Sob o luar escrita por Pixel


Capítulo 4
Capitulo 4 - Akuma barulhento




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Marinette

 

 Marinette se curvou sobre a escrivaninha, gemendo em pura frustação. Nesse momento ela estava se arrependo amargamente por não ter prestado atenção nas aulas de física. Os números e formulas apresentados a ela pareciam estar em outra língua.

 Marinette soube que não poderia fazer esse trabalho sozinha no instante em que leu a primeira questão. Ela não sabia nem ao menos separar os dados e muito menos qual equação usar.

 — Tikki! — Ela chamou por seu kwami que estava do outro lado do quarto, comendo alguns biscoitos de chocolate tranquilamente enquanto observava a movimentação de Paris pela janela.

 — Sim? — Tikki foi até ela, flutuando a cima de sua cabeça brevemente.

 — Você sabe o que é "variação de temperatura"? — Marinette perguntou, ainda sem levantar a cabeça.

 Tikki sempre estava ao lado dela durante as aulas, sendo assim tinha uma pequena chance de ela ter prestado atenção na aula.

 — Desculpa Marinette... — A mestiça levantou um pouco o rosto e olhou para seu kwami. Tikki balançou a cabeça negativamente, com um olhar apológico que enviou um apeto ao seu coração — Eu não estava prestando atenção...

 Ela voltou a esconder seu rosto em seus braços e suspirou.

 Como iria fazer esse trabalho sozinha? Era praticamente impossível.

 — Youtube me ajude... — Ela murmurou e ligou o computador. Marinette alimentou a esperança que insistia em permanecer no seu coração.

 Era sua única saída, caso o contrário ela teria que pedir ajuda a Adrien. Não era algo tão horrível assim, acontece que Marinette tem princípios.

 Já não basta ela estar tentando ser amiga dele como Ladybug, faze-lo esquecer sobre a rejeição e tudo mais apenas para não ficar com a consciência pesada. Pedir que ele lhe ajude com um trabalho de física é algo que, ao seu ver, passa dos limites.

 Quando o computador ligou, Marinette foi direto ao site de vídeos mais acessado, em busca de videoaulas que pudessem ajuda-la. Antes mesmo que ela pudesse iniciar um dos diversos vídeos, seu celular começou a tocar.

 Marinette esticou sua mão e pegou o aparelho. Na tela, uma foto de Alya estava estampada. A mestiça levantou uma sobrancelha e franziu os lábios, Alya disse que estaria ocupada durante todo o dia, atualizando as postagens no Ladyblog.

 O que poderia ter acontecido para que ela, de repente, resolvesse ligar para Marinette?

  Ela se ajeitou na cadeira e atendeu a ligação.

 — Alya? — Ela perguntou apreensiva, fazendo um esforço para ouvir o que a amiga tinha para dizer.

 — Marinette, você não vai acreditar! — Alya disse. Apesar da sua voz estar borbulhante de entusiasmo, ela disse em um tom muito baixo além de parecer abafada. Marinette percebeu que a amiga estava ansiosa.

 — O que aconteceu...?

 — Um akuma surgiu aqui perto do parque — Marinette arregalou os olhos e levantou da cadeira. Ela não conseguiu oprimir a onda de preocupação que passou pela sua mente, foi quase um reflexo.

 — Akuma? — Ela olhou pela janela em busca de alguma movimentação estranha. À primeira vista, ela não pode ver nada de anormal. Parecia apenas mais um dia em Paris, o sol estava brilhando e o clima é agradavelmente quente.

  — É, um akuma — Alya disse como se toda a situação fosse muito obvia — Nino e eu nos escondemos dentro de um trailer com algumas pessoas. Você devia ter visto, foi muito estranho... — Marinette começou a andar em direção ao alçapão que fica a cima de sua cama, fazendo um movimento para que Tikki a seguisse — Acontece que a porta emperrou e tá muito quente aqui dentro! — Alya levantou um pouco a voz e Marinette teve uma ideia do que a amiga estava passando.

