..."

"Eu sei."

"... porque ela já previa a catástrofe que seria."

"E que catástrofe! Parece que um italiano vai voltar solteiro e com o olho roxo pra Itália."Lorenzo deu um leve pigarreio em resposta."Seu olho não tá roxo, garoto! É só a sua mandíbula que machucou. Mas foi por uma boa causa, não? Estamos orgulhosas de você, não é, Rosie?"Assenti rindo pela cara ofendida que ele fez quando Phoebe deu duas batidinhas no topo de sua cabeça."Ok. Tá sendo uma delícia saber que Oliver se ferrou, mas e quanto a sua irmã? Ela não vai ficar com a fama do chifre?"

" Não acho que vá. Isso pode até repercutir, mas no dia seguinte vão aparecer mil pretendentes a espera dela, querendo fazer ela feliz, e acho que agora minha irmã aprendeu a lição. Vai se valorizar mais quando escolher alguém para ter um relacionamento."

"Isso ela realmente precisa..." comentei.

" Eu acho que vou voltar para dar apoio e tentar acalmar a minha mãe e minhas tias, mas vou manter vocês informadas sobre os detalhes depois. Pode deixar."

Tentei em pensar no que poderia fazer para compensar Lorenzo, e estava me matando saber que não havia nada, simplesmente nada a não ser uma boa amiga para ele. Isso eu poderia fazer, claro, com certeza, mas, poderia haver mais algo...

"Vem que tá na hora de pegar o buquê."

Por mais que tenha Phoebe lutado em me puxar, permaneci em meu lugar assistindo. Suki ficou ao meu lado com a justificativa de que não queria pagar mico. Emma foi só pela diversão, assim como Kerttu, Giselle, Corine, Valerie, Susi, Kayla e Anelise. Olhei para Stefan, que também não segurou o riso, quando Phoebe escorregou com o salto e quase caiu sentada após disputar o buquê quase que a tapas com Katie e Lydia.

"Por que você cantou com a Bridget?"

"Eu... só fiz isso pra ajudar ela, porque apostamos" A Kerttu apenas estreitou os olhos." Acho que não é preciso tratar ela de uma forma dura, sabe? Não justifica nada do que ela fez, mas ela é uma pessoa, como outra qualquer, tem erros e, dependendo, merece uma segunda chance."

"Segunda chance!? Tá maluca? É A BRIDGET."

"Eu descobri que ela não se dá muito bem com a mãe, e pode ter outros problemas que a fazem ser um tanto ácida."Dei de ombros.

"Eu sinceramente acho que você está assistindo a muitos filmes. Quando uma pessoa é má, ELA É MÁ."

Suspirei quando a princesa se foi. Talvez ela estivesse certa sobre Bridget, mas talvez não.

Coisas estranhas continuaram a acontecer. As pessoas foram ficando mais bêbadas (leia-se Phoebe e as madrinhas de May). Priscilla e Marianne, inclusive, resolveram que queriam nadar e enquanto seus maridos tentavam tirá-las da piscina, Maxon parecia estar fora de si querendo copiá-las e teve que ser segurado por América e Kaden. Kerttu usou a câmera pra registrar. May e Simon arriscaram um dueto, cuja afinação só veio da ruiva. Lorenzo voltou a festa com um curativo no rosto e tirou Emma para dançar. Os dois estavam se divertindo, num clima pacífico e fofo, porém não necessariamente romântico. Eu pensava sobre o quão lamentável era eles não terem dado certo quando alguém me abraçou com vontade.

"Arrasamos, arrasamos, arrasamos!"

"Por que arrasamos?"Encarei Violet perdida e ela sorriu mais.

"Você já deve saber que o noivado da Delfina acabou e Oliver vai voltar para onde veio."Assenti."Estou muito feliz por ela estar livre!"

"E quanto a Clarabella?"Ela fez uma careta e respirou fundo.

