Você Já Viu Asas? escrita por Sweet Madness


Capítulo 4
O Som da Harpa




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O batismo negro de Sabrina havia sido um completo desastre. Ao menos o julgamento tivera um rumo melhor e aquela seria sua primeira estadia na academia. Algo que iniciou de forma terrível, porém finalizou de forma divertida e vingada.

Em contrapartida, em Greendale, seus amigos passaram por mais bocados. E por essa razão estavam.todos reunidos no café. Raphaelle havia se preocupado com as expressões deles naquela sexta, durante as aulas, e os arrastou pra lá.

—Harvey, não pode me contar o que aconteceu?

O rapaz era o que cedia mais facilmente. Raphaelle sabia que era jogo sujo, mas ela estava preocupada. Ele se inclinou na mesa, tímido.

—Você promete que não vai me tratar como louco?

A castanha lhe segurou a mão com carinho, deixando um beijo no torso.

—É claro que não, Harvey. Que coisa absurda. Eu vou acreditar no que me contarem e vou tentar ajudar vocês. Eu prometo.

Os três contaram a ela o que aconteceu com Jessie, tio de Susie, há alguns dias. E Harvey teve de contar sobre as minas, sobre a criatura tenebrosa que vira. Ela não perdeu a seriedade nem por um momento, nem pareceu achar que era brincadeira.

—Harvey... Me desculpa, sei que você desenha... Por um acaso já desenhou aquela criatura?

—Muito mais vezes do que gostaria... Aqui, eu fiz um esboço hoje de madrugada. Não consegui dormir e desenhei no caderno, para poder fingir que estava estudando caso meu pai fosse lá.

O garoto procurou entre as folhas até encontrar o desenho, e mostrou para a amiga. Raphaelle pegou o desenho, e ficou alguns minutos ali, traçando o desenho com a p oonta do dedo indicador. Em algum momento devolveu a folha ao verdadeiro dono, e os três amigos sentiram a tristeza e o alívio no suspiro dela.

—Bom, Susie... Eu tenho um amigo que talvez possa ajudar seu tio. Sabe, sem ter que levá-lo para aquele lugar horrível, onde o torturariam apenas por amar da forma dele...

—Pode perguntar para seu amigo se ele gostaria de tentar?

—É claro que posso. Agora... Será que eu posso pedir um favor estranho?

—Se não está nos tratando como um trio de lunáticos como qualquer outro faria... Pode pedir o favor que quiser.

Os outros concordaram com Rosalind sem pestanejar. A castanha retirou da bolsa três saquinhos de tecido, e entregou um para cada amigo.

—Isso é um sachê de chá. Façam com leite fresco, às três da tarde de amanhã. Sei que terão de ficar na fazenda e que seu pai não vai estar em casa, Susie. Coloquem o leite para ferver, desliguem o fogo, coloquem o sachê e deixem descansar por exatamente 13 minutos. Então dêem o primeiro gole, e pensem em proteção. Pode ser um objeto, uma pessoa, uma frase... Qualquer coisa que os faça se sentirem seguros. Eu prometo que essas visões, ou sonhos lúcidos, vão parar. Mas sigam a risca, entenderam?

—Sim!

 

•~~•


Ambrosie estava com um humor dos diabos, literalmente. E Hilda agradeceu quando bateram educadamente na porta naquele fim de tarde.

Ela sabia que era Raphaelle, já que um estranho cheiro de chuva sempre acompanhava a moça.

—Olá, querida!

—Tia Hilda! Desculpe aparecer desse jeito, sem avisar...-O bruxo desceu as escadas em silêncio, seus olhos brilhando de magoa e furia mal contidas.-É que meu celular decidiu ir pra Nárnia e eu senti que precisa ver o Ambrosie... Tem algo errado com ele? Eu tive um pressentimento muito ruim. Mas Sabrina me disse que ele estava com raiva...-A expressão do necromante se suavizou, e aquilo animou Hilda.-Ela não me disse mais nada então... Bom, eu não me aguentei... Eu precisava ver se estava tudo bem.

