–Lulu esse finalmente é o fim.

O meu desejo foi concedido, então é assim que é morrer Lulu? Quem sabe agora eu possa te ver, o Geass não deixa as pessoas solitárias não é mesmo? Eu conheci muitas pessoas e fiz muitas amigos, tudo graças a você, quando você morreu eu não me senti solitária, eu senti o calor da sua presença no meu coração, mas você não estava mais lá, Nunnally chorou, ela gritou seu nome enquanto sacudia em vão o seu cadáver frio e ensanguentado, por trás da máscara de Zero Suzaku também chorava a Kallen te deu tapas pedindo que você abrisse os olhos que parasse de brincadeiras, mas você não se moveu novamente, você nunca mais usou seu Geass, seu corpo foi enterrado junto com o do pai do Suzaku, em segredo, pois os revoltosos queriam estilhaçar seu corpo, ninguém sabia do seu plano além de mim e do Suzaku, todos ainda te odeiam, eles pularam de alegria com a sua morte, era assim que você queria não era?

Lelouch eu estou com frio.

Eu mudei o meu desejo com os contratantes, eu não queria apenas morrer, findar essa experiência, eu pedi para te ver uma última vez, eu sei que eu não posso ir até onde você está, se você tem muitos pecados em uma vida, some os seus aos meus de uma eternidade, eu não tenho como estar com você mais uma vez, se esse Deus que todos acreditam existir realmente existir eu rogo a ele que ele conceda, a mim uma pecadora, uma bruxa, poder te encontrar e tocar a sua face, ver seu rosto sem graça quando eu troco de roupa e sua cara de irritação pelas minhas pizzas; aquela princesinha disse um dia que eu, ela e a Kallen éramos as mulheres do Zero, eu nunca me importei pelas outras, eu nunca tive ciúmes da Kallen, porque eu sabia que no seu destino só restaria a mim no final, ledo engano, quem diria que eu, logo eu que vivi uma eternidade iria me enganar quanto ao poder que eu tanto conhecia “O Geass torna seu possuidor solitário”, no final você não teve só a mim, você teve amigos, mas apesar de tudo eu continuava sendo sua cúmplice, seu escudo, eu não deixaria você morrer até cumprir o meu desejo, Lulu, Zero, seja qual for o nome que te derem eu queria morrer com você.

Eu não consigo mais me mexer, meus olhos estam se fechando.

Depois da sua morte, eu fugi pelo mundo, eu não sentia tristeza, afinal eu não consigo sentir quase nada, para passar a eternidade é necessária pouca bagagem e sentimentos são um fardo muito pesado, eu custei a acreditar que você realmente tinha que morrer, apesar de saber que você sempre fez o tipo mártir, eu não queria acreditar que você morreu, tanta coisa que eu queria ter te dito, ter feito com você, tanta coisa que eu queria que você me mostrasse, depois de você eu tive vários contratantes, os vi fazer coisas ridículas e estúpidas, nenhum deles seria grandioso diante de você e era inevitável comparar, mesmo centenas de anos depois eu ainda lembrava de você quando via o Geass nos olhos deles, eu pedia para que eles usassem lentes como as suas para que eu não tivesse que vê-los como você, mas nenhum deles retirava-as com a imponência que você, é meio estranho, mas eu sabia seus gestos exatos, o modo como comia, dormia, sorria, chorava, como balançava o cabelo, a maneira que passava a mão no cabelo quando não sabia o que fazer, eles não possuíam a sua leveza, o seu charme, o seu encanto, que dirá a sua inteligência! Todos com seus pensamentos mesquinhos e inúteis, sem nenhum ideal maior, todos frágeis e vulneráveis, por isso que eles morreram antes de cumprir o meu desejo.

Zero estou no vácuo.

Então no final era tudo mentira, essa história de céu e inferno, há apenas o vácuo e eu, será que eu ficarei mais uma eternidade aqui? E dessa vez completamente sozinha de verdade. Pelo menos eu tenho toda essa eternidade para lembrar de você, nesse lugar onde não há frio, não há tristeza, não há dor, mas também não há você, vai ver eu mereço estar aqui, quem sabe se eu tivesse tido uma experiência melhor eu poderia realizar o meu desejo de te ver mais uma vez, então a minha experiência não devia ter terminado se eu não realizei meu desejo, sendo assim eu não morri, então por que eu não me sinto?

