MT.DB - One Shot escrita por Tetekah18


Capítulo 1
Capítulo Único




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MT.PD

Departamento de polícia do condado de Missoula, MT.

— Rose, Hans quer falar com você. - Lissa diz ao pé da minha mesa.

Ela trabalha no setor burocrático do batalhão. Está estagiando como assistente do comandante, mas está cursando direito. Lissa é uma pessoa justa e sei que será uma ótima advogada. Claro, além de ser uma das poucas amigas que tenho.

— Tem que ser agora? - pergunto frustrada.

— Ele disse que é importante. - desculpou-se.

— Já estou indo. - me levanto, pego meu distintivo, minha jaqueta e caminho em direção a sala do meu superior.

Hans Croft.

Bato na porta e espero sua permissão para entrar.

— Queria me ver? - questiono tentando parecer calma.

— Sim, na verdade só queria confirmar a você que seu novo parceiro chegará amanhã.

— Já? - confirma com um aceno de cabeça.

— Ele estava no condado de Spokane. Quando comunicamos sobre um substituto ele se ofereceu de pronto.

— Ele foi rebaixado? - Pergunto intrigada.

— Bem, na verdade ele pediu afastamento do esquadrão tático de Helena. – ele faz uma pausa e acrescenta: - Já faz mais de um ano.

— O que aconteceu? - instigo.

— Não sei, a ficha dele é sigilosa. Meu posto não me permite essa informação. E mesmo se pudesse, não poderia contar a você. - responde. Não com ignorância ou algo do tipo, mas um toque de diversão. Ele já estava acostumado com minha curiosidade invasiva.

— Certo. Vamos começar a fazer as rondas amanhã ou dar um tempo a ele para se acostumar?

— Daremos um tempo a ele. - sentencia.

— Ok.

Volto para a minha mesa e reviso mais uma vez todas as informações que havia conseguido sobre o caso de Victor Dashkov. Eu tinha que pegar esse desgraçado o quanto antes.

Pelo Mason. Sim, meu parceiro havia levado um tiro que atingiu a cervical e lá ficou alastrada, impossibilitada de tirar. E a nova questão era: Meu amigo vai acordar? E se sim, o quanto de sequelas ele teria?

O lugar que a bala fincou poderia deixa-lo com uma lesão séria em sua medula espinhal, e se realmente ocorresse, ele poderia ficar tetraplégico por minha culpa.

Aquela bala era para mim!

Sacudo a cabeça tentando afastar as lágrimas que se formavam. Eu tenho um plano a seguir e vou cumpri-lo. Nem que seja a última coisa que eu faça!

                               ° ° °

Meses depois...

Quase sete meses que trabalho com ele.

Dimitri Belikov.

E faz cinco meses que venho sonhando com seus olhos castanhos escuros. Me levanto da cama macia e me arrumo. Não passa das cinco da manhã e eu decidi correr um pouco. Tenho andado muito estressada, tanto pela tensão e tortura que é ficar ao lado do meu parceiro quanto pela recuperação do Mason.

Flashback on

 

—Vai esperar aqui?- perguntei antes de descer do carro no estacionamento do hospital. -Se não quiser tudo bem, eu pego um tax...

 

—Vou esperar, já disse.- disse com toda calma.

 

—Obrigada.- murmurei saindo do carro sem graça.

 

Dimitri é um cara calado, na dele, mas centrado. Depois de alguns meses como meu parceiro ou camarada, como detesta que eu o chame, talvez tenha se mostrado um pouco menos estoico. Bem, era só um palpite.

 

Me aproximei da recepção para me informar sobre o quarto em que meu amigo se encontrava. Segui as instruções, não foi difícil e logo vi Mia saindo do quarto. Sim, Mia, a namorada do meu melhor amigo. A princípio, ela sentiu ciúmes da nossa amizade, mas com o passar do tempo foi amenizando. Eu dava graças a Deus todos os dias por ela não ficar me culpando pelo ocorrido com o Mase.

 

—Hey!- soltei sem graça e ela me respondeu com um sorriso e os olhos cheios de emoção.

 

Mason havia acordado há dois dias e eu só tive coragem de vir hoje. Se eu sou uma covarde? Talvez. Só que me faltava coragem de encarar os fatos.

 

—Oi.- ela respondeu amável. -Ele vai ficar feliz em te ver.

—Há... valeu.- falei um tanto desconcertada.

