A arte de se expressar escrita por TMfa


Capítulo 19
19 - Aquele do jantar parte 2


Notas iniciais do capítulo

Em resumo, toda essa parafernalha, esses outros 17 capítulos (18 e 19 eram um só), foi pra chegar aqui, quero agradecer minha mãe, meu pai... ah foda-se, vamo postar logo.



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Kyouka estava olhando calmamente para o carvalho desenhado de Inasa. O desenho agora parecia ainda mais detalhado que no dia em que ela o viu ser feito. Cada um dos estudantes na sala recebeu um desenho diferente do garoto dos ventos. Jirou foi a primeira a receber os desenhos e, como era particularmente do interesse de Inasa, a garota punk recebeu quatro.

A princípio, Kyouka ficou desconfortável com o olhar expectante do garoto sobre si, contudo, ao ouvir a comoção positiva da turma sobre os desenhos de Yoarashi, ela ficou mais tranquila, sabendo que não era o centro das atenções. Pelo menos até Jirou virar a página e ver seu rosto desenhado.

Kyouka sentiu o rosto aquecer e puxou o desenho para mais perto de si, para garantir que ninguém mais visse, Inasa estava do seu lado, Momo do outro, sentada com uma folha nas mãos, assim como os demais. Jirou passou a analisar novamente o desenho, era apenas metade de seu corpo, o rosto em destaque, em um ângulo visto de baixo, como se ela estivesse acima do olhar do desenhista. Ela sorria.

Eu pareço assim, quando sorrio? De alguma forma, aquilo a deixou confortável, feliz, como na imagem. Em seu retrato ela estava envolta no casaco da Shiketsu e ela lembrou da noite em que Inasa explodiu a bola de lama em si mesmo. Foi assim que eu sorri naquele dia?

— Ela é tão fofinha – alguém comentou, fazendo Kyouka se encolher.

Ainda que o comentário tenha sido para outro desenho de Yorashi, Kyouka decidiu esconder seu retrato atrás dos outros papéis para garantir que ninguém soubesse que ela estava entre os desenhos de Inasa.

O próximo foi uma paisagem, a entrada do UA, parecia imponente, grandioso e reluzente. A imagem encheu Jirou de orgulho, ela era estudante dessa escola, ser parte de algo tão grande assim alimentou seu ego.

— Essa é um jeito de ver a orelha! – comentou Bakugou num pseudo-elogio. Aquilo chamou sua atenção, esse era o apelido que Bakugou dera a ela.

— Eu? Do que você está falando?

— Disso – respondeu Bakugou virando a folha de papel.

Bakugou estava no outro lado da sala, por isso foi um dos últimos a receber a arte de Yoarashi, isso também dificultou para Jirou observar o que Bakugou segurava com a ponta dos dedos. Kyouka levantou-se e deu dois passos até o meio da sala quando percebeu do que se tratava.

Era ela novamente, uma ilustração do dia em que ela e Inasa lutaram, Kyouka com os braços em forma de X, ondas sonoras saindo de suas mãos enquanto linhas descoordenadas simulavam o vento fluindo para longe dela. Os traços de Inasa davam a Jirou um olhar determinado e corajoso que ela tinha certeza que nunca passou por seu rosto na vida real.

Kyouka travou por um segundo, confusa e um pouco envergonhada. Inasa aproximou-se dela trazendo-a de volta a realidade.

— V-você me desenhou duas vezes? – foi o que ela conseguiu dizer.

— Mais que isso – respondeu ele placidamente, sem perceber o peso que jogou no estômago de Kyouka.

— Eu tenho um aqui também! – apontou Mina – você está assustadora nesse, Kyo-chan.

— Deixa eu ver, deixa eu ver! – correu Kaminari, pondo-se atrás de Ashido para ver uma cópia exata do olhar que Mina recebeu no primeiro jantar de Yoarashi na 1-A – Ow, é exatamente assim quando ela está brava! Você totalmente pegou o olhar assassino dela, cara! – elogiou Kaminari.

— Bem, ela parece muito fofa nesse aqui – comentou uma garota da Shiketsu.

— - Q-quanto? – gaguejou ela pálida.

Inasa não entendeu suas palavras, saíram muito baixas, ele apenas olhou para ela e inclinou os ouvidos para ela.

— Quanto você me desenhou?! – ela falou mais alto do que o pretendido, alguns alunos olhando para ela.

— Mais fácil perguntar o que mais ele desenhou – Fumikawa respondeu pelo amigo enquanto olhava para dois desenhos em suas mãos – É praticamente tudo você.

— O quê?! Você me desenhou?! E nem me pediu?!

É isso. Kyouka entrou em pânico, ela estava envergonhada, nervosa, então começou a agir da forma que estava costumada a fazer: Ela começou a arrancar os desenhos das mãos de todos da sala, um por um. Momo ergue-se rapidamente ao perceber o que estava acontecendo.

— Kyouka, por favor se acalme – Tentou Momo segurando a amiga pelos ombros.