—Bom... Espero que saiba, querida...

—Que você é sempre bem vinda na mansão Spellman.

Zelda chegou ao topo das escadas naquele momento, a tempo de ver como a mortal era erguida com carinho pelo feiticeiro, e os dois trocaram um abraço intenso, sem nenhum tipo de segunda intensão. Aquilo era apenas saudade.

—Senti sua falta, Ambrosie Spellman.

—Eu senti a sua, Raphaelle Morningstar.

 

•~~•


Os dois se aconchegaram na cama do necromante. Juntinhos, aproveitando o calor dos corpos para dissipar o frio que a chuva fina trouxe.

Sabrina chegou em casa, eles ouviram as risadas e a voz entusiasmada da loirinha e de Hilda papeando na cozinha.

—Gosta mesmo de demonologia, não é?

A pergunta veio suave com a ponta dos dedos que passeava por seu peito. Mas fez Ambrosie ficar alerta. Ela estava avaliando seu quarto, algo que não a havia visto fazer até agora.

—Gosto. Isso é um problema?

—Ah, Ambrosie!-Ela rolou para fixar em cima dele, prendendo suas mãos na altura da cabeça, com os dedos entrelaçados. Ela tinha um sorriso bonito, que trouxe uma certa calma.-As mãos que usa para me tocar também usa para abrir cadáveres. E acha que nosso maior problema são os seus livros?

—Você é uma abusada, Morningstar.

—Poupe-me de suas neuroses, Spellman.

 

•~~•


O chá funcionou, e os três amigos dormiram em paz naquele sábado. Algo concomitante com o exorcismo de Sabrina e a descoberta de Faustus sobre seus gêmeos, seus herdeiros.

Agora era Raphaelle quem não conseguia dormir. Estava andando por sua casa desde a meia-noite. Até se sentar na varanda, onde sua harpa estava.

O instrumento era mais que belo.

O corpo feito em ouro vermelho brilhava como se estivesse recém-polido. As cordas de prata estavam afinadas e pareciam novas.

Vencida por seu instinto, a morena passou a dedilhar uma canção muito velha. A favorita de seu caçula. E os acordes da harpa soaram por toda a floresta de Greendale.

Não choveu naquela noite. Os trovões deram um momento de plena paz ao ser nas Minas.

Mas aquela calmaria não fazia bem a todos. Em sua sala, irritada como nunca, Madame Satã pensava seriamente em cortar Faustus. Não a garganta, como normalmente faria. Estava pensando em pegar aquele inútil em um de seus pontos mais fracos. Como, inferno, ele não foi sai as de descobrir que classe de criatura aquela menina era? Edward teria sido mais eficiente. Sempre seria.

 

•~~•


—Hilda...-Zelda deixou de passar seu hidratante de ervas no rosto, para olhar sua irmã mais nova.-Você que Ambrosie está realmente apaixonado pela mortal?

—Eu acho que que ele está feliz por ter uma companhia.-A baixinha respondeu com sinceridade.-Ambrosie é um bruxo sangue puro, Zelda. Ele sabe que, infelizmente, amar a mortal seria um erro grave e bobo. Mas enquanto ele puder ter uma distração da penitência... Vamos deixá-lo ser feliz, irmã.

— Eu não sei se é uma boa ideia... Acho que deveríamos informar Faustus sobre a menina. Quem sabe,com o risco de uma humana tão inserida na realidade da Igreja da Noite, o sumo sacerdote não pense melhor sobre a pena de Ambrosie.

—Acho uma excelente ideia, irmã. Boa noite.

—Boa noite, Hilda.

Zelda foi para o andar inferior fumar um último cigarro. Foi quando ouviu o soar da harpa. Aquilo não era um bom sinal. Aquela música jamais poderia ser considerada um bom sinal.


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