Sussurros à meia-noite escrita por Matheus Braga


Capítulo 1
Capítulo único




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O relógio no painel do Chevrolet Cruze marcava 23:30hs quando o veículo encostou ao lado da Praça Estado de Israel, num dos cantos mais altos e remotos de Belo Horizonte. O céu se fechava com pesadas nuvens de chuva e uma neblina densa e gelada descia da Serra do Curral e cobria os bairros abaixo, deixando tudo com um ar fantasmagórico e um tanto surreal. As luzes amareladas dos postes não faziam mais do que iluminar uns pouquíssimos metros ao redor, deixando a sensação de que a cidade havia sido coberta por uma grossa camada de algodão escuro.

Desligando o veículo, Jonathan se virou no banco.

— Desculpe por te chamar assim, em cima da hora. Como eu disse, não tenho muito tempo. Ainda tenho que buscar minha esposa lá na rodoviária. – Ele franziu os lábios, resignado, mas depois abriu um sorriso estreito – Mas fico feliz por você ter aceitado.

Helena devolveu o sorriso, olhando-o nos olhos.

— Não tem problema. – Ela esticou o braço esquerdo e acariciou-lhe a coxa – Podemos aproveitar bem.

Jonathan se aproximou, passando o braço direito por trás do encosto de cabeça do banco.

— Podemos mesmo, não é?

— Sim. – Ela respondeu, olhando-o nos olhos e se inclinando de forma provocativa na direção dele.

O beijo foi algo natural, como se já estivessem predestinados àquilo. Ele se sentia tão confortável ao lado dela que não se permitia ter nenhuma resistência. O gosto da boca de Helena era agradavelmente suave, algo que lembrava a baunilha, e ele sentia que poderia passar a noite inteira ali, apenas deliciando-se com o sabor dos lábios macios dela.

Mas apesar de sua ternura natural, Helena não era tão passiva assim. Inclinando o corpo por cima do espaço entre os bancos, ela deixou sua mão direita deslizar pelo abdômen dele até parar sobre o zíper de sua calça jeans. Ela pôde sentir o volume pulsante por baixo do tecido grosso e não se intimidou nem um pouco em massageá-lo. Jonathan chegou a soltar um gemido fanho entre os dentes, mas o som logo foi abafado pela boca de Helena colada à sua.

Com movimentos ágeis e seguros ela abriu o zíper da calça dele e desafivelou-lhe o cinto, revelando a boxer branca que ele usava. Subindo a mão de volta pelo corpo dele, ela ocupou-se em desabotoar-lhe a camisa com certa cadência, brincando de forma travessa com cada botão. Jonathan deixou escapar um som de impaciência do fundo da garganta, e ela percebeu. Interrompendo o beijo por um instante e dando a ele breves segundos para recuperar o fôlego, ela se inclinou ainda mais e alcançou o lobo da orelha direita dele, mordendo-o de forma gentil e um tanto lasciva. Ele gemeu alto ao sentir os dentes dela roçando em sua pele, e tratou logo de esticar os braços e puxá-la para mais perto de si.

Helena se apoiou de lado na lateral do banco do motorista, meio sentada sobre o colo de Jonathan, e logo alcançou a boca dele de novo com a sua. Deslizou as mãos para a nuca dele e segurou com força, massageando-lhe a base do pescoço enquanto ele a segurava pela cintura. Era um momento sem sentimentos envolvidos, puramente carnal. Um momento apenas para descarregarem seus desejos mais libidinosos, sem receio de julgamentos ou censura. Tudo que buscavam naquele momento era prazer mútuo.

E isso Helena sabia como dar. Voltando para o banco do passageiro e se inclinando sobre Jonathan outra vez, baixou-lhe a cueca e revelou seu pênis ereto. Ele nem se deu ao trabalho de disfarçar a expressão de puro tesão em seu rosto ao vê-la segurar seu membro e levá-lo à boca, chupando-o com vontade. Ela engoliu-o todo de uma vez e deixou-o deslizar de volta para fora de sua boca com cadência enquanto girava sua língua ao redor da glande. Ela podia senti-lo latejar à medida que o acariciava, transbordante de desejo, enquanto ouvia Jonathan arfar.