 — Okey okey! — Marinette disse, dando um aceno com a cabeça, mesmo sabendo que Alya não podia vê-la — Estou indo para ai!

 — Venha rápido por favor! - Alya gemeu no telefone, demonstrando verdadeira agonia.

 Alya parou de falar por alguns segundos e Marinette pode ouvir o que seria Nino falando de fundo. Ela não conseguiu entender nem mesmo uma única palavra dita pelo rapaz, então apenas esperou.

 Enquanto Alya não voltava a falar, Marinette pegou sua bolsa e colocou ela atravessada pelo ombro, dentro já havia alguns biscoitos para Tikki que ela sem dúvidas iria precisar.

 — Ah! Marinette! - Alya voltou, sua voz mais alta do que antes. A garota parecia realmente preocupada e isso chamou a atenção da mestiça — Se puder veja se você não encontra com o Adrien! Ele sumiu e ninguém sabe pra onde ele foi!

 Marinette sentiu seu coração pular uma batida e sua boca ficou seca. Adrien estava desaparecido.

 Ela sentiu um misto de raiva e preocupação passar pelo seu ser, afinal, tinha dito para Adrien tentar, ao menos, se cuidar quando houvesse um ataque de akuma. Marinette balançou a cabeça, sabendo que tinha que ficar calma se quisesse lidar com essa situação.

 — Pode deixar! — Ela disse firmemente com um aceno de cabeça. Sem mais nenhuma palavra, Marinette desligou o telefone, deixando ele de lado em cima da cama — Tikki, transformar!

 ...

 Ladybug correu pelos telhados de Paris, indo em direção ao parque que não estava tão longe. Ela notou que não havia ninguém nas ruas — provavelmente, todos já deveriam estar procurando algum lugar para se esconder em segurança — Mas não pode deixar de olhar ao redor, procurando por um rapaz de cabelos loiros.

 Infelizmente, não havia nem mesmo um único sinal de Adrien. Não é só o sumiço do loiro que deixou Ladybug vagamente preocupada, mas também o fato de não ter nem mesmo um único sinal da presença de um akuma. As ruas estavam desertas, mas fora isso tudo parecia normal.

 Ela podia até mesmo ouvir uma buzina tocando.

  Ladybug aterrissou atrás de um beco. O lugar parecia vazio e perfeito para uma destransformação, mas apenas por garantia, ela olhou para os lados, se certificando de que estava realmente sozinha.

 Marinette deixou a transformação cair e abriu a bolsa para que Tikki pudesse entrar. Ela saiu do beco correndo. Franziu as sobrancelhas quando sentiu o asfalto quente em seus pés, notando pela primeira vez que estava descalça no meio da rua.

 Não só isso, também de pijama.

 Ela se amaldiçoou internamente e tentou ignorar o constrangimento. Sua prioridade no momento era encontrar Alya e Nino.

 Marinette podia ver o trailer do outro lado do parque. Não estava muito longe, ela tinha apenas que atravessar a rua e cruzar o parque. 

 Uma buzina soou extremamente alta, rasgando o silêncio que parecia tomar conta das ruas. Foi um rangido estrangulado e agudo que fez os ouvidos de Marinette doeram. Ela parou de correr e tampou os ouvidos com as mãos, tentando futilmente abafar aquele som horrível.

 De repente, tudo ao seu redor parecia girar sem parar. Marinette fechou os olhos, esperando a tontura estranha passar, mas apenas piorou.

 — Marinette cuidado! — Tikki gritou de repente, sua voz soando distante comparada a buzina. Marinette fez um esforço e olhou para sua bolsa, onde o kwami gritava.

  Tikki pontava freneticamente para alguma coisa, mas Marinette não conseguia reagir. Sua mente estava nebulosa, completamente entorpecida. Todo pensamento coerente que ela pudesse ter foi abalado e destruído pela buzina.

