O som do despertador novamente me trouxe de volta à realidade. E que droga de realidade. 

Na noite anterior eu decidi que tinha sido completamente ridícula ontem, que eu tinha - e essa revelação doeu no meu orgulho - sido completamente injusta com o loiro oxigenado. Ele, afinal, não tinha muita culpa de ter se fixado na minha mente desse jeito. Se minhas histórias insistiam em ter ele como alguma figura constante, eu só podia então garantir que isso não se repetisse no mundo real. E eu escolhi uma forma péssima de fazer isso. Eu pesquisei, ontem, na internet e descobri que se trata de um comportamento passivo agressivo, e que não é bom mas é, ainda, melhor do que o comportamento agressivo, que seria como eu me comportei com a Camile - não me arrependo desse. 

E perceber isso não quer dizer que eu gosto do loirinho. Chegar a essa conclusão não quer dizer que a partir de agora eu vou tentar me aproximar dele, nem pensar. Só quer dizer que eu fui bem chata ontem, e que despejei meu estresse em relação ao inferno - vulgo escola - em cima de um garoto que apesar de metido e completamente irritante, não tinha nada haver com isso.

Em fim, depois de perceber a cova que eu cavei, a decisão foi tomada. Eu iria pedir desculpas. Porque - ai - eu estava errada. 

Depois de fazer minha higiene pessoal, decidir o que iria vestir - uma jardineira de calça preta e uma blusa listada azul de manga comprida por baixo - e pegar meu computador, vulgo Shane, e sim eu dei nome ao meu computador: é nele em que estão todas as minhas criações, minha alma, ele merece um nome - pulei as pilhas de papéis e livros no chão do meu quarto e desci a escada. 

Caminhei até a cozinha onde encontrei papai fazendo torradas e mamãe na ilha comendo enquanto rabiscava algo em seu caderno. 

— Bom Dia - eu disse enquanto bocejava.

— Bom dia querida - mamãe disse me puxando para um beijo na minha bochecha.

— Bom dia Clary - meu pai murmurou enquanto tentava não queimar as torradas.

— Alguém já acordou o Jonathan? - falei - eu não quero chegar atrasada...             

Odeio chegar na sala depois que o sinal bate, parece que colocaram holofotes sobre a minha pessoa e todo mundo fica encarando. 

— Não tem necessidade para isso - Jonathan fala enquanto desce a escada de dois em dois degraus.

— Bom dia - mamãe e papai falam da cozinha. 

Eu só aceno para meu irmão enquanto caminho até a bancada perto do fogão onde meu pai está, para pegar uma das torradas. Ele tenta bater na minha mão quando me vê pegando, mas já é tarde demais e eu já estou de volta ao meu lugar na ilha colocando um pedaço de queijo e geleia em cima do pão crocante. 

Jonathan ri - Nós temos uns vinte minutos Clary, não vamos chegar atrasados. 

— É, sei... do mesmo modo que a gente tinha trinta minutos antes daquela festa nas férias e ainda assim chegamos uma hora atrasados.

— Você nunca esquece essas coisas não é?

— Nada que possa me servir futuramente irmãozinho.

Nós dois rimos e ele pega uma das torradas do prato que o papai agora colocou na bancada da ilha. 

Eu termino de comer e vou até a geladeira pegar o suco de melancia que a mamãe fez ontem. 

Pego copos para todo mundo e os coloco junto com o prato de torradas na ilha. 

— Pai, Mãe - Jonathan pergunta.

— Sim? - eles respondem.

— Hoje à tarde eu queria trazer alguns amigos aqui para casa - eu olho para meu irmão, é meio estranho andar com o grupo de Jonathan. Os amigos dele são legais, mas meu irmão fica meio possessivo “ Não ousem tocar na minha irmãzinha e blah blah blah”. Então eles têm um pouco de medo de mexer comigo. Eu tive um crush enorme no Jordan a uns dois anos atrás, quando chamei ele para sair ele disse sim e ficamos todos felizes. Ele me deu bolo no encontro, me falou depois que foi porque Jonathan o ameaçou. 

Aquilo gerou uma discussão tremenda, quem o meu irmão pensava que era para controlar os meus relacionamentos! Mas ele não cedeu e continuou achando que estava certo “ Eu conheço esses garotos Clary, eles só querem sexo, não querem um relacionamento, você não é o tipo de menina para eles” ele tinha falado, “ Jonathan!  Em primeiro lugar, você é um desses garotos!” Eu tinha gritado. Fiquei sem falar com ele por um bom tempo, até ele me pedir desculpas e falar que não queria me ver magoada, até achei fofo e perdoei. Então agora eu convivo com os meninos só na amizade, eles são legais e fofos comigo mas nós nunca tivemos mais que isso, o clima não é bom quando tentamos. 

— Quantos amigos você quer trazer Jon? - meu pai pergunta.

— Quatro? Por aí, juro que não mais que cinco.

— Tudo bem filho - minha mãe fala.

Eu continuo comendo até olhar pra o relógio. Ótimo, cinco minutos para chegar e entrar na sala. 

— Jonathan engole isso! Estamos atrasados - eu saio correndo para escovar meus dentes e pegar minha mochila. 

Quando volto para a cozinha dou um beijo na bochecha da minha mãe e do meu pai, agarro meu irmão pelo braço e o arrasto até o carro enquanto ele ri e acena para meus pais. 

O caminho até a escola é rápido e chegamos faltando dois minutos para que o sinal toque. Agradeço ao universo pelo fato de morarmos tão perto da escola e me dirijo a sala de aula preparada para o que irei fazer no intervalo. 

Eu irei pedir desculpas, eu devo essa dignidade a mim mesma.