Songwriter escrita por Paulie


Capítulo 1
1. What do I Know?


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, boa tarde, boa noite!

Essa é uma história maluca que surgiu na minha cabeça em uma das muitas vezes que ouvi o álbum Divide (deluxe) do Ed Sheeran. E aí pensei, por que não?
Como expliquei nas notas, serão ao todo 16 capítulos, cada um nomeado com uma das músicas do álbum (porém a ordem tive de reorganizar para se encaixar na estória, como podem perceber já por esse primeiro capítulo).

Essa música é um amorzinho para mim, recomendo que ouçam enquanto estiverem lendo (deixarei linkado no ? do título)

Espero que gostem!



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What Do I Know?

Just re-remember life is more than fittin' in your jeans

It's love and understanding, positivity

— James, querido, está na hora de jantar, por favor, para de tocar esse violão e desce, já estamos te esperando – a mãe do garoto apareceu na porta do quarto dele, com os pés de galinha aparecendo nos olhos apertados por um sorriso.

— Já tô indo, mãe – o rapaz, em torno de seus onze anos, respondeu, sem tirar os olhos das cordas, onde treinava alguma música, trocando de sol para dó e para ré, sem parar.

A mulher riu e fechou a porta balançando a cabeça: ela já sabia que o “já to indo” do filho iria acontecer dali a – no mínimo – meia hora. Às vezes gostaria de matar Fleamont, seu esposo, por ter lhe convencido que aquele instrumento seria o presente de aniversário perfeito – depois da ocasião, nunca via o filho sem a companhia do seu violão. Logo depois, gostaria de beijá-lo, nunca havia visto James tão feliz quanto o dia que aprendeu a tocar sua primeira música.

Desceu as escadas e se sentou ao lado do marido na mesa de jantar, recebendo um olhar por sobre as lentes dos óculos e um sorriso de lado – tão igual ao de James.

—  Então, eu podia ter ido no supermercado antes da janta, afinal? – ele brincou, implicando que ela ralhou com ele quando tentou pegar as chaves do carro minutos antes de terminar de aprontar a comida.

— Você conhece seu filho, Fleamont. Não vou reclamar, lavar as roupas com ele tocando algo no quarto é bem melhor do que ouvir algo no rádio. – ela arrumou o forro da mesa enquanto dizia, sorrindo. Olhou para o esposo, orgulhosa – Ele realmente tem talento para música, você sabe.

— Ele ama aquilo, Euphemia, é muito mais que puro talento. – ele apertou a mão da esposa em cima da mesa, sorrindo de volta para ela.

Depois de não conseguirem por anos terem o filho que tanto queriam, depois de diversas tentativas – anos e anos –, depois de quase desistirem... Foram presenteados com o filho mais maravilhoso que poderiam pedir. James era mais do que qualquer um dos dois imaginariam: mais intenso, mais alegre, mais agitado, mais criativo, mais empenhado, mais carinhoso.

— Foi mal, mãe, pai – James desceu as escadas gritando, alcançando o cômodo pulando os últimos degraus e causando um estrondo no piso da cozinha – O que tem pra jantar hoje? – ele puxou a cadeira e, assim que se serviu, continuou a falar – Sirius, Remus e Peter vão vir aí amanhã, tudo bem? Sei que não avisei antes, mãe, mas é sábado, e você sabe. Ah, sabe o que aconteceu na escola hoje? Na aula de educação física o Peter deu uma bolada no treinador, ele ficou tão puto, vocês não iam acreditar.

Euphemia e Fleamont trocaram um olhar antes de abaixarem o olhar para seus próprios pratos enquanto ouviam o discurso de James, que naquele momento já tinha se tornado como um garoto da escola havia derramado todo seu refrigerante quando trombou com uma das colegas no refeitório.

My daddy told me: Son, don't you get involved in

Politics, religions, other people's quotes

Sentaram todos em frente à TV, Fleamont passando pelos canais sem ficar tempo suficiente em algum, tentando escolher algo para assistir, Euphemia passando a mão nos cabelos de James que estava sentado entre as suas pernas, no tapete, e ele tentando fazer alguma tarefa da escola que já havia sido enrolada por tempo demais – e provavelmente porque a mãe lhe dera um ultimato que só iria poder encontrar os amigos depois de ter terminado aquilo.

