Stay with me escrita por Darleca


Capítulo 4
Privações


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Neste capítulo, veremos pela perspectiva de Viktor toda essa história. É quando as peças finalmente se encaixam. Vou me abster de qualquer outro comentário. Espero que gostem do capítulo, okay?

Boa leitura!



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Viktor estava deprimido. Ser mantido na cama de um hospital afetava seriamente seu humor. Soube pelo próprio médico que não iria competir o próximo evento sem que fizesse uma bateria de exames e um rigoroso tratamento para combater fosse lá o que tivesse. As visitas também seriam restritas, mas Minako, que acompanhou todo o processo, conseguiu convencer o médico em deixar ao menos um amigo vê-lo naquela noite.

O que deveria ter feito? Viktor agora sabia que, primeiro de tudo, não deveria ter ido ao Kolomenskoye Pub, encher a cara com vodca e ficar o resto da madrugada – num dos dias mais frios da Rússia – na piscina do hotel em que estava hospedado por conta do Campeonato Europeu, em Moscou. Ele sabia também que não deveria ter se chateado e se martirizado com mais uma escolha/decisão egoísta do japonês. Ele deveria imaginar que propor o que queria seria uma tremenda loucura. Por que alguém que já passava horas do dia treinando com ele, desejaria passar o resto dos dias da vida também? Pedir para Yūri morar com ele não era o mesmo que pedir em namoro. Mas a negativa trouxe o gosto amargo da rejeição.

Afinal, Yūri não sentia o mesmo que Viktor, e achava que toda a demonstração de carinho era só conteúdo para mídia. Na verdade, Viktor não esperava que a luz de inspiração que Yūri se tornou em sua vida não quisesse fazer parte de outra história. Uma que ele vinha fantasiando há meses.

Yūri... Como pode ser tão... cruel? Nunca lhe passou pela cabeça que eu estava sendo sincero em meus gestos? Ou seria a minha covardia, meu medo de ser rejeitado, que lhe causou dúvidas? Não havia mais motivos para encenarmos, pois você se tornou um patinador reconhecido e querido pelo público. Por que ainda pensava assim?

Não adiantava pensar no que levara Yūri a achar que tudo era encenação, então, Viktor decidiu não insistir nesse assunto. Só comprovava que não havia de fato reciprocidade, para o seu próprio desgosto. E, desde então, embora Yūri tenha se desculpado por qualquer inconveniência no banquete e Viktor ter usado a desculpa de que estava bêbado e que não se lembrava de muita coisa, agiram como se nada tivesse acontecido. Era melhor assim, Viktor concluiu.

Mas agora, estava irritado consigo mesmo por não ter visto a apresentação de Yūri, que, certamente, teria vencido a Copa da Rússia. Claro que teria. Ele não o decepcionaria, ao menos quando se diz respeito ao esporte.

— Yūri! Você venceu! — Recepcionou-o com o seu melhor sorriso e de braços abertos, mantendo-se sentado na cama.

Yūri pareceu surpreso ao vê-lo com cateter nasal e com o braço preso a um soro, ainda assim, de bom humor.

— Devia ter visto... — ele tentou dizer.

— Diga-me com quantos pontos. — Gesticulava para que Yūri se aproximasse. Tentava disfarçar a alegria que não fosse pelo sucesso de seu patinador. De seu Yūri!

— 329,76. Consegui a marca de 130,55 de elementos técnicos. Foi a nota mais alta que já tive na vida! — falava com o rosto metade coberto por uma máscara hospitalar, mas ele sorria com os olhos, contagiante.

— Uau! Estou tão orgulhoso, Yūri! Sente-se aqui, comigo. — Abriu espaço na cama para Yūri poder se aconchegar. Abraçou-o finalmente quando ele se sentou ao seu lado. — Você sempre se sente mais motivado quando está competindo fora de casa. O que me faz pensar que, ter ficado em segundo lugar no programa curto, foi sua maneira de me poupar da humilhação que estava me reservando para esta noite, com o programa livre.

Yūri arregalou os olhos em resposta. Aquilo foi hilário para Viktor.

— O quê? Não! Eu me esforcei seriamente para não deixar você vencer!

— Não sei do que está falando, porque eu mesmo não me esforcei. Vamos, deixe-me ver sua apresentação.

Os minutos de silêncio entre eles foram ocupados pelo som da saída de áudio do celular de Yūri que reprisava a apresentação ganhadora. Viktor tinha de concordar que os movimentos eram mais graciosos e feitos com perfeição comparada a qualquer outra apresentação por ele já realizada. Mesmo ao final do vídeo, Viktor permaneceu olhando para o celular. Sentia-se tolo, desta vez.

— Hm.

— O que foi? — A voz do japonês saiu temerosa.

Viktor pegou na mão de Yūri. Permitiu-se sorrir para sanar a preocupação que surgia no olhar do outro.

— Privei-me de estar ao seu lado no pódio. Que tolice a minha.

Yūri estava visivelmente ansioso, parecia tomado pela necessidade de falar qualquer coisa. Viktor o olhava algumas vezes em soslaio.

— Você ficou doente. Não tem como prever isso, mas poderia ter se consultado antes e...

— Eu sei que a culpa é minha, é isso que estou dizendo. — Viktor devolveu o celular para Yūri, soltando a mão do japonês em seguida.

O silêncio, desta vez, era desconfortável, ao menos para o russo. Evitou manter Yūri em seu campo de visão, naquele momento. Havia tanto o que ser dito, preso em sua garganta. Sentia-se ferido sem pensar muito se tinha o direito de estar. E não era aquela resposta que ele esperava de seu...

— Viktor... Precisamos conversar definitivamente.