"Isolada. Oliver não admitiu que estava saindo com ela, nem Lorenzo fez isso. E olha que ficou com muita raiva.... Mas viu o desastre que seria. Tudo o que minha mãe e minhas tias sabem é que Oliver traia Delfina com várias, o que é verdade. E, agora, a surpresa: sabe o nosso plano? A carta da Delfina já tinha sido entregue para o Osten, acredita?"

"Aquela... aquela carta em que ela..."

"Se declara pra ele!"disse em sussurro. Tudo fez sentido. Aquele papel que Osten segurava enquanto observava Delfina dançando com Oliver não era a carta dele, mas a dela."E tem mais: eles descobriram o que estávamos tentando fazer." Riu nervosa."Depois que Delfina deixou o Oliver conversando com a mãe, eu vi a oportunidade de juntar os dois, e tentei trancar eles num quarto, mas Delfina desconfiou, e o Osten segurou a porta primeiro. Então eu contei tudo, eu joguei na cara dos dois tudo o que a gente queria dizer, e que nós estávamos tentando dar um empurrãozinho por causa da lerdeza deles."

"Mas você falou que eu...!?"

"Falei. Falei. Desculpa!" Meu sangue gelou."Foi aí que eles me contaram sobre essa carta, e resolveram conversar a sós. E eu sei que você queria falar com ele antes e não pegá-lo de surpresa com o plano. Expliquei isso e acho você não precisa ficar com medo. Ele não ficou chateado quando contei. Pelo contrário. Ele me pediu para entregar esse recado. Eu não li, apesar da curiosidade. Mas sei que deve ser coisa boa escrita aí." Deu um aceno me deixando sozinha com o pequeno bilhete.

Obrigado, Rosie. E não precisa ficar preocupada. Depois conversamos sobre o que aconteceu hoje.

Encarei o papel por um certo tempo relendo.

Viu, dramática? Tudo deu certo. Vocês vão conversar mais tarde, ele vai te agradecer, você vai virar a madrinha deles e vai esquecer esse ciúme bobo que você está sentindo agora. Você vai esquecer. Pouco importa se vai perder o contato com mais um melhor amigo, pouco importa, porque ele nunca te pertenceu. Ele não é um objeto, nem um escudo, nem alguém só para passar o tempo, muito menos um substituto que você pode usar nas horas de solidão. Osten é um cara incrível, dedicado, um grande amigo, alguém que é capaz de esconder como se sente só para seguir os protocolos, e ele está no seu total direito de seguir o coração, mesmo que isso afaste vocês.

"Mesmo que isso afaste a gente."sorri dobrando a folha.

"Pensando alto?"

"Hã, oi!"

"Talvez um pouco alto demais, não acha?"

"É, talvez." Dei de ombros.

"Eu não deveria te dar expectativas, não quando não temos plena certeza, mas te deixar sem respostas é ainda mais terrível. Quer saber mais sobre sua possível família? Sobre os Beaufoy?"

"Isso pode acabar não sendo mesmo verdade..."suspirei" Mas sim, quero."

...

Na França, como na maioria dos países que tinham ou passaram por um período de monarquia, sempre existiam aquelas famílias descendentes da nobreza. Não tinham destaque na mídia, a não ser que estivessem presentes em eventos da família real.

Os Beaufoy pertenciam a essa classe de privilegiados que concluí serem 'puxa saco' da família real francesa. Allan Beaufoy era um notável diplomata e sua esposa, Marie Beaufoy, não aparecia em mais nenhuma festa desde um acidente de carro que a deixou paraplégica. Ela quase não saia de casa e por esse motivo foi sendo esquecida pela sociedade.

A família se mudou para a Itália ainda na infância de Oliver, pouco tempo após o acidente de Marie e de se encerrarem definitivamente as buscas, que perduraram por anos, pela filha recém-nascida que desapareceu do hospital.

