Broken escrita por Robin Kep


Capítulo 1
Capítulo 1




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Elisabeta chegou em casa pontualmente às 19h, depois de uma rotina exaustiva de trabalho. Era editora chefe do maior jornal de São Paulo e isso a munia de responsabilidades.

Ela jogou sua bolsa em cima do grande sofá da mansão Williamson e levou as mãos a cabeça, adentrando-as em seus cabelos. Estava estressada. Um dos seus melhores editores pediu demissão naquela tarde, deixando inúmeras pautas importantes por terminar. Sem contar na impressão errada que a gráfica conveniada de seu jornal havia feito pela manhã, atrasando as publicações.

Elisabeta deveria imaginar que seu dia seria desastroso quando, ao acordar, seu filho já reclamara de dores no corpo. Ela constatou a febre e logo chamou o doutor da família para o melhor diagnóstico e tratamento.

Contudo, Elisabeta não conseguiu cuidar do filho devido as complicações no jornal. Tivera que deixar Thomas com seu pai, Darcy Williamson.
Aquele era mais um item de sua lista de coisas desagradáveis daquele dia fatídico.

Elisabeta se encaminhou ao seu escritório logo que chegou em casa. Apesar do cansaço, ainda precisava terminar uma matéria que seria disparada aos veículos de comunicação no outro dia, já que sua equipe estava desfalcada.

Admirou o ambiente ao entrar, como fazia todo dia quando entrava na sua parte preferida daquela casa enorme. Ela amava escrever. E aquela sala representava tudo que ela era.

Era uma sala pouco iluminada devido as cores escuras dos móveis. As paredes eram dominadas dos mais diversos livros, dos mais diversos autores. Não havia um canto naquela sala que não houve escritos extraordinários.

Elisabeta agradeceria por todos os dias ao seu pai por ter-lhe apresentado para aquele universo, principalmente a parte feminina. Aquelas autoras a inspiraram a correr atrás de seu sonho em pleno século XIX, quando as mulheres não eram ensinadas a trabalhar, tampouco sonhar.

Ela sentou na grande poltrona verde musgo que havia no local, atrás da mesa cor de madeira escura e ornamentada. Era reconfortante a forma como aquela sala sempre a fazia voltar no tempo e repensar toda a sua trajetória até ali. O ambiente a fazia sentir orgulho de ser quem era.

Elisabeta pegou uma das folhas em branco que estava em um monte de outras folhas, a matéria teria como tema o Sufrágio Feminino, movimento por direito a voto das mulheres que vinha ganhando destaque em toda a sociedade, e que, inclusive, já havia alcançado o objetivo em alguns países.

Elisabeta admirava fortemente as mulheres que iam às ruas lutar por seus direitos.

Envolta aos seus pensamentos, Elisabeta transcrevia o que sua mente dotada de uma compreensão sem igual lhe descrevia. Ela adorava ter a facilidade que tinha para anotar suas ideias em parágrafos bem construídos.

Mas, em uma pequena pausa para esticar seus dedos, um outro papel lhe chamou atenção. Ela pegou o documento em sua mesa, mas tinha certeza que descansar sua mente com aquilo não era a melhor ideia.

Elisabeta leu novamente os dizeres que o documento trazia, aquela era a folha que daria fim ao seu casamento com Darcy Williamson.

Havia se casado há 10 anos, em uma cerimônia luxuosa em Londres, cidade natal de seu futuro ex-marido. Fora uma festa bonita, lustrosa, um casamento dos sonhos de qualquer pessoa que tivesse aquilo como prioridade.

Elisabeta se lembrava que por muitos anos considerou aquele dia o melhor dia de sua vida - antes do nascimento de Thomas. Mas ainda assim, fora um dos melhores momentos que já passou. Ela consegue, até hoje, se lembrar nitidamente da sensação que sentiu ao ver Darcy parado próximo ao padre. Também se lembrava com exatidão de todas as palavras, do sim, do beijo.

Nunca imaginou que aquilo um dia acabaria.

Elisabeta não pode, com certeza, dizer que não sente mais o mesmo por Darcy. Seria uma grande mentira dizer que seu peito ainda não bate forte por ele.

Bate. Bate forte. Mas ela não consegue assimilar em que curva aquilo mudou.

O beijo deu lugar as brigas. As brigas deram lugar a comodidade. A comodidade deu lugar as desconfianças. As desconfianças deram lugar a um sentimento que ela não queria alimentar.

Elisabeta pediu a separação a Darcy em uma manhã em que os dois não conseguiram trocar um bom dia na mesa de jantar, mesmo que ao lado do filho.

Houveram lágrimas, houveram acusações infundadas, houve o silêncio. E houve a aceitação. A aceitação foi o que mais doeu.

Os papéis haviam chegado há uma semana. Ela já sabia de cor todas as cláusulas que continham ali. Boas cláusulas. Eles dividiriam seus bens e a questão do Thomas também já havia sido resolvida.

A casa e o menino ficariam com Elisabeta, Darcy o pegaria quando quando quisesse, sem a interferência de Elisabeta. Ela concordou, a separação dizia respeito a eles, não a Thomas.

Apesar de Elisabeta ter tido a iniciativa em relação a separação, aquilo não a fez procurar um advogado. Darcy havia feito isso, e com pressa. Ela desconfiava que por isso ainda não havia assinado o documento em suas mãos. Elisa sentia uma amargura imensa sempre que pegava a caneta com o objetivo de escrever seu nome naquela folha. O nó na garganta dela sempre se formava ao constatar a urgência que Darcy tinha em livrar-se dela.

Elisabeta despertou de seus pensamentos assim que ouviu os gritos de seu filho entrando em casa. Ela largou o papel imediatamente em cima da mesa quando ele avançou como um jato para dentro do seu escritório.

