E quando tudo foi fim, eles se tornaram começo... escrita por Juli06


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e chorem junto comigo. hahaha ♥



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Capítulo 2

 

O velório foi silencioso, todos no Vale fizeram questão de comparecer e prestar a última homenagem ao tão amado Barão. Mesmo rabugento, Afrânio Cavalcante foi o mais importante cafeicultor da região e amigo de todos.

Julieta e Aurélio estavam lado a lado recebendo as pessoas e agradecendo por ter vindo. Aurélio teve que conter o choro diversas vezes quando amigos do pai apareceram e prestaram pequenas homenagem e disseram com grandes sorrisos que ele era o mais novo Barão de Ouro Verde, um título que ele não se importava em tudo.

Quando chegou o momento, Aurélio respirou fundo e foi em direção ao caixão. Julieta o parou e encarou seus belos olhos azuis, a conversa silenciosa foi feita rapidamente, apenas o suficiente para ela afirmar que estaria ao seu lado e ele agradecer. Ele a beijou rapidamente e abraçou Ema e Tenória que estavam perto do corpo do Barão.

Aurélio se colocou a direita do caixão, na primeira alça. Camilo, Ernesto e Januário se aproximaram e ficaram responsável pelas outras alças. Os três mosqueteiros presentes na última caminhada do mentor. Brandão e Jorge ocuparam as últimas alças pela amizade e admiração de longa data.

A pequena multidão seguiu o caixão lentamente para o cemitério da cidade, Julieta estava abraçada a Ema que chorava baixinho. Estilingue e Tenória estavam ao lado delas e seguiam lentamente.

Ao chegar no túmulo o padre recitou palavras de conforto e de sua amizade com o Barão, algumas pessoas contaram suas histórias sobre as intrigas e rabugice do velho arrancando risos emocionados.

Pouco antes do caixão ir de encontro a terra, algumas pessoas jogaram flores e sussurravam mensagens e preces para sua alma. Julieta deu um passo a frente com uma única rosa vermelha, os olhos já não conseguiam conter a emoção e lentamente as lágrimas molharam seu rosto e como fez no escritório beijou a rosa e sussurrou:

“Vá em paz, meu amigo. E eu cumprirei a promessa, os manterei feliz”. Ela se referia a família que eles terminaram por compartilhar e aos novos membros que chegariam em breve.

E com um suspirou jogou a rosa vermelha em cima do caixão que se destacou acima de todas as flores branca.

Julieta sentiu Aurélio passando a mão pela sua cintura e discretamente acariciando seu ventre como reafirmando a dádiva que receberam. E ela se apoiou nele necessitando agora de seu apoio.

Depois que a multidão se dispersou eles retornaram a Fazenda, agora conhecida como Sampaio-Cavalcante, calados adentraram o casarão e sentaram-se. Mercedes apareceu um pouco depois com uma bandeja com café e alguns salgados. Aurélio encheu uma xícara para ele e para Julieta, ela pegou mais por educação do que por qualquer coisa, naquele dia o enjoo estava mais forte e ela evitava comer demais.

“Você deve comer, Baronesinha”. A voz de Ernesto chamou a atenção da rainha do café que viu a enteada negar o que lhe era oferecido.

“Estou sem fome”.

“Mas você não come desde ontem”. Ele insistiu preocupado.

“Eu vou ficar bem, só não estou com fome”. Ela sussurrou.

Ernesto encarou Aurélio e Julieta atrás de ajuda e estava a ponto de insistir novamente quando Julieta negou com a cabeça. Entregado a xícara com café ainda intacto para Aurélio, Julieta se levantou e estendeu a mão para a mais jovem.

“Ema, você gostaria de dar uma volta comigo?” A menina a encarou confusa, mas pegou em sua mão estendida e as duas se retiraram da sala e foram para o jardim. 

As duas se sentaram em um banco na sombra de uma árvore e aproveitaram a brisa suave que corria, Julieta fechou os olhos por um momento deixando a calma toma-la.

“O que viemos fazer aqui?” Questionou Ema curiosa.

“Tentar amenizar a dor da perda”. Ela disse e sorriu com olhos lacrimosos. “Você sabia que seu avô sempre vinha me importunar quando eu me escondia aqui?”

“Sério?” Ela sorriu e olhou ao redor como se esperasse que ele surgisse a qualquer momento.

“Oh sim”. Julieta soltou uma risada divertida. “Ele sabia que eu só vinha aqui por dois motivos, um era assistir seu pai se exercitado”.

“Julieta!” Ema pareceu chocada e as bochechas ficaram rosada com a percepção do flerte entre o pai e a madrasta.

“O que? Você é uma mulher casada e está grávida, sabem bem o que é atração física”. Mesmo dizendo isso com ousadia ela tinha as bochechas rosada assim como Ema.

Ema e ela se encararam e gargalharam, mas os risos foram morrendo lentamente. E elas suspiraram, Julieta encarou as rosas e sorriu ternamente.

