Coração que Cura escrita por Carolina Muniz


Capítulo 24
25


Notas iniciais do capítulo



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× Capítulo 25 ×

Ana tinha vinte anos e respirava por alguém. Ela fazia a hematose, alimentava e até fazia o sangue correr nas veias do bebê. Mas ele não era dela.

Com o cordão umbilical entre as pernas, não foi possível identificar o sexo do bebê, mas com outra consulta marcada para dali seis semanas, não havia porque ficar ansiosa.

Se bem que não era bem aquele sentimento que Ana sentia. A ansiedade em saber se era uma menina ou um menino era o menor dos sentimentos, porque aquele avassalador desejo de querer o bebê ainda estava ali. O pior sentimento que já pôde ter, aquele que ela pediu tanto e tanto para nem sequer pensar.

No primeiro momento, ela imaginou que era um sentimento hormonal, ela estava sensível, afinal. E Christian parecia fascinado pelo bebê, por aquele segundo ela queria que fosse uma daquelas cenas em que o casal que se ama escuta o coração do filho pela primeira vez. Como sempre, Ana era apaixonada por gravidez. Mas aquilo continuou. Mesmo depois do monitor desligar, depois de ela entrar no carro, mesmo depois de Christian lhe dar levar ao parque, depois de ela dormir a madrugada inteira. No outro, lá estava sentimento ainda, bem ali na superfície de seu coração.

Sabe, Ana nem mesmo tinha idade e cabeça para querer um bebê, imagine ter um e ficar com ele. 

Sem contar no fato concreto e verídico, sem sombras de dúvida: aquele bebê não era dela para ela querer.

E Ana disse aquilo para si mesma por todos os dias que se seguiram. Mas claro que não ajudava Christian perguntar sobre o bebê, ou de repente Grace voltar a frequentar sua casa e sua mãe estar tão protetora.

Quando foi que aquilo aconteceu?

Ela havia perdoado alguém e nem percebera?

Em todo caso, ela não estava preocupada com aquilo, o surto mesmo era aquela droga de sensação boa que sentia toda vez que o bebê se mexia dentro de si, ou quando estava sozinha no quarto e simplesmente sentia toda a gloria de ter um ser humano se formando dentro de si.

Ainda era injusto, ela nunca deixaria de achar aquilo, mas como poderia ficar com raiva de uma vida tão pequena que precisava dela para continuar sendo uma vida?

Novembro chegou com sua melhor fase do outono, as folhas caindo de forma lenta e suave, o frio junto do vento doce que mais parecia sussurrar sobre o inverno que estava por vir.

Era uma segunda do começo do mês, Christian estava com Ana no jardim da casa da garota, estavam sentados no balanço entre dois carvalhos altos quase no fim da tarde. Ela havia tido uma consulta naquele dia, e dessa vez o bebê estava lindamente de costas, sendo impossível mais uma vez ver o sexo. E aquilo já estava se tornando pessoal até para Christian.

O que causou apostas entre Ana e ele, que apostava ser um menino, enquanto a morena cismava que era uma menina apenas por ser difícil descobrir e sabia que ela era comportada demais para ficar se amostrando.

Mesmo depois de semanas, ainda era complicado para Christian poder descrever como era escutar o coração do bebê. Era o filho de sua irmã ali, e ela queria muito aquilo. Ele podia imaginar como ela reagiria escutando aquele som perfeito, como ela choraria por horas só com o os movimentos do bebê no monitor. Ele nunca havia conhecido nenhuma mulher que queria tanto um filho quando Mia, a garota até mesmo tinha apelado para uma clínica para ter um bebê, nem querendo saber como era o pai, ou querendo esperar para encontrar alguém. Ela queria um bebê só dela.

E então tinha Ana, como um bebe que não era dela dentro da barriga, mas o próprio coração parecia que iria sair do lugar em ouvir o coração do filho de Mia. E ela passava mal, ela enjoava com coisas banais, queria comer coisas exóticas, sentia cólicas, precisava ficar de repouso muitas horas do dia e era proibida de fazer milhares de coisas por ele. Mas não reclamava dele. Nunca reclamava.

E mesmo depois de passar quase uma hora deitada numa cama enquanto a obstetra tentava de tudo para o bebê virar de barriga para cima para poder examiná-lo melhor, ela estava feliz ali, e lhe contava animada sobre o jogo dos Mets de domingo. E Christian olhava a boca dela lhe falar sobre tudo, as palavras soavam como uma poesia para si. Sabe, para Christian, domingos sempre foram chatos e tediosos, apenas um lembrete de que tudo estava para começar novamente, como alguém conseguia gostar daquele dia? Mas Ana tinha aquele poder de ver alegria em dias chatos, de ver o melhor das coisas em situações horríveis, e ela enxergava o lado bom em tudo.