 

Observei melhor seu cabelo loiro preso desgrenhado, os olhos azuis envoltos de um tom avermelhado e sua pele ainda mais pálida do que de costume com olheiras pesando sua face. Ela era linda como uma boneca, mas estava passando por um tempo difícil. Pelo meu amigo, e convenhamos, por minha culpa. A droga do tiro era para mim. Parabéns Mason, fez seu ato heroico do dia e se deu mal.

 

—Ainda bem que está aqui. Eu vou comer algo, fique à vontade.- disse passando por mim enquanto eu murmurava um agradecimento.

 

Entrei no quarto e vi meu amigo deitado naquela cama estranha de hospitais com direito a soro e todas aquelas paradas sinistras que os médicos diziam ser necessárias.

 

—Como você está?- perguntei quando vi os olhos azuis abertos embaixo de sua juba ruiva.

 

—Pronto para outra.- respondeu irônico.

 

—Não fale isso nem de brincadeira.- reclamei. Ele tentou virar o pescoço, mas não conseguiu. Senti um aperto no peito descabido. -Me diz que está mexendo o corpo...

 

—Eu sou o rei da floresta, está esquecida?- diz balançando os braços no ar.

 

—Ah tá! Conta outra, parece mais um patinho.- entrei na brincadeira. Entretanto, no fundo eu sentia a mesma seriedade de quando ouvi o disparo da arma.

 

Tentei conversar por um tempo mais, segurando toda a máscara de felicidade como se tudo estivesse bem. Mia voltou para o quarto e tratei de sair o mais rápido que pude. Andei pelos corredores desnorteada. Por mais que o Mase tenha sobrevivido, e por muita sorte, não ficou tetraplégico. Só que, seu trabalho estava comprometido ou arruinado. Tudo dependeria do resultado de sua fisioterapia.

 

Meu peito estava pesado de culpa e tristeza. Eu certamente levaria isso para o resto da vida. Limpei meus olhos que derramavam lágrimas sem permissão alguma. Droga, estou com tanta raiva de mim. Uma imprestável. Senti meu braço ser puxado e dar de frente com uma parede de músculo, muito cheirosa por sinal que reconheci de imediato. Respirei fundo e o aroma característico que sentia todo dia de trabalho. Levantei o rosto, as lágrimas ainda rolavam, dando de cara com Dimitri.

 

—Desculpa...- murmurei puxando a manga da minha blusa de frio para enxugar meu rosto.

 

Eu não sabia pelo que me desculpava, se por esbarrar nele ou pelo choro. Levantei os meus olhos fixando nos dele. Vi compreensão e compaixão neles, nada de piedade como tanto detesto. Seus braços me puxaram para seu peito, e céus, é maravilhoso.

 

—Não precisa se desculpar.- ele murmurou ainda me abraçando.

 

Senti e ouvi a vibração de sua voz ressoar em seu peito. Sua ação acalmou toda a minha bagunça interna. Parecia que a tempestade que estava em meu peito havia passado.

Flashback off

Depois de uma hora e meia correndo pelas ruas próximas e pelo parque, volto ao meu apartamento. Devo me arrumar, já que hoje Dimitri e eu faremos vigilância à paisana.

Coloco uma calça jeans justa, uma regata branca simples e uma jaqueta de couro preta. Pego meus óculos de sol, distintivo e arma. Amarro meus cabelos em um rabo de cavalo e saio do apartamento.

Assim que chego no térreo vejo a SUV Audi negra de Dimitri estacionada do outro lado da rua.

— Trouxe seu chocolate quente. - diz estendendo o copo fumegante pra mim. Só ele sabe onde comprar meu chocolate quente.

Sim, ele me viciou com o cardápio da lanchonete que ele descobriu. Fico me perguntando até hoje como depois de tantos anos eu nunca tinha visto aquele estabelecimento. Acho que Dimitri tinha olhos de águia ou faro de um lobo.

— Obrigada, salvou o meu dia. O que temos para hoje? - pergunto bebericando minha bebida. Como sempre, uma delícia!

— O mesmo da semana passada, vamos para St. Vladimir.

— Sério que vamos ir para o campus? - bufei. Estava cansada, lá quase nunca tinha atividade.

Geralmente ficamos mofando no carro o dia todo. Pelo menos tenho algum tempo para atazanar a vida do Russo, como piadas sem graça. Acho que esse era o meu jeito mais infantil de chamar a atenção dele. E bem, por mais idiota que eu parecesse, havia a recompensa de ouvir sua risada vez ou outra.

