A princesa proibida escrita por Helena Melbourne


Capítulo 20
Coroa de espinhos




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Como seu ritual diário Scar foi visitar a sepultura da mãe na igreja. Não o agradava estar naquele lugar com todas aquelas imagens fitando-o com olhos acusadores enquanto contava para Uru seus planos de vingança, porém, era o que mantinha sua sanidade.

Levou mais uma margarida para a mãe, que todo dia era retirada pelo ajudante do padre, logo após Scar deixar o local. A igreja precisava estar limpa, impecável para transmitir paz e segurança, mesmo que em seu solo não houvesse nada menos do que morte.

— Eu prometo, mãe. A senhora ainda me verá rei.

Tudo o que ele necessitava era de uma fagulha para fazer o que precisava ser feito e a teve naquela noite. Avistou o rei com uma amante ruiva conversando em um corredor deserto do castelo, Scar se escondeu e com nojo ouviu o som de gemidos e beijos trocados.

“Eu prometo, Tara. Farei de Mufasa o rei e assim, serei livre e poderei casar-me finalmente contigo.” Ahadi sussurrou baixinho, mas o suficiente para Taka ouvir, os dois riram empolgados.

O peito de Scar inflou-se, um zunido invadiu seus ouvidos, sentindo uma pressão forte na cabeça e as mãos passaram a tremer furiosamente. Ódio puro apoderou-se dele naquele momento. Ele preferia a morte a perder o trono e ver o pai feliz com outra mulher no aposento de sua mãe. Ele preferia banhar as mãos com sangue do seu sangue do que ver o fedelho que sempre odiou tomar o que era seu por direito.

Foi até seu quarto e pegou a espada, que embora sem muito uso ou prática, era tão letal quanto empunhada pelo melhor guerreiro. Colocou-a na bainha de suas vestes e quando abriu a porta deparou-se com os olhos azuis surpresos de sua noiva, esta adentrou o recinto.

— Scar... para onde vai? Achei que iríamos... – ela parou para analisa-lo e viu a arma, que ele tentava esconder de sua visão com o corpo. – O que vai fazer com essa espada, Scar? – ela perguntou temerosa, viu o brilho furioso nas esmeraldas que ela tanto apreciava.

— Conversamos depois, Sarabi, tenho que ir a um lugar. – ele tentou passar por ela, porém, o bloqueou com o corpo, cruzando os braços.

— Vai me dizer agora mesmo o que fará, senhor! – ela devolveu autoritária. Ele bufou.

— Preciso acabar com isso, Sarabi. Ahadi vai colocar aquele verme no trono. NO MEU TRONO! – ele socou a porta de madeira atrás da princesa, que estremeceu com aquela atitude. Sabia das explosões de Scar, entretanto, nunca o vira agir assim em sua frente e, pela primeira vez, teve medo do amor de sua vida e mais ainda do que estava por vir. Ele estava completamente descontrolado, não reconhecia o homem carinhoso com quem trocou juras de amor eterno.

— Mufasa jamais tomaria seu trono, Scar. Ele não aceitaria isso. – ela controlou a própria voz para torna-la compreensível, seu corpo tremia e os olhos ameaçavam marejar. Ao ouvir tais palavras, o príncipe sorriu maldoso e em seguida gargalhou descontroladamente.

— Então é isso? Vossa Alteza também acredita que Mufasa seja um santo? Acha que ele não tomaria meu trono se o entregassem de bandeja? – riu novamente debochado, transparecendo todo seu ódio. – Escute aqui, Sarabe, se minha mão direita me impedisse de ser rei, eu a cortaria fora. Não terei misericórdia de quem se colocar em meu caminho. – ele falou entre dentes a encurralando na porta, um arrepio congelante percorreu a espinha da princesa, Scar parecia mais um animal peçonhento do que homem.

Sem dizer mais uma palavra, Scar deixou o aposento e uma menina assustada e de lágrimas silenciosas para trás. Então ali estava em frente ao altar da igreja, ajoelhado na lápide fria de mármore, pedindo à mãe que intercedesse por ele em seu plano.

