Seminário restrito sobre radiação e danos moleculares.

O grupo responsável pelas palestras fazia atualmente parte das forças armadas sob comando do general Thaddeus Ross, explanando o Projeto Renascimento. Eles haviam selecionado pessoas experientes e importantes na área para se abordar a radiação em diversos graus, nos termos favoráveis ou contrários.

Stephen havia sido especialmente convidado uma vez que o sistema nervoso é primeiro a ser danificado quando exposto a uma radiação, logo, presença médica era imprescindível.

Óbvio que todo seu estudo sobre o sistema nervoso em tantos anos já o fez cogitar que se houvesse uma chance mínima de neutralizar essas células expostas a química radioativa, poderiam controlar e evitar o maior índice de neoplasma mundial.

E sinceramente, a cura ou controle do câncer era de fato um sonho antigo que se dedicaria até o final de sua vida.

A parte do palestrante físico nuclear Bruce Banner tinha sido especial para o neurocirurgião, uma vez que foi fã durante anos dos artigos daquele homem. Tinha visto alguns rostos conhecidos de outros eventos, e uns um tanto quanto suspeitos.

Mas se pegou olhando para uma figura excêntrica que havia partilhado a cama semanas antes, e agora estava milagrosamente atento as palavras do doutor Banner.

Não foi difícil chegar a uma conclusão de seu comparecimento visava um fator primordial: as armas desencadeiam radiação, e a Indústrias Stark é a maior responsável pelo armamento americano no momento.

— Sua palestra foi simplesmente fantástica... — Stephen comentou quando esbarrou talvez de maneira levemente proposital ao outro homem. — Prazer, sou o doutor Stephen Strange. — esticou o braço, que foi automaticamente apertado e sacudido.

— Obrigado! Estava um pouco relutante já que não era bem o que meus superiores esperavam que eu falasse... — ele passou a mão pelo pescoço, parecendo sem jeito. — Então, também é físico?

— Na realidade, sou médico. Neurocirurgião. — notou como os olhos do outro se iluminaram, e notou também que seu cabelo parecia desorganizado, tal como a gravata não estava bem posta.

Bruce Banner de perto era uma confusão que contradizia tamanha inteligência.

— Oh, fantástico. Acredito que concordou comigo sobre o não incentivo a exposições radioativas. — Bruce perguntava com certa relutância, ele fora do microfone era terrivelmente desengonçado do ponto de vista de Stephen.

— Não é como se estivéssemos falando de uma radiação saudável ou natural como a solar, não é porque tivemos um caso eficaz utilizando Raio Vita, que devemos estimular a exposição. — Stephen ficou mais à vontade quando ambos pegaram um champanhe que estava sendo servido. — Um caso de supersoldado para milhões de pessoas morrendo de câncer.

— Isso... — Bruce foi cortado por uma outra voz eloquente.

A figura estava de terno mas vestia uma camisa do AC/DC com uma frase nem um pouco culta, e passou um dos braços sobre os ombros de Bruce.

— Exatamente, blá blá blá assunto chato dos nerds da turma, mas sim, eu concordo. Ei Banner.

— Tony, não pensei que viria. — Strange rapidamente bebeu sua taça retesando como se estivesse sobrando.

— Engraçado, também não pensei e aqui estou. Então já conhece meu amigo Stephen? — apontou lhe trazendo para o ambiente como se tivesse lido sua mente.

— Ele é seu amigo...?

— Na realidade, não. — o médico se intrometeu, negando a informação.

— Sim... ou não? Tony apesar de tudo é uma boa pessoa, sabe estudamos juntos na universidade. — Bruce passou a falar, como se precisasse incentivar novas amizades ao Stark.

Não agia como se estivesse na frente de umas das pessoas mais famosas da atualidade.

— Rude. Como assim apesar de tudo?

Stephen estava pensando ainda sobre eles terem estudado juntos, claro que Tony Stark era fantástico, mas não imaginou que eles pudessem estar em níveis semelhantes.

— Você sabe, seu jeito é... Expansivo.

— Isso eu concordo. Tão expansivo que causa conflitos em minha respiração. — Stephen murmurou dando um falso sorriso para o bilionário.

— Sei que causo, ainda lembro.