— Sinto muito, mas são as ordens do Hans. - ele sorriu, aquele sorriso que acaba com minha sanidade, e a minha calcinha...

— Certo, vamos bancar a babá mais uma vez. - ironizei arrancando uma risada deliciosa dele. Era o melhor som de todos.

— Não é tão mal assim. - comenta divertido dando partida, se direcionando para a universidade. - Hans disse que há uma possível boca de fumo no campus e precisamos dar cabo dela.

— Beleza, vamos acabar com isso então. Agora sim estou animada, enfim alguma ação! - disse engolindo o resto do chocolate quente o mais rápido que pude.

— Você realmente gosta da ação, não é? - me olhou de lado enquanto dirigia.

—  Por que acha que escolhi essa profissão? - falo divertida recebendo um revirar de olhos do mesmo.

Passamos grande parte do percurso até a universidade conversando amenidades. Eu gostava bastante destes nossos momentos, eu descobria cada vez mais sobre meu parceiro. Seu passado, seu gosto, suas manias... mesmo que ele não explicitasse. Estavam todos ali, ao meu alcance, pelo que ele falava ou o que eu via.

Descemos do carro assim que chegamos ao campus. Escondi minha pistola atrás da jaqueta. Dimitri está com seu usual guarda pó, então não teria dificuldade em esconder seus apetrechos.

— Acho que não estamos conseguindo ser muita discretos. - zombei ao ver que os universitários nos olhavam.

— Tenho quase certeza de que são somente olhos curiosos. Talvez pensem que somos novatos.

— É, talvez. - murmuro.

Eu tinha convicção que quanto a parte das mulheres, estavam todas babando o russo. Se me incomoda?

Imagina...

Dimitri se aproximou e me puxou pela cintura, me assustei mordendo o lábio inferior contendo um grito de surpresa.

— O que está fazendo? - murmurei olhando ele de soslaio.

Não que eu não esteja gostando da situação... Longe disso! Sentir sua mão apertando meu quadril era maravilhoso.

— Pode ser que você esteja certa, então devemos fingir que somos namorados. - disse com naturalidade.

Olhei para ele confusa. Mas depois decidi deixar como estávamos, mesmo sendo apenas para nos disfarçar, eu iria aproveitar a sensação de ter o corpo dele colado ao meu. Andamos pelos pátios e percorremos pelos corredores, um supervisor veio ao nosso encontro e nos direcionamos à diretoria.

Logo estávamos liberados para andar pelo campus, Dimitri se mantinha atento aos arredores. Vasculhamos onde podemos, o camarada entrou no banheiro masculino e eu decidi seguir seu exemplo, mas no feminino.

— Jesse vai ver aquele assunto para você, mas ele quer um adiantamento. As coisas andam difíceis por aqui e ele tem que tomar cuidado. - uma garota disse em um sussurro quando abri a porta do banheiro.

Entrei em uma das cabines rapidamente, para escutar o resto.

— Tem certeza que é do bom? Da última vez deixou a desejar. - uma voz mais rouca respondeu.

Hummm... Suspeito...

— Tenho, ele disse que são os melhores que conseguiu.

— No mesmo lugar?

Não pude escutar mais nada, ouvi a torneira sendo fechada e a porta sendo aberta. Abri a porta da cabine e olhei pelo vão, estava sozinha no banheiro. Sai e olhei pelo corredor, vi mais alunos e comecei a vasculhar por duas garotas juntas, mas haviam muitas duplas e não pude distinguir quem eram, não tinha nenhuma pista de onde as duas foram parar.

— Merda! 

—Rose... - Dimitri apareceu a minha frente com uma expressão frustrada balançando a cabeça negativamente. Bufei.

— Vamos voltar ao carro.

— Mas temos que terminar de olhar os...

— Anda logo Belikov, preciso acessar o sistema. Tenho que verificar um nome, temos um suspeito. - falei a última parte dando um sorriso sapeca. Sabia que seria difícil, mas já era alguma coisa.

Ele balançou a cabeça exasperado com um sorriso no rosto. Sabia que o assunto era sério, mas eu estava empolgada em fazer um trabalho de verdade. Marchamos rumo a saída, mais precisamente, para o estacionamento, direto para o carro.

— Escutei uma conversa suspeita no banheiro feminino. As garotas deram um nome, Jesse. Tenho que verificar se há algum universitário nos registros com esse nome.