Ele recostou o corpo contra o banco do motorista e levou a mão direita à nuca dela, assegurando-se de que ela continuaria ali, mas Helena nem se importou. Estava concentrada no que estava fazendo e não dava sinais de que iria parar. Apenas subia e descia seus lábios pelo membro dele enquanto segurava-o pela base com firmeza, vez ou outra lambendo a cabeça dele da forma mais pecaminosa possível. Para Jonathan, não tinha como aquele momento ser melhor. Seu carro cheirava a novo, um odor que percorria-lhe todos os circuitos mentais do prazer como um stock car percorre uma pista oval, algo comum a quase todos os homens, e apenas esse detalhe já seria o suficiente para lhe trazer uma satisfação imensa. Mas isso somado ao que Helena fazia naquele momento com a boca em seu pau era algo extraordinário.

Ela agora havia descoberto um jeito de massagear-lhe os testículos sem parar de chupar, e ele nem fez questão de abrir os olhos para acompanhar tal feito. O prazer que ela lhe proporcionava era como uma onda quente que brotava nas extremidades de sua virilha e subia por seu abdômen, causando-lhe um arrepio delicioso nas costas e fazendo-o se retorcer sobre o banco. Era uma sensação cujas melhores palavras não seriam capazes de fazer justiça.

Daquele jeito, ele não ia demorar a gozar. A forma como Helena deslizava a língua para baixo e para cima em seu membro era sensacional, e ele já conseguia sentir claramente aquele arquejo gostoso de suas bolas prestes a liberar seu conteúdo em um poderoso jato branco. Jonathan agora arfava livremente, sem se preocupar que seus gemidos graves atraíssem a atenção de alguém. A hora já estava bastante avançada, o local escolhido por eles era bastante ermo e estava simplesmente frio e nebuloso demais para que qualquer cidadão de boa índole aparecesse por aquelas bandas. Era o local e a hora perfeitos para uma transa sem compromisso.

E no meio daquela maravilha que acontecia dentro do Chevrolet Cruze, Helena parou por dois segundos apenas para perguntar, com a voz mais sensual que conseguiu fazer:

— Está gostando, lindão?

Recostado como estava no banco, assim Jonathan ficou. Ele nem sequer abriu os olhos.

— Ah, sim. Está uma delícia.

Helena girou a língua pela glande dele outra vez, arrancando-lhe mais um gemido do fundo da garganta.

— Gosta assim?

— Adoro. – Ele devolveu, a meia voz.

— Que bom. – Ela murmurou, desta vez com um tom diferente – O tesão é sempre um adicional a mais.

De olhos fechados, Jonathan não viu quando Helena puxou uma faca de um discreto coldre em seu tornozelo e cortou-lhe a garganta de um lado a outro. Ele sentiu a lâmina fria macular-lhe a pele e a carne e logo após o sangue quente espirrar aos borbotões sobre o painel e os vidros do sedã. Assustado, abriu os olhos e percebeu o cenário horroroso que havia se abatido sobre ele.

Helena havia voltado rapidamente para o banco do passageiro e apenas observava-o com um olhar apático. Jonathan levou as mãos ao pescoço e imediatamente sentiu que o gesto não adiantaria de nada. O corte era imenso e o volume de sangue que fluía era impossível de ser estancado. Ele começou a engasgar e arquejar e sentiu que logo perderia a consciência. Virando-se com dificuldade para encarar Helena, tentou perguntar um “Por quê?” carregado de surpresa e tristeza, mas tudo que saiu de sua boca foi um som engrolado e aquoso. Logo após, ele tombou sobre o volante do veículo e suspirou.

Estava feito.

Suspirando também, Helena pegou sua bolsa e tirou lá de dentro um pequeno cálice dourado entalhado com os mais diversos símbolos arcanos. Posicionando-o abaixo do corte no pescoço de Jonathan, esperou que o líquido vermelho morno o enchesse pela metade. Feito isso, deslizou a mão por baixo do corpo inerte do rapaz e alcançou-lhe o pênis, friccionando-lhe a cabeça e embebendo a ponta do dedo indicador em líquido seminal.