Foi no meio de sua fala que aconteceu, talvez por ela estar agitada enquanto narrava sobre a falta de um jogador, mas aconteceu. Ela parou de repente, como se levasse um susto e apenas esperou. Aconteceu novamente. Deixando Christian preocupado.

— Ana - ele chamou.

A garota mordeu o lábio inferior e tocou em sua mão, como se quisesse dizer que estava tudo bem, mas sem pronunciar as palavras.

Ela já havia sentido o bebê se mover dentro de si, havia sentido até seus soluços. Mas aquela vez fora diferente, havia sido um chute de verdade.

Dois chutes.

— A coisinha chutou - ela disse em esclarecimento para a pergunta silenciosa de Christian. - Eu achava que isso ia ser muito estranho, mas não é. É uma sensação... Boa... Está chutando de novo.

Sem pensar muito bem, Christian tocou em sua barriga, e numa coincidência incrível exatamente no lugar em que o bebê chutava. Era fraco, um chute mínimo, mas se Christian sentia do lado de fora, o que Ana sentia por dentro era completamente forte e firme.

A garota olhou para sua barriga e mirou a mão de Christian ali. Era a primeira vez que ele tocava em sua barriga. E aquilo parecia tão certo.

— Isso é... - ele tentou dizer.

— Incrível? - ela completou.

Ele olhou em seus olhos e não disse nada. Não era preciso. Era um momento único ali, daqueles que ninguém consegue viver duas vezes e também que ninguém fica planejando viver, mas era um momento de impacto. Daqueles que causam um efeito extraordinário em sua vida e tudo a partir dele parece ser regido em prol àqueles segundos.

Ana sorriu de lado e tocou o queixo de Christian com o indicador, então aproximou os lábios devagar e apenas tocou nos dele em um selinho. Só porque queria sentir aquela sensação que ela tinha de que fazia a coisa certa. Para Ana, fazer a coisa certa era a felicidade.

— Sabe, estar com você me dá a impressão de que aonde você estivesse iríamos nos encontrar - ela disse quase distraída enquanto sustentava o olhar do outro. - Você me faz sentir a sensação de que estar com você é o melhor lugar para se estar - confessou.

O natal passou, um ano novo chegou e logo já não tinha mais neve cobrindo boa parte das ruas e dos carros. A primavera já dava seu indício de que estava chegando, e com as últimas semanas Ana descobriu algumas coisas.

Com certeza era difícil ser mãe. Era mais que difícil uma gestação, era difícil o parto, a criação, era difícil dar educação, ensinar o certo e errado, proteger desse mundo e amar incondicionalmente. Deus, era muito difícil colocar uma vida no mundo.

Como as mulheres conseguem ter mais de um filho? Como elas conseguem ver outras mulheres tendo filhos e ainda ter os próprios?

Ana não teve escolha, mas ultimamente estava pensando: ela diria não para outra gravidez.

Às trinta e duas semanas estava enlouquecendo. Ela estava a flor da pele, até uma palavra gentil podia fazê-la querer matar alguém ou chorar rios de lágrimas. Geralmente, a fazia querer pegar uma faca, mas quando era com Christian, o drama aumentava e muitas frases como "você não me ama mais" apareceria entre as lágrimas.

Era fofa a forma como Christian apenas levava na esportiva, sabendo que era apenas os hormônios e que ele no lugar dela seria até pior. Então ele só escutava o que ela tinha a dizer e a convencia do contrário, geralmente aquilo demorava mais do que uma reunião com assessores do Japão.

Falar em Japão, foi um desastre. O homem tinha que viajar por seis dias para o país, e Ana parecia querer entrar em depressão do tanto que exagerou dizendo que ele queria se livrar dela.

Outra coisa havia acontecido durante as semanas: Carrick.

Ele havia ido à casa de Ana durante uma das visitas de Grace - às quais Ana conseguia ser educada ao deixar tocar em sua barriga e responder as perguntas de que estava tudo bem e se alimentando bem - e pela primeira vez queria falar com Ana.

A garota sentiu o corpo inteiro se arrepiar com aquilo, mas acatou o pedido do homem e se surpreendeu quando o mesmo começou com as palavras que fizeram a garota se emocionar - por causa da gravidez, é claro.

