Now from head to foot
I am marble-constant: now the fleeting moon
No planet is of mine.

— William Shakespeare, Antony and Cleopatra (1600s), Act V, scene 2, line 238.

São durante as manhãs que a tentação fica maior.

Quando ele está deitado entre os seus lençóis, todo em tons de bronze e prateado.

São nesses momentos em que você larga blusa meio abotoada, renda visível no decote alongado, que você se senta ao lado dele, traça as linhas afiadas do braço dele, todo aquele poder relaxado diante de você, inofensivo. Você sorri ao ver os pelos pálidos dele se arrepiarem com o seu toque conforme ele desce até a mão cujos dedos você entrelaça aos seus. Aquela mão quente, grande, sólida que, dessa vez, não é áspera como a sua, esta mão nunca pegou numa espada. Você se pergunta como seria se fosse aquela a única mão que você tivesse para segurar, que você pudesse. Como seria, largar todas as mãos que você segura, de sua princesa, de suas irmãs, e se dedicar somente a aquela que você presentemente contra sua palma.

Você se pergunta se valeria a pena, se esse teria sido seu erro todo esse tempo, o motivo pelo qual você o tem perdido em repetição por todas as suas vidas. Que, talvez, se você o escolher dessa vez, ele não vai escapar por entre os seus dedos como a areia do deserto de onde ele vem.

E você contempla a vida que teriam juntos na qual vocês, enfim, teriam o privilégio de estar ao lado do outro até que seus cabelos se tornem tão brancos quanto o dele e ele deixe que a máscara da juventude seja entalhada com as linhas onde será escrito o novo final da história que vocês compartilham, uma história com um final que não exige sangue ou sacrifício, um final feliz.

Sim, são nas manhãs com o calor suave do alvorecer sobre a sua pele e não a luz fria da lua a te vigiar que você cogita a abandonar o dever que enche sua existência de significado e toda a eternidade para uma vida humana, ordinária e limitada, uma vida com ele.

E você quase acredita que essa escolha é viável, você quase acredita que um dia, quem sabe, seria capaz de fazê-la.

Mas quando você se curva para beijá-lo e se afasta para ser presenteada pela visão de preguiçosos olhos prateados a te encarar, a te desarmar, a desvendar a verdade sobre você sem que nada seja dito. Você sabe que embora as manhãs façam de você uma traidora em pensamento, não há como fugir do destino quando a lua está a te vigiar e a te lembrar de quem você é até no olhar de seu amante.

Então, você sorri para ele, um sorriso é algo momentâneo, expirável como o que vocês têm agora, amor em repetição, mas volúvel em contraste com a constância da promessa que você fez a sua senhora, por quem você vive e por quem você o matará, outra vez.