Eu estava irritado, qualquer um estaria no meu lugar!

Puta que pariu! Uma adolescente, filha de um cara que eu admiro pra caralho, apareceu do nada na minha casa querendo ficar!

COMO NÃO FICAR IRRITADO?!!

Foda-se que é filha daquele cara! Eu não sou babá, poha!

“O meu pai morreu...”

E simplesmente assim, minha raiva desapareceu.

Eu não conseguia tirar meus olhos dela, especialmente de seus lábios. Eu queria que eles se abrissem novamente, queria que dissessem “brincadeira” ou então “mentira”.

Olhando de perto, a garota lembra ele, principalmente os olhos. O tom de verde é o mesmo.

A notícia chegou à mim como um soco no estômago, eu senti como se tivesse sido atingido por um raio.

Acho que é natural se sentir desse jeito com esse tipo de notícia.

Quando a filha do meu professor de teatro me disse que ele tinha morrido, eu não consegui esconder o quão perturbado eu estava.

O homem o qual eu tinha profundo respeito não estava mais presente e eu nem ao menos sabia disso. Eu sentia que deveria fazer o mínimo, ir visitar seu túmulo e prestar minhas condolências à família.

“Ah… Mask. Onde estamos indo?”

Eu voltei pra casa, ele morava perto.

Iria aproveitar que nossas famílias moravam perto para informar a família dele sobre a minha visita, me informar onde ele estava enterrado e levar Helena de volta para casa.

Já fui jovem, tive a idade dela e sei que se fosse comigo, eu também iria querer fugir.

Mas não das pessoas, da dor.

A dor sufoca, mata. Fugir iria deixar tudo mais complicado, mais doloroso e solitário. Eu não podia deixar ela assim.

Hoje em dia eu sei que precisamos de pessoas para superar nossas dores, Afrodite é minha maior prova disso.

Aliás, ele adorou minha família e minha família o adorou.

“Está ótimo! Eu só… Vocês são uma família muito bonita”.

Aparentemente, o telefone não será mais o bastante para minha família e nem para Afrodite.

“Mask. Estamos atrasados. Não íamos almoçar com a família de Helena?”

Afrodite veio me chamar, eu passei a manhã inteira no quarto.

Eu acordei cedo para ir no cemitério, mas quando terminei de me trocar foi que o peso da notícia recaiu de fato sobre os meus ombros.

Por que? Ele era um homem tão incrível. Por que ele teve que morrer? Justo ele?

“Mask, vamos! Nós… Ah, Mask...”

Afrodite me levou de encontro ao peito dele, ficou fazendo carinho em meus cabelos e dizendo que estava tudo bem, que chorar não fazia mal, que as pessoas choram por serem fortes tempo demais. Eu o segurei com tanta força naquele momento que seus braços estão roxos onde segurei. Ele foi uma âncora, a única que tive além do meu professor e família.

Merda! Merda!! MERDA!! MERDA!! MERDA!!! MERDAAAAAAAAAAAA!!!

Afrodite fez tudo, tudo para me acalmar, para me ver sorrir, mesmo que minimamente. Então foi assim que ele se sentiu?

Foi isso que eu me tornei para ele?

“Vem… Vamos lavar o rosto e ir.”

Ele beijou minha testa e me puxou para levantar. Me levou até o banheiro, me fez sentar na tampa da privada e molhou uma toalha, limpando meu rosto e me olhando de uma forma que eu não sei nem descrever.

“Mask… Quer me dizer o que está sentindo?...”

Não eu não quero. Não quero!

Ele não precisa saber!

Pra que ele tem que saber?!

Ele não precisa saber! É problema meu!

Eu sou o porto seguro dele, não o contrário! Eu me decidi a cuidar dele! A ser o escudo dele por ele não ter armadura como eu!

Eu não… Eu...

“Dor… Dor… Dor…”

Ele segurou meu rosto com as duas mãos e ficou secando as lágrimas com os polegares.

“Martino… Olha pra mim… Eu sei que dói e por isso estou aqui e sempre estarei aqui... Lembra disso?”

Ele então soltou meu rosto e mostrou o anel que eu o presenteei dois anos antes. Ele sorria, um sorriso empático, carinhoso.

“Por ti até o fim. Do fim lhe tirarei”.

Ele me abraçou novamente e me deixou chorar, chorar tudo o que eu precisava chorar.