— Eu estou muito feliz que esteja bem, Anastasia - Carrick disse sincero.

Ana sorriu de lado e permaneceu parada. Não tinha bem o que responder àquilo. Ela estava com o coração da filha daquele homem, e também tinha o bebê dela na barriga - secretamente querendo ele para si.

O que dizer nessas ocasiões?

Não existia um manual, então ela apenas assentiu e concordou também quando o mesmo perguntou sobre o bebê estar bem, pediu desculpas pelo que a mulher fez - o que com certeza a não fora culpa dele, mas ele deveria ter olhado melhor para tudo o que estava acontecendo - e pediu para tocar na barriga de Ana.

Ultimamente ela havia começado a sentir certo ciúmes de sua barriga, ainda mais que de repente pareceu que era uma obra pública desde que a barriga começou a crescer, todo mundo a tocava sem nem pedir permissão.

Mas Carrick parecia ansioso para tal ato, então a garota não tinha como não concordar. 

E ele tocou. O bebê não estava agitado, mas dormia de apenas um lado da barriga, o que fazia boa parte ficar maior que a outra, e Carrick podia senti-lo ali, quente e seguro.

Ana engoliu em seco quando viu as lágrimas formadas nos olhos do homem quando o bebê chutou de repente, provavelmente não gostando de toda a tocação, ele era metido, afinal.

— Não chora não - Ana pediu, já sentindo sua garganta formar um nó. - Ele só dizendo 'oi'.

Carrick sorriu para ela.

— Você é um anjo - ele disse. - E é perfeita para o meu filho. Eu sei que não fui presente, nem muito gentil com você, mas quero que saiba que estou feliz por você e Christian estarem juntos.

Ana não sabia o quanto queria ouvir aquilo até realmente ouvir.

Mais a noite, Carla havia saído, a garota não sabia se era realmente com alguma amiga pois sua mãe se arrumou demais, mas mesmo que não fosse, Ana não se importava, queria sua mãe feliz apesar de tudo. E com Ana sozinha em casa, Christian se prontificou a cuidar dela. Ele chegou a garota já estava na cama, em meio a muitas cobertas por causa do frio - se recusando a ligar o aquecedor - e tentando encontrar algum filme no Netflix. Acabou por se decidir por A Princesa e Plebeia, que tirou a atenção de Ana já no começo. Então ela apenas ficou falando com Christian, o que mais gostava de fazer, contou sobre Carrick, mesmo que Christian já soubesse que o pai havia ido vê-la.

Eles estavam deitados na cama da garota, era cedo, oito e alguma coisa, Carla avisou que só chegaria depois das 23h, então Ana intimou que Christian dormisse em sua casa.

Naquele momento, Ana estava com a cabeça no peito de Christian, já quase em seu sono, as luzes apagadas e só a TV iluminando junto da luz da lua atravessando a janela aberta.

— Você está com muito sono - Christian sussurrou enquanto penteava seu cabelo com os dedos.

— Desse jeito eu fico com sono mesmo. Filme besta - ela resmungou e fechou os olhos.

Christian riu baixinho e pegou o controle da TV, desligando-a em seguida.

Ana coçou os olhos e se virou, deitando no travesseiro dessa vez, o cobertor cobrindo-a até o pescoço.

Ela inspirou o ar e sentiu a sensação boa de apenas poder dormir naquele momento, sem precisar se preocupar com nada do dia seguinte.

— Obrigada - ela pediu quando sentiu Christian abraça-la.

— Por te aguentar? - ele riu.

Ela bateu de leve em seu braço e ele riu mais ainda.

— Você não sabe apreciar quando eu sou fofa - reclamou.

— Você é fofa o tempo todo, meu amor.

Ela sorriu e se virou de frente para o mesmo, a barriga entre eles de forma que estavam acostumados.

— Está vendo, é por isso que eu quero te agradecer: obrigada por me amar. Você é tão perfeito. Obrigada por me amar nos meus dias ruins, quando estou agressiva e muito irritada, mandona, mimada e brava. Obrigada por me amar quando não sei o que fazer, quando não consigo dizer o que preciso e você simplesmente me diz. Obrigada por amar o meu jeito desastrado, por me amar quando falo sem pensar, quando o filtro cérebro-boca resolve desaparecer.

Christian tocou seu nariz com o indicador e então beijou a ponta, logo sua testa, suas bochechas e por fim sua boca.

