O Suicídio de Yuuri Katsuki escrita por CrimsonQueen


Capítulo 1
O Suicídio de Yuuri Katsuki - Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal. Crimson aqui.
Eu não estou nada bem.
Eu não tenho mais de onde tirar forças pra continuar vivendo. Não tem como colocar em outras palavras, é exatamente isso. Eu cansei de viver, viver é doloroso demais, e eu estou presa no pior lugar existente em todo o universo: a minha própria cabeça.

Quem lê minhas outras fanfics sabe que, além de eu amar escrever, muita inspiração vem de RPGs que eu fiz, faço, ou já escrevi, e amo todos com todas as minhas forças. Escrever é o que me mantém viva mesmo eu odiando viver, então estou aqui, mais uma vez, escrevendo. Respirando.
Eu queria um nome mais poético, mas acho que o impacto de ser direta também não é ruim.
E, sim, tudo escrito a seguir veio de experiências próprias. Coisas que eu sofri, coisas com a qual eu luto diariamente, coisas que me matam um pouco a cada dia.
Eu escrevi isso sem intenções de tornar uma fanfic, foi um ato de desespero para tentar tirar isso de mim sem recorrer a meios que comprometessem minha integridade física. Foi um desabafo para mim mesma, foi uma carta de "Pelo amor de Deus, acabem com a minha dor. Eu não aguento mais." escrita no meio da noite com mãos trêmulas por um choro que não tinha fim.
Victuuri é um casal extremamente precioso para mim, eu me identifico DEMAAAAAIS com o Yuuri, então é mais do que normal eu escrever muito na pele dele. E olha, eu escrevo, tenho incontáveis rascunhos no meu celular, escrever durante a madrugada é minha terapia, pois é o pior momento do dia para mim, mas é quando eu não me censuro, então tudo o que escrevo é como eu genuinamente me sinto. Parece que existe duas de mim, a de mentira sai durante o dia, e a de verdade volta à superfície durante poucas horas, dá uma respirada até ser empurrada pra água escura de novo.
Além disso estou postando durante a madrugada também, agora são 02h56min, e eu tendo a me arrepender de coisas que faço ou falo da meia noite às seis da manhã... mas enfim, eu sou só um ser humano.

Essa oneshot teve impulsos de se tornar um RPG, mas é um assunto complexo e delicado então acabou não dando certo (pelo menos não até agora), e eu realmente não queria simplesmente apagar, então estou vindo eternizar e dividir com vocês. Mesmo sendo sobre morte, meu amor por escrever segue imutável.
Espero que vocês gostem, sei que não sou a única que passa por isso, mas se ajudar vocês de algum modo, assim como me ajudou a entrar em contato comigo mesma e ironicamente me salvar por algum tempo da água escura, então meu trabalho está feito. Se vocês são sensíveis a gatilho ou aos temas que serão abordados, ESTE É MEU AVISO: leiam por sua conta e risco. Eu estou morrendo de medo de postar, mas eu li fanfics gringas trágicas e maravilhosas, e elas me deram forças para colocar essa contribuição ao fandom de Victuuri e YOI no mundo. Vão no archiveofourown.org e procurem as fanfics Victuuri de lá, são apaixonantes (e tem umas de putaria que ?“!! *faz aquele sinalzinho de OK com a mão que tem na lista de emojis*).

Boa leitura, e fiquem bem. E não esqueçam de comentar no fim, é o que me dá forças para continuar postando. ♥



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(...)
         Fazia algum tempo que eu não patinava.

Fazia algum tempo desde os meus últimos hematomas, minhas últimas bolhas nos pés.

Os machucados escuros e roxos em minha pele já começavam a clarear, esverdear.

Estas eram as cores do meu sofrimento.

Embora faltasse uma.