Ele confirmou enquanto entramos no carro, peguei o tablet do departamento, de imediato, e abri o sistema. Fiquei um bom tempo procurando alguma ficha de “Jesses” que batesse com o perfil que procurava e acabei encontrando um com passagem na polícia por porte de drogas.

Nome: Jesse Zeklos.

Por sorte era universitário e morava em uma das casas do campus.

— Bingo! - gritei como se tivesse ganhado na loteria.

— Conseguiu?

Sorri e passei o tablet para ele, Dimitri congelou ao ver. Olhei para a tela do aparelho e analisei novamente as informações, foi aí que percebi o sobrenome do suspeito. Zeklos! Agora eu sabia o porquê da sua reação. E droga, por que isso justo agora?

— Hey camarada, está tudo bem ? - perguntei preocupada analisando sua feição fechada.

— Está, vamos ver se encontramos esse Jesse. - disse sisudo.

— Vamos pegá-lo. - sorri pra ele que me retribuiu com um fraco sorriso.

Dimitri estava distante, eu sabia o que tinha feito ele se distanciar. Eu realmente estou preocupada. Olhei em volta e, como eu disse, estávamos mofando no carro. Bom, acho que se é para mofar que seja mais agradável.

— Camarada... - iniciei meio incerta. Dimitri me olhou meio confuso. Ele estava muito distante. - Hey, quer conversar sobre Ivan?

Dimitri se encolheu sutilmente, estava na cara o quanto tudo isso o machucava. Durante todo o nosso tempo de trabalho juntos, aprendi que Dimitri é um cara muito na dele. Sempre tão focado no que faz, tão devoto aos seus princípios e leal. E sua lealdade o levou a crer que a infelicidade que aconteceu ao seu amigo e parceiro era sua culpa. E ver um cara deste tamanho, tão abalado assim, é algo raro e desconcertante. Dói em mim. E bem, foi inevitável ele se lembrar de seu melhor amigo ao ver o sobrenome do suspeito, além do mais o nome do seu antigo parceiro era Ivan Zeklos. Não que isso signifique que eles tenham algum tipo de parentesco, Deus queria que não! Mas isso traz lembranças dolorosas ao meu camarada.

— Eu... - disse somente antes de se calar. Ele pareceu estar arrasado e eu não poderia deixa-lo nesta situação.

— Olha, eu sei que Ivan era mais que um amigo para você. Era como um irmão, mas entenda Dimitri, o que aconteceu não foi sua culpa. Ele escolheu seguir essa profissão, ele sabia dos riscos que estava correndo. - engoli seco. Era como reafirmar para mim as mesmas palavras.

— Mas eu deveria ter previsto, eu era seu parceiro! Era a minha obrigação cuidar dele naquela missão...

Seus dedos apertando o volante com tanta força deixando suas juntas pálidas.

— Entendo, eu sei o que você sente. Não se esqueça, meu melhor amigo esteve em coma por muito tempo e agora está passando por um tratamento intensivo para voltar ao normal. - Dimitri concorda vagamente me deixando sem muita alternativa. - Você sabe que não somos capazes de salvar todos, eu sei o quanto dói, mas Dimitri...- Percebi que nada do que eu falasse iria ajudar. Pensei em tocar nele para passar algum conforto, mas resolvi me calar. Seria pessoal demais e estávamos prestes a prender um suspeito.

Alguns minutos depois eu já não aguentava mais aquela situação. O silêncio era simplesmente enlouquecedor!

— Hey, que tal me contar como era viver na Sibéria?

— Rose, já disse que não é nada demais. - diz com um leve sorriso, o que me animou.

— Ah, qual é? Não me diga que você nunca viu um urso polar...

Dimitri balança a cabeça divertido.

— Bem, já vi...

— Eu disse! -  o interrompi com um sorrisinho zombeteiro.

— Hey! Eu já vi um urso polar em um zoológico. Não se tem usos andando pelas ruas como você pensa. Eu... - ele me olha desconfiado. - Você armou para mim não é?

— E você caiu, camarada! - digo rindo e o mesmo me segue. Bom, pelo menos ele esqueceu sobre seu antigo parceiro.

Olho para além da janela ao seu lado e vejo um cara meio peculiar. Engulo seco ao vê-lo chegar até um grupo de jovens onde todos o cumprimetam.

— O que foi, Rose?

