A Criatura de Coração Quente escrita por Cary Monteiro


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Veja notas finais.



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O ano era 2015, o planeta , a Terra, e o lugar já conhecido por muitos, colégio Coal Hill. Numa noite tempestuosa, onde as gotas da chuva caiam com força e rapidez, machucando os ombros cansados de quem desafiasse sair, na coragem ou na estupidez, pelas ruas da cidade.

As poucas luzes dos postes ligadas dificultavam a visão e no meio da névoa um homem usando um sobretudo apareceu. Ele andava rápido, com as mãos no bolso e ombros encolhidos por conta do frio. Ele alternava o olhar para a frente e para o bolso esquerdo. De repente um movimento nas sombras o fez parar e ficar alerta. A sombra se mexeu novamente numa parede que levava até uma travessa. O homem retirou as mãos dos bolsos para ajudá-lo a correr e perseguir o vulto. Na mão direita ele levava um revólver com o dedo próximo ao gatilho. Ao virar na esquina que levava no beco onde sua última pista morrera só havia a penumbra. O beco era cercado por três prédios muito altos, sem janelas. Até o homem- aranha teria dificuldades em escalá-los. Ele andou lentamente para dentro da ruela e seus olhos foram melhorando sua visão diante de toda aquela escuridão, fazendo-o capaz de perceber que bem no final do beco havia uma cabine azul. Era isso, o monstro estava encurralado, ele havia entrado na cabine e não teria lugar para fugir. O homem preparou seu revólver e empurrou lentamente a porta que fez um pequeno rangido no caminho demonstrando ser antiga. Ele não entendeu o feixe de luz que começou a se formar e abriu um pouco mais a porta, adentrando ao mesmo tempo. O homem começou a ouvir vozes...

— ...Que tal Istambul? Nunca fomos lá.– Uma voz feminina falou.

—  Fomos no quadrante Doze da galáxia Gameron na semana passada que é exatamente a mesma coisa. – Uma voz masculina cheia de sotaque escocês respondeu. – E que tal um planeta povoado por homens-tubarão? Eu conheço alguns!

— Nem pensar! Algo me diz que eu vou passar o resto da semana tirando fedor de peixe do meu cabelo! – A voz feminina queixou-se. – Doutor... Você convidou alguém para vir conosco hoje?

— Por que a pergunta?

O homem encontrou-se num corredor, os pingos da chuva escorriam pelo seu sobretudo até o chão metálico iluminado. Ele observava-os até perceber que o silêncio havia sido feito. Ele levantou lentamente o olhar e avistou ao longe as duas figuras donas das vozes: uma mulher de cabelos castanhos e curtos e o senhor escocês com cabelos prateados e espetados, com um par de sobrancelhas nada felizes em vê-lo.

— Quem é você e como entrou aqui?! – O escocês vociferou enquanto andava até ele em passos largos. O homem sentiu uma onda de pânico tomar seu corpo. O coração batia forte e  ele estremecia, não por conta do frio. Algo naquele homem o amedrontava, mais do que o monstro que perseguia, mais do que aquela cabine que ela maior por dentro e ele estava chegando cada vez mais perto enquanto pensava. O bater das botas dele no chão latejavam em seus ouvidos, o olhar irritado que ele lhe jogava numa fúria como jamais havia visto, como ele havia presenciado dias atrás e então o senhor virou um monstro negro por um momento enquanto se aproximava. Os seus olhos verdes brilhantes tornavam o sonho ainda mais real. O homem não viu sua mão se mover, ele só queria parar aqueles olhos tempestuosos. A negra mandíbula se abriu e o sonho acabou num estouro seguido de um grito gutural. O senhor caiu de joelhos no chão. Ao longe a morena correu para ampará-lo, o pos em seus braços.

— Doutor... – A garota sussurrou segurando o choro. O Senhor tremia muito, parecia lutar contra as dores da ferida.