Após fazer o sinal da cruz saiu do local com um sorriso maldoso admirando o retrato de Judas num dos vitrais coloridos da igreja, iluminado pelos castiçais. Scar conhecia seu castelo como ninguém e das passagens secretas que levavam aos aposentos reais, caso precisassem fugir rapidamente. Uma arquitetura muito inteligente e perfeita para seu plano, ninguém o identificaria.

Puxou a velha maçaneta para baixo e com lentidão empurrou a porta falsa, que rangeu ao ser aberta, revelando um quarto imenso, digno do favorito do rei. Na outra extremidade do aposento, uma grande cama com dossel de veludo vermelho impedia sua visão de encontrar seu alvo. O coração de Scar acelerou-se em puro prazer e adrenalina, temeu que o irmão pudesse ouvir seus batimentos. Suas mãos coçavam para realizar logo seu trabalho, entretanto, parte dele queria que aquele momento durasse para sempre. O desejou tanto, o fantasiou tantas manhãs ao acordar e tantas noites antes de adormecer. Era seu momento de glória. Então, achegou-se na cabeceira e retirou o tecido avermelhado, revelando o menino ruivo, dormindo sereno com a respiração tranquila. Ele mal saberia o que ou quem o atingia, Taka almejava ver a vida ser sugado dos olhos de Mufasa antes de fechá-los para sempre. Porém, precisava ser rápido, assim, empunhou a espada no ar, mas no momento em que ia afundá-la no pescoço alvo do menor, um som de aplauso vindo de um canto do cômodo o distraiu e despertou o outro.

— Muito bem, Scar. – uma voz grave dizia. Scar congelou, a reconhecia muito bem.

— Scar? Pai? O que fazem aqui? – estava escuro, a única luz vinha do luar amarelado, atravessando as janelas altas do quarto do menino e iluminando seu rosto parcialmente, mas Scar estava nas sombras, portanto, o mais novo não o vira.

— Seja homem uma vez e venha para a luz para que seu irmão possa vê-lo e o que estava prestes a fazer. – a voz do pai era estranhamente calma, como se não estivesse surpreso ou espantado. O mais velho dos príncipes obedeceu sem resistência, não havia o que fazer, se atacasse Mufasa, o pai o mataria em seguida.

— Scar... você... – o ruivo balbuciou sem conseguir formular a frase. O outro o encarava sem emoção, sem um pingo de escrúpulo.

— Seu próprio irmão iria mata-lo, Mufasa. Covardemente, para garantir sua posição como próximo rei. – os lábios do rei curvaram-se em desdém inevitavelmente. - Está claro que teve de usar um método tão desonroso porque sabe não ser merecedor do trono.

— Eu sou o primogênito! Eu serei rei! – gritou tremendo. – Mas você nunca quis isso, nunca me aceitou como filho ou como sucessor! Sempre preferiu esse verme! Eu o ouvi dizer que faria de Mufasa rei, por quê? Por que sempre me odiou? –permitiu a velha ferida mal fechada abrir-se novamente, chorou amargamente sem orgulho na frente do monstro que o gerou. No entanto, o pai não se abalou.

— Não se faça de vítima, Scar. Os tratei da mesma forma, porém, desde cedo percebi que você não passava de um fraco, um covarde, protegido demais por aquela sua mãe. E agora vejo que estou certo. – os nervos de Taka entraram em colapso ao ouvi-lo falar de Uru. – No entanto, para não dizer que sou injusto, lhe darei mais uma chance de se provar. – Ahadi falou calmamente e uma fagulha de esperança se estampou na face marcada do menino. – Os dois lutarão aqui e agora pela sucessão ao trono, nada mais razoável após sua tentativa ridícula de assassinato, Scar.

— M-mas eu não quero ser rei, pai! Eu abdico! – falou decidido o ruivo.

— Quieto, Mufasa! Onde está seu orgulho? Este vil acabou de ameaçar tirar-lhe a vida. Se não lutar, matarei os dois, não quero nenhum covarde como herdeiro. – bradou arrancando a própria espada ameaçadoramente e apontou-a aos filhos. – Lutarão até a morte. – ele sabia que se o mais velho ganhasse, mataria o mais novo quando fosse rei e caso perdesse não se contentaria e tentaria novamente.

