P.O.V. Alec.

Ter filhas. Meu Deus, eu terei filhas.

Jamais pensei que pudesse ter se quer um filho e no fim ganho duas.

Levei-as para o Castelo de São Marcus comigo.

—Você tá sentindo?

Perguntou aquela que pelos trajes identifiquei logo como sendo Arienne.

Antes que pudesse fazer ou dizer alguma coisa, Anastácia respondeu:

—É o triângulo.

Quando chegamos ao Salão dos Tronos, Anastácia parou e encarou um ponto fixo.

—Ana? Terra para Ana, responda Ana.

—Você não tá vendo?

—Vendo o que?

—As pessoas. Acho que estão mortas.

—Espera, ai... você tá vendo através do véu?!

—É. Eu acho que eu to.

—Véu?

—O véu que separa os vivos dos mortos. Nós estamos desse lado, aqueles que vocês mataram aqui, estão do outro lado. Existem dois outro lados. Dois purgatórios. Um para as almas humanas, este é natural. E outro para as almas sobrenaturais, esse é sintético. Fruto de um feitiço.

—Um feitiço? Feitiços e bruxas existem?

—Existem. Ari e eu somos realeza bruxa, viemos de uma família antiga e poderosa. Uma longa linhagem de bruxos.

—Então, os mortais estavam certos e Jane e eu éramos mesmo bruxos?

—Não pai. Você não é bruxo. A mamãe é que é.

—Troquei uma vampira por uma bruxa?

—Uma híbrida. Parte vampira, parte bruxa. Herege. É como chamam o que a gente é.

Disse Anastácia sem nem olhar para mim. Ela estava focada naquele ponto, vendo algo que nós não conseguíamos. Então, tirou algo de suas vestes.

—Eu trouxe seu anel. Foi o primeiro presente que a mamãe já te deu e foi um belo presente.

Eu vi na palma da mão dela aquele anel discreto com a pedra azul.

—Um anel?

—Coloca ele e sai no sol.

—Não posso sair ao sol, eu vou me...

—Não vai. Não enquanto usar o anel. A mamãe encantou ele, é um amuleto. Lhe concede proteção. Use com sabedoria ou eu faço ele parar de funcionar.

—Proteção contra o que?

—O sol. É um amuleto da luz do dia. Lhe permite caminhar ao sol.

—Vocês não usam nenhum tipo de amuleto, usam?

—Nós não precisamos. Híbridos podem caminhar ao sol sem precisar de proteção, mas a nossa pele é tão dura quanto a sua.

—Ana, vamos nos mandar daqui. Você tá muito esquisita, o triângulo tá afetando você.

Ariene empurrou a irmã para fora da sala dos tronos e no segundo em que ela estava fora do recinto, voltou ao normal.

—Isso foi intenso.

Eu coloquei cada uma num aposento diferente. Então, fui falar com Anastácia que parecia ser a mais dócil das duas.

—Me permite senhorita?

—Pode entrar pai.

—Eu permito que me chames de pai?

—Permite. Eu nasci no século vinte e um, não tem mais essa coisa de milorde, milady, senhor meu pai. No máximo senhor, senhora e senhorita.

—Vi que você fala o que parece ser italiano.

—Falo. Mas, não é esse italiano. Eu falo o italiano do século vinte e um, desde que éramos crianças quando estamos falando com você, com a tia Jane, com Félix ou o Demitre a gente fala italiano, mas quando estamos falando com a mamãe, a vovó, o vovô e todos os parentes do lado dela da família falamos inglês.

—E como é a sua mãe?

—Ruiva, como nosso avô e a gente. Mas, os olhos azuis nós pegamos de você. Os olhos da mamãe são como os da vovó, um lindo castanho que parece chocolate derretido. Mas, acho que não é isso o que você quer saber, é?

—Não.

—Ela é amorosa, caridosa, amável, inimaginavelmente sábia. Ela é a pessoa mais calma e compreensiva que eu conheço, mas quem pisa no calo dela está fodido.

—Esta não é uma palavra adequada para uma jovem lady.

—Não sou uma lady.

—Quantos anos vocês tem?

—Dezessete. Nós ao contrário da nossa mãe, crescemos á um ritmo humano. Apesar de termos começado a andar com só um dia de idade. Mas, depois deste um dia o nosso crescimento estagnou. E começamos a crescer a um ritmo humano.

—Porque Anastácia e Arienne?

—Anastácia é americano e Arienne é italiano.

—Você disse que Ellie iria morrer. Porque?