Olho pra Dimitri brevemente, antes de indicar o que chamou minha atenção. Ele segue meu olhar e ficamos calados prestando atenção em toda cena a alguns metros de distância.

— Jesse? - apenas afirmo rapidamente, antes de puxar minha pistola do coldre. Dimitri segura minha mão quando vê minha intenção. - Não, não seria prudente sair com arma em punho em pleno dia, muito menos com o campus cheio. Vamos esperar a hora certa...

Suspiro recolhendo minha arma, em seguida faço um sinal de rendição, arrecadando um revirar de olhos do russo. Ficamos alguns minutos de tocaia observando os garotos e eu já estava de saco cheio.

— Dimitri, acho que dev... - ele simplesmente fez sinal de silêncio me cortando e chamando minha atenção para o que acontecia lá fora.

Jesse acabava de se retirar do meio do grupo com duas garotas a tira colo. 

— Devem ser às garotas do banheiro. - afirmo ao vê-los entrarem em um carro esportivo, saindo tranquilamente. - Essa é a nossa deixa, camarada. - comentei empolgada.

Dimitri ligou o carro e seguimos o esportivo a uma distância segura. Alguns minutos mais tarde paramos a uma esquina de distância, observamos os três descerem do carro e entrarem na casa. Ficamos mais algumas horas ali parados, apenas observando a movimentação do lugar. Já era noite quando decidimos dar por encerrado o tempo de espera.

— Acha que temos motivos suficientes para efetuar a invasão? - pergunto já sacando minha arma. Dimitri fica em silêncio por alguns segundos.

— Veremos... - e dizendo isso ele sai do carro. Dimitri caminha lentamente até a casa. Ele some por entre as sombras, voltando em alguns minutos. Eu já estava a ponto de sair do veículo atrás dele.

— O que você fez ? - indago assim que fecha a porta carro.

— Devemos pedir reforços e invadir em seguida.

— O que você viu lá?

— Não muito, mas foi o suficiente para perceber que as meninas estavam chapadas lá dentro. Há mais alguns caras na casa. - ele pausa olhando na direção da casa. - Estamos no lugar certo, Rose. Devemos pegar esse cara agora. - sua convicção me convence.

— Tudo bem, camarada. Qual o seu plano? - olho para a casa mais uma vez e vejo o carro esportivo ainda na entrada.

— Vou solicitar reforço e entraremos em seguida. - diz concentrado em programar a frequência do rádio do departamento. – Eu fico com a entrada e você vai pelos fundos. Vamos surpreende-los, não sabemos ao certo quantos devemos enfrentar então devemos ir com cautela. Tente focar nas meninas. Vamos fechar o cerco.

— Está bom para mim. - digo animada me preparando para o que viria a seguir. Pelo menos um pouco de ação.

Saímos do carro tentando aparentar normalidade. A medida em nos aproximávamos da casa meu coração disparava pela adrenalina, era minha primeira vez em um caso de invasão após o acidente de Mason. Não me entenda mal, eu estava com medo, não por mim, mas por Dimitri. Estava com medo de perde-lo também, e esse pensamento estava me sufocando a cada passo. Poderia nomear irracional, mas nem isso o fazia ir embora.

— Vamos conseguir, Rose. - olho para Dimitri que me olhava de uma forma diferente. Aquele olhar me fez perder uma batida. Suspeito que tenha suspirado audivelmente, pois percebi um leve sorriso em seus lábios.

Droga!

— Vamos lá, camarada. - ironizo tentando disfarçar. Nos separamos e corri o mais silenciosamente possível para os fundos da casa.

Escutei o estrondo da porta sendo arrombada por Dimitri e neste momento me desliguei emocionalmente. Me adiantei para alcançar a saída dos fundos e tudo que eu ouvia era o barulho de coisas se quebrando, grunhidos, gritos furiosos, as meninas em pânico, luta corporal e até mesmo tiros dentro da casa. Isso me despertou me deixando quase em estado de desespero, e todo esforço que fiz para desligar o meu emocional foi por água abaixo. Quando me preparava para adentrar o local fui atropelada por um ser desenfreado que passava pela porta como o diabo foge da cruz.

Demorei alguns segundos para compreender como em um estalo e corri o mais depressa que pude. Quando achei que estava a uma boa distância do suspeito, me joguei contra seu corpo nos levando-o ao chão. Não vou negar, aquilo tinha sido doloroso, mas o resultado era recompensador.