“A segunda razão era os negócios, as vezes algumas negociações dão errado e venho aqui me reagrupar. Ele sabia disso e vinha me irritar com alguma bobagem da casa ou da fazenda”. Julieta balançou a cabeça com as lembranças. “Às vezes ele contava histórias sobre Aurélio ou suas, e toda a frustração que eu sentia sumia. Claro que nossas conversas eram negadas até o fim, ele não contaria que era amigo da rainha das cascavéis”.

“Ele não a achava tão ruim assim”. Ema falou com um sorriso e enxugou as lagrimas ao lembrar das histórias do avô.

“Eu sei, a rabugice dele era apenas o modo que ele tinha de dizer que gostava de mim”. Ela deu de ombro. “Nós nos entendíamos”.

“Eu fico feliz em saber que ele também a amou, ele não podia demostrar, mas sei que ele era feliz aqui”.

“Esse é um dos motivos de eu trazê-la aqui. Esse pequeno refúgio me lembra dele e quero que saiba que toda vez que se sentir triste ou saudosa, você pode vim aqui”.

“Muito obrigada, Julieta”. Ema a abraçou com força. “Eu posso ver porque meu pai se apaixonou por você, seu coração é maior do que imagina”.

“Oh.. muito obrigada, minha querida. Eu sei que não posso ocupar o lugar de sua mãe, mas estou aqui para ser a mãe que precisar”. Julieta falou com a voz embargada segurando o rosto de Ema com ternura e depositando um beijo na testa dela. “Agora vamos para o próximo motivo...”

“Porque eu acho que isso se tornará em uma bronca?”

“Não será uma bronca, apenas um conselho”. A mulher mais velha falou e esperou que a atenção estivesse totalmente nela. “Eu entendo que por causa da gravidez deva está enjoada, mas deve se alimentar, Ema. Você precisa ser forte, não só por você, mas por seu bebê. E como mulheres as vezes devemos ser forte por todos os outros”.

“Eu sei, mas é difícil”. A jovem sussurrou. “Eu não consigo manter nada no estômago e depois dessas últimas horas.. só a ideia de comida me deixar desconfortável”.

“Oh.. Acredite em mim, eu sei. Seu pai está tentando me empurrar mais comida do que consigo gerir, mas com tantas emoções e os enjoos ainda forte, é realmente difícil”.

“Pois é.. eu não quero deixar Ernesto preocupado, mas...” Ema então parou sua fala e encarou Julieta com olhos arregalados. “Oh meu Deus.. Julieta, você está?”

“Grávida?” Ela disse com um sorriso discreto. “Sim, minha querida, você terá um irmãozinho ou irmãzinha”.

“Oh meu Deus... que notícia maravilhosa”. A menina se levantou num rompante e abraçou a madrasta com lágrimas felizes no rosto.

As duas se abraçaram apertado e continuaram ali por um momento, compartilhavam histórias do Barão e sintomas da gestação. Ema ouvia os conselhos de Julieta e a menina acrescentava algumas dicas que leu em revistas. As horas passaram lentamente diminuindo, pelo menos, um pouco a dor da perda.

...

 Dias depois...

 

Aurélio encarava a porta do quarto que foi do Barão, ele precisava entrar e arrumar as roupas do pai para doação. Julieta questionou se ele queria que Mercedes fizesse isso, mas ele negou. Ele mesmo o faria, contudo de frente a realidade da situação ele estava se acovardando.

De repente uma mão deslizou por seu braço e dedos quente se entrelaçaram em sua mão direita. O corpo dela estava ao seu lado um segundo depois.

“Quer mais um par de mãos para ajudar?”

“Sim, não sei se conseguiria sozinho”. Ele sussurrou e apertou mão dela em agradecimento.

Os dois enfim entraram no quarto e começaram lentamente a separar as roupas para doação e guardar alguns objetos. Uma caixa contendo cartas da mãe de Tenória seria entregue a ela mais tarde, alguns cartões portais de Aurélio trouxe um sorriso para os lábios de Julieta ao ler algumas das aventuras de seu amado.

Quando já estavam no fim da arrumação, Aurélio encontrou um álbum que parecia ser novo, ele não lembrava de já tê-lo visto. Era pequeno e cabia poucas fotografias, na capa tinha apenas a datação do início do ano, pouco depois de serem despejados por Julieta.

Percebendo que Aurélio estava paralisado no lugar, Julieta se aproximou dele e quando o viu com o álbum nas mãos a curiosidade a dominou. Entretanto, ela pediu autorização com o olhar e ele apenas assentiu.

Aurélio se sentou na cama e a puxou para sentar-se ao seu lado. Delicadamente Julieta abriu a capa e a primeira fotografia era de Ema. Cada página continha uma fotografia de Ema crescendo, como se só essas fotos tivessem sobrado de sua antiga vida. As fotos começaram a variar aos poucos, uma de Aurélio e Ema ambos sorridente em um grande jardim, depois andando a cavalos.

Havia algumas fotos com o Barão brincando com a neta ainda bebê. Ele sorrindo para Ema enquanto ela abraçava uma boneca. Logo em seguida havia uma foto de Tenória e Estilingue ambos sorrindo enquanto faziam um piquenique no jardim de Julieta alguns meses atrás quando ela havia vindo visita-los. As próximas fotos eram dos três mosquiteiros com grandes sorrisos enquanto encaravam a máquina portátil de café, ela sabia que era de semanas atrás, uma foto dos três jovens com seu mentor ainda estava no criado mudo ao lado da cama, Julieta a pegou e pregou no álbum.

