Oblivion escrita por Camélia Bardon


Capítulo 18
Capítulo 17, ano três


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, boa tarde e boa noite procês, como vão? Aqui tá uma chuvinha gostosa, tão gostosa que quase me fez esquecer que tinha que postar o capítulo hoje xD como vou trabalhar pelo resto do dia, aproveitei o intervalo que tinha pra vir postar correndo e sumir no limbo.



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Há algo de errado.

Posso afirmar pela maneira que uma estranha parece nutrir tanta confiança em mim, sendo que sequer me lembro de tê-la conhecido. Talvez tenha algo a ver com a dor no fundo da minha cabeça enquanto dirijo em silêncio, atravessando a ponte Pennybacker enquanto o sol ainda está bem baixo. Não é possível que eu tenha bebido tanto a ponto de me esquecer de alguém. Porque 1) eu não bebo assim, principalmente não quando tenho que dirigir logo no dia seguinte e 2) bebidas alteram memórias de eventos, não de pessoas… não é? Tem de ser.

Quem sabe se eu tivesse pedido o número dela ou… então dito que poderíamos conversar depois, mesmo se não tivesse intenção de fazê-lo? Olhando para aqueles olhos azuis pidões, só consegui pensar que ela tinha um milhão de sentimentos guardados os quais eu não conseguiria retribuir do modo que ela queria. Ou merecia.

De qualquer maneira, ainda precisava retornar em casa para dar um paradeiro à pobre de minha mãe, que já não tinha notícias do filho desde sabe-se lá quando. Não quero que ela tenha que lidar com uma cópia do meu pai em casa, um já foi suficiente. 

Quando giro as chaves de casa, mamãe e Franz estão tomando café no balcão da cozinha inexpressivamente. Desde os dezesseis anos, eu os vejo nessa rotina sagrada de compartilhar o café e as olheiras do trabalho respectivo. Dessa vez, me junto a eles, me servindo de uma grande xícara de café. Os dois se entreolham e riem fraco, como se compartilhassem alguma espécie de piada interna.

― Meu garotinho está tão crescido, chegando de gandaias… 

― Ele demorou um pouquinho para entrar nessa vida, é algo a se deixar num pedestal ― Franz mexe o açúcar no fundo da xícara preguiçosamente. ― Caleb não chegou nessa fase e já tem quase dezoito anos nas costas.

― Mas Caleb não tem vontade nenhuma de fazer esse tipo de coisa. Ele já tem internet.

― Graças ao bom Deus. Algo a agradecer a mais na Ação de Graças esse ano.

Mamãe ri, me passando o açúcar. Não deu para não franzir a testa.

― Como sabiam que eu estava na gandaia? ― pergunto, escutando o eco da minha voz patética e exausta. 

― Ué, você mandou mensagem. Aliás, você não… quem estava com você. Avisaram que você tinha bebido e não ia voltar dirigindo, então ficamos tranquilos.

― Sério? Quando foi isso?

― Umas… onze. Não foi, Franz?

Ele assente com a cabeça, descontraído. Enquanto isso, me concentro em colocar o açúcar em minha xícara e beber o conteúdo, afastando a dor de cabeça. Mesmo com o açúcar, o gosto fica amargo na língua, pela situação.

― Caramba, eu nem lembro. Sabe quem foi?

― Na verdade, não, mas eu posso olhar se quiser, Sr. Esquecido ― mamãe ri com maldade, resgatando o celular do bolso da jaqueta fina. Após desbloquear o celular e procurar a conversa, ela também torce o nariz. ― Ué, acho que eu devo ter apagado sem querer… mas estava aqui ontem mesmo.

― Entendi… 

Conclusão: nenhuma pista sobre a garota. Talvez eu devesse voltar até a casa dela para ver qual é o lance depois de tirar um cochilo. De preferência, um cochilo que dure a tarde inteira. Assim como minha mãe e Franz, tomo o café em silêncio. Eles me deixam em paz, rindo sobre algo de "na nossa idade, era pior do que isso" e "devíamos voltar à vida de gandaia, com três filhos crescidos".

Eu desisto da ideia de voltar para a casa da garota no momento em que coloco a cabeça no travesseiro e as cobertas me abraçam como velhas e queridas amigas. O relaxamento que tanto procurei, lá estava.

 

Acordo de tarde com Daisy-Lynn se deitando ao meu lado com o celular de Maddie nas mãos. Creio eu que ela estava tentando não fazer barulho, mas as falas memoráveis de Meu Malvado Favorito me despertam assim que ela se enfia debaixo das cobertas. Seu corpinho se derrete todo, ocasionando a virada do celular bem no meu rosto.

― Que bom dia ― rio, enquanto ela fica vermelha até a raiz dos cabelos de vergonha. 

― Desculpa, Aden ― ela mal consegue pronunciar meu nome, mas ainda acho adorável. ― 'Tá quentinho… 

― Não tem problema. 'Tá assistindo filme?

Ela assente com a cabeça, se ajeitando no colchão. Abro espaço para ela se aconchegar no meio das minhas pernas, abraçando-a de lado para poder pegar o celular e segurá-lo na frente de nós dois. O cabelo dela está úmido e cheiroso, o que sugere que ela acabou de sair do banho. O celular indica que mamãe ainda não chegou do serviço.

Viu? Não estou tão mal assim.

― A gente só vai ver esse?

― É!

― Não vai cansar de ver o Gru careca todo dia falando as mesmas coisas todos os dias?

