Better Days escrita por oicarool


Capítulo 9
Capítulo 9




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A interação das comemorações do aniversário de Brandão foi observada por todos os Benedito, mas um deles tinha os olhos mais atentos. Era natural dele, após cinco filhas, e agora nove netos. Felisberto Benedito aprendera com a vida a ser um observador silencioso, tentando sempre interferir o menos possível nos conflitos.

Sete anos antes, quando encontrou Elisabeta chorando com uma carta na mão, Felisberto tomou a filha nos braços. Ouviu pacientemente ela confessar sua gravidez, e lamentar por Darcy Williamson não querer ser o pai de seu filho. Viu a esperança no olhar da filha crescer junto com sua barriga, e sua mais velha transformou-se em mãe muito antes de Thomas nascer.

Mas apesar de ter lido todas as cartas que Darcy enviou, Felisberto nunca conseguiu ligar as atitudes ao homem que conhecera. O inglês aparecera no Vale do Café como um pretendente em potencial para todas as moças solteiras. Mas desde o primeiro momento, Darcy teve apenas olhos para sua Elisabeta.

Viu o homem tentar entender sua menina, respeitar suas vontades e desmandos, e quando finalmente o recebeu em casa como genro, tinha a certeza de que ninguém mais poderia completar Elisabeta como Darcy Williamson faria. E por isso foi uma enorme surpresa que, de repente, ele se mostrasse uma pessoa diferente.

Como o mediador que era, Felisberto preocupou-se em ouvir todos os lados. Procurou Lorde Williamson quando o nobre retornou à cidade anos antes. Questionou-se a respeito de Darcy, a respeito do neto. E nunca esqueceu-se da expressão de desdém do inglês, informando-o que fora uma escolha de Darcy.

Agora ouvira atentamente o relato de Julieta a respeito de Darcy. A Rainha do Café fora clara a respeito do espanto do homem, de sua reação que não poderia ser fingida, que não haveria porque ser fingida. Ouvira também as suspeitas dos genros de que Darcy realmente não sabia de nada, e então, na noite anterior, decidira que não podia mais evitar confrontar Darcy.

Pois o homem que estivera em sua casa era o mesmo que conhecera anos antes. Generoso e paciente, e olhava para Tom com os mesmos olhos que ele via em Elisabeta. E alguém que fosse capaz de tal sentimento de forma tão rápida dificilmente viraria as costas para um filho, independente do motivo.

E então o vira com Elisabeta, e poderia apostar que os sentimentos de Darcy por sua filha estavam intactos. Era incompreensível para Felisberto o que havia acontecido entre eles, e foi motivado por todos estes fatos e suspeitas que ele chegou a Fazenda Ouro Verde.

Darcy espantou-se ao ver o ex-sogro parado em sua sala. Seu primeiro pensamento foi que talvez tivesse ultrapassado os limites, que Elisabeta estivesse incomodada com a noite anterior. Mas o olhar do homem era curioso e assemelhava-se ao carinho que Darcy sempre vira ao chegar à casa dos Benedito.

— Meu rapaz. – Felisberto estendeu a mão. – Me perdoe vir sem avisar, mas eu precisava conversar com você.

— É claro, seu Felisberto. Sente-se, por favor.

— Darcy, eu preciso que você me conte exatamente o que aconteceu há sete anos. – Felisberto suspirou. – Eu não estou aqui para julgar, estou aqui para entender.

— Sim. – Darcy assentiu. – Como o senhor sabe, eu precisei retornar à Inglaterra naquele verão. Havia um curso de atualização e meu falecido pai estava pressionando para que eu voltasse à Londres.

— Eu recordo. – o mais velho disse.

— Eu não queria ir. Já não imaginava mais minha vida sem Elisabeta, e embora ela não quisesse se casar tão cedo, eu estava disposto a esperar. Os meus planos eram retonar ao Vale do Café o mais rápido possível.

Darcy foi tomado pela emoção.

— Foi quando a primeira carta de Elisabeta chegou. Terminava tudo comigo sem justificativa, pedindo para que eu não a procurasse mais. – lamentou. – E foi assim nas cartas seguintes, até ela confessar que estava comprometida com outro.

— Elisabeta? – Felisberto espantou-se.

— Eu nunca a procurei, pois ela me pediu. Desde a primeira carta Elisabeta me pediu que não retornasse, que não a procurasse. E hoje entendo o porque.

— E nessas supostas cartas, alguma vez ela citou Tom? – Felisberto arqueou a sobrancelha.

