O Intruso escrita por thierryol1


Capítulo 15
O Mar Esmeralda




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"Todos nós fazemos escolhas na vida, mas no final, elas que te fazem."

 

Seus olhos abriram lentamente e se ajustaram à luz. Um vulto estava sentado na cadeira, do lado da cama.

— Fischer? – Caleb disse, com uma voz baixa e fraca.

O detetive, que estava adormecido na cadeira do hospital, acordou rapidamente e levantou-se, aparentemente assustado.

— Caleb? Como você está se sentindo? – O detetive pegou na mão do policial, segurando firme.

— O que aconteceu? Onde estou?

— Um caminhão sem freio bateu no seu carro numa avenida. Graças a deus você saiu com ferimentos leves e apenas uma pequena lesão na região da cabeça.

Caleb suspirou. Ele se lembrava de tudo borrado, como um sonho.

— E Lucie? – Perguntou o policial.

— Infelizmente... Ela fugiu. Mas já mandamos alguns reforços atrás dela.

— Eu também vou!

— Claro que não, Caleb! Você vai ficar quieto aí. Não deve demorar muito para o médico te dar alta. Até lá, nada de fazer esforço.

— Você não entende, Fischer! Eu tenho que prender aquela assassina com as minhas próprias mãos.

O detetive soltou a mão de Caleb e caminhou até a janela. Ficou alguns minutos parado, observando o por do sol por alguns minutos. Então suspirou e disse:

— Caleb, eu preciso que você se recupere logo. Eu tenho um trabalho diferente pra você.

O detetive se virou e sorriu para Caleb. Algo extremamente raro.

*****

9 Anos Atrás

O sinal acabara de tocar. Todos os alunos haviam voltado para suas classes. Apenas Lucie estava no pátio, olhando para o nada. Ficou ali, sentindo a leve brisa do vento tocando seus cabelos loiros. Ela continuou sentada por mais uns minutos antes de  caminhar para sua sala de aula.

Quando passava pelo corredor leste, mais isolado da escola, onde haviam os clubes de literatura, ela ouviu alguns gritos abafados vindo do banheiro masculino. Ela parou em frente à porta, com medo. Não sabia se deveria entrar ou não. Mas aqueles gritos e gemidos abafados causavam um sentimento horrível na garota.

Sem pensar duas vezes, ela entrou no banheiro masculino, e viu uma cena extremamente macabra: dois alunos estavam abusando sexualmente de um terceiro, que tentava gritar por ajuda, mas não era possível visto que um dos garotos segurava seus braços e tapava sua boca. Os garotos eram sem dúvida mais fortes que o terceiro, que era magro.

Ele tentava de todas as formas escapar, sem sucesso. Quando ele viu Lucie, começou a balbuciar algumas coisas inaudíveis. A garota ficou ali parada, em estado de choque. Os dois garotos não tinham visto-a. Após alguns segundos, ela saiu do banheiro.

Começou a andar no caminho contrário do corredor. Ainda era possível ouvir os gritos abafados do garoto, mas ela pareceu não ligar. Continuou andando até sair da escola e ir embora, sem falar uma palavra com ninguém.

*****

O monstro sem face estava segurando um bebê. Tudo estava rodando. Lucie queria chorar.

— Lucie...

— Me deixa em paz!

— Lucie!

A garota acordou assustada, com Abel a chamando.

— Tudo bem? Vi você se retorcendo e suando aí...

— Era um pesadelo...

— Imaginei...

— Já estamos chegando?

— Bem, agora estamos bem perto de Twin Falls, ainda vai demorar um pouco até chegarmos a Salt Lake City... Ansiosa?

— Sinceramente? Nem um pouco... Mas eu preciso resolver algo para ter certeza do que estou suspeitando.

Os dois ficaram em silêncio. O sol estava se pondo, dando um tom meio alaranjado para o céu.

— Acho tão lindo como deus criou tudo tão perfeitamente. – Disse Abel, cortando o silêncio.

— Hm?

— Eu imagino deus criando o mundo totalmente perfeito. Será se alguma vez ele imaginou que o ser humano se tornaria tão desmerecedor do mundo?

— Deus? Você realmente acredita nisso Abel?

— Por que não?