― Não… eu gosto ― ela ri de uma maneira sincera, voltando os olhos azuis brilhantes para mim em expectativa. ― Ele é bonzinho… parece o papai.

De fato, agora que ela coloca em comparação a figura alta e careca de Franz é impossível de tirar a imagem de minha cabeça. Nós dois rimos, e até me esqueço de toda a bagunça que se instalou em minha cabeça há algumas horas. É assim que tem de ser: eu, quieto em casa com meus irmãos, minha mãe e meu padrasto, fazendo a faculdade que sempre quis e dando um bom exemplo de superação e todos aqueles clichês estereotipados de negros em filmes de ficção. Namoradas e casos de uma só noite podem esperar para quando eu tiver uma vida mais estabilizada.

― 'Cê 'tá cheiroso ― Daisy-Lynn se ajeita em meu peito, inspirando o cheiro com pouco cuidado. Puxo minha camisa para ver se ela está com o meu perfume, mas me surpreendo em descobrir que não é a minha colônia. ― Cheiro da Lou. 'Tô com saudade dela, Aden

Me pego perguntando se "Lou" é alguma amiga dela da creche, ou alguma amiga de mamãe. Como não a reconheço, indago de volta:

― Lou?

― Lou, Lou, Lou ― ela repete, já absorta novamente no celular.

Quanto a mim, nada mais tenho que um nome, um cheiro e minhas cobertas assaltadas por uma coisinha minúscula. Acabo me rendendo a Meu Malvado Favorito, passando o cobertor ao redor de nossos corpos e a abraço com carinho, ganhando um sorriso com vários dentes faltando. Meu coração se aquece novamente, e penso que o universo e a bagunça em minha cabeça podem esperar mais cinco minutinhos para que eu os resolva.

 

Ao anoitecer, recebo uma mensagem de Pietr me perguntando se ele pode ir comigo para a universidade. Geralmente, quando ele retorna para casa, é sua irmã quem o leva. Ele completa a mensagem com "podemos ir segunda-feira de manhã? A mulher aqui em casa está à beira de um colapso". Obviamente concordo, porque se Aimee ou Maddie estivessem com problemas ou eu ficaria até se sentirem bem ou iria atrás de quem as magoou e faria se arrependerem de cada palavra.

Com os planos mudados, me sento na janela do quarto para observar o céu. A única coisa de que tenho certeza no momento é que, abaixo da constelação de Hércules, há a constelação de Lyra. Lá para o meio do mês poderemos ver a chuva de meteoros. No entanto, é a primeira vez que secretamente torço para que um deles sem querer desvie seu curso atmosférico para me atingir na cabeça.

Se aquela garota não significava nada, por que eu ainda sentia que não devia deixá-la de lado?

 

Meu domingo foi relativamente tranquilo. Era o dia em que estávamos todos cansados da semana e tentando recarregar energias para começar a próxima sem desastres além dos tradicionais. Também foi o dia de ficar com a eterna pulga atrás da orelha. Havia uma sensação estranha porém familiar de que algo estava fora do lugar, portanto preferi procurar direto de fontes confiáveis qual era o problema. Não era possível que eu tivesse apagado um dia inteiro da cabeça, era...?

Segunda de manhã buzinei amigavelmente na frente da casa dos Benoit, recebendo uma mensagem de censura de Pietr. O ruivo maravilha saltou pela porta com a bolsa jogada por cima dos ombros, as olheiras respondendo por seu humor.

― Bom dia ― cumprimento, girando a chave de ignição. ― 'Tá com uma cara péssima, que foi?

― Mais fácil perguntar o que não foi ― em resposta, Pietr ri fraco, colocando o cinto de segurança. Daí, ele olha para mim, os olhos azul-escuro faiscando. ― Minha irmã levou um belo de um fora de um cara que ela diz não lembrar quem é. Ela ficou chorando dois dias seguintes, achando que 'tava ficando maluca. Consegue acreditar?

Contraio minha testa, tomando o caminho para a universidade. É um longo caminho e, consequentemente, uma longa conversa.

― Pior é que acredito. O show de sexta foi tão regado assim?

― Olha... não sei, porque ela voltou dirigindo... e a Louna não é irresponsável. 

Ah, Louna... se só me desse uma chance, eu não faria isso... 

― É... comum esse tipo de coisa? Ela se esquecer de eventos, pessoas...?

― Já tem uns três anos. Da primeira vez que aconteceu, eu não dei muita atenção. Mas aí veio a segunda, e agora a terceira. 'Tá... deprimente o estado em casa. Eu fico tenso com ela em casa, com os pais desnaturados que a gente tem. Do jeito que ela é louca, vai ficar matutando nisso até ficar sem força. Ei! ― subitamente, ele salta no banco do carona. ― Você que entende de padrões bizarros, acha que conseguiria ajudar com isso? 

Respiro fundo, tentando ligar uma informação à outra. No primeiro farol que paramos, assinto com a cabeça. Não sei no que estou me metendo, mas se for para ajudar a Louna eu posso até tentar descobrir.


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Notas finais do capítulo

Ai, Adriano, sério... não dá pra te defender com essa cabeça bagunçada. Acho mesmo que estava precisando de um meteoro na cabeça pra ver se ajuda.
E bora para o quarto e último ano! Algum palpite? Torcida? Sapatadas? Tô aceitando tudo! Até mais xuxux ♥



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