Marie comentou que o modelo de seu colar não poderia ser encontrado em nenhuma espécie de loja, porque seu desenho foi feito por um designer e amigo íntimo de seu pai. Por isso Aimee se assustara ao falar comigo, e por isso o meu surto sendo estava cada vez maior.

"Com essa história da traição do Oliver, vai ser um pouco difícil realizar um encontro de vocês tão rapidamente. Mas, por enquanto, vou tentar fazer contato com os Beaufoy."

"Ok. Obrigada!" assenti.

Estávamos no terraço, num momento similar ao que passei com Rebeca Collins, porém cercadas pelos seguranças pessoais de Aimee, e eu esperava do fundo do coração que nenhum ataque surpresa acontecesse no Resort. Não. O dia tinha já sido louco demais.

Distraí-me por um segundo do que Aimee me explicava sobre o possível teste de DNA que poderia ser feito ao ver Osten e Delfina parados próximos ao elevador, e a francesa também se surpreendeu ao vê-los ali parando a narração imediatamente.

"Delfina, minha cara, vem aqui. Perdão por não ter falado com você. Meus sentimentos ao que aconteceu. Esse homem não merece um fio de cabelo seu. Não se entristeça com isso, porque tenho certeza de que seu momento de estar com alguém especial vai chegar,e vai ser lindo!"

"Agradeço, Aimee, de coração."Delfina retribuiu o abraço, eu lancei um sorriso sugestivo para Osten, que me encarou de volta na mesma hora com uma expressão risonha,e mais rápido do que pude processar os três olharam para mim. "E quanto a você, minha quase cunhada?"Ela se divertiu com a minha confusão. "Também fiquei sabendo sobre o Oliver poder ser seu irmão, então quase virei sua cunhada."

"Oh,sim, isso é estranho."

"Eu sei o que está pensando. Se Oliver não foi muito bom comigo, não deve ter tido uma boa criação, mas eu discordo plenamente. O pai de Oliver é uma ótima pessoa. Um tanto sério, mas, é alguém muito íntegro. Estranho como nunca reparei na semelhança de você e a mãe dele, Marie, se olhar uma das fotos de mais jovem dela, vai ver praticamente o seu retrato, mas também como eu poderia imaginar, não é?"

"É incrível como o próprio Oliver não percebeu."Aimee comentou." Bom, acho que por hoje é só. Vou me retirar e vocês, jovens, continuem conversando. Uma boa noite!"

"Boa noite!" Dissemos em conjunto, e a francesa saiu acompanhada de toda sua segurança. Delfina deu um passo a frente para sentar ao meu lado.

"Eu não pretendo cortar completamente as relações com a família de Oliver.Posso passar informações para eles sobre você e vice-versa. Como o dia em que você chegou em Illea, ou outras pistas que ajudem a descobrir o que aconteceu para que saísse da França."

"Pode ser, mas acho que não precisamos de tanta pressa."Respirei."Deixa eu me acostumar com isso, e depois eu te aviso, ok?"

"Ok, a seu tempo."Sorriu."Agora vamos ao que nos trouxe aqui."Olhou para o príncipe." Eu e Osten queríamos agradecer pelo que você e minha prima fizeram pela gente, mas também queremos puxar a orelha de vocês. Por que não nos falaram antes?"Abri a boca para responder, porém ela continuou. "Tudo bem, a intenção era boa, mas não acham que deveriam ter deixado tudo acontecer naturalmente? Digo, eu e Osten poderíamos tomar a iniciativa, se a gente quisesse."

Franzi a testa.

"Como assim se vocês quisessem?"

"Se a gente quisesse."Reafirmou.

Revezei o olhar entre ela e Osten.

"Então... isso, isso significa que vocês não vão casar?"

"Não."negou também com a cabeça."Não vamos."

"Mas vocês se amam! Vão deixar a mídia e os comentários das pessoas atrapalharem? Por uma vez, uma vez na vida, não podem ligar o dane-se para tudo isso e darem ouvido ao que sentem?!"

Recebi risadas de sua parte, ela colocou ambas mãos em meus ombros.