— Não. Por Deus, não. – Darcy passou a mão pelo rosto, levantando-se. – Seu Felisberto, se em algum momento, se eu tivesse ideia de que Elisa estava grávida, eu teria retornado.

Felisberto continuou observando Darcy.

— Eu seria incapaz de abandonar meu filho. E eu não entendo o porque de Elisa tê-lo escondido de mim.

— Meu rapaz, eu acho que há mais nessa história. – Felisberto lamentou. – Minha filha nunca faria isso.

Darcy sentou-se novamente, aflito.

— A verdade é que Elisa escreveu cartas à você contando a respeito de Tom. E sei que recebeu respostas, onde você, ou alguém se passando por você, disse não ter interesse na gestação.

— Eu nunca...

— E esse alguém continuou enviando dinheiro mensalmente em seu nome.

Darcy passou a mão pelos cabelos, frustrado. Já tinha pensado na possibilidade de que fosse tudo uma armação. Mas quem faria aquilo, e com qual objetivo?

— Mas por que? – perguntou, quase sem voz.

— Eu não sei, Darcy. E independente do que aconteceu, muito tempo se passou, muitas mágoas foram criadas. Elisabeta sofreu muito.

Darcy assentiu, já sentindo os olhos ardendo.

— Eu quero descobrir o que aconteceu, seu Felisberto. – Darcy fungou. – Mas eu não tenho tempo pra isso agora. Eu já perdi tempo demais da vida de Tom.

Felisberto levantou-se, colocando uma das mãos no ombro de Darcy.

— E a verdade é que mesmo que alguém tenha armado tudo isso, eu e Elisabeta acreditamos em tudo. Por causa disso eu perdi a vida inteira do meu filho, e Tom acredita que não tem um pai.

— Darcy, você já está dando os primeiros passos. – Felisberto sorriu.

— Mas eu tenho muito tempo a recuperar.

Darcy caiu em um choro triste, soluçando. Não estava acostumado a ser tão emotivo, mas desde que voltara ao Vale do Café, desde que descobrira que tinha um filho, fora inundado por novas sensações. E a maior delas era a de que havia perdido o crescimento de seu filho, o que o enchia de tristeza.

Felisberto sentou-se ao lado de Darcy e passou a mão por seu ombro. Agora tinha certeza de que fora tudo uma armação. Mas nem Darcy e nem Elisabeta estavam prontos para aquele confronto. Seu ex-genro fora lúcido ao dizer que, independente dos caminhos, o destino era um só.

Pretendia investigar, apesar de só ter um suspeito em mente. Mas o mais importante era que Darcy e Tom pudessem se reencontrar, e em um segundo momento Elisabeta e Darcy poderiam ao menos encontrar a paz das respostas.

— Vamos, Darcy. – Felisberto disse, quando o choro do rapaz diminuiu. – Lave o rosto, vamos encontrar seu filho.

##

Elisabeta e Tom escovavam Tornado, pacientemente. Ao menos Elisabeta executava a tarefa pacientemente. Tom a cada dois minutos questionava a que horas poderiam finalmente montar e sair para seu passeio. O garoto estava aflito, uma vez que seus primos poderiam chegar à qualquer momento e então seus planos estariam arruinados.

— Bom dia. – Darcy bateu na porteira de madeira, espantando os dois.

— Darcy! – mãe e filho disseram, em tom completamente diferente.

— Tudo bem? – ele sorriu, mas Elisabeta não deixou de notar os olhos inchados. – Atrapalho?

— Eu e mamãe estamos escovando Tornado, e depois vamos passear.

— Eu estou escovando Tornado enquanto você atrapalha, mocinho. – ela cutucou o nariz do filho.

— Brisa já está boa? – o garoto arregalou os olhos. – Darcy poderia ir com a gente, não poderia?

Elisabeta franziu a testa, olhando para Darcy. O homem tinha um olhar quase de súplica.

— Poderia. – ela deu de ombros.

— Brisa está melhor. – Darcy olhou para trás. – Está comendo algumas flores da sua avó.

— Talvez você devesse trazê-la para cá. – Tom o encarou espantado.

— Não, já terminamos aqui. Deixe eu aprontar Tornado. – Elisabeta sorriu para o filho.

Elisabeta logo saiu com Tornado já selado, puxando-o pelas rédeas. Darcy e Tom estavam observando a pata de Brisa, enquanto Darcy contava sobre seu processo de cura. Ela foi tomada por uma nova emoção ao ver a égua novamente.

— Ei, garota. – Elisabeta aproximou-se, acariciando a cabeça. – Lembra de mim?