O tom sério chamou sua atenção e fez seu coração até bater mais forte. Voltou para Yūri que olhava para as próprias mãos que seguravam o celular. Imaginou que ele estava se esforçando muito para não fugir daquilo que parecia também atormentá-lo. Mas o russo não daria o braço a torcer, desta vez, deixaria que Yūri dissesse tudo o que pretendia com aquela conversa definitiva e, então, avaliaria a situação; se valeria a pena abrir seu coração ou fechá-lo de vez, sufocando seus sentimentos por Yūri até dizimá-los por completo. O que seria de si mesmo depois disso, Viktor não estava disposto a saber naquele momento.

— Você nunca deixou de me surpreender. Desde a primeira vez que o vi patinando, foi uma surpresa atrás da outra — Yūri começou dizendo e Viktor sentiu um pouco de calor que se formou em seu rosto pálido.

Quem diria que Viktor Nikiforov pudesse estar tão nervoso com o que iria ouvir de Yūri Katsuki? Suas mãos começaram a suar, foi quando voltou com seus olhos para a própria mão direita, a da aliança em seu dedo anelar. A expectativa daquela conversa estava o matando por dentro.

A aliança era o amuleto em agradecimento por tudo o que ele havia feito na carreira de Yūri, ainda assim, houve o momento em que o simbolismo daquele objeto não evitou que seu patinador tomasse uma decisão contrária e tão egoísta ao que o russo se baseava a nova carreira, que proporcionou na primeira discussão entre os dois. Viktor havia atribuído muito mais significado para aquele amuleto do que ele gostaria de admitir. E dizer que era um anel de noivado até Yūri ganhar o Grand Prix era a sua provocação para os demais patinadores. Mas quais seriam as consequências em dizer que queria ser para Yūri algo além de “amor abstrato”?

— E quando você se tornou meu técnico, foi tão surreal que, para mim, era como se um deus estivesse comigo.

Viktor se assustou por um momento com o rumo que a declaração de Yūri tomava.

— Acho que não devia ter criado tanta expectativa — respondeu com leveza, numa tentativa de amenizar uma possível queixa.

E, desta vez, Yūri ergueu o olhar para Viktor e o encarou.

— Ocorreu justamente o oposto. Você continuava a me surpreender. Eu estava com medo da intimidade que teríamos, com medo de te decepcionar com os meus defeitos. — Ele suspirou.

Viktor podia ouvir as engrenagens girando dentro da cabeça de Yūri, ainda que não soubesse o que estava sendo levado em conta à balança da decisão. Mas aquela conversa não era novidade. Aonde você quer chegar com isso, Yūri?

— Yūri, já tivemos essa conversa. Eu amo o que conheci e conheço de você! — Teve que se conter. Não queria roubar aquele momento de Yūri e de ouvi-lo por completo.

O outro assentiu.

— Sim, eu sei, que você conseguiu compreender como e quem eu sou e, apesar dos tropeços quando se tratava de minha ansiedade, você sempre procurou me deixar à vontade. Você confiou em mim e, o mais importante, me fez acreditar em mim mesmo. E, com isso, a imagem de “inalcançável” que eu tinha de você, saiu de vez da minha percepção. Você foi quem mais me inspirou a seguir meu coração e isso se tornou real, Viktor.

Que bom que um de nós teve sucesso nisso, pegou-se pensando como resposta, mas obliterou o pensamento rancoroso imediatamente. Não era justo com Yūri, por que estava tão amargurado? Por que ele não o correspondeu? Teria que aprender a lidar com essa frustração, não jogá-la no colo de seu aprendiz. Era como Yūri deveria ser tratado daqui para frente.

Viktor tentou sorrir para o seu locutor, mostrar que estava sendo um bom ouvinte e agradecer os elogios que lhe foram atribuídos. Era importante se sentir bem ao fazer o bem a alguém e Yūri estava sendo grato, reconhecia. A conversa não seguia para o rumo que Viktor pensou que estaria, era certo dizer que Yūri preparava o terreno para deixar-lhe claro de suas reais intenções. Conceber tal ideia, fez Viktor sentir seu coração quebrar em mil pedaços. Yūri não o via além de um ídolo que enxergou o potencial nele, um fã, para se tornar o atleta digno de apreciação.

Não conseguiu manter o olhar sobre Yūri, tinha que admitir que não estava preparado para aquela conversa. Mas sentiu sua mão ser segurada e percebeu que não era o único fragilizado ali. Yūri tentou manter um aperto firme, embora sua mão tremesse de nervoso.

— Eu não poderia ter escolhido pessoa melhor para c-cuidar de mim e depositar todo meu amor.

Viktor virou-se para encará-lo novamente. Yūri sorria em meio as lágrimas que começaram a escapar de seus olhos castanhos tão brilhantes e tão profundos.

— Yūri... — As palavras sumiram em meio a emoção que invadia seu peito.

— Eu... amo a lenda viva da patinação, mas por todo esse tempo de convivência, eu aprendi a amar mais a pessoa que me pediu para morar com ela... — A pausa não poderia ter sido mais conveniente para os dois, Viktor segurou o seu mundo com as próprias mãos, tirou a máscara dele e pôde demonstrar seu amor por Yūri com um beijo.


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Notas finais do capítulo

Gostei de escrever esse capítulo. Apesar de não ter sido fácil estar na pele do Viktor. Mas finalmente houve uma alegria nessa história, não é mesmo? Nem eu estava mais aguentando prolongar o "sofrimento" dos meus amores. Nada de amor abstrato, Yūri!

Bem, digam-me o que acharam desse capítulo, é importante para mim.
Em todo caso, a história terminará no próximo capítulo. Se gostaram, não fiquem tristes, tem muita fanfic maravilhosa desses dois por aí,okay?

Fiquem bem e até a próxima!



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