 Ela não podia fazer nada além de ouvir aquele som estridente que parecia aumentar a cada segundo, se tornando insuportável. Suas pernas fraquejaram e Marinette sentiu como se fosse cair.

 Sua visão ficou turva e a única coisa que ela pode distinguir foi um borrão preto vindo em sua direção. A voz de Tikki sumiu, ou talvez tivesse sido completamente abafado pela buzina, Marinette não soube dizer. Ela sentiu seu corpo ser jogado para frente e braços rodearem sua cintura. O mundo ao seu redor girou antes de cair no chão, em cima de algo que era definitivamente mais macio do que do que o asfalto.

 Uma mão foi enterrada em seu cabelo, pressionando sua cabeça para baixo como se quisesse protege-la do mundo. Uma fragrância doce invadiu seus sentidos, era a única coisa que Marinette tinha certeza de que não estava girando e ela se concentrou apenas nisso. Sem muitas opções, Marinette fechou as mãos em punhos e fechou os olhos enquanto o barulho da buzina se tornava cada vez mais distante.

 Aos poucos a mente dela foi se clareando, até que tudo parecia ter voltado ao normal. Marinette ainda podia ouvir a buzina tocando ao fundo e encolheu os ombros.

 Que tipo de akuma era esse?

 — Você está bem?! — Marinette arregalou os olhos quando ouvir a voz extremamente familiar. Seu coração perdeu algumas batidas e ela prendeu a respiração.

 Ela abriu os olhos e a primeira coisa que ela viu foi os fios loiros, que faziam cocegas em suas bochechas e de repente ela estava muito consciente do fato de estar deitada em cima de Adrien.

 — Adri— Marinette levantou um pouco o rosto para olhar o rapaz, esperando encontrar os olhos verdes amigáveis de Adrien, mas em vez disso encontrou com os olhos selvagens de Chat.

 Todo o ar sumiu de seu peito e ela congelou.

 — Chat...? — Foi a única coisa que saiu de sua boca. Marinette tentou manter suas mãos para si mesma.

 Ela estava em cima de Chat Noir. Tão perto dele que podia sentir seu coração batendo contra o punho direito, quase em sincronia com o seu próprio.

 A realização bateu nela como um raio, fazendo seu corpo tremer levemente. De repente ela estava consciente de toda a sua situação; consciente de como seus rostos estavam perto; de suas roupas; de seu cabelo; da mão em sua cintura que estava causando um formigamento agradável e em como seus corpos se encaixavam perfeitamente.

 Marinette sentiu o calor subir para seu rosto enquanto as borboletas dançavam em sua barriga.

 Ela se levantou abruptamente, fazendo o possível para não encostar em Chat.

 — M-Me desculpe por isso — Ele disse, ficando de pé. Marinette não percebeu o quanto a voz de Chat estava turva e falha, estava preocupada demais em puxar seu short para baixo e tornar sua imagem um pouco mais decente.

 — Tudo bem! — Ela endireitou a coluna, dando um sorriso simples.

 Em sua mente ela estava encantadora.

 Adrien

 O dia estava correndo bem, na medida do possível. A sessão de fotos estava quase no fim quando a buzina começou a soar, o som agudo fez sua cabeça girar no mesmo instante. Não demorou para alguém gritar "Akuma!" e todo mundo que estava no parque sair correndo.

 Adrien aproveitou o alvoroço para se separar dos fotógrafos e correr para um lugar seguro onde pudesse se transformar. Ele viu de relance Nino e Alya entrarem em um trailer e decidiu que eles estariam mais seguros lá dentro, por isso achou que fosse uma boa ideia pegar uma abraçadeira de plástico e tranca-los lá dentro.

 O akuma era, no mínimo, inusitado. Era um cara que havia levado uma multa por "perturbação da paz" e agora estava furioso. Seu poder era as ondas sonoras, que deixava qualquer um que ouvisse atordoado.

 Adrien aprendeu isso da pior maneira.

