Jeller escrita por Lucca


Capítulo 5
Hackeados


Notas iniciais do capítulo

Essa one-shot se passa um tempo após o final da temporada quatro. Estou supondo que todos do team sobreviveram ao ataque dos drones e que já resgaram Rich DotCom da prisão.
Rich, aliás, é o centro dessa história. Veremos esse momento sob o prisma de sua interpretação.

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/771231/chapter/5

Era o meio da madrugada quando ele acordou. Aquela cama desconfortável o deixava com uma terrível dor lombar. Ah, que saudade das muitas outras camas que já teve. Isso sem contar as companhias que as dividiram com ele. Céus, como sentia falta de sexo! Como foi mesmo que acabou aqui nessa espelunca?

Então seu olhos correram o ambiente. Patterson dormia na cama ao seu lado. A tensão podia ser delineada nos traços de seu rosto apesar de adormecida. Ela era tão doce, inteligente, meiga. E se mostrava tão forte a cada desventura que viviam. Uau!  

Do outro lado do quarto, Reade parecia desmaiado no colchonete ao lado da cama daquela outra que ele não ousava dizer o nome. Essa, aliás, andava ainda mais mal humorada. Se o ameaçou com uma morte lenta usando um grampo de gravata, era melhor manter distância durante essa período dark que estavam vivendo. O braço dela havia escorregado para fora da cama e sua mão repousava no ombro de Reade. Tão oportuno! As manifestações veladas do amor que compartilhavam continuavam frequentes. Ele tinha certeza que, bastaria um leve movimento dela para Reade saltar do sono à vigília para verificar se tudo estava bem. As determinações sobre ética profissional daqueles dois os mantinha ainda separados. Incompreeensível! Romper com o tradicionalmente aceito pela sociedade e se aventurar num relacionamento em meio ao caos era tão excitante! Sexo também poderia ajudar a desestressar Tash..., quer dizer, aquela lá. Se os dois não fosse tão fechados quando o assunto é sexo com colegas de trabalho, ele realizaria uma intervenção para aproximá-los e ensiná-los a se soltar mais. Um luxuoso quarto de motel... Uma cadeira erótica... O ébano da pele de Reade... Sim, com certeza ele aceitaria o risco de ter a baixinha assustadora naquela orgia. Seus olhos voltaram para o leve toque entre a mão dela e o ombro dele. Tomara que encontrem o caminho um para o outro. Rich detestava admitir, mas queria ver Zapata feliz.

A próxima cama estava vazia. Lógico! Jane deveria estar ali, mas era o horário de Kurt estar vigiando e ela nunca dormia sem ele. Stubble contou-lhes que ela tinha uma certa dificuldade para dormir de forma ininterrupta mesmo em casa, sob condições normais. Se é que algum dia aqueles dois tinham vivido algo que pode ser considerado realmente normal. Em fuga, o sono dela estava ainda mais leve. Uma sequência de cochilos quando estava nos braços do marido definiria melhor a forma como ela descansava. O ingrediente principal era estar junto à ele. E que casal eles eram! Quanta cumplicidade numa simples troca de olhar! Era tão excitante acompanhá-los tão de perto, entender a dinâmica dos dois de forma quase íntima.

Outra pontada de dor na lombar o trouxe de volta de suas reflexões. Normalmente, ele se remexeria até encontrar uma posição um pouco mais confortável e se esforçaria em voltar a dormir. Estava exausto. Mas existia um pacto não verbalizado entre eles: nunca faziam barulho quando os outros dormiam. E não tinha sido um dia nada fácil. Por um triz não foram pegos. E, por longos minutos, acreditaram que Kurt havia sido abatido. Ele era o alfa daquele bando. Todos ficaram sem ação. Todos não! Jane agiu. Assumiu a liderança, reorganizou a estratégia e os colocou em segurança. E foi até onde Kurt estaria. Tasha e Patterson protestaram, mas logo perceberam ser inútil. Jane havia entrado num modo automático. Era como se o mundo a sua volta não existisse. Ela só fazia o que deveria fazer e, naquele momento, devia ir até onde o marido estava. Se houvesse uma mínima chance dele estar vivo, ela o resgataria, se não, se despediria. Foi tudo tão rápido e tão lento ao mesmo tempo. Ela retornou com um olhar vazio. Não encontrou nada e o peso dos acontecimentos se colocava sobre ela deixando-a numa espécie de estado de choque. Então Kurt entrou segurando o braço ferido de raspão. Jane se lançou sobre ele como um náufrago que se agarra ao salva-vidas.

