Wendy Darling escrita por Ariel M


Capítulo 1
Capitulo 1


Notas iniciais do capítulo

Só uma tentativa de criar uma continuação para essa história que eu amo muito!! Espero que gostem!



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   Then one night, as I closed my eyes
           I saw a shadow flying high - Lost boy, Ruth B

Wendy sentou-se no parapeito de sua janela e olhou para o céu uma ultima vez. Não havia uma única nuvem no céu. Apenas as estrelas e a lua que iluminavam a noite. Para qualquer um aquela pareceria como uma noite perfeita, mas não para Wendy.

  Ela desviou o olhar vidrado na noite clara para observar o pequeno dedal que pendia do seu cordão. Parecia que aquele dia estava tão perto e mesmo assim tão longe.

5 anos atrás...

  Era uma noite como outra qualquer. As crianças estavam deitadas em suas camas e Wendy estava se preparando para contar mais uma de suas historias. Tudo quase idêntico a todos os outros dias do ano, exceto a quantidade de pessoas dentro do aposento.

  Wendy sorriu ao olhar para os meninos sentados ao redor da sua cama. Ali estavam as provas vivas de que tudo o que tinha acontecido não tinha sido um sonho e que... que Peter Pan era real.

  João estava sentado em sua cama com o olhar ansioso de sempre. Na maior parte do tempo, ele parecia ser muito mais velho do que todos os meninos. Com seus óculos redondos e a constante leitura, ele emanava inteligência em qualquer lugar que ia. Entretanto, durante as historias de Wendy, seus olhos brilhavam como uma criança de 8 anos que acreditava na magica de contos de fada.

 Ao redor de Joao, os meninos perdidos se sentavam em grupo. Quer dizer, eles não eram mais os meninos perdidos. Wendy sempre tinha que se lembrar dos seus novos nomes. Piauí, o mais doce e atrapalhado dos meninos, agora se chamava Pedro. Bicudo, que sempre estava com um sorriso no rosto e alegria estampada, passara a ser chamado de Bill. Deleve, o mais pretensioso dos meninos, era Daniel. Cabelinho, com seus cachinhos dourados, se chamava Carlos. E os gêmeos, inseparáveis e, as vezes, indistinguíveis, se tornaram James e Jacob.

 - Onde está Miguel? – Wendy perguntou, sentindo falta de seu irmão mais novo

— Banheiro? – disseram os gêmeos ao mesmo tempo

  Em um segundo, a porta de seu quarto se abriu. Miguel estava no colo de sua mãe, que estava no seu melhor vestido de festa. Perolas cobriam seu colo, realçando os olhos esmeralda que brilhavam quando sorria.

 - Meninos, sem demora para dormir. – a senhora Darling colocou Miguel na cama de Wendy – Estamos saindo. Dadá ira cuidar de vocês. Boa noite, meus amores.

— Boa noite, mamãe – os meninos disseram em uníssono.

  A Senhora Darling nunca tinha estado tão feliz. Mesmo com o grande trabalho que  se tornara, ela nunca se arrependeria de ter adotado todos aqueles meninos. Nem eles se arrependiam de estar ali com ela.

A porta do quarto se fechou e atenção se voltou para Wendy.

— Você não começou sem mim, não é Wendy? – Miguel se aninhou no colo da irmã, sabendo qual seria a resposta

— Claro que não, Miguel. – Wendy riu enquanto todos os olhos viravam para ela – Qual será a historia de hoje?

— Wendy! – todos gritaram contra ela

— Está bem!

 Wendy olhou para a janela, esperando ver alguém. Bom, não alguém. Peter. Ela olhava toda a noite desde que tudo tinha acontecido. Já tinham se passado duas semanas e ela nunca mais tinha o visto.

— Era uma vez um menino que não queria crescer..

 Sua voz preencheu a noite ate que todos os meninos estavam apagados em seu quarto. Wendy segurou cada um, levando-os as suas camas. E ali estava ela sozinha novamente.

  Miguel grudado em seu pequeno urso de pelúcia dormia em sua cama. João havia fechado os olhos com os óculos ainda pendurados em seu nariz. Wendy não conseguia dormir. Não quando sua janela ainda estava aberta.

 Ela se dirigiu até o parapeito e sussurrou para as estrelas:

— Peter, será que já esqueceu de mim? – a garota fechou os olhos em uma oração silenciosa

  Como magica, ela sentiu um toque em sua mão. Wendy levantou o olhar e ali estava ele. Peter Pan. A roupa feita de folhas de outono e teias de aranha ainda era a mesma. Seus cabelos vermelhos vivos contrastavam com seus olhos castanhos claros. Mas aqueles olhos que Wendy se acostumara estavam diferentes. Normalmente cheios de alegria, naquele momento pareciam preenchidos por melancolia.

 - Peter? – Wendy sussurrou – Eu pensava..

— Estive aqui todos os dias – ele sussurrou de volta, olhando para o céu estrelado. – Para ouvir suas historias, é claro.

— Eu...

— Me deixa falar, por favor. – os olhos de Peter finalmente se voltaram para Wendy. Ele ainda segurava sua mão, como se quisesse ter certeza de que aquilo era real – Eu não vou deixar nunca de que ouvi-las. Mas, um dia, você vai crescer e vai esquecer de mim, Wendy. Eu não quero que esqueça de mim.

 Peter abriu sua outra mão para mostrar o pequeno dedal que Wendy havia lhe dado. Agora ele estava amarrado em uma pequena corda feita de cipó, como um cordão.

— Eu sei que você me deu. Mas eu quero que você fique. Porque.. eu preciso que você lembre de mim.

 Wendy olhou para aquele cordão e segurou em suas mãos.

 - Eu nunca esqueceria de você, Peter. Eu...