No jornal que passava em um canal que ficou por um tempo mais longo que o usual na passada de Fleamont, as imagens mostravam rastros de destruição deixados pela guerra em algum país do Oriente Médio. “Radicais ocupam edifícios públicos no Iêmen, fazem civis de reféns e deixam pelo menos três mortos”, dizia o âncora.

— James, vou te contar um segredo, um conselho pra vida.

— Hun? – ele estava alheio a tudo em sua volta, tentando entender como aquela conta de matemática era feita. Se virou para o pai, esperando que ele continuasse (e torcendo para que ele não tivesse falado nada de importante enquanto não estava prestando atenção).

— Isso aí – ele apontou pra TV – Olha, é uma tragédia. Realmente é. Você pode rezar pra eles, e mandar algumas doações, mas o que pode mudar aquilo, de verdade, é amor. Eu amo você e sua mãe, e eu amar vocês, me faz repensar todas as atitudes que um dia eu poderia vir a tomar. Política, religião, discutir em cima de o que alguém disse-que-não-disse, isso tudo causa isso; e isso você não vai conseguir mudar.

James não deu importância para isso na época, só concordou com a cabeça e voltou a escrever – de repente havia lembrado exatamente como o professor tinha resolvido aquela equação na aula. Mas ele não precisava realmente de prestar atenção em um momento em específico: toda sua criação, todo o seu conceito de família foi embasado naquilo. Amor.

I'm just a boy with a one-man show
No university, no degree

— E esse foi mais uma hora da sua vida aproveitada do melhor jeito possível: ouvindo as melhores músicas especialmente selecionadas. Espero vocês amanhã, até lá, Londres; e fiquem agora com a incrível Alice para alegrar ainda mais a noite desocupada de vocês. – ele apertou o botão que desligava o seu microfone, apontando para a mulher que estava do outro lado do vidro, que começou a falar assim que ele deu a deixa.

Pegou a mochila que havia jogado em um canto quando chegou – meio que atrasado para começar o programa – deu um tchau para Alice, que falava sem parar com o microfone e lhe respondeu só com uma piscada de olho, pegou o violão e saiu rumo à entrada do prédio da rádio.

— James! – Frank o cumprimentou, sentado em uma das poltronas do lobby do prédio, mexendo no celular enquanto ouvia a voz de Alice sendo repercurtida pelas caixas de som do local que reproduziam o programa.

— Oi, Frank! – o rapaz respondeu, embaraçando as pernas no meio do passo para se voltar para o amigo – Esperando a Alice acabar o programa?

— Sim! Ficamos sabendo que vai tocar naquele pub que fomos da última vez com a galera, estávamos pensando em passar lá e pegar o finalzinho da apresentação.

— Cara, seria ótimo. Falando nisso, tenho de correr, se não já viu – James ajeitou os óculos no rosto, tendo de remexer para impedir a mochila de cair – Espero vocês lá então!

Ele acenou e James continuou sua caminhada até as portas duplas de vidro do prédio, sendo alcançado pelo vento – extremamente – gélido de Londres. Pulou até conseguir alcançar seu celular do bolso – que por uma ideia estúpida havia colocado onde a mochila tampava – e, olhando no relógio, conferiu a hora e suspirou de alívio quando viu que conseguiria chegar a tempo para pegar o ônibus que ia para a região do barzinho em que iria tocar naquela noite se corresse um pouco e, ainda bem, não precisaria pagar um Uber.

Andando em largos e rápidos passos os cinco quarteirões que o separavam do ponto do ônibus, chegou no momento que o motorista havia acabado de parar para um passageiro. Subiu as escadas correndo, passou o cartão pelo leitor e se sentou em um dos bancos da janela, no fundo do ônibus, colocando seu violão e mochila no assento ao lado. Suspirou.

Deslizou o dedo pela tela do celular: 121 mensagens de 3 conversas, 3 chamadas perdidas. Apertou para retornar as ligações de sua mãe e aguardou na linha olhando para a paisagem noturna de Londres.

— James, querido! Fleamont, James está na linha – ela gritou afastando o celular da boca.

— Oi mãe!

— O programa hoje foi incrível, seu pai está cantarolando aquela música que você tocou no início até agora, sem parar! (Como faço para ele parar, por sinal, James?)

 - Não acredite em nada que ela disse – conseguiu ouvir o pai gritando no fundo, sussurrando então um “chega pra lá, espaçosa” pra mãe – Oi filho.

— Oi pai. Não precisam ouvir o programa todo dia por causa de mim, já disse isso – ele coçou a nuca, encarando o chão metálico do ônibus.