A égua relinchou, seguida por Tornado, fazendo os três rirem.

— Vamos? – Darcy perguntou, ansioso.

— Vamos! – Tom disse, empolgado.

Sem qualquer dificuldade Darcy ajudou Tom a subir em Tornado, e Elisabeta montou no cavalo logo em seguida. Não perdeu tempo ao montar em Brisa, e foi com apenas um olhar para Elisabeta que os dois começaram a trotar, como nos velhos tempos, como se nada tivesse mudado, exceto pelo garoto com olhos brilhantes que os acompanhava.

Foram a mais um dos lugares que costumavam ir quando mais jovens. Era quase espantoso a quantidade de locais que tomaram para si anos antes. Agora todas as paisagens do Vale do Café eram parte de suas memórias, parte daquela história que dividiram.

Desceram dos cavalos em um descampado, e caminharam pelo sol da manhã. Tom contava histórias sobre seus primos, sobre suas brincadeiras, sobre os cavalos e sua vida com os avós. Darcy o observava emocionado, e de repente viu Elisabeta o observando, seus olhos também marejados. O garoto disparou, distraído com qualquer coisa.

— Ele é inacreditável. – Darcy disse, em voz baixa. – Quando olho para ele só consigo pensar em quanto tempo eu perdi.

— Ele cresceu rápido demais. – Elisabeta sorriu.

— Tom é tão inteligente, expressivo. Me lembra tanto você, Elisa... – ele também sorriu.

— É um pouco de nós dois. – ela viu-se dizendo.

— Darcy, venha ver! – Tom voltou correndo, pegando Darcy pela mão.

Deram alguns passos e logo estavam observando uma das paisagens preferidas de Darcy. Havia uma imensidão no Vale do Café, e tudo era verde até perder-se de vista. Costumava fazer Darcy sentir-se pequeno diante do mundo, mas agora seu coração estava disparado.

Havia um mundo à sua frente, mas havia um mundo ainda maior à seu lado. Nenhuma natureza era capaz de se equiparar a beleza daqueles olhos verdes brilhantes, do sorriso infantil que despontava a cada nova observação, em uma fala que trazia vida à tudo. Thomas era tudo que Darcy conseguia pensar.

Era seu amor por Elisabeta multiplicado. Trazia o mesmo fascínio, a mesma inquietude que a mãe. Era como se ele fosse incapaz de lidar com tanto, incapaz de dar conta daquela força, daquele sentimento tão poderoso. Mal teve tempo de limpar uma lágrima, antes que Tom oferecesse sua outra mão à mãe.

O garoto não tinha qualquer noção do que acontecia ali, da emoção que tomava seus pais. Elisabeta viu-se segurando as lágrimas ao segurar a mão do filho. Estavam ali os três, como tantas vezes ela e Darcy sonharam. A diferença é que agora a família de que tanto falavam tinha um rosto.

E ao mesmo tempo era tudo completamente o oposto do que imaginaram. Não estavam juntos, e havia mais mágoas entre eles do que pensariam ser possível. Tom ainda não sabia que Darcy era seu pai, e ambos temiam pela reação do garoto quando tivessem a coragem necessária para contar.

Mas ficaram ali assim mesmo, e agradeceram quando Tom reiniciou seus relatos, já cansado de observar a paisagem. Contou à Darcy sobre cada um de seus primos, sobre as apostas que fazia com os garotos e as implicâncias com as meninas. Darcy ouvia tudo com curiosidade.

Quando voltaram à casa dos Benedito, um par de horas depois, Darcy e Elisabeta estavam exaustos. Seus corações estavam inundados, errando as batidas, as respirações aceleradas. Darcy despediu-se dos dois e montou em Brisa, galopando para longe. Antes mesmo de cruzar a porteira, as lágrimas já caiam.

Elisabeta beijou a testa do filho, que foi correndo encontrar os primos. Trancou-se em seu quarto e deixou que as lágrimas fluíssem. Era muito. Era apenas muito. Muitos sentimentos, muitas memórias. Ver Darcy com Tom, conviver com Darcy, era apenas exaustivo, despertava nela mais do que era capaz de lidar.

Enquanto isso, no jardim, Tom contava empolgado sobre seu passeio. Felisberto observava o neto com um sorriso. Sabia o quanto estava sendo dolorido para seus pais, mas a verdade é que nada faria melhor para aquela criança do que saber que Darcy era o pai que ele tanto sonhava. E já era claro que Elisabeta e Darcy colocavam o filho em primeiro lugar, independente de suas mágoas.


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