—Porque supostamente, ela está... não acredito que vou usar essa palavra, fornicando com um humano. Disseram que acharam o humano pelado, digo nu e drenado na cama dela. Ai ela foi acusada, julgada culpada e executada.

—E sabe se isso é mesmo verdade?

—Sei que acharam o humano nu e morto na cama dela, mas se ela tava transando com ele, ai é outra história.

—Transando?

—Fazendo sexo.

Fiquei chocado.

—Não fique. Reeducação sexual é bom. Foi a tia Jane que... teve A Conversa com a gente. Camisinha, não se sinta forçada a fazer nada que você não queira fazer e tudo isso ai.

Ela ficou rosa.

—Camisinha?

—Preservativo, impede a gravidez e a transmissão de DST.

—DST?

—Doenças sexualmente transmissíveis. AIDS, Sífilis, Herpes genital, Clamídia, Gonorreia...

—Tudo bem. Doenças.

Ela riu.

—Porque está rindo.

—Porque geralmente é você que tem as respostas e eu as perguntas.

—Vocês pegam essas doenças?

—Não e se a gente pegar, a gente cura. Mas, eu sou muito jovem pra ficar grávida.

—Você tem dezessete anos!

—De onde eu venho, os humanos vivem até os oitenta! E a taxa de natalidade é baixa. Tem remédio e cura pra quase tudo. Descobriram o DNA, a célula, a célula tronco, anatomia, transplante de órgãos, tratamento para AIDS e assim vai.

—Me parece uma era interessante.

—Ela salvou você. O que você tem com a Ellie, é diferente do que tem com a mamãe. 

—E como eu conheci a sua mãe?

—Você e os Mestres a confundiram com uma criança imortal e iam matá-la. Mas, depois que a tia Alice mostrou para o Aro o seu futuro, depois que ele viu todo o seu Clã sendo massacrado e se viu morrer. Ele fugiu. E no fim, no outro fim. A fome insaciável de Aro por poder, a sua compulsão por consumir tudo e todos ao seu redor... acabou consumindo ele também. Bem como a mamãe disse que aconteceria.

—Sua mãe e sua tia... podem prever o futuro?

—Podem. Mas, as visões da mamãe são diferentes das da tia Alice. A mamãe entra em transe, coisa de bruxa. A tia Ali não, porque ela é vampira.

—Uma vampira vidente?

—É. Quando a mamãe está tendo uma visão, ela fala latim ou aramaico, a tia Alice não. Ela fala inglês e se comunica com mais eficiência.

—Jane tem um amuleto como esse?

—Tem. E acho que está com a Arienne. Mas, vocês dois vão guardar esse segredo, se alguém perguntar como vocês saem no sol sem se expor digam que é segredo. A última coisa que eu quero é derramamento de sangue, é vampiros forçando bruxas e bruxos a fazerem coisas. Os vampiros, todos os vampiros são minha família, mas todas as bruxas também são minha família.

—Quando diz todos os vampiros e todas as bruxas, se refere a todos os vampiros e bruxas do mundo?

—Sim. Nós os consideramos nossa família.

—Nós?

—Eu e a minha irmã. Nunca negamos ajuda a ninguém, acolhemos aqueles que precisam, se estiver em nosso poder curamos doenças, feitiços de proteção. Para se ganhar o amuleto da luz do sol, tem que merecer. Tem que ter respeito pelas pessoas, pela vida e pela morte, pela natureza. A mamãe te fez o amuleto porque ela tem essa habilidade, o dom de ver a bondade nas pessoas.

—Mas, ela não viu a bondade nos Mestres.

—Está errado. Ela viu. Ela não queria brigar, só queria que deixassem a gente em paz. Mas, como eu disse a terrível fome do seu criador por mais poder era insaciável. Ele não podia estar mais pouco se lixando para a lei, o tio Eleazer foi a primeira pessoa a perceber o padrão.

—Tio Eleazer?

—Nós temos uma família grande e complicada. A maioria dos meus tios e tias não são meus parentes consanguíneos.

—E qual era o padrão?

—Sempre que Aro colocava os olhos num vampiro com habilidades especiais, como a vidência da tia Alice ou o poder de manipular os elementos do tio Benjamin não demorava a aparecer evidências de que o Clã ao qual aquele tal vampiro pertencia havia cometido um crime. Então, vocês iam lá havia todo aquele teatro do conselho, o clã era julgado culpado e aquele com o poder que o Aro queria era o único que sobrevivia porque ele tinha "pensamentos puros" e ele ganhava um lugar na guarda.