A música, as pessoas, os sorrisos, a liberdade. Eram quatro das inúmeras coisas que Sooyoung amava quando aquele mês do ano chegava: março. Muitas pessoas reclamavam da demora que era e da canseira que o mês trazia, vindo com 31 dias depois de um mês com apenas 28 dias. Ninguém conseguia suportar março.

Para Sooyoung tudo era diferente. Ela amava janeiro, o mês do verdadeiro verão e de recomeços, também amava fevereiro e todo o seu brilho graças ao Carnaval, entretanto março era o verdadeiro destaque de todo o ano: era a época do seu festival favorito, o Lollapalooza.

E depois de 80 dias depois do começo do ano, o final de semana do festival finalmente havia chegado. Sooyoung já estava no local onde o festival aconteceria e aos poucos o lugar era preenchido mais e mais por pessoas incríveis, que infelizmente a garota sabia que não iria encontrá-las no seu cotidiano: gente livre para ser quem realmente era. Pessoas que se vestiam sem temerem os julgamentos, que amavam sem medo. O festival trazia uma áurea de outro mundo para Sooyoung.

Era por isso que durante os três dias de festival, Park Sooyoung gostava de se reconhecer como Joy, a garota totalmente independente e segura de si, a mulher que todas se espelhariam no cotidiano. Joy se tornou confiante e poderosa daquele jeito graças às suas amigas que lutavam pelo feminismo e mostraram a mais jovem que ela não precisava ter medo, contanto que lutasse com todas as suas forças pelo seu direito, pelo direito de todas as mulheres do mundo.

Respirou fundo e caminhou seguramente em direção a um dos palcos, a espera do show começar. No meio da multidão, Joy aparentava ser apenas mais uma garota alternativa, porém dentro de sua cabeça, a jovem gostava de pensar que enquanto era dona do seu próprio corpo, Joy era também dona do seu mundo, e naquele momento, envolta de pessoas desconhecidas, Joy se sentia infinitamente indestrutível.

— Sooyoung! – Uma voz conhecida gritou a poucos metros da morena. Joy imediatamente virou-se em direção ao som e sorriu ao encontrar Kim Yerim toda feliz vestida com uma blusa de mangas longas com as cores do arco-íris. Ao se encontrarem, a menor jogou-se nos braços da amiga para dar um abraço muito apertado, porém extremamente confortável. – Já estava pensando que não iria te encontrar nesse ano, por causa dessa multidão que não para de surgir!

— Yeri, não precisa exagerar! – Joy riu com a hipérbole da amiga. No fundo estava aliviada por ter encontrado algum conhecido no meio do festival, pois com certeza era muito mais divertido compartilhar toda aquela energia positiva que emanava da garota com mais alguma amiga. – Ei! Devolve o meu chapéu!

Yeri brincava com o chapéu branco que compunha o look da amiga, vez ou outra tirando-o da cabeça para fingir que estava dançando com o objeto, ao sossegar e colocar o chapéu na própria cabeça, disse: – Joy, hoje você vai me beijar?

A mais alta gelou, o sorriso quase se fechou por completo depois de ouvir o que a tão querida amiga disse, todavia antes de conseguir respondê-la verdadeiramente, soltando uma simples palavra de três letras, seu coração levou um susto quando o show começou com o som estridente da guitarra de um dos membros da banda.

Era até engraçado como toda a filosofia de Sooyoung se contradizia naquele momento; ao ver a Yeri dançando com os olhos fechados, curtindo a música e entrando na vibe do festival, Joy não se sentia com os pés firmes no chão, não sentia que tinha tudo sob controle, porque algo mais forte que a confiança da garota estava a consumindo no momento em que Kim Yerim dominou todos os seus pensamentos.

— Ei! Park Sooyoung! – Yeri estalou os dedos no campo de visão da mais velha, para despertá-la de toda a confusão que estava sua mente. – Nem parece que você está curtindo o Lollapalooza nesse ano! Eu perguntei aquilo por brincadeira, ok? Pode relaxar, Joy.