 - Não!  - Jirou virou-se furiosa para amiga - Ele não pode fazer isso!!

— Jirou-san, me perdoe! Eu não tive intenção! – Inasa começara a se desesperar com a reação da garota, ele sabia que a tinha ofendido.

— Você me desenhou sem minha permissão e não teve a decência de me contar antes de mostrar para todo mundo!

Momo precisou segurar Kyouka pelo braço, a menina estava furiosa e seus fones zumbiam com a pulsação de seu coração.

— Eu não pensei que fosse ofender você – defendeu-se ele tentando alcança-la com as mãos. Azura o deteve.

— Inasa, foi por isso que eu disse que deveria mostrar a ela.

— Eu queria que estivesse perfeito, eu não pensei...

— Esse é o problema! – rosnou Jirou afastando-se de Momo, a sala inteira de pé agora – Você não pensa! Esse seu maldito impulso! Por que você me desenhou para começar?!

— Por que você é a pessoa mais interessante que eu já conheci. – Inasa apenas constatou, a calma e a certeza em sua fala causou uma surpresa tão grande em Jirou que aplacou sua fúria e fez a garota piscar.

— Não sou não! – protestou ela recuando um passo.

— Claro que é – continuou Inasa – Você é incrivelmente inteligente, bonita e talentosa. Você ajuda os outros e age como se não fosse nada. Você é engraçada e única – Inasa estava se aproximando, Kyouka, antes congelada de surpresa, estava corando furiosamente – E quando seu rosto fica assim... – Comentou ele quase tocando em seu rosto vermelho - Eu mal posso esperar para aprende a usar cores para desenhar esse maravilhoso...

— CALA A BOCA – Kyouka gritou.

Era seu instinto, ela estava em pânico, seu grito assustou a todos na sala. Jirou olhou em volta, contendo as lágrimas, todos estavam atentos a ela, surpresos, confusos ou preocupados, mas todos olhando para ELA. Kyouka estava arfando, tremendo de nervosa, ela queria mata-lo, queria chorar, queria correr.

— Eu vou para o meu quarto – ela conseguiu anunciar com a voz embargada de choro quando esbarrou bruscamente em Inasa de propósito.

Todos ficaram em silêncio e acompanharam com olhar. Kyouka tinha certeza que não conseguiria esperar o elevador, então ela caminhou o mais rápido que pode sem correr até a escada, seu orgulho sendo a única coisa que a impedia de chorar copiosamente na frente de todos. Quando alcançou os degraus ela começou a correr e a chorar até chegar em seu quarto, onde bateu a porta e desabou na cama.

Enquanto isso, na sala, o silêncio reinava, todos olhando para onde Kyouka desaparecera.

— E-eu... não entendo – confessou Inasa em um suspiro.

— Sinto muito, amigo – consolou Fumikawa abraçando os ombros de Yoarashi – Primeira vez que se apaixona e é rejeitado.

— Cabelo de merda – rosnou Bakugou - vai resolver as coisas com a orelha – ele bateu os punhos e caminhou em direção a Inasa – Eu vou quebrar o cabeça de vento!

— Por favor, perdoe Kyouka-chan, Yoarashi-san – começou Momo pondo-se na frente de Bakugou com a mão esticada para o garoto explosivo – Ela é muito tímida e não sabe lidar com tantos elogios.

— O que você tá fazendo, rabo de cavalo?! A culpa é desse idiota! – protestou Bakugou.

— Eu vou falar com ela – explicou Yaoyorozu olhando para Bakugou, pedindo compreensão.

— Por favor, me deixe pedir perdão! – Suplica Inasa determinado.

— Você está forçando, seu merda! – interrompeu Katsuki tentando avançar no garoto.

— Bakugou, se acalma! Tudo que a Jirou não precisa agora é de duas horas de treino extra! – argumentou Kirishima – É isso que você quer para ela?

— Vai consertar isso! – ordenou ele à Momo.

— Espera – interpôs Azura recolhendo todos os desenhos de Inasa – Leve isso, para ela saber que ninguém mais está com eles.

Momo acenou com a cabeça, antes que ela pudesse aceitar os desenhos, Inasa os pegou.

— Por favor, me deixe acompanha-la, se Jirou-san não quiser falar comigo, eu não a forçarei – insistiu ele solenemente.

Yaoyorozu concordou e os dois subiram para o quarto de Kyouka. Ainda que o trajeto fosse curto, nenhum dos dois disse nada. Antes que Momo pudesse bater na porta, Jirou os rejeitou.

— Deem o fora daqui, seus idiotas.

Claro, com sua peculiaridade, Jirou sabia exatamente quem estava atrás da porta, mesmo sem uma palavra dos dois.

— Por favor, me deixe entrar – Pediu Momo angustiada – Você não precisa conversar, só me deixe ver você, eu estou preocupada.

Houve um momento de silêncio.

— Só você, ele não – autorizou a voz chorosa de Kyouka.