Eu estou chorando.

Tem algo quente nas minhas bochechas, é molhado e quente, talvez água? A quanto tempo eu não sabia o que era um lágrima, obrigada, eu tinha me esquecido como é chorar, me ensinaram um dia que chorar é para os fracos, escravos não choram, engraçado, eu me tornei de uma hora para outra a escravizadora e não mais a escrava, primeiro com meu Geass, depois como contratante, sempre nessa relação de poder com as pessoas nunca de igual para igual, você foi o primeiro a me tratar como “cúmplice”, eu não era apenas a contratante, e você não queria a minha imortalidade, eu para você era o meio de construção de um mundo melhor para a Nunnally, um motivo mais nobre que opressão e consolação e tantos outros que eu já tinha visto, lutar por uma outra pessoa a que se ama, não é de forma alguma fácil, é doloroso e triste, mas mesmo assim no final, como sempre, você venceu o jogo, realizou o seu desejo, mesmo que sua vida fosse necessária para isso, se você atingiu o seu objetivo eu também podia atingir o meu.

Você nunca pensou em realizar o meu desejo.

As lágrima cessaram, agora há algo quente me envolvendo, ainda não vejo nada, mas sinto o Sol incidindo na minha pele, que brincadeira de mau gosto Deus trazer essas sensações a tona quando não posso mais sentir o Sol, onde está o meu desejo que não se realiza? Se não for para te ver prefiro voltar a minha experiência até encontrar uma bruxa melhor que eu que possa fazer com que eu te veja. Corpo mova-se! Estou escutando! Tem alguém me chamando, mas onde? Está tudo tão escuro, o calor do Sol é aconchegante, “CC?”, Zero é você?!

Quero te ver.

A luz está incomodando meus olhos, eu me sinto de novo, não estou mais no vácuo, não estou mais chorando, não estou mais sozinha, sinto cheiro de flores, sinto a grama a baixo de mim, vejo a luz do sol e ouço a sua voz preocupada a me chamar “CC você está bem?” suas mãos tocaram minha pele, mas eu preferir não abri os olhos, eu não posso me perder em devaneios, é certo que ainda estou no vácuo, Deus não seria bom assim comigo, “CC você está bem?!”, você me sacudia agora, eu senti o seu perfume, mas mesmo assim não abri meus olhos, “CC você veio de tão longe até aqui, você sofreu tanto e agora não realizar o seu desejo? Vai voltar para sua experiência?”, eu não pude deixar de me chocar, então até as bruxas merecem perdão? “Você não vai mesmo abrir o olhos não é? Então antes de ir...” Lelouch selou seus lábios nos meus, coisa que ele nunca havia feito, por impulso o puxei mais para perto e o abracei, abri meus olhos, ele estava ali! Bem perto de mim! Não era mentira, meus olhos não me estavam engando, aquele era ele mesmo! Aqueles lábios, eu os reconheceria em qualquer lugar.

Lulu eu estou feliz.

“Nós estávamos te esperando, você demorou a chegar”, “Desculpe, você não sabe como é difícil chegar aqui, eu demorei muito para te encontrar. Eu queria te ver de novo”, ele me conduziu até um planalto, lá estavam todos alegres e sorridentes, Nunnally brincava com borboletas, enquanto Suzaku e Euphy conversavam corados, todos estavam lá, os cavaleiros, os professores, os alunos, Rolo, Shirley, todos os que um dia aqueceram meu coração vazio estavam lá, “Humanos são coisas realmente interessantes” sussurrei, Lelouch sorriu, todos sorriram para mim “OKAERINASAI!” foi o que eu ouvi, “Tadaima”, é bom estar de volta.

Zero eu nunca tinha ouvido um “Okaerinasai” seu.

Sorri para o céu e acreditei pela primeira vez que esse Deus que todos falavam existia e que ele gostava muito de mim, obrigada Deus por poder vê-los mais uma vez, obrigada a todos por me ensinarem o que é o amor.

Arigatô Lelouch. (ルルーシュありがとう)