Pelos sinais que os belos olhos me transmitiam sim era o momento certo. Seus dedos fizeram um cacho na parte da frente do meu cabelo. Os olhos febris, o sorriso brincando nos cantos dos lábios. Um passo depois, ele estava virado em minha direção e me puxava para si.

— Seu jeito de me olhar te entrega.

A minha mão circulava o pescoço dele, enquanto a outra mão repousava em seu peito, eu levantei a cabeça totalmente ciente de como ele era um homem alto. Sentia as suas mãos se instalarem na minha cintura.

— Como assim?

Ele afagou os meus longos cabelos como se eu fosse uma criança que precisasse de atenção.

— É quente e extremamente expressivo. Ele se referia ao meu olhar.

Na minha cabeça eu continuava a procurar o  que os meus olhos haviam revelado. Como se fosse um telepata, o garoto bonito finalmente esclarece o que queria dizer.

— Você quer me beijar. Falava como se tivesse descoberto que eu gostava de fazer origami de papel.

Suspirei derrotada.

Sim. Eu queria.

Eu queria aproveitar cada instante desse dia em que eu fiquei com um famoso.

Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, se bem que já existe comprovação que pode sim cair.

Michael tomou a iniciativa e esmagou os meus lábios.

Beijos  lascivos e envolventes.

O aperto firme na minha cintura me remete a uma carícia  possessiva. Mas envolvida  como eu estava ele poderia fazer o que quisesse comigo. Sim. Eu estava prestes a me tornar massinha de modelar nas mãos dele.

Sua mão esquerda veio para debaixo dos meus cabelos me agarrando pela nuca.

Inesperadamente Michael travou parando de me beijar quando eu abrir os olhos ele estava tenso quase gélido e extremamente sombrio ao se soltar de mim, ele olhou em direção ao homem que estava a alguns metros de nós.

Eu tentava entender a situação o que havia ocorrido?

Olhei em volta ainda perdida nos últimos acontecimentos.

Meus olhos quase saltaram da minha cara ao constatar que já era noite! Era o início da noite e não havia apenas um homem olhando para a gente. Se você não estivesse desatenta com eu teria sido capaz de ver as lentes das câmeras disfarçadas ao nosso redor. Cerca de 10 homens de faixas etárias diferentes estavam envolvidos com o manuseio das suas câmeras ligadas em nossa direção.

Meu queixo caiu.

Paparazzi!

Estava explicado o motivo da reação do Michael.

Os fotógrafos haviam nos encontrado, ou melhor, dizendo havia encontrado o astro pop do momento aos beijos com uma garota desconhecida.

Eles tinham as fotografias em diferentes ângulos para comprovar a autenticidade das imagens.

Com a cara de poucos amigos Michael segura na minha mão e me guia em direção a algum lugar que eu não conseguia enxergar.

O caos se instalou na rua estreita, os paparazzi nos apertavam em busca de mais uma fotografia exclusiva. O excesso de flash afetou a minha visão a deixando embaçada. Eu só ouvia os gritos chamando pelo Michael, seguidas de perguntas sobre quem era eu, se eu era a sua namorada, pedidos para ele dar uma palavra sobre o assunto, se eu poderia falar. Tudo foi muito rápido soltaram as nossas mãos, e ainda cercada por muita gente fui empurrada para dentro de um carro.

Alívio, alívio por não estar mais sendo rodeada por pessoas estranhas e confusas por não saber onde estava o Michael.

Sozinha no banco de trás do carro, eu conseguia ver toda a aglomeração de pessoas do lado de fora, muitos flashes e até uma corrente humana teve que ser feita para o automóvel poder partir.

O motorista estava quieto e extremamente sério, os olhos eram reservados e distantes.

Fiquei intimidada em perguntar para onde ele estava me levando e envergonhada por estar envolvida no caos de minutos antes.

Apoiei a cabeça no apoio do assento e fechei os olhos.