  Entretanto, quando ela olhou para cima novamente, ele não estava mais lá. E aquela foi a ultima vez que Wendy Darling viu Peter Pan.

 

— Querida? – a voz da senhora Darling preencheu o quarto.

  Wendy foi puxada dos seus pensamentos de volta para o seu quarto. Seu quarto que agora era ocupado por uma única cama. O quarto de uma mulher, dizia sua tia Marjorie.

— Sim, mãe. Eu...já estou indo – ela fechou a janela e se voltou para o rosto da Senhora Darling que ainda a observava

— Querida, você não precisa fazer isso. – os olhos verdes de sua mãe estavam cheios de aflição como Wendy nunca tinha visto antes.

— Todos estão fazendo alguma coisa para ajudar, mãe. Os gêmeos desistiram das aulas de piano para começar a trabalhar no escritório. Pedro começou a faculdade de direito e está trabalhando duro para conseguir algum dinheiro. Bill e Carlos estão procurando um emprego. Daniel está fora do país tentando auxiliar nossa família de alguma forma. – os olhos da garota se encheram de agua enquanto seu coração acelerava com cada palavra proferida – Eu vou ajudar do jeito que eu consigo. E enquanto nenhuma editora estiver preparada para aceitar uma mulher de 18 anos que escreve romances, isso é o que eu posso fazer.

 A senhora Darling se aproximou da filha e segurou seu rosto entre as mãos. Elas ficaram nessa posição por alguns minutos. A mãe observava cada detalhe da filha. Os cabelos castanhos presos por uma linda fita azul de cetim realçavam a tristeza no semblante de Wendy. Ela estava deslumbrante em seu vestido cor celeste. Era uma mulher. Pronta para enfrentar os desafios da vida adulta.

— Está bem, querida. Se esse é o caso, Edward está lhe esperando na sala de estar.

.....

  Edward Jones era o mais desejado solteiro da sociedade londrina, ou pelo menos era o que todas as mães desesperadas para que suas filhas se casassem diziam. Ele realmente era um jovem bonito: os cabelos negros encaracoladas caiam sempre suavemente em seu rosto, como se brincassem com os seus olhos esverdeados. Entretanto, aqueles olhos pareciam quase.. vazios. E foi exatamente isso que Wendy Darling pensou quando adentrou a sala de estar.

  Ela, então, lembrou das fofocas que corriam pelos bailes da cidade. Edward acabara de perder a mãe, ninguém dissera como – o que era um detalhe bastante importante para as grandes fofoqueiras da sociedade. Ele era um mistério e era disso que as senhoras londrinas tanto gostavam.

  Por sorte de Wendy – ou não -, seu pai era um grande amigo de infância do Senhor Jones e, por isso, ali estava ela: numa sala com seus pais, irmãos e os homens da família Jones.

  Edward se aproximou de Wendy, curvando-se para depositar um beijo na mão encoberta pela luva marfim.

— É um prazer finalmente conhece-la, senhorita Darling – ele sorriu para a jovem com os olhos ainda vazios, como se aquele fosse um movimento mecanizado.

— Digo o mesmo. – Wendy fez um movimento com a cabeça de forma tão mecanizada quanto ele.

  Wendy analisou o resto da sala. Seu pai se encontrava em uma discussão fervente sobre economia com o senhor Jones. Sua mãe ajeitava a roupa de Bill de forma discreta. E o resto dos meninos a olhavam com um certo ar de pena.

— Eu diria que a senhorita está tão contente com esse arranjo casamenteiro quanto eu – Jones sussurrou para Wendy repentinamente

A menina ficou assustada. Ela ainda não tinha escutado a palavra de forma tão direta. Casamento. Era isso que iria fazer, não é? Casar com um homem que ela não conhecia e por quem não nutria nenhum tipo de sentimento. Tudo por uma causa nobre. Certo? Salvar sua família da miséria. Ou da possibilidade dela.

 - Eu... preciso de ar. – foi tudo o que ela pode responder.

— Senhor Darling, – o Jones mais novo interrompeu a conversa dos dois homens mais velhos -  gostaria de pedir permissão para levar sua filha a um passeio pelo gazebo.

— Claro, meu jovem. Fique a vontade. – seu pai sorriu. Sorriu como não havia sorrido em muito tempo.

 Wendy se obrigou a parecer minimamente contente e acenou para seu pai e para os irmãos. Não queria que eles se preocupassem. Edward ofereceu-lhe, então, o braço e foram os dois até o gazebo, que localizava-se bem em frente a casa dos Darling. A noite estava iluminada pela brilho do luar e vários casais passeavam pelas arvores e flores que rodeavam a construção.

  Jones a levou até um pequeno banco no interior da estrutura e ela, finalmente, conseguiu respirar.

— Me desculpe, senhor Jones. – Wendy tentou utilizar sua aula de boas maneiras.

— Não precisa se desculpar. – ele parecia com tanta dificuldade quanto a garota do seu lado. A única diferença é que ele conseguia esconder seus sentimentos de forma muito mais eficiente. – A senhorita está melhor?

  A pergunta pendia no ar. Wendy não estava mais prestando atenção em uma palavra. Não porque estava nervosa ou porque toda aquela situação lhe dava repulsa. Mas pela mulher sentada do outro lado do gazebo.

 Era uma figura realmente extraordinária. Usava uma capa negra que cobria todo o seu corpo, criando uma sombra que impedia que a imagem ficasse muito clara. Podia-se ver o cabelo loiro como o trigo debaixo do sol, que se destacava na luz da noite. Mas principalmente, as orelhas pontudas. Wendy não via orelhas como aquelas... há muito tempo. Ela segurou o dedal que pendia no seu pescoço.

— Sininho... – sussurrou para ninguém.


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