Sorriu amarelo e puxou o pulso da morena em direção a outro palco, onde outro show estava prestes a começar, dessa vez seria música eletrônica, um gênero que ambas curtiam. O coração de Joy começava a palpitar cada vez mais rápido e ela não sabia distinguir se era por animação por causa do festival ou se era pelo simples contato de pele que estava tendo com a amiga. Com certeza gostaria de dizer que não era por causa de Kim Yerim, porém algo dentro de si confirmava que toda aquela situação era causada pela extrema vontade de Joy querer entregar-se ao seu desejo e entregar-se a Yeri.

Quem olhasse as duas jovens caminhando sorridentes por aí, poderiam facilmente rotulá-las como melhores amigas de infância, mas se olhassem mais de perto, perceberiam os detalhes em cada troca de olhares e gestos com inocentes segundas intenções. Porém Joy nunca tinha cedido sua vontade de mergulhar sem medo em Yeri, por ser facilmente dominada pela mais nova e ficar sem reação, ao contrário de Yerim que sempre criava situações para que Sooyoung finalmente decidisse fazer aquilo que o coração dela implorava por.

Quando a outra música começou, quando as batidas invadiram cada célula de Joy e o céu se tornou uma tela de incríveis sensações, misturadas ao laranja, azul, branco e rosa, a garota permitiu-se ser levada pelo vento, dançando lentamente para aproveitar cada sentimento que a música despertava nela. Yeri a observou e sorriu, dessa vez abertamente, feliz e orgulhosa por conhecer uma pessoa como Joy: que nunca tinha medo de entregar-se ao mundo e batalhar pela justiça. Joy era toda a inspiração personificada de Yeri. E naquele momento, Yerim quis agir como Joy, confiar em cada passo que dava e ser quem ela realmente queria ser, estar com quem queria. Tudo isso sem um pingo de medo.

Respirou fundo, ainda olhando Sooyoung sorrindo de olhos fechados, mas de ouvidos abertos a cada palavra proferida pela música. O sol já estava se pondo, mas contanto que Yeri estivesse ao lado de Joy, seu mundo estaria iluminado o suficiente. Caminhou dois passos para a direita, sorriu e nas pontas dos pés, juntos seus lábios ao de Sooyoung.

Nenhuma das duas conseguiria dizer se a batida que escutavam era das caixas de som ou dos próprios corações que batiam simultaneamente. Mas nenhuma das duas queria separar o beijo para responder aquela dúvida. Sooyoung segurava firmemente a cintura de Yeri e sorriu entre o beijo quando percebeu que sim, era tudo causado por Kim Yerim; a agitação estranha em seu corpo, os pensamentos frequentes sobre a amiga, a enorme necessidade que sentia de querer ficar perto e mais perto da outra o tempo todo... Tudo tinha um nome e uma única solução: Yeri. Os lábios da mais nova eram macios e ao aprofundar mais ainda o beijo, Joy sentia que as duas eram as únicas no mundo, e que o festival - sua trilha sonora - fora criado exclusivamente para aquele momento. Nada mais importava se Kim Yerim e Park Sooyoung compartilhavam aquele beijo.

O festival ganhara outro significado para as duas quando o beijo se desjuntou. Yeri fora a primeira a abrir os olhos, feliz o suficiente para querer gravar cada segundo em sua memória e ao ver Joy sorrindo de volta, dessa vez mais calma e leve, Yerim soltou em meio aos risos:

— Park Sooyoung, você finalmente me beijou!

Joy quis xingar a outra de brincadeira, mas a felicidade no seu coração era tão imensa que se permitiu cair na gargalhada, para logo em seguida entrelaçar seus dedos aos da mais nova.

E embaixo daquele céu levemente preenchido por estrelas, Sooyoung teve a certeza de que estava completa; março chegou trazendo o Lollapalooza para ela reafirmar que era uma garota confiante e como bônus o mês a conectou com Yeri e agora se sentia completa, livre para ser quem era quando quisesse e sabia que sendo a grande mulher que ela definitivamente era, o seu mundo se preenchia de oportunidades e sua alma, de felicidade.

Porque além de uma mulher maravilhosa que Sooyoung era, ela agora tinha o novo festival que Kim Yerim era para explorar.