— Me solte sua... - Jesse diz se debatendo embaixo de mim. Dou um tapa em sua nuca em advertência antes que ele me insulte.

— Olhe respeito garoto! - advirto em tom de provocação. Não pude me divertir muito mais com o panaca e me o algemei sob seus protestos.

Dimitri logo chegou ao meu lado me ajudando a ficar em pé.

— Você está bem? - perguntou parecendo preocupado.

— Só alguns hematomas. - murmurei levantando o braço em que a manga da jaqueta subiu.

Parte do antebraço e mão tinham sido ralados por conta do impacto. A pele mais superficial soltando, deixando o local avermelhado e a ponto de sair sangue pelos poros. Ele pegou o meu braço delicadamente me fazendo arrepiar, mesmo observando os meus machucados, ele estava atento a tudo. Isso se provou quando Jesse começou a se levantar e Dimitri o fez cair no chão outras vez apenas usando uma de suas pernas com um chute rápido e certeiro, tudo isso sem tirar os olhos de mim.

Outros policiais vieram para os fundos. Eu e Dimitri logo nos separamos e começamos a ajudar nos processos finais. Foi um golpe de sorte, fomos guiados por nossos instintos policiais e bom. Agradeço por nosso faro estar apurado, depois de uma varredura completa pela casa foram encontrados quilos de metanfetamina. Algumas gramas de maconha, mas ao que tudo indica era para consumo dos garotos que vendiam a substância na universidade. Jesse foi indiciado por tráfico de drogas e formação de quadrilha, juntamente com os quatro rapazes que estavam na casa. As meninas também levaram processo por uso de substâncias ilícitas e apologia ao tráfico. E bem, Dimitri foi sensacional! Ele deu cabo dos quatro meliantes dentro da casa e ainda me ajudou a conter Jesse. Nenhum deles saiu gravemente ferido da briga, em especial as meninas. Ao que parece, elas se mantiveram escondidas até ver que o reforço chegasse, quando tentaram fugir. Dimitri parecia estar exausto.

— Fizemos um bom trabalho. - Dimitri disse quando vimos o último carro de polícia deixar o lugar.

— É, somos uma ótima dupla.- disse convencida o olhando de lado. - Está na hora de descansar, camarada. Foi uma boa missão.

E então saímos daquele lugar.

                                                                          °°°

— Rose! - me virei e vi Dimitri andando em minha direção.

Há uma semana tínhamos conseguido reunir as provas sobre as fraudes e o negócio clandestino de Victor. Ele tinha um laboratório de metafetamina em uma, pequena e afastada, fazenda. Foi expedido um mandato de prisão para ele. Além de formação de quadrilha, fraudes e tráfico de drogas ele foi acusado de tentativa de homicídio, na qual meu melhor amigo Mason quase morreu.

— O que aconteceu camarada? - perguntei confusa. - Por que isso aqui está essa bagunça?

— Estão se preparando para prender Victor. - diz meio inseguro. - Hans disse que você deve ficar aqui.

— Como é que é essa história?- exclamo indignada.

Dimitri dá se ombros como se quisesse se desculpar, mas ele não tinha que se desculpar por nada. Hans sim, ele sabe da importância que este caso tem para mim. Ele sabe da importância que tem eu estar presente nesta prisão.

— Ele não pode fazer isso! - saio em disparada em direção a sala do meu superior que estava se aprontando para comandar a ação. - Que porra é esse? Pode me dizer porque eu devo ficar nesta delegacia enquanto vocês vão prender aquele filho da puta? - praticamente berro.

— Primeiro: tenha cuidado com a maneira que se dirige a mim. - diz se levantando da saúde cadeira com cara de tédio. Eu estava a ponto de esganá-lo. - Segundo: eu não devo explicação a você. Você é minha subordinada, deve acatar minhas ordens. E minha ordem neste momento é que você permaneça nesta delegacia. E para concluir: você sabe muito bem, que não é uma decisão muito prudente que você vá. Então conforme-se com isto. - termina sua fala olhando para além de mim. Só que, agora pouco me importava. Eu estava chocada com sua ação.

Ele pega seu casaco e sai da sala me deixando no meio dele. Apenas tinha que me controlar para não fazer algo contra Hans, pois aí sim, eu estaria ferrada. Sinto uma mão apertar meus ombros.