— Eu amo amar você.

Ana riu baixinho e tocou os lábios nos dele mais uma vez.

Era tão fácil amar Christian. Fácil como seu coração batendo.

Era quase noite do dia 4 de abril, Ana tinha um pote de picles na mão e na outra um de maionese, naquele momento, era a melhor coisa que Ana já comeu na vida e a combinação era perfeita.

A garota estava em repouso quase que absoluto nos últimos dois dias. Mais uma vez a dor no ventre havia surgido, era a segunda vez desde que fora para o hospital, pelo fato de o bebê estar maior ela não sentiu tanto, não houve sangue nem desmaio, mas foi um momento difícil de qualquer forma.

Ana havia tido uma consulta há três dias, completou trinta e nove semanas no dia anterior e estava nervosa com o fato de sua barriga que estava prestes a ter sete camadas cortadas.

Ela se esforçava muito para pensar apenas naquilo: uma anestesia que aplicada errada poderia deixá-la paralítica e sete camadas de sua pele sendo cortada numa mesa de cirurgia.

Ela se esforçava em lembrar de cada detalhe que a Drª Greene lhe disse que teria, tudo, menos a parte em que não teria mais o bebê de Mia dentro de si.

Desde o começo ela se convenceu de que aceitaria carregá-lo, devia aquilo a Mia, a raiva pelo fato de não ter sido comunicada e nem ter tido escolha nunca a atrapalhou naquela certeza. A vida do bebê era importante, o coração dele era tão importante quanto o de Ana.

A garota deixou os potes em cima do criado mudo e limpou as mãos com o guardanapo. Na TV passava Para Todos os Garotos que Já Amei pela terceira vez na semana, Ana havia se apaixonado e amado também todos os garotos junto com Lara Jean, e também havia colocado Christian para ver: ele nem passou da metade e já estava dormindo. 

Ana sorriu ao se lembrar.

Ele era incrível apesar de dormir durante os filmes "sem graça que ela gostava". Conhecer Christian sempre seria a melhor coisa que já aconteceu em sua vida, não importava se ela tinha vinte anos e não sabia nada do mundo.

Aquele amor era diferente, os dois eram como se fossem conhecidos há anos e não meses.

— Hey - reclamou quando sentiu um chute forte em sua costela. - 

Tocou a barriga e logo sentiu o chute em sua mão, sorrindo em seguida. O bebê sempre sabia onde ela estava tocando.

Ele chutou novamente, e então em sua costela, e logo Ana estava sem ar.  Foi tão rápido que ela mesma não estava entendendo o que acontecia até que o que já estava ficando acostumada foi sentido: a dor mais do que intensa no ventre.

Ela tentou respirar, se acalmar, mas então o sangue se fez presente e às trinta e nove semanas um sendo expulso era algo para se preocupar.

Então a vida é momentos. Todo mundo é feito deles, isso não é novidade. E são os momentos de impacto que decidem a sua vida, aqueles momentos totalmente inesperados que tem uma proporção tão grande sobre sua vida que é impossível você não mudar com eles. A vida de Ana era repleta de momentos assim: pequenos instantes impactantes que moldavam quem ela é.

Enquanto crescemos, vamos dando lugar a outros momentos, esquecemos a primeira vez que andamos de bicicleta sem rodinha para lembrar do primeiro beijo, esquecemos o nosso primeiro dia de aula para lembrar da primeira vez no ensino médio. Ana não tinha momentos como aqueles, seus impactos eram rodeados de vitórias, quando pôde viajar pela primeira vez com o aval dos médicos, quando entrou no mar sem se preocupar com seu coração, quando acordou no quarto do CTI e conheceu Christian, quando lhe contaram que ganharia um novo coração, quando acordou após a cirurgia, quando ficou mais de uma semana sem os eletrodos no peito, quando ouviu o coração do bebê de Mia pela primeira vez e então todas as outras vezes, os chutes, os soluços, a primeira vez que Christian dormiu em seu quarto... Depois do transplante Ana finalmente teve momentos normais que moldavam sua vida como era.

O problema com momentos tão importantes é que nunca sabemos como vamos reagir a eles, como vamos poder lidar, momentos bons para uns podem não ser para outros, era uma questão de ponto de vista e ponto de sentimento. Era tudo uma questão de onde seu coração estava naquele momento.

E o coração de Ana, naquele dia quatro de abril, estava disparado desde o momento em que a Drª. Greene disse as palavras "cesárea de emergência".