Scar sorriu com escárnio olhando o mais novo, era sua chance de se mostrar ao pai e derrotar aquele que sempre odiou. Mufasa suspirou e apanhou sua espada sem vontade. Não almejava o trono, muito menos lutar contra o irmão mais velho, tinha lembranças de quando eram jovens e se davam bem, esperava que um dia pudessem ser assim novamente, no entanto, não cederia a própria vida por culpa dos caprichos de Scar.

— Lutem! –ordenou o pai, após acender velas no aposento, tornando possível uma melhor visualização.

Scar deu início à luta com um golpe alto, que logo foi defendido pelo ruivo. Scar era mais magro e lento, sua técnica não era das melhores, sempre mostrou mais aptidão para livros do que para batalhas. Já Mufasa tinha uma técnica impecável e astuta, orgulhando o pai, ele era calmo e estratégico.

Scar parecia dar golpes de fúria sem sentido no ar, gastava todo seu fôlego em demonstrar sua raiva e logo se cansaria. Depositou sua força apenas no braço, enquanto o irmão usava todo o corpo para defender-se de suas investidas. Em um de seus cortes com a espada conseguiu atingir a cintura de Mufasa num raspão, sorriu ao ver um filete de sangue aparecer. O mais novo balançou a cabeça e decidiu partir para a ofensiva igualmente, então, com agilidade em cima e embaixo cruzou suas armas, porém, na outra vez que golpeou alto, fez um movimento circular com a mão e depois empurrou, vendo que o braço de Taka estava cansado e muito separado do corpo, seria fácil desarmá-lo e assim o fez. Derrubou um Scar ofegante no chão junto à espada e apontou sua própria ao pescoço do mais velho.

— Termine de uma vez, Mufasa! – ordenou o pai em expectativa. Os dois irmãos se encaravam, o ruivo com serenidade e o moreno transbordando toda ódio nas esmeraldas.

— Não, pai. Não o matarei. – baixou a espada. – No entanto, não posso deixá-lo mais em Reichstein, Scar. Você é perigoso demais, portanto, como rei, irei bani-lo de nossas terras por um tempo mínimo de dez anos. – suspirou chateado. – Após este período, poderá retornar e será reavaliado. Agora, suma de minha frente. –virou-se de costas não querendo olhar para o irmão.

— Muito nobre de sua parte, meu filho. – Ahadi elogiou.

Engolindo todo seu orgulho, Scar deixou o recinto batendo a porta com a força restante, não havia como voltar atrás, sua máscara caíra. Não havia ninguém para recorrer, fizera inimigos demais dentro do castelo e ninguém o apoiaria. Porém, ainda havia uma pessoa que o amava, a única em quem confiava com a vida. Talvez pudesse deixar tudo para trás, o estúpido reino com Mufasa, o pai... Sim, pegaria uma boa quantidade de ouro e viveria com seu amor, Sarabi era sua e a levaria consigo. Neste pensamento seu coração seu aqueceu com a ideia e correu até o quarto na esperança da amada o aguardar ali. 

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Como o esperado, Sarabi estava no quarto, ela dormia em sua cama. O semblante da amada era turbulento, como se toda a paz fosse retirada de seu ser, então, aproximou-se e sentou-se ali para admirá-la. Ele perdeu o trono, mas ainda tinha sua rainha, todo o amor dela era direcionado para si e isso nem mesmo Mufasa poderia retirar. Pegou uma madeixa loira, afastando-a do rosto pálido e selou seus lábios num beijo caloroso.

Run away with me                        (Fuja comigo)

Lost souls in revelry                      (Almas perdidas em farra)

Running wild and running free     (Correndo selvagem e correndo livre)

Two kids, you and me (hey)          (Duas crianças, você e eu)

Num susto, Sarabi despertou e encontrou esmeraldas calmas, tão diferentes das tempestuosas que se deparou mais cedo. Ele sorriu sentindo-a relaxar e corresponder o beijo ardentemente, trouxe-a para mais perto de si e a abraçou com carinho, mas em possessão.

— Fuja comigo. –sussurrou num comando doce. Beijou o lóbulo da orelha dela e desceu para o pescoço, deixando uma trilha quente na pele já arrepiada.