— Clara... – Ele começou a dizer numa voz rouca. – Se não deseja que eu regenere, vai tirar esta bala de mim, agora! ... Não está atravessada, seja rápida. Eu não vou conseguir segurar por muito tempo! – ele fez um esforço gigantesco retirando todo o tecido que escondia o buraco próximo de seu ombro esquerdo, distanciando as roupas que usava para que a garota pudesse ajudá-lo. Ela olhou para o senhor e depois para a ferida, respirou fundo e usando os dedos como pinça, procurou pela bala. O homem chamado de Doutor urrou e rangeu os dentes no mesmo instante, logo após desmaiou, Clara puxou o pequeno metal e o jogou ao chão produzindo um estalido. Ela apertou a ferida com uma das mãos, impedindo que o sangue continuasse a sair.

— Doutor! Acorde! Por favor.... – Ela o chamava sem sucesso. O olhar de pura preocupação e ternura que ela transmitia ao senhor desmaiado emocionaram o estranho rapaz e o entristecia em lembrá-lo o que ele havia acabado de fazer.– E você não fique aí parado! Vamos, ajude-me a levá-lo até a enfermaria! – ela gritou tirando-o do transe. O rapaz endireitou-se no mesmo instante.  – Você consegue carregá-lo? Ele não é realmente pesado... – O rapaz obedeceu sem pestanejar, agachou-se e pôs o Doutor em seu colo. – Vamos, é por aqui. Tenha cuidado, ele ainda está sangrando...

Clara tentou se lembrar da vez que os professores tiveram uma palestra de primeiros socorros, mas mesmo o que ela havia aprendido não lhe ajudaria no momento. Uma ferida de bala, o Doutor precisaria levar alguns pontos, ela esperava que isto desse certo. Ela olhou para o homem que carregava o Doutor, o olhar para a frente porém distante durante todo o percurso.  Mesmo tendo ferido o Doutor e quase o feito regenerar, o que seria problemático logo agora que ela havia se acostumado com toda aquela grosseria escocesa dele, Clara não conseguia sentir remorso do rapaz ela não sabia o porquê. Sua mente estava confusa com outras questões. Os dois viraram no corredor e entraram numa sala totalmente branca, com maca, uma pia e um armário. O rapaz deitou cuidadosamente o Doutor na maca e sentou-se numa cadeira que havia ao lado, esfregando as mãos nos joelhos, olhando para baixo, sem saber o que fazer.

— Qual é o seu nome? – Clara perguntou enquanto lavava as mãos. O homem se ajeitou na cadeira.

— Ahm, Ted, senhorita. Eu... Eu sei que não valerá de nada a essa altura, mas eu peço mil desculpas. Eu juro que não foi a minha intenção em machucar este senhor... – ele tentou se explicar. Clara secou as mãos e começou a mexer no armário.

— Está tudo bem. O Doutor não morre assim tão facilmente – ela riu. – Mas devo dizer que foi um tremendo susto...

— Eu estava procurando uma... Coisa... Devo ter entrado aqui por engano.

Clara pegou um pedaço de algodão e chegou perto da maca. Ela molhou o algodão em álcool e com uma das mãos distanciou as roupas que cobriam a ferida. Ela olhou nos olhos de Ted.

— Ted, preciso que faça uma coisa para mim.

— Sim, pode dizer.

— Segure o Doutor com toda a sua força. – Clara disse muito séria. Ted pareceu relutante, mas obedeceu e pos as mãos uma em cada braço do Doutor. Clara então pousou o algodão úmido na ferida e o senhor urrou de dor acordando no mesmo instante.

— Segure-o, Ted! – Clara gritou e jogou o próprio corpo em cima do estômago do Doutor tentando fazê-lo parar de se debater e espernear. – Doutor, pare! Deixe-me limpar a ferida.

— O que pensa que está fazendo? Argh! – Ele chiou de novo quando Clara conseguiu encostar o algodão mais uma vez. O Doutor se debateu o bastante para fazer com que Ted o largasse, logo após isso num movimento rápido ele empurrou Clara para o lado e se levantou, ficando entre a morena e o rapaz numa posição de alerta.