Bruce notou que a troca de olhares deixou de ser meros ataques cômicos para algo mais intenso e murmurou uma coisa antes de se afastar. Tony segurou o braço dele antes que isso ocorresse, e notou como tanto Stephen quanto Tony tinham um rubor na face.

Sem dúvida alguma Banner sentia que estava no meio de um clima.

— Depois precisamos falar sobre um boato que escutei, tem a ver com raios gama.

— O-ok Tony.

Apesar de abertamente perdido, Bruce aparentou especialmente tenso com o que Stark havia dito e isso não passou despercebido ao médico, mas era notoriamente um assunto desconhecido e fora de sua incumbência.

— Foi um prazer doutor Strange, espero que possamos nos encontrar em outras ocasiões.

— Igualmente doutor Banner, aguardarei outras oportunidades.

— Até mais, Tony. Depois falamos sobre esse assunto.

Tony Stark fez uma reverencia relativamente grande antes de virar-se para o médico, nada contrariado pela diferença de altura entre os dois.

— Ei, por que está me olhando assim? — perguntou assim que percebeu como lhe sondava.

— Bom Stark, você atrapalhou minha conversa com um dos caras mais inteligentes que conheço, deveria te agradecer? — o tom irônico ampliou o sorriso do engenheiro.

— Pode falar comigo Estranho, atendo aos requisitos da sua frase.

— Claro que sim, então, é aqui que me distancio... — murmurou esticando o braço para lhe oferecer uma cortesia.

— O que vai fazer hoje? — Tony pegou a mão que lhe era ofertada, e não soltou mais.

Os dois se encararam por cerca de dez segundos e foi o bastante para Tony relembrar o porquê havia passado a noite com aquele médico chato, que olhos fantásticos...

— Tenho uma reunião agora pouco, estou livre daqui uma hora, — retomou a fala ao soltar-lhe os dedos, sem importar que o médico nada dizia. — Te mando uma mensagem com as coordenadas.

— Não tem meu número. — o olhar malicioso que Strange recebeu foi o bastante para lhe dizer que com certeza o outro tinha. — Que seja.

Stephen caminhou para outro grupo de celebres convidados, e pela primeira vez desde que pisou naquele evento, havia um sorriso sincero e animado em sua face.

Tony por outro lado teve sua animação com a confirmação de um encontro, ofuscado com o motivo de ter ido aquela convenção.

Tinha investigado as forças armadas e percebido uma movimentação atípica dos envolvidos com o tal Projeto Renascimento... Não podia abordar diretamente o general, primeiro porque não gostava dele, segundo porque suas superficiais descobertas provinham de JARVIS, e não se tratava da coisa mais judicialmente legal que tinha feito.

Por isso preferia sondar Bruce, eles haviam estudado juntos no passado por toda uma conferência na universidade de Oxford, claro que nem sempre foram tão amigáveis, mas os anos se passaram e a rivalidade entre os dois tomou caminhos distintos visto o lado que cada um trabalhava.

Tentar arrancar alguma informação sobre esses Raios Gamas em um projeto militar seria quase uma saga, o outro poderia entender que Tony estivesse querendo tirar vantagens e com isso não abrir a boca.

Assim que se virou para falar com Pepper, o Stark sentiu seu braço sendo apertado por uma mão pequena e firme.

— Você tem um minuto? — a moça não era baixa, porém era magra com feições delicadas e um olhar aguçado.

— Hm... não?

— Com certeza conhece a Cross Technologies? — ela tentou novamente, bem disposta a não ceder.

— Olha, você é fofa e engraçadinha, quase me faz querer conversar em outro momento, e definitivamente sobre outros assuntos que não sejam industrias fracassadas. — deu-lhe uma piscadela ao falar pausadamente cada palavra.

Tony bateu a mão na testa de maneira falsa e exagerada.

— Oh, não me diga que trabalha para eles, eu realmente não sinto nem um pouco em dizer a verdade.

— Você é deprimente. — ela ergueu o queixo ao murmurar suas reposta.

— E você é linda, viu como ninguém é perfeito? Qual é mesmo o seu nome?

— Hope Van Dyne, grave bem ele, com toda certeza vai ouvi-lo novamente.

Piscou vendo a mulher caminhar com classe e raiva para longe dele.

Alheio ao fato de que aquelas palavras eram quase proféticas em um futuro remoto.