 Ele precisou encontrar fones de ouvido que abafassem o som apenas para poder se aproximar de Bruit. As habilidades de Chat não o ajudavam muito, já que a buzina soava mais alta do que o normal para um ouvido humano.

 É claro que Bruit decidiu que seria muito legal pegar um carro com alto-falantes e sair por Paris buzinando.

 Chat se perguntou brevemente se Hawk Moth estava tendo algum tipo de bloqueio criativo, porque esse akuma foi sem dúvidas o pior de todos.

 Depois de tentar alcançar Bruit por dez quarteirões, Chat foi forçado a deixa-lo de lado para salvar uma certa garota de cabelo preto-azulado, que foi atordoada pela buzina.

 E isso o levou a essa situação atual. Com os ombros rígidos e o rosto corado, Chat tentava futilmente agir normal em torno de Marinette, que não parecia notar seu estado de nervo.

 — Tudo bem! — Ela disse, sorrindo lindamente.

 Chat engoliu em seco e abaixou os fones de ouvido para que pudesse ouvi-la com clareza. Ela deu um sorriso forçado, tentando ao máximo ignorar as roupas de Marinette. Ela estava, literalmente, de pijama. A regata branca que ela estava usando parecia muito fina, a alça escorregou pelo ombro e não havia nenhum sinal de que ela estivesse usando sutiã naquele momento. Sem contar o seu short rosa, que é extremamente curto, deixando grande parte de suas coxas a mostra.

 Ele levantou o olhar, olhando diretamente para o rosto de Marinette.

 — V-Você não se machucou, c-certo? — Chat se bateu internamente. Ele estava soando ridiculamente tímido e inseguro, algo nenhum pouco característico de Chat.

 — Não — Marinette balançou a cabeça negativamente, suas marinhas chiquinas balançando de um lado para o outro, deixando diversos fios bagunçado. Ela segurou as mãos por trás das costas e estufou o peito — Graças a você — Os olhos de safira brilharam, um brilho extremamente familiar e provocante.

 Chat piscou, levemente atordoado — e não tinha nada a ver com a buzina, que ainda podia ser ouvida. Marinette havia soando igual à Ladybug, mas não foi isso que o surpreendeu, e sim o fato dela ter flertado com ele.

 Ele gritou internamente, corando um vermelho escarlate e pintou até mesmo suas orelhas.

 — Er... — Ele desviou o olhar e coçou a nuca de forma desajeitada, tentando esconder o quão forte ela tinha o atingido com esse pequeno flerte — É para isso q-que eu s-sirvo... — Marinette deu um passo à frente, se aproximando mais de Chat.

 Ele se esqueceu totalmente de como respirar. Marinette estava tão perto, ele podia ver as sardas pontilhadas em cima de seu nariz. Chat Noir era uma completa estatua quando Marinette ficou na ponta dos pés e plantou um beijo em sua bochecha.

 O beijo causou um formigamento agradável que se espalhou por todo seu corpo, e Chat não pode fazer outra coisa senão sorrir feito um completo idiota apaixonado.

 — Obrigada novamente — Ela se afastou, com um sorriso tão bobo quanto o dele no rosto — Agora você tem que pegar um akuma não é mesmo?

 Chat balançou a cabeça, seus pensamentos voltando para Brait e no provável estrago que ele deveria estar fazendo na cidade nesse instante.

 — Você tem razão princesa — Chat pegou a mão de Marinette e se inclinou para deixar um beijo casto nela. Sorrindo amplamente quando ele viu o vermelho se espalhar pelo seu rosto — Tente ficar em um local seguro, afinal ainda temos um "louco-da-caixa-de-som" à solta na cidade

 — Certo... — Marinette encolheu os ombros quando Chat lhe lançou uma piscadela.

 Sem mais nenhuma palavra, Chat voltou para os telhados de Paris, tentando localizar o akuma. Ele colocou os fones de ouvido novamente quando avistou o carro vermelho.

 Seu coração ainda estava martelando em seu peito quando ele voltou a perseguição.