O sol foi substituído pela lua, e eu não via mais o rosto dos meus pais, pois sempre que eu chegava eles já estavam dormindo. E, como de praxe, eu era o primeiro a sair, e o último a voltar. Parei de me alimentar direito, não sentia mais fome, apenas um peso dentro de mim, uma tristeza para a qual eu não encontrava nome. Entretanto, ainda sujava os hashis para fingir que jantava ao voltar do rinque. Afinal, Yuuri Katsuki parar de comer katsudon seria o presságio para o fim do mundo. Victor precisou voltar brevemente para a Rússia já que havia decidido voltar de seu retiro, e isso me deu a chance de finalmente conseguir o que eu tanto queria. Insisti que levasse Makkachin consigo, pois depois do que aconteceu todo cuidado era pouco. A tínhamos ensinado a não pegar comida de cima da mesa, mas, bem, parece que nenhum ser vivo resiste à comida da minha mãe.

Eu tinha a melhor mãe do mundo. Uma família e amigos que fiz durante a minha jornada, e reencontrei o amor da minha vida.

Eu sei que, por isso, ele entenderá. A verdade é que as coisas não somem assim... Os sentimentos ruins, a ansiedade, o medo e a apatia, se nascem, não morrem mais. Apenas se escondem, camuflam dentro do peito. Já tinha me decidido, mas o medo ainda fazia minhas mãos tremerem. Fiz o ritual de chegar em casa e deixar meus pertences no quarto, os patins sobre a cadeira. Ia até a cozinha para jantar, havia sempre uma tigela azul sobre a mesa, devidamente coberta com papel filme e amor. Eu não podia deixar de sorrir ao ver isso, por mais horrível que tenha sido o meu dia. Parecia ser uma de minhas pequenas profilaxias. E, por incrível que pareça, eu me dei ao luxo de realmente desfrutar a minha última refeição, como se fosse apenas mais uma. Tinha que parar às vezes, abandonar os hashis por um momento para esfregar os olhos, eu não conseguia controlar as lágrimas, que desciam silenciosas. Mas havia uma estranha serenidade em mim. Uma aceitação, um consolo. Logo tudo estaria bem.

Depositei a tigela dentro da pia e saí da copa, parando na soleira para olhar para a sala... A TV onde eu sempre assisti a Victor, junto de Minako-sensei que ficava bêbada assim que tirávamos os olhos dela. Onde todos se reuniram na Final do Grand Prix, com certeza gritaram muito. Era como se eu visse todos ali agora. As memórias boas e as ruins se mesclavam, embora, pudera, as ruins eu estivesse sentindo com mais clareza. Eu deveria deixar uma carta? É o que a maioria faz nesses casos. Mas eu não sei bem o que escrever...

Talvez que amo a todos, e dizer que fui muito feliz ali. Minako-sensei, não desista da sua escola de balé. Mãe, pai, vocês foram as melhores pessoas da minha vida. Mari nee-chan, você deveria parar de fumar ou terá complicações no futuro. Yuko-chan, sabe aquela revista que me deu no dia do meu aniversário? Eu nunca consegui destacar o pôster dela, mesmo sendo de uma entrevista sobre Victor. Eu sempre acabava por deitar com ela na cama e ler da primeira à última página, às vezes adormecendo na metade e acordando no meio da noite com o rosto enfiado no meio do papel. As páginas marcadas pelo tempo e algumas propagandas antigas de produtos que nem eram mais vendidos, ou Marcas que não existiam mais. Comprem uma bancada mais alta para que Makkachin não pegue bolinhos escondida de novo.

Faltavam sete linhas para o final da página. Eu deveria escrever algo para Victor... Mas não consegui.

Victor, este será meu último ato covarde e egoísta.


       Dobrei a folha e deixei sobre o centro da mesa. Eu não podia mais gastar tempo ali.

Andei a passos mortos até meu quarto, a madeira antiga estalando minimamente. Peguei um dos pés dos meus patins, não prestei atenção em qual, e rumei para as termas. Eu havia caído há cerca de uma semana no meio do rinque, desencaixando os pinos de uma das lâminas, o que quase me rendeu uma fratura no tornozelo esquerdo. Não me fez muita diferença, visto que a vontade dentro de mim de continuar patinando estava sumindo, como se eu fosse me tornando inútil. Era como definhar em silêncio... O gelo sempre foi branco, não? Então porque todo o resto do mundo também perdeu suas cores?

