Ela Ainda Não Voltou escrita por Deza Ikeuchi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma história que eu já escrevi há muito tempo e estava guardada, escondida no meu pc e mexendo em pastas que se não fossem virtuais já estariam cheias de pó e teias de aranha de tanto tempo que ficaram sem que fossem abertas, eu descobri, ou melhor, redescobri esse conto que eu nem me lembrava mais que o tinha escrito.
Como tudo que eu já escrevi, por mais idiota, sem sentido e cheio de erros que seja, Ela Ainda Não Voltou tem um lugar especial no meu coração e eu espero que gostem ^^



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 Vilarejo de Natillen, Inglaterra, 20 de julho de 1680, hoje eu completo meu décimo segundo aniversário e mais uma vez meu pai me deixou sozinha cuidando de minha irmã de quatro anos, Sophie. Ela é uma garotinha linda, sua pele extremamente clara, seus olhos são do azul mais puro que já vi e seu cabelo é de um louro quase branco e cacheado, ela é bem miudinha, graças à escassez de comida, mas é a criança mais linda e meiga que conheço e não digo isso apenas por ela ser minha irmã, é que mesmo com todos os motivos para chorar ela é gentil e nunca deixa de sorrir ate mesmo depois de levar uma surra do nosso pai, ela continua sempre com um sorriso nos lábios, mesmo que aberto por entre as lagrimas.

Sophia nasceu doente e nenhum dos curandeiros que conheço, sabe a cura para o que ela tem, mas Breacht, uma mulher velha, alta e gorda, de cabelos louros lisos, que mora na capital, vem para nosso vilarejo uma vez a cada três meses, trás remédios de Londres para minha irmã, é claro que eu pago por esses remédios, um preço caro, mas vale à pena, pois aqueles remédios são a única coisa que mantém minha irmã viva. Trabalho muito para conseguir o que Breacht me pede em troca dos remédios, a cada visita dela ela pede coisas diferentes e ultimamente seus pedidos estão ficando cada vez mais difíceis de conseguir. Hoje faz três meses desde a ultima vez que ela veio e naquela ultima vez eu não havia conseguido arrumar tudo o que ela me exigiu, então me deu uma quantidade menor dos remédios, que tem um gosto horrível de acordo com Sophia, e eles já acabaram a uma semana. Mas neste mês eu já havia conseguido tudo, evitei fazer algumas refeições para conseguir isso, mas o esforço valeu a pena, porém quando acordei hoje, tudo havia sumido, inclusive nosso pai.

Nosso pai... Jack Mitchal, alto, forte, cabelos e olhos negros, um homem incrível antes de Sophie nascer, agora, um monstro que aterroriza nossas vidas por diversão e que se acha no direito disso apenas por colocar comida em nossos pratos, tarefa essa que não vem realizando adequadamente, faz dois dias que não como nada e Sophie só não passa tanta fome, pois um de nossos vizinhos joga as suas sobras para ela, mas raramente a sobra sacia a fome.

Quando minha mãe contou para mim e meu pai que estava grávida houve festa em minha casa, toda família que conheço tem no mínimo cinco filhos, e eu filha única sempre sonhei em ter irmãos e meu pai também sonhava em aumentar a família. A barriga de minha mãe estava enorme e todos sabiam que já estava quase na hora da criança nascer, então meu pai e eu fomos á cavalo até o vilarejo vizinho de Radian buscar a parteira, já que a única parteira de nosso vilarejo acabara de falecer. Estávamos esperando a mulher em frente a um bar onde amigos de meu pai estavam reunidos bebendo, e um desses amigos, que já estava completamente bêbado, eu logo reconheci a medida com que se aproximava de nós, era o Albert, um homem de mais ou menos 40 anos, alto, magro, barba e cabelos louros e grandes, a roupa cheirando a um misto de bebida e suor, ele fora apaixonado por minha mãe antes de meu pai, mas ela nunca lhe deu confiança, mas ele não desistia ate que ela se casou com meu pai, mas mesmo assim ele não deixava de persegui-la quando meu pai não estava por perto, de acordo com que ela me conta, Albert só deixou de correr atrás dela quando ela engravidou de mim, e meu pai, como naquela época era muito ingênuo, nunca desconfiou do “amigo”.

Albert e meu pai começaram a conversar, eu não prestava atenção na conversa ate que ele pronunciou o nome de minha mãe, Isabelle, então comecei a ficar atenta a tudo o que eles diziam. Albert estava falando que minha mãe traiu meu pai com todos do vilarejo, que era só meu pai por os pés para fora de casa que minha mãe colocava outro homem para dentro.

“Isso é mentira! Minha mãe nunca traiu meu pai! Ela o ama!”- Pensei em gritar aquelas palavras, mas antes que eu o fizesse, meu pai acertou um soco no rosto de Albert, que o fez cair no chão bem em cima do estrume dos cavalos, e meu pai ainda gritava para que ele parasse de inventar mentiras sobre a mulher dele, porque senão as consequências seriam bem piores.