Porém, sua surpresa veio assim que virou o que parecia ser a última página, havia uma foto de todos eles em um piquenique, ela lembrava muito bem desse dia. A emoção do Barão, a alegria de ter Tenória finalmente morando com eles, havia sido um dia perfeito. A outra foto era dela e de Aurélio, seu marido estendia uma rosa em sua direção e os dois sorriam sem qualquer cuidado no mundo. Mesmo através da fotografia podia-se ver o amor entre eles.

Contudo, a última foto do álbum a deixou extremamente emotiva, era uma foto deles dois no banco do jardim. Ela tinha a cabeça jogada para trás no que parecia uma gargalhada e ele tinha as mãos no ar como se ilustrasse alguma história.

Aquilo foi demais para Julieta, ela passou os dedos levemente pela foto e um soluço saiu de sua boca, lágrimas banhava seu rosto e ela chorou tudo o que não chorou no dia do enterro. Ela precisou ser forte por Aurélio e Ema, mas agora tudo o que queria era ouvir a implicância dele ou apenas o pegar de surpresa com um beijo.

“Julieta, meu amor...” Aurélio pareceu desolado com sua reação e apenas a abraçou apertado tentando consola-la.

“Eu si-sinto falta dele”. A voz dela saiu abafada pela camisa dele. Os soluços ainda chacoalhavam seu corpo. “Ele nu-nunca vai saber, Aurélio. Ele nunca sa-saberá que seria avô novamente”.

“Julieta, ele..”

“Talvez se soubesse ele teria lutado mais, teria resistido. Eu devia ter contado”. Ela falou perdida na culpa que sentia.

“Julieta me escute” Aurélio pediu e segurou o rosto dela nas mãos. “Ele sabia, meu amor, ele sabia que seria avô”.

“Sabia?” A voz embargada e surpresa dela saiu quase estrangulada.

“Sim, foi ele quem me ajudou a escolher o sapatinho para presenteá-la”. Aurélio sorriu ao lembrar disso. “Na verdade, foi ele quem desconfiou. Ele a viu passando mal outro dia e me questionou sobre isso, eu disse que não sabia, mas que poderia ser uma realidade. Depois de alguns dias escondendo seus desconfortos você foi até o médico e voltou radiante”.

“Então você descobriu desse jeito?”

“Não eu, meu pai. Ele quem me disse isso, ele estava tão feliz, Julieta”. Aurélio sentiu os olhos lacrimejarem. “Ele me deu a ideia de fazer essa surpresa para você. Ele a amava, meu amor. Ele não pode ter dito, mas a amava”.

Julieta afirmou e as lágrimas caíram novamente, ela deitou a cabeça no ombro do marido sentindo a felicidade de saber que pelo menos seu sogro sabia do novo membro da Família Cavalcante. Retirando a foto deles do álbum ela beijou levemente a fotografia imaginando a surpresa que ele teria em receber outro beijo dela.

Antes de devolver a foto para o lugar, algo chamou a atenção de Julieta. Assim que virou havia uma nota escrita. Ela sabia que era a letra do Barão assim que a viu:

“Se algum dia essa fotografia encontrar caminho para as mãos de minha nora a rainha do Café, tenho algo a dizer:

Minha querida Julieta. Eu a agradeço do fundo do coração por tudo que fez, pensei que tinha em você uma inimiga, mas você trouxe a luz de volta para essa família mesmo que toda vestida de preto. E fico feliz que ame meu filho do mesmo modo que ele a ama.

E mesmo que eu negue saiba que eu também a amo, não apenas como nora, mas como filha. Você tem minha benção para ser estupidamente feliz, principalmente agora que a vida lhe deu uma segunda chance. Cuide bem de meu netinho.

Carinhosamente, Afrânio Cavalcante”.

Julieta encarou Aurélio e viu que ele também chorava, ambos percebendo que o Barão pressentia a partida e que preparou todos para isso. Abraçando a fotografia, Julieta decidiu emoldura-la e deixa-la no quarto deles uma lembrança constante da felicidade que conseguiram alcançar juntos como uma família.

“Eu vou sentir saudades de papai”. Aurélio comentou e enxugou as lágrimas. Ele então se levantou e estendeu as mãos para ela fazer o mesmo. “Vamos, precisamos ser felizes, foi isso que ele pediu”.

Aurélio tinha razão ela apenas respirou fundo e levantou a cabeça, eles precisavam seguir em frente, mas nunca esquecer de onde vieram e com quem viveram. A vida era um ciclo por vezes injustos, eles haviam perdido alguém que amavam imensamente, mas o amor já estava florescendo com a chegada do filho deles.

E graças a carta do Barão, eles estavam felizes com isso.

♫ ♪ Devia ter complicado menos

Trabalhado menos

Ter visto o sol se pôr

Devia ter me importado menos

Com problemas pequenos

Ter morrido de amor ♫ ♪

 

Fim


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