And I say                                   ( E eu digo,)

hey, hey hey hey                       ( hey, hey, hey, hey)

Living like we're renegades     (Vivendo como renegados)

Renegades                                (Renegados)

Renegades                                (Renegados)

— O quê? – ela acordou afastando-se subitamente. Ele abaixou a cabeça sombriamente.

— Eu perdi o trono, Sarabe, quando cheguei Adadi me aguardava e me fez lutar contra Mufasa e o bastardinho ganhou. Ele me baniu das terras do reino. – apertou as mãos em punho e em seguida relaxou. – Mas isso não importa mais, não vê? É uma chance de recomeçar, você e eu, venha comigo. – seu coração batia forte e esperançoso, mas a menina nada disse, apenas olhou para as mãos e derramou lágrimas.

Long live the pioneers           (Vida longa aos pioneiros)

Rebels and mutineers            (Rebeldes e revoltosos)

Go forth and have no fear     (Vá adiante e não tenha medo)

Come close and lend an ear   (Chegue perto e preste atenção)

— Me desculpe, Scar. Eu entrei em pânico quando me disse que mataria Mufasa e fui contar a seu pai. – ela chorou alto agora. – Mas você não me deu escolha, o caminho no qual trilhou, eu não posso seguir. – as palavras de Sarabi perfuraram seu coração numa dor aguda da maneira como a espada de seu irmão jamais poderia ter feito.

And I say                                   ( E eu digo,)

hey, hey hey hey                       ( hey, hey, hey, hey)

Living like we're renegades     (Vivendo como renegados)

Renegades                                (Renegados)

Renegades                                (Renegados)

— Outro dia me disse para não ter ciúmes de meu irmão, pois nunca me trocaria por ele ou ninguém. Disse que era minha, só minha! Agora está disposta a se casar com ele? – ele pegou sua espada e numa ato de ira passou a destruir tudo o que via pela frente.

— Para! Pare, Scar! – ela pediu numa súpica em meio ao choro. – Eu o amo, mas você causou isso, Scar. Sua obsessão em superar seu irmão se voltou contra você e agora perdeu tudo. Não coloque essa culpa em mim! – ela despejou, ele respirava de costas para ela com dificuldade, tentando se controlar para não fazer uma besteira.

All hail the underdogs           (Todos saúdam os oprimidos)

All hail the new kids              (Todos saúdam as novas crianças)

All hail the outlaws                (Todos saúdam os foragidos)

Spielberg's and Kubrick's       (Os Spielbergs e os Kubricks)

— Está bem, Sarabi. “Para sempre” sempre acaba, não é? No fim, nosso casamento sempre foi um contrato, talvez nosso amor tenha sido fruto da expectativa de nossas posições. Agora estás livre para amar o próximo rei. – ele soltou machucando-a também. Ele não entendia, nunca iria compreender, o amava mais do que tudo, mas não podia, simplesmente não poderia... Scar arrumou suas coisas ignorando sua presença, mas antes de sair virou-se para ela com nojo nas feições. – Porém, vais se arrepender por ter escolhido Mufasa. – e assim saiu, permitindo que mais uma vez ela se derramasse em prantos.

It's our time to make a move    (É a nossa vez de fazer a mudança)

It's our time to make amends   (É a nossa vez de fazer reparações)

It's our time to break the rules (É a nossa vez de quebrar as regras)

Let's begin                                  (Vamos começar)

Ela o amava e o lugar onde Scar se encontrava em seu coração seria para sempre dele, porém, sabia que tomara a decisão correta. Entregou-se para ele e não era mais uma menina agora, era uma mulher. Não poderia vaguear desonrada pelo mundo. Passou a mão pelo ventre e sorriu entre as lágrimas, se sacrificaria por ele. Se precisasse mentir, destruir seu coração e casar-se às pressas com o irmão de seu amado para proteger seu filho, ela o faria.

And I say                                   ( E eu digo,)

hey, hey hey hey                      ( hey, hey, hey, hey)

Living like we're renegades     (Vivendo como renegados)

Renegades                                (Renegados)

Renegades                               (Renegados)


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