"Você é uma figura, Rosie.Não estamos apaixonados, entendeu?"

"Não?! Mas e as cartas? Violet disse que vocês trocaram e estavam falando sobre elas!"

"Ah, as cartas."assentiu."Eu realmente entreguei uma para ele, e li um pouco da que ele fez para mim, mas com exceção da dele, que é bem antiga por sinal, não existe nenhuma declaração. Violet enxerga coisas demais! Osten tem outros interesses, e eu também vou correr atrás dos meus."Ela olhou rapidamente para ele."Então concluindo: não nos gostamos, temos escolhas diferentes, amanhã eu volto para Itália, e Osten, até onde eu sei, vai continuar a Seleção. Simples assim."

Mirei o rosto de Osten. Eu precisava ter a certeza de que ele mais uma vez não estava jogando a felicidade pelo ralo só para seguir aquilo que ele acreditava ser o melhor para todos. E quando vi a confirmação em seu olhar, apenas me restou olhar para o chão, a vergonha começando a inflar pelas bochechas.

"Me desculpem, me desculpem mesmo, eu juntei as peças errado, e me deixei levar pela possibilidade mais óbvia para mim. Eu só queria que vocês se dessem bem, porque gosto muito de vocês."Voltei a olhá-la. Delfina me lançou uma expressão compreensiva.

"Está tudo bem! Olha, eu ainda tenho que resolver uns problemas hoje antes de dormir, então vou indo."Se levantou."Vou deixar você esclarecendo pra essa coisa fofa aqui o que mais ela estiver em dúvida. Saio amanhã cedo, então venham se despedir de mim, tá?"

Ela saiu mandando beijinhos no ar,e eu só fechei os olhos.

"A carta de Delfina era para me pedir desculpas mais uma vez por todos os erros dela e não para se declarar. Ela me pediu também para tentar aprovar o Oliver, coisa que não é de hoje que eu não aprovo e agradeço por ela também não querer mais, mesmo que tenha sido só pelo fato de ele ter sido descoberto por todos."

" Você não tem que me explicar isso. Sério! Eu já acredito em vocês, só achei que pelo seu bilhete você estava me agradecendo por te ajudar com ela, e que estavam reatando, que estava me pedindo para conversar depois sobre as mudanças que isso iria gerar."

Osten pareceu atônito.

"Não sabia que tinha dado a entender tanta coisa assim, eu só queria falar com você sobre o que houve com Oliver,e todas as surpresas de hoje."

"Pois é, eu sou uma sonsa"Ri sem humor."Só piso na bola com você, sinto muito, de verdade, você sempre foi tão sincero comigo, e veio me avisando sempre de maneira tão honesta de que não queria mais nada com ela...Eu deveria é"

"Rosie," segurou meu rosto" me olha nos olhos e me diz se eu sou capaz guardar rancor de você?"

Olhei para ele pelo tempo suficiente para saber que ele não estava com raiva. Magoado com certeza, mas ia passar por cima do assunto.

Você não o merece. Essa voz ecoou em minha mente.

"Então agora tenho uma carta na manga pra ser uma chata com vocês quantas vezes eu quiser, não é?" Envolvi-o num abraço, e não foi preciso verificar se ele rolou ou não os olhos."Está ficando tarde.Nem sei se as meninas estão ainda na festa, mas não custa dar uma verificada... Vamos indo?" me afastei puxando sua mão.

"Sim, mas, antes de irmos, podemos conversar sobre o que aconteceu mais cedo?"

"Hã, sobre o quê?"

"Mais cedo."sorriu." Quando você fugiu e me deixou sozinho no seu quarto."

"Como assim?"

"Você sabe do que eu estou falando."

"Sei?"

Ele rolou os olhos.