Após o incidente a parteira não tardou a chegar, e no caminho de volta para casa meu pai me pediu para não comentar o ocorrido perto do bar com a minha mãe e eu o obedeci, no mesmo dia, minha irmã nasceu, seus olhos azuis encantaram a mim e a minha mãe, era a única na família que teria tão cor brilhando em seus olhos, tanto meus pais quanto eu temos olhos escuros, mas isso fez meu pai ficar um pouco distante, e com o passar de alguns meses, quando o cabelo dela enfim estava crescendo e conseguíamos realmente enxergar a tonalidade loura, quase transparente dele, totalmente diferente da cor negra do meu cabelo e dos meus pais... depois disso meu pai começou a realmente se afastar de sua família. Não entendi o motivo daquele comportamento, mas no meio de uma longa noite de inverno acordei com uma discussão entre meu pai e minha mãe, ele berrava tanto que chegava a ser difícil entender as suas palavras, minha mãe permanecia calada, enquanto as lágrimas caiam como cascatas de seus olhos. Nunca a vi chorar antes, para mim ela era inabalável, indestrutível, mas agora era só uma frágil mulher. Não posso me intrometer nas brigas de meus pais, aos domingos quando vou à missa o padre sempre nos lembra de que a desobediência e o desrespeito são os maiores de todos os pecados, e que quem cometê-los não ira alcançar o Reino dos Céus, e eu tenho muito medo de ir para o inferno, então permaneço em silencio e escondida atrás das paredes.

Meus olhos já estavam inundando meu rosto com as lágrimas, brigas entre marido e mulher são muito raras, porque as mulheres são ensinadas que devem obedecer aos seus maridos e eles que devem sempre proteger sua família, como nos é ensinado desde que nascemos, e isso sempre valeu em minha casa, mas agora isso mudou.

Minha mãe estava calada, apenas olhando assustada nos olhos de meu pai, com aquela mancha vermelha, viva e quente marcado em seu rosto, que agora me parecia mais pálido do que nunca. A marca da enorme mão do meu pai estava estampada no rosto de minha mãe, que havia caído no chão de tão forte e inesperado que havia sido aquele gesto, com uma pequena faixa de sangue escorrendo do canto de sua boca. Eu nunca vi meu pai agredir ninguém antes, ele nem mesmo batia em mim quando eu aprontava, e agora seus cinco dedos estavam desenhados no rosto de minha mãe como prova de seu ato. Coloquei minhas mãos na boca para abafar meu grito, e instantaneamente elas ficaram molhadas pelas lagrimas que saltavam de meus olhos.

Depois disso, nenhuma palavra foi mais dita, meu pai olhava alternadamente para suas mãos e o rosto de mamãe com espanto no olhar, ele mesmo não parecia acreditar no que acabara de fazer, mas isso não minimizava em nada o que ele fez.

O silencio não abria mão de seu lugar em minha casa, ele devorava as palavras que meu pai tentava pronunciar antes mesmo dele abrir os lábios, não dava som á dor de minha mãe permitindo apenas que lagrimas saltem de seus olhos, e por fim, o silencio me paralisava, não era o medo que mantinha meus músculos imóveis, era apenas o silencio que transbordava de tudo e me fazia esquecer ate mesmo que eu sou um ser humano e não um objeto sem vida que foi esquecido ali...

Passos. Minha mãe se levantou e seus pés, e os passos que dava, correndo em direção à porta foi o único som forte o suficiente para quebrar aquele silencio mortal. Meu pai, por alguns segundos, continuou ali parado, na mesma posição, talvez pensando no que fazer, ou talvez simplesmente não pensando, não existindo, não vivendo, talvez estivesse tentando descobrir se aquilo era um pesadelo ou realidade, como eu estava. Não sei oque se passava na cabeça dela, ou se se passava alguma coisa, só sei que quando ele fechou os olhos e apertou suas mãos em punho com força, tencionando seus músculos, senti um calafrio percorrer todo meu corpo, e quando ele os abriu de novo, sabia que aqueles olhos não eram mais de meu pai.

Ele saiu correndo porta afora atrás de minha mãe naquela noite, já se passaram três anos desde então, meu pai voltou para casa, minha mãe ainda não.


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Notas finais do capítulo

E então oque acharam?

Gostaria apenas de esclarecer, que na parte onde esta escrito que "...as mulheres são ensinadas que devem obedecer aos seus maridos", não concordo que mulher tem que obedecer a NINGUÉM, mas infelizmente sabemos que na época em que a história se passa, esse é o pensamento da sociedade, mas felizmente isso está mudando.

Enfim, espero que tenham gostado, estou ansiosa para saber a opinião de vocês ^^



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