— Mamãe! Mamãe! - o menino tinha um sorriso de orelha a orelha ao abraçar a mãe e sentar em seu colo.

— Meu filho! - ela disse, sorrindo para o menino.

— Papai me levou para comprar uma ferrovia de brinquedo igualzinha a que ele estava construindo no Vale do Café. - o menino dizia empolgado, apontando para a sacola que Darcy segurava. Ele estava apoiado na porta do ambiente.

Elisabeta e Darcy cruzaram o olhar, eles viam o reflexo da decepção do outro sempre que se encontravam.

— Uma ferrovia só pra você? - Elisabeta perguntou, voltando a encarar seu filho.

— Só pra mim, mamãe. - era empolgante o brilho no olhar de Tom. - Eu vou treinar pra ser igual ao papai quando eu crescer.

Elisabeta sorriu para o filho, apesar das desavenças com Darcy, também queria que seu Thomas fosse tão honrado quanto o pai. Ela levou a mão ao pescoço do filho.

— Ele já não se encontra febril? - Elisabeta perguntou a Darcy assim que sentiu seu filho com uma temperatura amena.

— O meninão já está forte. Eu dei os remédios na hora certa. - Darcy respondeu formalmente. Ele sentia que não tinha mais intimidade alguma com a sua mulher.

— Bom... - Elisabeta colocou Tom no chão e levantou-se da poltrona, segurando a mão do menino. - Vou coloca-lo na cama, já está na hora de Tom contar carneirinhos, né? - ela olhou para o filho, que fez careta. Sua expressão era a mesma de Darcy quando se contrariava.

— Eu não estou com sono, mamãe. - reclamou. - E estou doente, não quero ir a escola pela manhã.

— Não irá, querido. - apertou o nariz da criança em um gesto carinhoso. - Mas você ainda está debilitado. - Elisabeta deu um tapinha leve nas costas do filho. - E já vai lá em cima arrumar sua cama para deitar-se, vai. Eu já vou lá para você tomar seu banho.

Thomas correu. Elisabeta virou-se novamente para Darcy.

— Você poderia ficar com ele por mais um dia? Não o vejo em condições totais de ir a escola. - começou, encarando Darcy com a mesma formalidade que ele se dirigira a ela.

— Claro que posso cuidar de meu filho, Elisabeta. Só não consigo dar total conforto, pois ainda estou no hotel.
Elisabeta olhou para Tom.

— Você pode ficar aqui com ele. - explicou. - Irei ao Jornal pela manhã resolver algumas pendências e entrevistar alguns novos editores. Mas isso não é algo que lhe interessa. - torceu o nariz. Darcy quis revirar os olhos. - Dessa forma, estará livre da minha presença nesta casa. - Ela disse, e ele não aguentou a expressão tediosa.

— Não comece com isso. - Ele disse, já impaciente. - Você sabe que não é assim.

— Eu não sei de nada, Darcy. - sua voz era incisiva.

— Foi você que pediu a separação.

— E você concordou de pronto, não é mesmo? Era exatamente o que faria, mas presumo que estava com receio de minha reação.

— Não, não era. Pare de colocar palavras em minha boca! Você tem um prazer de me irritar, isso é incrível. - Ele falava desacreditado.

— Nem uma semana e os papéis já estavam pronto, claro que foram feitos antes. - riu com ironia.

— Você não está supondo isso, Elisabeta. Não está! Não tire a culpa de suas costas em relação a nossa separação. - Ele a encarava com severidade.

— O que você queria, Darcy? - suspirou. - Já não éramos um casal. Já não éramos um casal há quase um ano. Você se trancou naquele escritório e nunca mais foi o mesmo.

— Estávamos endividados, Elisabeta. Eu precisava salvar o patrimônio da família que aquele patife tentou nos tirar com a sociedade rompida. Você sabe disso! - Darcy já estava cansado de repetir aquela parte da história.

Elisabeta passou as mãos nos cabelos, respirando fundo e olhando para a parte de cima da porta em que Darcy ainda estava parado.

— E uma das soluções era deixar sua mulher de lado? - Ela lembrou. - Deixar sua mulher de lado enquanto saia pra jantar com outra a quem o papo deveria ser mais interessante. - riu sem humor.

— Eu já repeti que nunca tive nada com Briana. Ela é só uma das funcionárias das nossas empresas.

— Funcionária que tinha encontros corriqueiros. - Elisabeta já tinha visto Darcy almoçando ou jantando com Briana por as mais diversas vezes em encontros ocasionais. Nunca desconfiou que ele tivesse algum envolvimento com outra pessoa, mas isso aconteceu logo que eles pararam de se comportar como um casal, em absolutamente todos os quesitos.

— Eu não tinha mais intimidade com você. Como queria que eu desabafasse? A gente se afastou, sem querer, mas aconteceu.

— E não quis se reaproximar. - Ela levantou as duas sobrancelhas. Darcy bufou, olhando para o lado, tirando seu foco de Elisabeta. - Mas já está feito. Já não somos um casal. - Elisabeta viu, pela garganta de Darcy, ele engolir em seco.

— Não somos um casal. - Ele repetiu, em concordância, enquanto mordia a parte inferior da boca. - E já não devemos satisfação de nada. Muito menos nessas brigas sem fundamento que você faz questão de começar.

— Que eu faço questão de começar. - Ela apertou os lábios, passando por Darcy na porta de seu escritório. Já não queria escutar.

— Vai fugir de uma conclusão, como sempre. - Ele disse mais alto, enquanto se direcionava a sala. Elisabeta já estava na ponta da escada.

— Já temos uma conclusão. - Ela disse, sumindo da visão de Darcy.

Todo dia, em todas aquelas semanas desde a separação, era a mesma coisa.


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