 Marinette

 Marinette não podia se ajudar, sua mente estava em êxtase total. Chat tinha flertado com ela do jeito mais descarado possível e tudo que ela pode fazer foi congelar.

 Foi como mais um de seus diversos sonhos, só que real.

 Chat nunca tinha devolvido seu flerte antes e ela não estava preparada psicologicamente para isso. O olhar que ele lhe deu fez todo seu corpo se arrepiar e suas pernas fraquejarem.

 Como ele podia mexer tanto assim com ela? Ao ponto de faze-la congelar no meio da rua?

 Marinette agradeceu aos céus por Chat não saber o poder que ele tem sobre ela.

 — Marinette! O akuma! — A voz de Tikki tirou ela de seus pensamentos. Marinette sacudiu a cabeça, tentando futilmente voltar ao objetivo original.

 — Certo certo... — Ela respirou fundo, tentando fazer com que seu coração se acalmasse antes de continuar — O akuma...

 Marinette olhou na direção em que Chat tinha ido. Uma pequena voz em sua mente lhe disse que ela estava esquecendo de algo, mas aquilo foi completamente ofuscado.

 Ela tinha que pegar o akuma.

 — Tikki, transformar! — Marinette chamou sua transformação ali, no meio da rua, sem se importar se tinha ou não alguém vendo ela.

...

 Chat usou seu cataclismo para tentar destruir o pedaço de papel que flutuava no ar, no mesmo instante que suas mãos rosaram na superfície lisa o papel se desintegrou e uma borboleta negra saiu voando.

 Ladybug não perdeu tempo, ela pegou a borboleta e a purificou.

 — Miraculous Ladybug! — Ela jogou o fone de ouvido para o alto e tudo voltou ao normal.

 Chat rolou pelo chão e parou bem ao seu lado, um sorriso triunfante em seu rosto. Ele parecia realmente orgulhoso de seu trabalho e isso enviou uma onda de felicidade para Ladybug. Ela suspirou alegremente e olhou vagamente para ele.

 Ela admirou a figura masculina por alguns segundos. Criando coragem para dizer aquilo que ela realmente queria dizer já faz um tempo.    A ansiedade revirou em seu interior, mas Ladybug fez o possível para ignorar.

 — Zero! — Os dois fizeram o toque habitual, sorrindo um para o outro como grandes amigos.

 Ladybug endireitou a postura e olhou para seu parceiro com determinação. Ela observou o vento leve bater nos fios loiros, fazendo eles balançarem levemente.  Chat parecia ver alguma coisa em seu bastão que o fez ofegar assustado. Ladybug não prestou atenção nisso, ela ficou de frente para ele, se sentindo mais confiante ao seu redor agora que ela sabe que ele não é uma pedra sem sentimentos, afinal, ele tinha flertado com Marinette.

 O que torna Ladybug diferente de Marinette?

 — Ei Chaton! — Ela o chamou, sua voz exasperada. Ela engoliu em seco antes de continuar, sua voz soando mais confiante do que o normal — Quer ir tomar um sorvete? Eu posso jurar que vi o André em algum lugar perto da torre Eiffel!

 Sorvete. Essa foi a única coisa que Marinette pode pensar. Se a situação deles fosse diferente ela poderia chamar ele para um jantar, ou talvez um piquenique, até mesmo para alguma festa, mas suas identidades ainda eram secretas e ficariam assim por mais algum tempo.

 — Desculpa M'lady... — Chat olhou para ela de relance antes de se virar com um aceno — Eu deveria estar em outro lugar agora — Ele explicou, soando um pouco apológico. Ele não parecia estar mentindo, mas isso ainda fez seu coração apertar — Talvez outro dia! – Ele sugeriu com um encolher de ombros.

  Ladybug cruzou os braços e forçou seu melhor sorriso. Ela quase podia ouvir o som de seu coração se partindo, mas tentou ignorar isso.

 — Certo, certo... — Ela disse e alterou o peso de um pé para o outro, inquieta — Eu vou cobrar ein! — Sua voz falhou um pouco, mas nada que ela não pudesse ignorar.

