A conversa com a minha “consciência” na noite anterior tinha sido um tanto esclarecedora, mas ao mesmo tempo muito estranha. O que me deixou refletindo por um bom tempo.

Ter Chat aqui novamente seria uma oportunidade de passar o tempo que “perdi” com ele? Porque eu senti muito a falta daquele garoto de um jeito que não era normal. Mas eu também não podia baixar a guarda.

Ou será que eu deveria?

— Bom dia, Marinette. – Nino disse ao entrar na sala, ao mesmo tempo que bocejava, me tirando da minha pausa reflexiva – Espera! Marinette? – o garoto parou e ficou me encarando. Revirei os olhos.

— Eu já entendi, ok? – nós rimos – Cadê a sua namorada? Não falo com ela desde ontem.

— Enterrada nos livros de história, provavelmente. Mandei mensagem hoje e ela só visualizou. – eu ri. Sabia que quando minha melhor amiga estava focada em alguma coisa, nem eu, nem Nino poderíamos desviar a atenção de Alya.

— E o Adrien?

— Deve chegar a qualquer momento. Segundo ele, já tinha visto esse conteúdo quando estudava com a assessora do pai dele.

— Queria ser inteligente assim!

— É, eu também.

— Bom dia, pessoas incríveis! – Chat Noir entrou na sala e eu fiquei cuidando Nino, louca para ver qual seria a sua reação.

— Bom dia, Chat. Como foi de viagem?

— Foi legal, mas senti falta de vocês. – os dois se cumprimentaram com sorriso. – Bom dia, razão do meu sorriso. – disse para mim.

— Bom dia, razão do meu desequilíbrio psicológico e emocional. – Chat riu.

— Fico feliz em saber disso, my lady. – piscou e sentou no seu lugar no fundo da sala.

— Não é um elogio. – falei baixo para ele não ouvir.

Logo depois o pessoal começou a chegar. Alya estava com um humor horrível, Adrien estava normal e de vez em quando eu olhava para Chat e ele me dava uma piscada.

A professora distribuiu as provas e assim que terminássemos podíamos sair para o intervalo.

Saí logo depois de Chat. E quando passei pela porta, ele me deu um susto, me fazendo dar um grito e receber um “Shh!” da professora.

— Ficou doido?

— Por você, meu amor! – revirei os olhos.

— Posso te fazer um pergunta? – questionei enquanto caminhávamos em direção ao pátio.

— Claro.

— O que aconteceu antes de você viajar?

— Como assim?

— Qual é a última coisa que você se lembra? – parei de andar e o encarei fixamente.

— Bem, eu...

— Aí está você! – alguém disse atrás de mim, me fazendo dar um pulo e virar para ver quem era. – Sinto muito pelo susto, estava te procurado. E oi Chat. – Adrien falou com um sorrisinho.

— Sem problemas, mas o que você queria? – questionei em um tom amigável.

— Te chamar para comer comigo...E com o Nino, bem ali. – ele apontou para mesa, onde Nino estava concentrado em comer um sanduíche. Uma cena muito engraçada, diga-se de passagem.

— Tudo bem, a Alya ainda não saiu mesmo. Vamos Chat? – ele assentiu e seguimos até a mesa.

— Como acha que foi na prova? – Adrien me perguntou assim que sentei.

— Acho que bem. Devo ter errado alguma coisa, mas pelo menos eu consegui responder todas as questões. Dessa vez eu não deixei nenhuma em branco, mesmo que tenha respondido algumas no chute.

— Eu conferi algumas respostas com o Adrien, depois disso decidi que esse sanduíche é mais importante pra mim no momento. – Nino disse com um tom triste e nós rimos.

— Só fiquei em dúvida na questão quatro. – Adrien escorou o queixo na mão e olhou para cima, pensando sobre a questão.

— Era alternativa B. – Chat disse simples.

— Eu coloquei essa. Dinossauros surgiram no período Jurássico, se não o filme não se chamaria “Jurassic Park”. – Nino comentou.

— Sim, era o que tudo indicava. – Adrien concordou – Mas no livro diz que eles surgiram na verdade no período Triássico. Era tipo uma pegadinha, então era a C.

— Acontece que a pergunta era sobre qual era o período de domínio dos dinossauros. – Chat explicou – E não qual o período que eles surgiram. Então é a B, período Jurássico.

— Não acredito que acertei! – Nino tirou os olhos do sanduíche pela primeira vez e fez um high five com Chat, enquanto Adrien o encarava pasmo.

— Do que estão falando? Espero que não seja da prova, porque não quero nem saber daquela droga! – Alya chegou com seu mau-humor.

— Pelo jeito que você estudou, achei que tiraria de letra. – Nino falou e minha amiga o encarou com um olhar mortal.

— Mais um palavra sobre isso e eu faço você comer esse sanduíche por onde ele deveria sair.

— Jesus amado! – foi só o que eu disse.

— Sinto muito, mas eu realmente não quero falar sobre essa prova.

— Que seja feita a sua vontade! – Nino ergueu as mãos como se estivesse se rendendo e voltou a comer seu sanduíche.

O clima havia ficado meio tenso, e ninguém diria uma palavra em circunstâncias normais. Mas Chat Noir estava ali, então, com toda certeza não eram circunstâncias normais.

— Então... Sabem qual é a semelhança entre uma panela e um gato? – nós quatro encaramos Chat e Nino negou com a cabeça – Nenhuma. Um é uma panela e outro é um gato. – começamos a rir como se fôssemos idiotas, inclusive Alya.

— Juro que não esperava por essa! – admiti.

— Eu é que não esperava que vocês achassem que uma panela e um gato tinham alguma semelhança. – Chat disse com sorriso.

Não demorou muito e o sinal tocou, indicando o fim do intervalo. Assim que levantei para ir, senti alguém segurar o meu braço.

— Espera! Será que posso falar com você? – era Adrien, assenti – Bem, eu tenho um tempo livre hoje à tarde e estava pensando... Se você gostaria de ir... Hum... Tomar um sorvete comigo. O que acha?

Assim que eu absorvi a informação de que Adrien estava me chamando para sair – o mesmo Adrien pelo qual eu era apaixonada, que não me notava mas graças à presença do Chat me notou e que eu confessei que estava apaixonada mas não gostava de mim da mesma forma –, meu cérebro parou por alguns segundos.

No meu planejamento mental, a tarde seria o momento para descobrir mais informações sobre Chat. No entanto, embora eu esteja mais tranquila com a situação com Adrien, mentiria se dissesse que não sentia mais nada por ele.

Olhei por cima do ombro dele e vi Chat entrando na sala, rindo de algo que uma garota da sala ao lado tinha dito pra ele. Meu coração bateu mais rápido.

Percebi que Adrien me encarava confuso, provavelmente tinha ficado muito tempo em silêncio. Precisava dar uma resposta logo, então sorri de maneira amigável e falei:

— Eu acho uma boa.