Não fora um processo lento, tudo passou voando, e Carla e Christian tiveram que sair do quarto para que ela fosse preparada para a cirurgia.

Grace e Carrick estavam ali também, esperando do lado de fora, ansiosos e preocupados como todos.

Ana segurou a mão de Christian antes que ele saísse.

— Eu estou com medo - confessou num sussurro.

Ele mordeu o lábio inferior e beijou sua mão e então seu cabelo, e sua testa demoradamente.

— Não precisa ficar com medo, vai ficar tudo bem, você vai ver - ele garantiu.

— Mas está muito cedo - ela insistiu.

A garota estava se mantendo forte até que sua mãe saiu do quarto, e então as lágrimas vieram.

— Eu não quero morrer.

— Amor, você não vai morrer - Christian falou, acariciando seu rosto gentilmente, lhe acalmando. - Mulheres no mundo inteiro passam por isso e ficam bem, o mesmo vai acontecer com você. Os médicos sabem o que fazer e a Drª. Greene é uma das melhores obstetras do país. Só se preocupe em voltar logo para mim e com mais nada - ele pediu.

Ela limpou o rosto com as costas da mão e concordou com a cabeça.

— Tudo bem - suspirou.

Christian sorriu para a garota e beijou seus lábios levemente, fazendo Ana sentir a paz que precisava.

E então ele saiu do quarto, sentou-se ao lado de Grace e Carla, observando outros médicos e enfermeiros entrarem no quarto pre-cirúrgico de Ana.

Havia riscos, todos os quatro ali sabiam daquilo, todos os médicos também sabiam. Ana estava num processo de expulsão com o bebê, e ninguém sabia como seu corpo reagiria a um processo delicado como uma cirurgia em tão pouco tempo depois de um transplante.

Todos sabiam dos riscos, mas ninguém ali iria comentá-los. Às vezes era melhor não dizer em voz alta o seu medo para que ele não acrescente.

A Drª. Greene entrou na sala, e através do vidro eles observaram todos os médicos la dentro, era mais do que uma cesariana precisava normalmente, e aquilo assustava. Então as cortinas se fecharam e o tempo pareceu parar o mundo enquanto os segundos passavam arrastados.

Christian não tinha o que fazer, nem o que pensar, ele deixou sua mãe segurar sua mão enquanto observava quase sem ver mais uma tentativa de Carla em ligar para Ray.

Não tinha mesmo o que fazer a não ser esperar... esperar para que tudo fosse rápido, esperar para que tudo ficasse bem, esperar para que desse tudo certo... Esperar.

Grace ao seu lado apertou sua mão uma vez e então a soltou, logo levando-a a correntinha de cruz em seu pescoço, deitando a cabeça no ombro de Carrick em seguida.

E aquilo fez Christian se lembrar de algo importante: era melhor orar. Estava meio sem vontade, na verdade, nem sabia a última vez que havia feito, mas tinha certeza que Deus iria escutar.

Ana estava acordada, sem sentir absoluta nada fisicamente, mas estava acordada.

E o bebê... Era um menino.

Foi a primeira coisa que ela ouviu quando sentiu um puxão entrando e nada comparável em sua barriga.

E foi apenas isso.

Era um menino, ela sabia, a ultra havia confirmado. Mas era um menino sem choro?

A garota mirou enquanto um montinho de sangue e pura roxidão era colocado de cabeça para baixo, o cordão umbilical já cortado.

Ela não sentiu nada, nem vontade de chorar ou qualquer coisa parecida, estava travada, completamente travada até nas emoções.

— Ele perdeu muito tempo, estava sem nenhum oxigênio - a Drª. Greene explicou para quem quer que fosse enquanto fazia uma RCP no serzinho mínimo.

Ana observou ela levantando o bebê novamente, estava mais cianótico do que caneta roxa, e sacudiu o bebê de forma firme e rápida. A Drª introduziu um aspirador em suas vias aéreas, tirando toda a secreção, massageou novamente seu peito e então ventilou seus pulmões. Com um esteto tentou ouvir o coração.

Ana soube que ela não ouviu nada porque a mulher rapidamente recomeçou a manobra de novo: massagem no peito, permeabiliza as vias aéreas, ventila o pulmão.

Ana sentia seus olhos pesarem, ainda vidrados no ponto cada vez mais roxo na mesa de incubadora bem ao lado da sua.

Não havia choro e nem batimentos do coração do bebê.

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Notas finais do capítulo

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