— Desculpe, mas você tem que ir – explicou Momo olhando para Inasa.

— Espere – chamou ele, então estendeu os desenhos para Yaomomo – Dê isso a ela, diga que pode queimar se quiser, eu não quis envergonhá-la. Só diga à ela que eu sinto muito.

— Eu tenho certeza que ela já ouviu – informou Momo solene. Quando Yaoyorozu tentou abrir a porta, não conseguiu entrar – Está trancada.

— Isso é problema seu – Retrucou Kyouka birrenta, se Yaomomo quisesse entrar, teria que fazer isso sozinha, Jirou não estava se levantando da cama.

Momo suspirou e deixou cair os ombros cansada. Com alguns segundos, ela criou uma cópia da chave de Kyouka e entrou. Sua amiga estava sentada na cama, encostada na parede, abraçando os joelhos, o queixo apoiado neles e as mãos puxando seus fones de ouvido que não paravam quietos. Os olhos cheios d’água molhavam a expressão irritada da garota que se controlava para não soluçar.

— Kyouka, eu sinto muito – começou Momo sentando-se ao lado da garota.

Quando Kyouka não respondeu, Yaomomo deixou os papeis de lado e abraçou a amiga, fazendo Kyouka enterrar o rosto nos joelhos e soluçar baixinho.

— Você quer um chá? – sugeriu Momo docemente – Um chocolate? Um pedaço de bolo! Você ama o bolo do Sato, o que me diz? – sem resposta – Meu pai, você recusou comida. Por favor, me diga qualquer coisa que quiser e eu vou te dar – Suplicou Momo arrancando uma risada de Kyouka.

— Eu quero ele morto – gemeu a garota em meio as risadas, o som abafado pois o rosto continuava escondido.

— Bem, eu acho que isso é Bakugou quem vai te dar – Brincou Momo soltando a amiga – Ele parecia bem interessado nisso.

As duas riram um pouco, Jirou ergueu o rosto novamente, ainda chorando, mas também rindo. Momo limpou o rosto da amiga gentilmente.

— Por que ele fiz isso, Momo? Foi tão humilhante.

— Eu sei que você não quer ouvir isso, mas... Depois de tudo isso, você ainda não sabe? – Instigou Momo maternalmente colocando uma mecha rebelde atrás da orelha de Kyouka. – Você realmente acha que não significa nada para ele?

Kyouka baixou os olhos, ela estava envergonhada, nervosa e com medo, é verdade. Mas a verdade era que, no fundo, ela estava chorando de raiva. Raiva de si mesma por se deixar levar por Yoarashi e seus gestos doces e extremamente sinceros. Jirou sempre foi insegura, tão insegura que sempre se menosprezou, nunca se quer cogitou a possibilidade de alguém se apaixonar por ela, então seu orgulho decidiu que ela também não se apaixonaria por ninguém.

As duas ficaram em silêncio por alguns segundos até que Yaoyorozu puxasse os desenhos de Inasa para o seu colo, todos virados para baixo.

— Você quer vê-los? – Ofereceu Momo, Kyouka piscou ultrajada e se afastou um pouco – Não precisa, se não quiser. Mas... – Momo escolheu um desenho e colocou no topo da pilha e mostrou para Kyouka – São lindos, Kyouka, são todos lindos, assim como você.

Jirou hesitou por um momento, encarando Momo com incredulidade antes de olhar, ainda com desconfiança, para a imagem de si sorrindo com os olhos fechados e o vento agitando seu rosto. Inasa a desenhou reluzente, como se o mundo brilhasse a partir dela e seu sorriso.

— É assim que ele vê você – contou Momo buscando os olhos da amiga.

Kyouka sentou-se na beira da cama e olhou para o desenho com curiosidade. Momo estendeu a pilha de papeis para ela, Jirou engoliu em seco antes de toma-los nas mãos.

— Você viu todos? – perguntou Kyouka fazendo uma careta.

— Só dois – confessou Momo – Posso sair se você quiser.

— Por favor?

— Claro. Me liga se precisar de mim – ofereceu Momo levantando-se. Quando ela colocou a mão na maçaneta da porta, ouviu Kyouka chamando.

— Momo

— Sim?

— Deixe ele entrar – balbuciou Kyouka desviando o olhar.

— Tem certeza? – Kyouka acenou confirmando – Eu vou chama-lo.

— Ele continua na porta – informou Jirou se remexendo na cama.

Momo deu um sorriso e abriu a porta. Yoarashi estava inalteradamente na mesma posição que ela o deixou.

— Você pode entrar – permitiu Momo docemente. Quando Inasa aproximou-se da porta, ela o parou – Magoe ela e eu prometo que vai preferir uma surra do Bakugou – ameaçou ela com olhar mortal – Boa noite – despediu-se ela novamente doce.


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Notas finais do capítulo

Eu escrevi isso tão freneticamente que engoli umas duas dúzias de letras e outras palavras.



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