 Chat se virou novamente e Ladybug ganhou o sorriso mais caloroso de os tempos que aqueceu seu coração. Ela relaxou.

 — Pode cobrar! — Ele lhe lançou uma piscadela, assim como fez antes quando ela era Marinette. Novamente um arrepio cruzou seu corpo e Ladybug corou.

 Ela observou Chat ir embora, sumindo entre os edifícios de Paris. Depois de ficar alguns segundos completamente congelada e ainda com o rubor no rosto, Ladybug decidiu que já era hora de ir para casa.

 Ela tomou seu caminho habitual por cima dos telhados. Tudo havia voltado ao normal, as pessoas já estavam saindo nas ruas e carros já andavam de um lado para o outro; Ladybug sorriu quando passou pelo parque e viu um pequeno grupo de crianças acenando para ela com sorrisos gigantes no rosto. Ela acenou de volta, com um dos seus melhores sorrisos. As crianças gritaram de entusiasmos e Ladybug apenas riu.

 Seus olhos vagaram levemente pelo local, parando em um trailer estacionado. Um trailer branco com alguns equipamentos de fotografia jogados ao redor.

 Ladybug ofegou.

 — Alya! — A realização bateu nela como um tapa e Ladybug quase escorregou do telhado.

 Ela não perdeu tempo, aterrissou atrás de um beco — provavelmente o mesmo de mais cedo — e deixou a transformação cair.

 — Tikki! Eu esqueci da Alya! — Ela disse desesperada.

 — Não posso te culpar por isso... — Tikki balançou a cabeça negativamente e entrou dentro da bolsa.

 Marinette tropeçou em seus próprios pés enquanto corria em direção ao trailer. O sol estava queimando suas costas e só então ela notou o quão quente estava; ela franziu as sobrancelhas, sentindo uma pena amarga pela amiga.

 Marinette alcançou a porta do trailer e tentou puxa-la, apenas para perceber que uma abraçadeira de plástico tinha sido amarrada na maçaneta e num pino de segurança ao lado da porta.

 — Marinette? — A voz de Alya surgiu abafada de dentro do trailer.

 — Alya! — Marinette agarrou a abraçadeira e tentou puxa-la, na vaga esperança de que pudesse arrebenta-la de alguma forma.

 — Ah! Graças a Deus! — Marinette pode ouvir alguns murmúrios de felicidade vindos de dentro do trailer. Aparentemente não era somente Alya que estava feliz por sua aparição — Abre a porta!

  Marinette tentou puxar o plástico novamente, antes de desistir.

 — Não dá! — Marinette gemeu em descrença — Eu preciso de uma faca ou de uma tesoura!

 — Você deve estar brincando comigo! — Alya gritou enfurecida. Ela parecia estar sofrendo e Marinette teve uma ideia do calor que estava fazendo lá dentro.

 — Eu já volto! — Ela disse, antes de se virar para os equipamentos de fotografia.

 Tudo estava jogado no chão. As luzes, câmeras e algumas caixas.

 — Talvez tenha algo aí que possa ajudar — Ela ouviu a voz de Tikki e acenou.

 Marinette revirou as caixas em busca de algo que pudesse cortar a abraçadeira. Dentro das caixas só tinha roupas e mais roupas, ela já estava desistindo quando encontrou uma bolsa marrom, jogada no chão perto de um banco.

 Ela agarrou a bolsa com as suas últimas esperanças borbulhando dentro dela. No mesmo instante que Marinette puxou o zíper para baixo um cheiro podre subiu aos seus sentidos.

 Ela fez uma carreta enjoada e se afastou da bolsa.

 — Egh! Que diabos é isso! — Ela gemeu, o cheiro forte fez seu estômago revirar e Marinette sentiu seu café querendo voltar.

 Ela segurou a respiração e voltou a cavar dentro da bolsa.