Ao fechar a porta do meu quarto, minha mão, surpreendentemente, não quis deixar a maçaneta. Meus sentidos estavam gritando visto que, bem, é da natureza isso acontecer em situações de perigo.

Mas não havia perigo ali, tudo estava bem. Era apenas o curso natural das coisas. Estiquei os dedos obrigando-os a largar o metal, e novamente eu andei pela pousada... Realmente, as cores haviam sumido. Despi-me enrolando uma toalha na cintura, sentando por um momento no banco em frente à porta, e soltei um suspiro vindo do fundo de meus pulmões. Olhava para o patins em meu colo, a lâmina torta e com marcas dos arranhões de gelo. Um pouco de pressão e forcei o desencaixe, tendo a peça em minha mão. Pareceu tão fácil, era como estar num piloto automático. Minhas pernas me ergueram do banco, e eu cruzei a porta para fora... Parando apenas para trancá-la. 

Ou pelo menos acho que tranquei, minhas mãos estavam geladas, e eu estava perdendo a sensibilidade nos dedos. A cada passo, parecia que eu estava correndo em direção a uma multidão, via todos abrindo a boca, gritando, mas nenhum som a ser ouvido. A multidão era a minha mente, meu lado racional mandando impulsos em frenesi para o meu cérebro reagir e impedir que meu corpo continuasse andando.

                                                                                  Mas não adiantava.

Um mínimo movimento, um estalo metálico que logo se perdeu no silêncio da noite.

Eu não queria que encontrassem o meu corpo... Pelo menos não antes de eu ter conseguido perder os 30% de sangue necessários para morrer por hemorragia. Ou eram 35%? Não me lembro mais do que estava escrito naquele site.


                Como as coisas chegaram a isso?

Não importa.

A morte é a única maneira de me livrar desse sofrimento. Me livrar desta casca fraca que chamo de corpo.

Eu ouvia uma voz dentro da minha mente, e conseguia apenas concordar. Eu já tentei lutar contra ela, mas era forte demais. Eu nunca tive chances. Meus pés gelados chegaram ao limite do piso de pedra com a água quente, e entrei, sentando-me perto da beirada; a lâmina brilhando por baixo da água clara. Foi tudo tão rápido... Eu já tenho que ir? Vai tudo passar depois que eu fizer isso, certo? A dor vai parar e eu não vou mais me sentir assim, não vou mais precisar fingir ser forte. Eu vou poder descansar sem me preocupar em ter que viver mais um dia.

"Descendo a rua, nunca cruzando a faixa".

Minha voz de 17 anos repetiu a instrução dentro de mim, quando eu aprendi do pior jeito que não morreria a menos que cortasse meu braço no sentido vertical, e não horizontal. Todas as minhas cicatrizes no braço esquerdo, finalmente nu dos agasalhos pesados, mostravam como isso era verdade. Eu daria tudo para que pudesse ouvir a voz de Victor só mais uma vez, poder ser envolvido em seus braços, sentir seus lábios, a paz que reinava dentro de mim sempre que eu estava ao lado dele.

Você é minha pessoa especial, a minha razão de ter conseguido aguentar tudo isso até hoje. Você me deu forças quando ainda nem sabia da minha existência, mas quando meu amor por você já era o maior do mundo.

Victor, eu amo você. Tanto, tanto...

Eu daria qualquer coisa para ter você aqui agora.

...Por favor, me perdoe.

Puxei a lâmina repousada ansiosamente em meu braço, os soluços dando lugares a engasgos e falta de ar enquanto via meu sangue despetalando pela água em frente a mim. Sendo queimado vivo pela ferida aberta em contato com o calor quase infernal da água quente e sentindo o início de uma taquicardia, eu comecei a presenciar um pesadelo. 

Passados alguns minutos — embora eu jamais saiba quantos — a dor pungente começou a me tirar a consciência, e minha audição foi sumindo como se estivessem apertando almofadas nas minhas orelhas. Minha visão ficando turva, eu virei-me para a porta para dar uma última olhada antes de aceitar e fechar os olhos...

Ah, eu queria ter escrito algo para Victor naquela carta.


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