Essa dor lombar era tensão acumulada e não só culpa desse colchão terrível! Ele sempre gostou de viver perigosamente, mas depois que se tornou um "bom menino" passou a querer ver as pessoas que ama em segurança. Mas acabou se apegando à essa família que forja seus laços no calor do perigo. Aff.

Da forma mais silenciosa que podia, Rich se levantou. Ele tomaria uma boa dose do Bourbon que estava escondido no outro cômodo. O álcool o ajudaria a relaxar. Ele mal podia esperar para sentir o líquido descer queimando por sua garganta e atingir sua corrente sanguínea provocando aquele formigamento nos dedos e o relaxamento necessário para adormecer novamente.

Cambaleante de sono, atravessou o quarto coçando os olhos. Ele mal chegou ao fim do corredor que dava acesso à sala quando avistou Jane e Kurt camuflados pelas sombras na sacada. A escuridão daquele canto impedia que ficasse visível da rua deserta a essa hora. Foi por isso que escolheram aquele quarto. O local era perfeito para um posto de vigia. Também era um tanto quanto discreto para os olhares de quem estava dentro do lugar. A cortina estrategicamente puxada ampliava a segurança. Meio passo a mais e os dois teriam o percebido ali.

Instintivamente, Rich parou. Ela usava o chambre azul marinho que Rich insistia em carregar para todo canto. Como ela pegou isso? Espere, ela precisou do chambre porque... estava sem roupa alguma por baixo! Claro! Era óbvio! Jane acreditou ter perdido o marido àquela tarde. Ela precisava senti-lo plenamente vivo e com ela agora.

A constatação fez o sangue de Rich pulsar mais rápido e forte, mas sua respiração desacelerou e seu corpo ficou completamente imóvel. Nada o faria se mover e ser percebido. Ele tinha sua grande chance e não a desperdiçaria por nada.

Eles se beijavam. Kurt estava encostado na parede lateral da sacada e Jane alcançava a boca do marido de fora cuidadosa e gentil. Era impossível visualizar, mas Rich imaginava perfeitamente a forma como suas línguas roçavam uma na outra, ainda transmitindo mais carinho que desejo. As mãos de Kurt estavam bem mais impacientes que os lábios de Jane. Já haviam mergulhado dentro do chambre vagando pelo corpo dela cientes de que o tempo era um inimigo.

Sem poupá-la, as mãos dele alcançaram seus seios brincando perigosamente com seus mamilos. Rich viu nitidamente os gemidos de Jane sendo devorados pelo beijo de Kurt que, em seguida, a afastou poucos centímetros para conectar-se à ela com o olhar sorridente e dizer “shshshsh”. Ela voltou a se lançar sobre a boca dele com quem quer fazê-lo provar de seu próprio veneno. Não foi um beijo casto dessa vez.  E logo suas mãos desabotoaram a calça dele, livrando seu pênis da cobertura dos tecidos que o prendiam. Claro que ele já estava totalmente preparado pra ela. Mesmo assim, nenhum dos dois tinha ainda a certeza de até onde poderiam ir, então ela estava disposta a tornar aquele momento tão difícil e prazeroso pra ele quanto ele fazia pra ela.

Rich entendeu o jogo dos dois. Deus, ele sabia exatamente o que ela estava fazendo! Seu polegar provocava perigosamente a cabeça antes de seus dedos se fecharam ao redor do pênis de Kurt para começar os movimentos lentos bombeando para enlouquecê-lo.

— Jane...