— Não se preocupe, eu tenho ordens para levar a Srta. Até a sua casa.

Ainda de olhos fechados eu o agradeço com um aceno de cabeça.

Perdida demais para me importar em ser educada, a minha cabeça estava girando, eu não queria pensar, mas era impossível não fazê-lo.

Que burrada eu tinha feito!

Passear com uma celebridade como se fosse algo comum e o pior de tudo ser flagrada aos beijos em um lugar público.

Tudo o que eu queria era chegar à minha casa, correr para o quarto e me trancar lá por longos dias com uma pequena esperança que depois de algumas semanas o episódio seria esquecido.

Infelizmente, não foi assim.

Quando o motorista me deixou na porta de casa, nem me passou pela cabeça perguntar como ele sabia onde eu morava, apenas saí do carro mais rápido do que o normal sem olhar para os lados eu corri para dentro de casa.

Eu me sentia suja como se tivesse feito algo de errado ou pior algo criminoso, a minha mãe não estava em casa tive que pegar a chave de emergência.

Tranquei a porta e subi para o meu quarto. Tirei a jaqueta, as botas e finalmente o vestido.

Banho.

O banheiro me alivia de toda a adrenalina.

Como foi o dia de perder noções básicas de vivência, eu também perdi a hora no banho o que não me deixou orgulhosa, porém ao sair do banho a surpresa foi maior quando eu vi Sarah Stoltz de pé no meu quarto com uma expressão que mesclava preocupação, irritação e raiva.

— Eu posso saber onde você estava até uma hora dessas Destinee Haas!

— Vou sair com um amigo.

— Desde quando você conhece Michael Campion?

— Já faz alguns dias.

— E isso te dá o direito de sumir sem dar satisfações? Eu quase morri de preocupação! Quase liguei para a polícia e até para o seu pai! 

Ela fechou os olhos e suspirou.

— Se não fosse os empresários daquele garoto para me informar que você estava com ele, eu teria ido à polícia. — Quando se tornou tão leviana?

— Não me tornei é que as coisas saíram do controle.

Eu mesma estava descontrolada

— E isso resolve tudo?

Caminhei para perto dela.

— Não. Eu sei que o que fiz foi errado e completamente idiota, mas eu não estava pensando.  Parei para refletir. — Pensando melhor hoje foi um dia que eu não deveria ter saído da cama.

— Porque diz isso? Ela estava desconfiada.

— Por ter causado todo esse estresse e preocupação que não valeram à pena.

Nem mesmo pelos beijos trocados com ele.

— Mãe me desculpe por toda essa confusão de hoje. Eu lamento e estou arrependida.

— Você tem alguma coisa para me dizer?

Virei à cara.

Eu estava esgotada.

Fisicamente e principalmente mentalmente Michael Campion havia acabado comigo. Acabado de me machucar no lugar que mais doía em alguém no meu coração.

— Quem sabe outro dia, talvez?

Acenei.

— Desculpe mãe, é que eu estou cansada e com fome.

Sem perceber eu fiquei sem comer por um longo período e agora a fome apareceu.

— Tudo bem. Quer um risoto de carne?

— Por favor.

Assim que a minha mãe saiu do meu quarto eu me vesti com o meu pijama rosa, me sentei na ponta da cama e escovei os meus cabelos como uma distração e ocupação de tempo.

A fome era massacrante, e ficar sozinha poderia me levar a pensar no Campion e na sua covardia seguido de uma fuga.

— Já está pronta para dormir, filha? 

— Sim. Quero que esse dia termine logo.  Falei com sinceridade.

O  sorriso de Ethan era estranho.

— Olha quem resolveu dar o ar da graça Lady Haas. Bebeu um pouco de suco. — Pensei que tivesse fugido de casa ou algo assim.

Nem me ocupei em responder.

Garoto chato.

Eu estava cansada de ter que lidar com garotos por hoje.

Final de turno e definitivamente final de capítulo.