— Doutor, estamos perdendo tempo. Deixa eu cuidar disto! – Clara reivindicou.

— Eu já estou bem! Não preciso de nada disto! – Ele gritou de volta.

— Ted, prenda-o! – Clara ordenou e Ted assim o fez, abraçando o Doutor por trás, prendendo-o junto dos braços na altura dos cotovelos.

— Solte-me agora! Você é o maldito cérebro de pudim que quase me matou agora pouco, não é? Sinta um pouco da minha ira! – E o Doutor cabeceou para trás, atingindo Ted.

— Ted, não o solte por nada nesse mundo! – Clara gritou e tentou encostar o algodão novamente, mas tendo que recuar de um chute alto. – Doutor! Você pretendia me chutar?!

— É claro que não. Apenas empurrá-la com o meu pé. Larga isso!

— Se eu não fechar essa ferida, vai pegar uma infecção! Deixe-me limpá-la!

— E quem é que vai fechar? Você? Uh, Se for tão boa costurando quanto é cozinhando eu estarei em boas mãos. – Ele zombou.  O comentário tirou Clara do sério.

— Muito bem então! Você não me dá outra alternativa! – e num gesto rápido ela apertou os dedos com o algodão molhado na ferida dele fazendo-o urrar de dor e perder a consciência novamente. Ted ainda o segurava, mas afrouxou o aperto quando percebeu que não era mais necessário usar tanta força. Clara limpou o ferimento cuidadosamente e preparou a agulha e a linha cirúrgica. Uns momentos antes que ela encostasse a agulha na pele, o Doutor acordou novamente e seguiu o movimento do objeto pontudo com o olhar, passando a respirar mais forte a medida que Clara chegava mais perto.

— Se você se mexer eu vou errar e acabar com essa agulha no seu olho, então fique quieto! – Clara avisou ao Doutor. Ele virou a cabeça para o lado contrário e tentou demonstrar não se importar. Ela deu o primeiro ponto e o Doutor mordeu a lingua ao fazer de tudo para não se mexer, fazendo caras e bocas de olhos fechados, incapaz de ver o andamento do processo. Ela deu mais um ponto e o corpo inteiro do Doutor estremeceu. – Só falta mais um, aguente firme.

— Já aguentei coisas que até seu deus duvid... Arrrgh!

— Prontinho! – Clara informou, muito feliz com o seu trabalho. O Doutor nem tanto.Clara colou um esparadrapo no local antes de acionar Ted a soltá-lo. Ted largou-o finalmente e recuou um passo para trás. Não queria admitir que estava com um pouco de medo da reação do Doutor logo após o incidente.

— Tsc, dê-me os comprimidos da segunda gaveta do armário que eu não vou ficar sentindo essa tortura até sarar...  Argh, olha o estado da minha blusa! Essa mancha nunca vai sair. – Clara ia fazendo o que o Doutor havia lhe pedido e pegando os comprimidos na gaveta. Ela os entregou e o senhor do tempo os engoliu no mesmo instante.

— Encontrem-me na sala de controle. Eu vou me trocar. - O Doutor avisou enquanto saía da ala dando as costas para Clara e Ted.

— De nada! - Clara gritou sarcasticamente. O Doutor respondeu com um muxoxo sem parar seu percurso. - Bem, Ted, vamos voltar e esperar pelo Doutor… - Clara dirigiu-se ao homem e também saiu da ala médica com o mesmo logo atrás.

— Ele está zangado comigo, não está? Por favor, não chamem a polícia. Eu já tive problemas demais com ela… Mais um desses e…

— Está tudo bem, Ted. Ele não está zangado. Eu diria até que está muito contente. - Clara comentou, risonha. Ted olhou-a confuso.

— E porque ele estaria feliz?

— Uma série de razões, mas a principal é porque você é problema. E o Doutor adora problemas…


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Notas finais do capítulo

Uhh... Xo tentar voltar a escrever de novo xp



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