Glóbulo Vermelho escrita por Jude Melody


Capítulo 1
Capítulo único




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Ela era um desastre de célula. Dava até dó! Sempre perdida e trombando nos outros, para não falar de quando era atacada por bactérias. Nunca sabia aonde deveria ir, mas desafiava todas as probabilidades ao conseguir estar no lugar errado nos piores momentos possíveis. Se fosse um pouco mais lenta, já estaria morta.

Por sorte, ele também desafiava as probabilidades e, de algum modo, sempre aparecia quando uma bactéria ousava atacar os indefesos Glóbulos Vermelhos. Os primeiros encontros pareceram tão ao acaso, mas, de tanto ver aquele rosto de cabelos vermelhos e olhos âmbares, acabou se acostumando. Ouvia um chamado e logo corria para socorrer os companheiros, a faca em punho e o rastreador apitando sobre sua cabeça. Derrotava os inimigos sem lhes dar qualquer chance. E, ao se levantar, olhava em volta e via aquele rostinho conhecido tremendo de pavor.

— Glóbulo Vermelho.

— Gló-glóbulo Branco, arigatou! Arigatou! — ela gritava, fazendo mil reverências.

— Não precisa agradecer.

E teve ainda aquela vez em que ela o salvou. A célula cancerígena era um oponente formidável e teria vencido se o exército de Glóbulos Brancos não tivesse aparecido para virar o jogo. Ele se preparava para ir embora quando ela o abordou. Fora ela quem chamara o reforço. E pensar que, a despeito de seu senso de direção tão ruim, poderia ter uma boa intuição quanto ao perigo! Talvez fosse o resultado de todas as vezes em que fora atacada...

Não fazia muito sentido gostar de um Glóbulo Vermelho. Ele, que fora criado para matar, não podia perder tempo guiando-a pelos vasos sanguíneos. Mas eles sempre se encontravam de uma forma ou de outra. E ela sempre sorria, os olhos âmbares brilhando de reconhecimento.

— Glóbulo Branco!

Ele não sabia explicar. Ela era tão cheia de energia e determinação. Dava até vontade de protegê-la. Mas logo percebeu que a ideia era tola; ela não precisava de nenhuma proteção! Era capaz de fazer as entregas sozinha. Ok, uma pequena ajudinha do Glóbulo Branco não faria nenhum mal. Por isso, naquele dia ele se manteve distante, certificando-se de não influenciar suas decisões. Ela precisava encontrar o caminho por conta própria ou nunca superaria seu receio de se perder durante as entregas.

Exausto após a odisseia do coração e sentido a bochecha doer por conta do soco de T Citotóxico, ele andava sem rumo quando se deparou com aquele rosto tão conhecido.

— Glóbulo Branco!

— Glóbulo Vermelho.

— Ah, eu estou tão feliz! Você não vai acreditar! Consegui fazer uma grande entrega sozinha e... O que houve com a sua bochecha?

— Ah. — Ele tocou o machucado. — Não é nada. Nem está doendo mais, na verdade. Você disse alguma coisa sobre ter feito uma entrega? Por que não me conta como foi?

— Eu adoraria!

Sentaram-se em um banco e ela se pôs a contar como fora a jornada, os olhos âmbares brilhando de entusiasmo. E ele ouviu toda a história que já conhecia tão bem. Dava mesmo uma vontade de protegê-la! Mas dava mais vontade ainda ouvi-la falar.


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