— Sinto muito, Rose. – essa voz... Não tenho capacidade de me virar para ele neste momento. Estou fula da vida, chocada e um pouco envergonhada pela situação toda. Se eu o encarasse, certamente derramaria alguma lágrima e eu não queria fazer isso. - Venha.

Ele me puxou pela delegacia, o movimento do lugar estava ficando inexistente após a loucura de mais cedo. Ainda estou trêmula de raiva, com minhas bochechas ardendo de vergonha e as lágrimas de frustração, por não estar presente na prisão de Victor, vem à tona o quão patética devo estar. Dimitri me faz sentar em uma das cadeiras da cozinha do departamento.

— Rose... - levanto a cabeça lentamente para ganhar mais tempo para limpar uma lágrima teimosa.

— Sim? - tento parecer o mais normal possível.

— Quer chocolate quente? - pergunta como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Pode ser. - respondo fungando. - Por que não foi?

—Pedi ao Hans para cuidar de você.- disse mexendo em algo de utensílios de cozinha. Se eu sei algo ou me arrisco a cozinhar? Nem se eu estivesse drogada.

— Eu não preciso de uma babá. - ele cerra os olhos em minha direção. -Sem ofenças, camarada. -falo levantando as mãos em sua direção.        

Ele suspira e volta a fazer o que estava fazendo.

— Eu sei que isso é um saco... - me surpreendi ao ver Dimitri falar daquele jeito, mas era nítido que estava reavivando algum sentimento ruim. - Eu tive que ser afastado do meu caso quando o meu amigo morreu. Foi duro, mas no fim das contas eu entendi. - disse vindo em minha direção com duas canecas fumegantes. - Eu certamente estragaria os planos, o ponto que cheguei era de espancar o desgraçado que fez aquilo com o meu amigo. Só que a dor e a culpa me cagaram.

Comecei a refletir enquanto tomava o chocolate quente na caneca que ele havia me oferecido. Bem, eu teria tempo para pensar, minha cabeça estava quente e... Espera, esse gosto.

— Você comprou daquela cafeteria? - perguntei mudando totalmente de assunto.

—Consegui a receita. - diz com um sorriso de canto me olhando.

— Se eu não fosse tão ruim na cozinha eu iria te pedir. - ele riu e ficou com um sorriso adorável no rosto. Chegava a ser estranho já que ele tem essa postura máscula, mas é apenas um achismo meu.

[...]

Depois de toda aquela confusão, o alivio veio como um coice ao ver Victor entrando naquela delegacia algemado. Sei que o estado do Mason é irreversível, por mais que ele melhorasse com a fisioterapia sabia que haveria sequelas. Mas o fato de conseguir prender o desgraçado diminuiu o peso que vinha sentindo. O caso foi concluído e o sacrifício de Mason não foi em vão. 

E essa noite, logo após todo ocorrido, saímos para um bar para comemorar o caso Dashkov. O estabelecimento era bem conhecido do batalhão, sempre que marcávamos de beber era pra lá que íamos. Passei em casa rapidamente para me arrumar. Coloquei um vestido preto, com finas alças e justo em meu corpo. Ele acentuava minhas curvas, deixei meus cabelos soltos e coloquei um salto. Um pouco de maquiagem não faria mal para o meu rosto com marcas quase imperceptíveis do meu choro de mais cedo.

Já no bar vi que a “festa” já tinha começado e estava bem animada. Lissa estava em uma das mesas com seu namorado Christian e nossos amigos, Sydney e Adrian, que por sua vez eram casados e ambos trabalhavam conosco no departamento. Era estranho que eles viviam sumindo... acho que prefiro não comentar muito mais. Vasculhei meu olhar pelo bar e me senti decepcionada por não ver Dimitri ali.

— Procurando alguém, Roza ? - uma voz rouca e sexy me fez arrepiar.

Era ele e estava atrás de mim. Estava paralisada olhando para os meus amigos, como eu devia reagir?

— Roza? - tentei focar no ponto de estranheza em sua fala.

— Seu nome em russo, não gosta? - ele sorria de um jeito tentador. Sua voz saiu baixa, mas o grave em seu sotaque me despertou.

— Hey Rose! Não lembra mais dos seus amigos? - Adrian gritou da mesa e sorrindo. Ainda me pergunto como ele ainda não tem filhos. Eu e Dimitri nos juntamos a eles na mesa.

