Meu eterno Akinli,

Passei cada dia da minha vida inútil afogada em culpa, mágoas e lágrimas. Se eu fosse mortal, possivelmente, já teria morrido de desidratação.

Por mais que já tenha se passado quase um século desde o dia que você morreu, ainda dói demais. Foi horrível perdê-lo. Quando acordada, eu me perdia nos meus pensamentos sobre nossos possíveis futuros irreais juntos, o que ia me matando lentamente. E, enquanto dormia, os pesadelos com seu rosto se afogando e definhando sem que eu pudesse fazer nada, me assombravam. Em alguns momentos, isso ainda acontece, mesmo que em uma frequência menor.

Mas, tudo isso me deixou mais forte, meu amor. Os naufrágios já não me assustam tanto quanto antes. Agora, consigo olhar para o rosto das pessoas, algo antes impossível para mim. Isso assustava minhas irmãs e até mesmo a Água, em alguns momentos. Inclusive, estou cumprindo a promessa que fiz a Ela, decidi me tornar completamente fiel. Minha vontade de viver meu lado humano foi embora quando você se foi.

Nunca mais me apaixonei, até porque não conseguiria. Não gostaria de estar com mais ninguém que não fosse você. Mas, mesmo assim, se eu sentisse que alguém estava se aproximando com intenções românticas, eu mandava de presente para a Água, por precaução.

Do nosso grupo da época, a única que ainda está comigo é Padma. Ainda faltam alguns anos para que ela possa ganhar sua liberdade. Miaka e Elizabeth já voltaram a ser humanas faz tempo. Ás vezes, quando a saudade é muita, eu vou até a cidade para vê-las, de longe, claro. Mas, existem outras conosco agora, e eu as amo tanto quanto amei, e ainda amo, minhas antigas irmãs. Isso, por um lado é doloroso, já que terei que me afastar delas também quando chegada a hora. Arianna e Irie, são seus nomes. Assim como Elizabeth e Miaka, elas gostam bastante de ir à cidade. Mas apenas elas e Padma vão. Eu não. Gosto de ficar isolada em casa o máximo possível. Porque agora, eu sou apenas dEla. DEla, de minhas irmãs e sua, somente. Para sempre. Por toda a eternidade.

De sua eterna,

Kahlen.