As colinas íngremes da Vila da Nevoa foram rapidamente cobertas pelo branco do inverno. Os flocos cristalizados, em um par de dias, haviam coberto tudo que restara do Outono. Os passos ritmados dos dois rapidamente marcaram a espessa camada de neve que se estendia no lugarejo.

Sakura ia um pouco atrás, esfregando as mãos e expirando o ar gélido. Seus lábios estavam rachados. Ela passara o dia em uma tenda da aldeia oferecendo ajuda médica devido a uma epidemia viral que havia se instalado. Segundo ela, era apenas um mal da estação.

"Por que aqui tem que ser tão frio?" ela perguntou lutando contra a neve fofa que arrastava suas pernas para baixo a cada passada.

Os olhos de Sasuke se estreitaram. Havia uma margem muito pequena de coisas que Sakura desgostava, "você não gosta do inverno?"

Ela o alcançou, colocando-se a seu lado.

"Não é como se eu não gostasse, é só... Difícil" ela soprou as mãos, "eu tenho que passar o dia lavando e esterilizando minhas mãos,  nem posso recorrer a luvas quentinhas e agradáveis durante o expediente porque o hospital está sempre cheio nessa época e todas as ferramentas estão geladas. Sem contar que mesmo em missão luvas fechadas são sempre inadequadas", elas esfregou as mãos no cachecol.

"Parece com não gostar".

Os dois pararam em frente a um lago cristalizado onde algumas crianças brincavam.

"É uma expressão muito forte", ela debateu relutante "Eu gosto de tomar chocolate em casa e de ver as crianças se divertindo na neve, por exemplo. Mas é só... Muito gelado" ela murmurou, soprando o ar gélido mais uma vez.

Sasuke observou que os lábios secos dela estavam esbranquiçados e ele podia imaginar o quão fria estavam suas mãos. Fazia muito sentido seu desagrado. Sakura e frio eram  quase uma antítese considerando que a  médica-nin era, de todos os modos, abrasadora.

Ele se viu movendo-se para mais perto e antes que Sakura pudesse registrar, a única mão dele havia se arrastado por suas costas e sua testa estava pressionada contra o peito duro de Sasuke.

 Ela inspirou o ar em volta sentindo o próprio coração ricochetear. Era um abraço rígido, a postura de Sasuke estava tensa, denunciando a falta de hábito e ela mesma não se viu capaz de mover um músculo por um quicar de segundos.

Sakura já o abraçara. Várias vezes. Alguns abraços foram iniciados à revelia, como na floresta da Morte, outros não solicitados, mas que pareciam devidamente ansiados. Era algo natural para ela. Ele nunca a repelia, apesar de sua resistência a contato físico. Ela apenas assumia que ele não sabia o que fazer. Tendo-o ali, abraçando-a com tamanha ausência de propriedade ela podia ter certeza.

Então as mãos dela vagarosamente ladearam o corpo masculino, enterrando-se em suas costas. Sasuke, ao contrário do que todos diziam, era quente. Quente e confortável, de um modo que ela se viu fechando os olhos e apoiando o rosto em sua camisa, absorvendo seu calor.

"Sakura, não quebre nada", ele pediu, forçando a saída de ar.

Sakura riu, afrouxando os braços. Só um pouco, "Por que faria isso?" ela perguntou e fechou os olhos, aconchegando-se ainda mais em seu peito, "Você é muito quentinho, Sasuke-kun. Quentinho e confortável".

Foi a vez dele apertá-la em seus braços. Ela podia ouvir o retumbar suave no lado esquerdo e os dois permaneceram unidos, rendidos a calidez dos braços um do outro mesmo quando os primeiros flocos de neve da tarde começaram a cair. Naquele momento, aquele abraço era a única proteção que precisavam.