A noite estava sendo uma tortura. Dimitri estava sentado ao meu lado, e sempre que eu me permitia olhar para ele o via me observar, com um olhar diferente e me aquecia de uma forma que eu achei estar em chamas. Os sorrisos que ele direcionava a mim enquanto piadas eram soltas na mesa fizeram com que minha calcinha ficasse molhada, se não pingando por perceber seus músculos e seu pomo-de-adão em evidência a cada risada. Quando se deram por satisfeitos, meus colegas iam embora aos poucos.

— Até segunda, Rose.

— Até segunda, Lissa.

Me despedi dos meus colegas e me preparei para ir embora. Dimitri desapareceu em meio as despedidas, talvez ele tenha ido embora... Talvez ele tenha encontrado alguém...

Pensar nisso incomodou.

Recentemente descobri meus reais sentimentos por ele, eu havia me apaixonado, perdidamente, por Dimitri Belikov. Com todo aquele convívio, tudo parecia fácil, mas eu me negava a acreditar nisso por medo. Medo dele não me corresponder... E agora eu sofria com essa situação. Não poderia ter quem eu queria. Apesar de algumas vezes eu notar seus olhares e algumas reações suas... Acredito que eu possa estar me iludindo com toda sua perfeição.

Suspirei e me encaminhei até onde meu carro estava estacionado. Assim que me aproximei da porta fui agarrada e prensada contra ele. Tentei reagir até perceber os braços que me rodeavam. Meu coração disparou.

— Tem ideia de como foi torturante passar a noite toda ao seu lado com você nesse vestido? – sussurrou em meu ouvido com seu sotaque russo, a voz rouca me levou à loucura.

— Você gosta? - ouso perguntar me virando de frente para ele. Sua sobrancelha representava a pergunta silenciosa de sua confusão. - Do vestido. Acha que me pus em risco por usá-lo? - provoquei.

Dimitri apertou a minha cintura abaixando seu rosto o suficiente para que me olhasse nos olhos.

— Você pôs o bar em perigo. O batalhão inteiro na verdade... - mordeu de leve minha mandíbula. - Não gosto de ver os outros caras olhando o que é meu.

Seu tom dominador e possessivo me deixou surpresa. Nunca imaginei ele dizer isso.  

— O que é seu? - pergunto irônica, mesmo gostando do que havia dito. Passo meus braços por seus ombros

— Sim. Você é minha, Roza. E eu não aguento mais ficar longe de você. - sussurrou em meus lábios. Nossos corpos colados me permitiram sentir o tamanho do seu desejo.

— Então não fique. - sussurrei selando nossos lábios. Eu me sentia em um sonho.

— Estou fodidamente apaixonado por você. - murmurou entre beijos e em um momento se afastou. - Realmente acho que a amo, Roza! Nunca senti nada assim por alguém em minha vida. Passei mais de um ano tentando encontrar um lugar para mim depois do que aconteceu com meu amigo, e quando a vi, tudo mudou. Cada dia que passava vi que tinha encontrado o meu lugar, apenas por você estar lá. Não me imagino em lugar algum sem você. Seja minha... Seja minha namorada, minha amiga, companheira, amante, parceira... Por favor...

Derramei lágrimas sem conseguir conter minha felicidade.

— Isso foi um pedido de casamento? - brinquei com um imenso sorriso.

Dimitri me beijou ternamente nos lábios.

— Por enquanto é só um pedido de namoro, não quero pular as etapas com você. Quero aproveitar todos os momentos ao seu lado. Só não tenha dúvidas de que eu a quero como minha esposa e futura mãe dos meus filhos. Eu a amo tanto Rose! Me dê a honra de ser seu homem... Namora comigo?

— Sim... - sussurrei chorando. - Sim. Sim... SIM ! - gritei feliz pulando em seu pescoço.

Dimitri me beijou apaixonadamente. Como se não tivesse presa para acabar.

Eu não queria que o beijo acabasse.

— Não sabe o inferno que vivi nesses últimos meses. - ele brincou me segurando contra seu peito.

Beijava minha cabeça e alisava minhas costas ternamente.

— É claro que eu sei! Passei pelo mesmo nos últimos meses. - zombei e ouvi sua risada. - Amo você camarada. - sussurrei.

— Eu te amo, minha Roza.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter chegado até aqui. Esperamos que tenham gostado da nossa estória. Deixem o favorito. E lembrando, a Ju deve levar o maior credito pela base de tudo. Obrigada por me deixar fazer parte disso tudo!


Beijos das raposa!

Teka e Ju.



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