"Aquilo. Que você quase fez. Ou precisa de uma amostra?" No instante seguinte envolveu minha cintura com um braço,e me puxou para si. Como se não fosse nada, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Seu nariz tocou no meu, e foi nesse momento que meu cérebro, ou melhor que cada partícula do meu corpo quis entrar em combustão. Ele havia percebido a minha intenção naquela hora, e olhava para mim com um olhar sugestivo a espera de minha resposta. "Ainda dá tempo de desistir."disse com a respiração em minha face.

Não levou um segundo para que eu sentisse seus lábios sobre os meus. Um simples selar. Deixei que ele me beijasse outra vez, e como um doce que nos faz querer uma sensação prolongada, outra vez,e nos instantes que se seguiram, eu não sabia mais explicar como estávamos tão entrelaçados. Suas mãos passeavam por minhas costas e minha nuca, e as meus dedos estavam enterrados em seu cabelo. Não consegui interromper, até entender na prática o que se tratava da expressão 'e o ar se fez necessário'.

"Você não desistiu."Osten aumentou ainda mais o sorriso colando a testa a minha"Mas agora eu preciso que me diga a verdade: Se eu fosse um cara normal, e você não precisasse se envolver comigo sabendo que estou em busca de uma noiva, me daria uma chance?"

Eu ainda olhava para seu rosto atônita demais para dizer algo.

" Por favor, diga alguma coisa.Não vou interpretar isso como alguma confirmação sua de que casar comigo, ou algo parecido,mas eu..."

"Osten... Como vamos ter um relacionamento se não paramos de brigar por um segundo? Nem somos um casal e já brigamos, imagina sendo um?"

"Casais brigam sempre,mas.. espera. Você está considerando isso?"

"Não!" Me soltei dele repentinamente e ele não me segurou."Não.Não é isso.Eu... não posso. Isso não é certo com você!"

"Porque não quer me iludir. Eu sei. Já me disse uma vez, lembra? Estou acostumado com suas rejeições. O que quero mesmo saber é se você pode me olhar e dizer a verdade."Tocou meu queixo, fazendo com que eu o encarasse"Preciso que me diga, sem medo nenhum de me machucar, se tem certeza de que não sente nada sério por mim."

Ele esperou.

Eu esperei pela coragem de lhe falar.

" Isso... Isso é uma maldita dúvida eu tenho. Você me deixa confusa! Num segundo penso que posso estar sentindo algo, no outro desconfio se não é tudo coisa da minha cabeça. Eu tenho um tremendo medo de te perder, e a loucura de hoje, a possibilidade de ter que me afastar de você, me levou ao meu limite. E agora a pouco...pode muito bem ser carência, porque...porque...Olha, nos últimos dias eu desisti definitivamente da pessoa que gostava, e acho que preciso de um tempo para entender o que estou sentindo quanto a isso. Não é como se eu fosse parar de gostar dele e na mesma hora me apaixonar outra pessoa, então..."

Engoli em seco, ao passo que ele aguardava o final. Acabei por envolvê-lo enterrando a cabeça em seu tronco.

"Esqueça, eu já cansei de ficar me justificando por tudo..."

"Não se preocupe. Podemos continuar levando as coisas e conviver da maneira que sempre convivemos."

" Não." Olhei para sua face. " Não, não é isso, Osten. Eu posso muito bem dizer pra você e pra mim mesma de que o certo é manter as coisas como estavam, mas acho que já passou na hora de correr o risco. E eu... se você ainda quiser, depois disso tudo, me passar do status de sua melhor amiga e conselheira, para o de apenas uma selecionada. E amiga." Acrescentei."Mas uma selecionada..."

A dúvida estava ainda estampada no rosto de Osten. Repassei o que disse mentalmente, até ser interrompida pelo som de sua risada. No instante seguinte, suas mãos estavam de cada lado do meu rosto. Ele tinha um sorriso contagiante e seu nariz ficou encostado ao meu como mais cedo, bem no limiar de...

"Então é melhor eu aproveitar a deixa, não? Antes que você mude de ideia mais uma vez."

"Eu não vou mudar."

 


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