— Porque pode ser mentira. Não existe prova alguma que algum deus exista.

— Mas, de certa forma, é melhor que não acreditar em nada, certo? Assim você sempre terá esperanças que algum dia tudo pode se acertar. Tudo pode terminar bem apesar das suas escolhas erradas.

— Idiotice. As escolhas que a gente faz irão nos seguir pelo resto de nossas vidas. E de uma forma ou de outra, a gente paga por elas.

— Credo Lucie, que deprimente...

— Bem vindo à vida.

— Você é uma pessoa tão triste... – Falou Abel, bem baixo.

Lucie suspirou. Essa frase por algum motivo a incomodou.

— Eu não sou triste... Eu sou apenas uma pessoa cansada Abel.

— Cansada? De quê?

— Cansada de... Tentar ser uma pessoa melhor todo dia, mas acabar sempre destruindo tudo ao meu redor...

Lucie falou isso sem tirar os olhos da janela. Era como se ela quisesse evitar olhar para Abel. Como se ela quisesse que ele não a visse daquela forma.

Após vários minutos em silêncio, Abel suspirou e sorriu.

— Eu amo as coisas que você odeia sobre si mesma... – Ele sussurrou bem baixo.

Lucie ficou em silêncio, fingindo não ter ouvido. Então ela também sussurrou bem baixinho:

— Você é como se fosse o contrário de mim... E mesmo assim... Eu sinto como se nós fizéssemos parte do mesmo mundo...

O silêncio dominou o carro enquanto a paisagem mudava. Quando entraram em Twin Falls, Abel parou na frente de um consultório psiquiátrico.

— Lucie... O que acha de fazer uma consulta? Já faz um tempo que eu tenho observado que você anda tendo alucinações... Bem, se não quiser tudo bem.

Lucie respirou fundo. E desceu do carro.

*****

— Então, como foi?

— Normal...

— O que deu?

— Não sei... Os exames ficarão prontos em algumas horas... O que tem pra fazer por aqui até o tempo passar?

— Bem, podemos ir à lanchonete, tomar sorvete, cinema, visitar David ou--

— Espera... O que disse?

— O que? Sorvete? - Indagou Abel, meio confuso.

— Não, você disse visitar David?

— É... Ele mora na saída da cidade.

— David, David? O antigo dono da minha casa?

— É sim... O que foi Lucie?

— Eu não sei... Eu estou com uma sensação estranha... Tem como a gente ir até ele?

Abel concordou e ambos saíram em direção à casa de David.

*****

Após alguns minutos eles estavam na porta.

Bateram algumas vezes mas ninguém respondeu. Quando estavam prestes a desistir, um gemido foi ouvido.

— David? – Gritou Abel, girando a maçaneta da porta. Estranhamente, estava aberta.

Os dois entraram na casa, Lucie foi à frente, seguindo os gemidos, até se deparar com o corpo de David estremecendo no chão. Sua boca estava cheia de espuma de saliva e ele não estava conseguindo respirar. Aparentemente ele havia sido envenenado.

— David... Oh céus o que houve? Abel, liga pra uma ambulância agora! Abel?! ABEL CADÊ VOCÊ?

A mão trêmula de David ergueu em direção à Lucie. A garota se abaixou até conseguir ouvir nitidamente os gemidos de desespero de David.

— Jo... Jo... Josh...

A mão erguida de David caiu bruscamente e sua respiração parou de repente. Lucie estava confusa. Nada fazia sentido.

Ela começou a andar até a sala, gritando:

— Abel, precisamos sair daqui!

Quando ela passou pela sala, uma mão tapou sua boca e enfiou uma agulha em seu pescoço. A garota deu uma cotovelada na barriga do homem e tentou fugir, mas suas vistas começaram a ficar escuras e suas pernas pesadas.

Lucie caiu no chão. Suas vistas ficavam cada vez mais embaçadas. Ela tentava gritar por Abel, mas nenhuma voz saía de sua garganta. Ela não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

Lentamente, Josh caminhou até o corpo da jovem, se abaixou e aproximou seus lábios da orelha esquerda da garota, e sussurrou bem baixo antes da garota desmaiar:

— Você realmente achou que teria um final feliz depois de destruir a vida de tanta gente?


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