Empertigando-se no banco do passageiro, Helena observou o líquido transparente em seu dedo por um breve momento, mas logo mergulhou-o no cálice que segurava. Girou o conteúdo do recipiente por alguns instantes e ergueu o dedo novamente, desenhando um círculo e um pentagrama sobre o painel do carro. À medida que ia desenhando as pontas da estrela, esboçava também ao lado intrincados desenhos arcanos.

Não levou mais do que três minutos para que ela concluísse os arabescos e pousasse a mão espalmada sobre o pentagrama.

Oh, magno Azrael. — Ela se pôs a recitar - Ti invoco per ricevere quest'anima in riconoscimento della tua grandezza.

Um som de estática retumbou pelo interior do Chevrolet e uma leve vibração sacudiu a carroceria do sedã, e a luz do poste mais próximo piscou e se apagou logo em seguida. Ouviu-se o som de passos cadenciados através da névoa e lá estava ele, de pé do lado do carro com as mãos nos bolsos de seu inseparável casaco sobretudo preto. Helena o notou e, realinhando o cabelo e as roupas, abriu a porta do carro e desceu. O frio cortante a atingiu como um tapa na cara, mas ela não vacilou.

— Funciona melhor em latim, mas em italiano ainda é aceitável. – Ele comentou, do outro lado, espiando pela janela esquerda do carro – Você está ficando muito boa nisso, Helena. A administração está muito satisfeita com seus serviços.

Ela se virou e encarou seus olhos negros.

— Ainda faltam quantos, Azrael? – Ela perguntou, um tanto nervosa – Já estou ficando impaciente.

O comentário o fez se empertigar. Sem tirar as mãos dos bolsos, ele contornou o Cruze pela dianteira e se aproximou dela.

— A sua cota ainda não está completa, Helena, e é apenas isso que você precisa saber. – O tom de voz dele subitamente pareceu mais frio do que a noite belo-horizontina – Você deveria me agradecer por ter sido tão bom com você. Depois de uma vida inteira de pecados, te oferecer uma oportunidade única como essa foi um ato de misericórdia da minha parte.

— Sim, mas você prometeu também que devolveria a alma do meu marido! Que eu o teria de volta. E eu já perdi a conta de quantos eu já te entreguei. – Ela cruzou os braços, de repente se sentindo exausta – Eu só quero pagar meu débito com você e viver mais alguns anos com o Carlos, só isso.

O outro avaliou-a por alguns instantes, mas deu de ombros e se virou, caminhando de volta para a escuridão.

— Quando chegar a hora, você terá seu marido de volta. Até lá, procure se concentrar apenas no seu trabalho. – Ele parou e se voltou para ela, com um sorriso um tanto debochado no rosto contrastando com seus horrendos olhos escuros – Até logo, súcubo.

E ele sumiu tão misteriosamente quanto havia aparecido. Outra vez aquele som de estática, e a luz de outro poste explodiu. Helena suspirou fundo. A cada novo serviço, estava se sentindo mais cansada daquilo. Tudo que ela queria era que aquilo tivesse um fim. Mas não havia muito o que fazer a respeito. Ela queria Carlos de volta, e sabia que só Azrael poderia lhe conceder isso.

Abrindo sua bolsa, procurou e logo encontrou um pequeno isqueiro vermelho. Acendendo-o, voltou até o sedã Chevrolet e abriu a porta direita, recitando mais algumas palavras:

Ricevi questo sacrificio, oh magno Azrael, come prova della mia gratitudine per la sua benevolenza.

Dito isso, jogou o isqueiro aceso sobre o banco do passageiro e observou as chamas amarelas crescerem e tomarem conta do interior do veículo. Quando o fogo começou a envolver o corpo já sem vida de Jonathan, ela fechou a porta e se afastou do carro para observar.

O sedã queimou rápido. Em menos de cinco minutos, as chamas já passavam dos três metros de altura. E só quando Helena teve certeza de que qualquer evidência de sua presença naquele local estava destruída, ela se virou e caminhou avenida abaixo, em direção à Praça do Papa, ouvindo o crepitar distante das labaredas que consumiam o Cruze ecoando através da neblina espessa como sussurros à meia-noite.


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