O sussurro de Kurt foi quase inaudível, mas os ouvidos de Rich captaram cada vibração de voz. Stubble não deixaria isso barato, ele sabia. E realmente não deixou. O hacker viu quando as mãos dele deslizaram para o quadril e buscaram espaço entre as pernas dela.  A forma como a respiração de Jane ficou pesada era o sinal de que ele devia estar brincando deliciosamente com seu clitóris agora. Talvez já tivesse mergulhado um ou dois dedos dentro dela. Quando ela começou os discretos impulsos do quadril contra Kurt, Rich teve certeza que sim.  Com as testas encostadas uma contra a outra, eles se moveram e balançaram buscando um ritmo ideal que não durou muito. De repente, Kurt inverteu suas posições e a suspendeu esquecendo completamente sobre onde estavam e o quão arriscado era possuí-la ali. Jane, em completa sintonia com sua loucura, envolveu as pernas ao redor de seu quadril dando permissão pra ele continuar. Pressionada contra a parede da sacada, sentiu o marido penetrando suas dobras, fundido os dois de forma que já não eram capazes de sentir-se como duas pessoas diferentes. Ali, sentindo a vida dele pulsando dentro dela, ela finalmente deixou a tensão daquela tarde partir. Ali eram um só, uma única sintonia, um único sentimento, uma única necessidade. Completos. Realizados.

Eles começaram a se mover lentamente. “Droga!” Rich pensou. Ele sonhou em ver Jeller sendo bem intensos durante o sexo. Por que estavam sendo assim tão comedidos? Não faltavam motivos para o casal se amar daquela forma. Estavam sendo discretos. Movimentos bruscos fariam mais barulho e podiam acordar os amigos. Também não se amavam há muito tempo. O desejo contido e acumulado poderia culminar antes ainda do curto tempo que tinham para estarem ali e queriam que fosse eterno. E havia tantos sentimentos para expressar... Aquele ritmo lento era uma forma singela de declarar que o amor que sentiam era ainda mais forte que a necessidade física, disposto a se ajustar a qualquer lugar e condição. Eles não desistiriam um do outro, nunca!

Rich ainda não tinha se permitido viver uma entrega intensa assim. Ele observou o compasso do amor dos dois intrigado. Era como se houvesse uma áurea sobrenatural em torno do casal. O ritmo deles transcendia a carne, entretanto era tão sensual e voluptuoso. A forma como Weller se afundava nela, como Jane o recebia e incentivava puxando seu quadril com as pernas. Era o jeito mais singular que ele já observara em dois amantes, quase uma dança, lindo de se ver. Boston classificaria como uma obra de arte repleta de detalhes que só olhos de especialistas eram capazes de apreender. E ele era um especialista. Ninguém melhor que ele para captar as nuances de tudo que esse casal fazia. Eles seriam sempre seu ship favorito. OTP, melhor dizendo!

Assim, Rich foi arrebatado com o casal. Cada movimento, cada suspiro, cada gemido calado foi captado e guardado com carinho na sua memória. Ele precisou morder os lábios pra conter seu próprio gemido quando os dois chegaram ao êxtase juntos. Seus instintos gritaram que era hora de voltar ao quarto pra não ser flagrado ali, mas suas pernas não obedeciam. Ele precisava de um pouco mais. Precisou acompanhar a forma delicada como Jane deslizou as pernas de volta ao chão apoiada nas mãos firmes do marido em seu quadril. Precisou ver a forma como se abraçaram aspirando o cheiro um do outro num último e desesperado desejo de que não terminasse ainda. Precisou ver a forma como voltaram a encontrar seus olhares e como sorriram.

— Preciso me vestir. – Jane sussurrou recebendo como resposta o estreitar dos braços do marido ao seu redor num protesto sem palavras.

Enfim satisfeito, Rich voltou sorrateira e silenciosamente para sua cama. Tomou cuidado para se deitar de costas para a porta. Seu rosto não podia ficar visível, a euforia estampada nele o denunciaria.

Jane adentrou no cômodo pouco depois, ainda mais silenciosa do que ele. Ela se movia como uma borboleta, tão delicada, seus pés pareciam sequer tocar o chão. Sentiu sua aproximação de sua cama e o leve movimento com o qual ela devolveu o chambre na cadeira lateral antes de retornar ao seu próprio leito.

Rich não era um cara apegado a certezas, mas nesse momento duas delas se faziam tão firmes e fortes dentro dele que não abriria mão delas por nada. A primeira era que ele jamais lavaria aquele chambre novamente. A segunda era que aquela espelunca com aquela cama horrível que lhe dava uma maldita dor lombar era o único lugar do mundo onde ele queria estar naquela noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Sugestões e críticas são bem vindas. Deixem um comentário sobre como foi ler essa história. É uma ótima forma de incentivo para que outras possam surgir por aqui.

Muito obrigada pela leitura.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Jeller" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.