Às vezes ele se perguntava se estava fazendo certo, se tinha seguido o caminho certo. Não ir pra faculdade, continuar com a vida de músico, procurando bicos – que só davam pra se sustentar porque ainda recebia mesada dos pais, o que era um pouco (pra não dizer muito) embaraçoso...

Seus pais, incondicionalmente, lhe ofereciam apoio – sempre – e, depois de dois anos morando na grande Londres em buscas de melhores oportunidades, se questionava se merecia tanta confiança.

— Seu programa é ótimo, James. Você é ótimo, James. – ele disse e James conseguiu perceber que ele sorria.

James fungou, sentindo que se continuasse pensando naquelas coisas, não iria conseguir permanecer com um comportamento aceitável para o transporte público.

— Eu já tô chegando, então vou ter de desligar – embolou um pouco as palavras, falando de forma apressada – Eu amo vocês.

— Também te amamos, querido!

Desligou e ficou encarando por um tempo o celular, enquanto a chamada passava de verde para vermelho, até a tela apagar. Sorriu. Ligou novamente a tela e abriu as notificações, vendo que algumas (muitas) das mensagens eram do seu grupo com os melhores caras de todos os tempos – “Marotos”, com Sirius Black, Remus Lupin e Peter Pettigrew, ou simplesmente Padfoot, Moony e Wormtail, como James preferia – e as deixou lá para serem respondidas com mais calma quando em casa. Algumas mensagens no grupo da rádio e algumas na conversa com Lizzie.

Clicou na conversa para responder e, enquanto digitava a senha, o ônibus parou. Olhou para a janela e correu porta afora, desajeitado com a mochila e o violão – já era seu ponto, mas ele nem havia percebido o tempo passar. Por sorte, o barzinho onde tocaria era bem na esquina daquele mesmo quarteirão, então chegou pontualmente, cumprimentando a dona do local.

— James, querido, o que eu faria sem você! – a mulher com cabelos cacheados e bustos fartos o cumprimentou com um abraço.

— Rosmerta, já pode dizer que sou a alegria desse lugar – ele sorriu, apoiando o violão no chão ao seu lado para conseguir a abraçar apropriadamente.

— Você já sabe onde fica tudo, não se acanhe – ela disse com uma piscadela, apontando para a dispensa com os materiais que ele precisaria para o acústico e saindo para a cozinha. 

Ain't got a soapbox I can stand upon

But God gave me a stage, a guitar and a song

James dedilhava seu violão e tocava uma música conhecida. Percebeu que algumas pessoas – principalmente as que ocupavam as mesas onde o chopp já havia sido substituído algumas vezes – acompanhavam a letra, rindo com os colegas. Uns poucos que estavam sentados nos bancos altos perto do bar o encaravam, às vezes balançando a cabeça com o ritmo da canção, outras simplesmente parecendo ver um ponto muito além dele.

Quando Frank e Alice chegaram, ambos ergueram o braço cumprimentando o amigo, se apossando de uma das mesas vagas do canto. Pegou seu copo de coca, deu um grande gole.

— Se vocês não conhecerem essa melodia, não se preocupem – ele disse ao microfone, antes de começar a tocar a próxima de seu repertório – Ninguém espera que vocês conheçam mesmo porque, afinal, é apenas algo que eu escrevi nas horas vagas. Espero que vocês aproveitem.

Montou um dó no violão e a voz do rapaz, calma e firme, soou pelos autofalantes do local. O sarcasmo sutil podia ser percebido a cada vez que o rapaz cantava o refrão e, embora quem prestasse atenção na letra notasse o quão profunda era a canção, para aqueles que estavam ali só pelo som, a cada vez que James, de lábios cerrados um contra o outro, murmurava, sentiam um dos seus músculos do ombro tenso se relaxar.

Quando James, chegando ao final da música, olhou de novo para a mesa onde os amigos tinham se sentado, percebeu que não eram os únicos ali. Porque ali, junto a eles, estavam simplesmente seus Marotos. Todos os cinco ali sentados sorriam para ele com um sentimento nada menos do que orgulho palpável.


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Notas finais do capítulo

Como puderam perceber, foi um capítulo que introduziu a família do James, como ele está se virando como um adulto e também alguns de seus amigos - no próximo teremos oportunidade de conhecê-los melhor.

Espero de coração que tenham gostado e que se juntem a mim nessa aventura haha

Alguém arrisca qual será a próxima música?

Beijinhos e até o próximo!

Paulie



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