 Não havia nada de muito interessante a princípio. Apenas alguns documentos, uma carteira, um celular e um pote com...

 — Camembert?! — Marinette gritou levemente indignada.

 — Camembert? — Tikki abriu um pouco a bolsa e botou a cabeça para fora, olhando para a bolsa marrom com os olhos brilhantes. Marinette ignorou seu kwami e voltou a falar.

 — Quem diabos anda por aí com Camembert na bolsa? — Marinette considerou em jogar o pote bem longe, apenas para não sentir aquele cheiro enjoativo, mas o bom senso tomou conta dela novamente.

 Marinette ignorou o camembert e voltou a vasculhar a bolsa. Ela encontrou, dentro de um pequeno bolso interno, um canivete. Suspirou alegremente e o agarrou, fazendo uma promessa de que iria devolve-lo assim que abrisse a porta.

 Marinette deixou a bolsa em cima do banco e voltou para o trailer. Ela puxou a faca do canivete e começou a cortar a abraçadeira. A maçaneta sacudiu algumas vezes antes que estivesse finalmente livre.

 Ela deixou a o resto da abraçadeira cair no chão e abriu a porta com um puxão.

 — Finalmente! — Um homem de óculos escuros saltou para fora do trailer, sendo seguido por mais duas pessoas.

 — Por que demorou tanto?! — Alya perguntou. Sua camisa xadrez completamente ensopada de suor. A morena desceu do trailer como se o lugar estivesse pegando fogo e parou ao lado de Marinette.

 Nino veio logo atrás dela, tão suado quanto Alya.

 — Eu tive alguns problemas com esse akuma... — Marinette explicou. Não foi uma mentira em tudo, ela realmente teve alguns problemas com Bruit — Me desculpe...

 — Deve estar pelo menos uns 40 graus ali dentro — Nino disse, tentando enxugar o suor de sua testa.

 — Vamos pra um lugar fresco! — Alya disse, gemendo.

 Marinette sorriu. Ela podia aproveitar um tempinho com seus amigos.

 — Eu acho que vi o André perto da torre Eiffel! — Ela disse. As preocupações do seu dia foram totalmente deixadas de lado — Tão a fim de um sorvete?

 — Parece ótimo — Nino disse, ajeitando o boné.

 — Só se você pagar

 — Acho que te devo essa

 ...

 Marinette chegou em casa quase às quatro horas. A mão levemente grudenta do sorvete que havia derretido, mas com o coração e a mente revigorados. A essa altura ela estava ignorando totalmente sua aparência desgrenhada e queria apenas aproveitar seu bom humor.

 — Papa! — Marinette se curvou sobre o balcão — Precisa de alguma ajuda?

 Seu pai saiu da cozinha, carregando uma bandeja cheia de croissants. Ele sorriu para Marinette.

 — Está tudo bem por aqui! — Tom disse — Eu e sua mão podemos lidar

 Marinette acenou em compreensão e se virou.

 — Se precisar de ajuda pode me chamar! — Ela subiu as escadas indo para seu quarto.

 Marinette fechou o alçapão e pendurou a bolsa na cadeira em frente ao computador ainda ligado. Ela respirou fundo e sorriu.

 — Você parece de bom humor — Tikki disse, saindo de sua bolsa e flutuando bem na sua frente.

 — Impossível não ficar depois de passar um tempo com Alya e Nino! — Marinette deitou na espreguiçadeira. Ela fechou os olhos e no mesmo instante a imagem de Chat piscou em sua mente.

 Com o rosto corado, Marinette se virou.

 — Não quero estragar sua felicidade, mas... — Tikki olhou para o computador, a onde o caderno ainda estava aberto — Não está esquecendo de nada?

 Marinette franziu as sobrancelhas e olhou ao redor de seu quarto. Seus olhos pousaram na tela do computador ligado.

 Calorimetria.

 — Ah...! — Marinette forçou seu corpo para cima e se levantou da espreguiçadeira — Eu tinha esquecido disso também...

 Seria uma longa noite.


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