Sequestrada - Número 1970 escrita por Carolina Muniz


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oiiii, obrigada pelos comentários ♥



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"A vida é fina e frágil como papel: qualquer mudança repentina pode rasgá-la."

 

¤ Capítulo 3 ¤

No sábado, Ana havia passado a tarde depois da escola no shopping com Lindsay - sua melhor amiga - e Theodore. Ele não queria mais o helicóptero então comprou um carrinho.

Bom, pelo menos o carro não seria quebrado no teto.

Então talvez durasse mais tempo.

Ana deu uma passada na biblioteca principal, e pegou o livro que precisava para o seminário que teria em duas semanas.

Ana, por um segundo, soltou a mão de Teddy para pegar o celular que tocava sem parar em sua bolsa, mas foi o suficiente para o garoto correr para atravessar a rua quando o sinal ainda estava verde, por não ter nenhum carro a vista.

— Teddy! - foi Lindsay quem gritou.

Ana olhou para cima, em direção ao irmão, o coração esquecendo o que é bater até que o Audi SUV prata parou antes de atingir o menino.

— Ai, meu Deus - a morena não conseguiu respirar até perceber que Teddy estava realmente bem.

A rua, mesmo já no fim da tarde, se aglomerou enquanto as pessoas paravam para olhar.

O motorista saiu do carro, e foi até Ana que estava ajoelhada em frente ao irmão.

— Ele está bem? - perguntou o homem.

Ana encarou-o debaixo, pegando Teddy em seu colo, que segurou o carrinho e o controle remoto contra o peito, enquanto o outro braço passava por seu pescoço.

— Sim - respondeu ela, Lindsay ao seu lado, tocando as costas de Teddy. - Obrigada... Muito obrigada.

O homem balançou a cabeça e a entregou o livro que ela havia deixado no chão.

A garota olhou para a mão de Lindsay, que segurava seu livro, e percebeu que era seu caderno que deveria ter caído da bolsa.

— Tem certeza de que ele está bem? - perguntou o outro enquanto Lindsay pegava o caderno de sua mão.

— Sim, foi só um susto. Ele está bem sim - falou enquanto beijava o cabelo de Teddy. - Obrigada de novo... - disse antes de se virar e voltar para a segurança da calçada.

— Que gato! - disse Lindsay, acompanhando-a e claramente olhando para trás, para o homem, sem pudor algum.

— Para de olhar, meu Deus! - Ana repreendeu, mas deu uma olhadinha rápida.

O homem estava entrando em seu carro, o porte alto e forte não sendo perdido nem por um segundo.

Bonito.

Ana não havia reparado muito, seu coração ainda estava na boca por Teddy, mas sabia que o homem era bonito.

A garota balançou a cabeça e colocou Teddy no chão.

— Você nunca mais faça isso, entendeu? - repreendeu-o. - Podia ter se machucado!

O menino teve os olhos se enchendo de lágrimas e Ana fechou os olhos por um segundo antes de abraçá-lo.

— Não, não precisa chorar, está tudo bem. Só não conta isso para a mamãe.

Os três voltaram o caminho que seguiam: o de casa. E Lindsay não conseguia esquecer o motorista.

— A gente podia ter falado que Teddy não estava bem, e ele iria dar o número dele para caso poder fazer alguma coisa...

— Lindsay, para, já foi - Ana murmurou, não acreditando naquilo.

— Nós encontramos um deus grego e deixamos ele ir embora. Como fizemos isso? Como deixamos ele passar? Como você não pensou em nada?

— Ah, não sei, porque o meu irmão quase foi atropelado.

— Ai, pequeno Teddy, você deve ser um ímã, lembra daquele cara da lanchonete em que ele derrubou o milkshake?

— Sim, você namorou com ele por dois meses até que decidiu que queria voltar a namorar um dos jogadores da escola - Ana revirou os olhos.

As duas pararam na esquina, era a curva em que uma rua ia para sua casa e a outra para a de Lindsay.

— Vamos sair mais com Teddy, o Josh já não é mais tudo isso. Preciso encontrar aquele deus grego de novo.

— Não vamos sair procurando por aí.

— Eu estou com a placa do carro memorizada na cabeça.

— E o que vai fazer? Procurar ele no banco de dados? É do FBI agora?

— Ainda não sei o que vou fazer, mas que eu vou procurá-lo, eu vou.

Ana suspirou.

— Okay, eu tenho que ir, nós ainda temos a festa da Kappa ZT, e eu preciso sair sem que minha mãe saiba.

— Falou, até depois. Até mais, pequeno Theodore - a garota apertou a bochecha do menino, que se esquivou dela.

— É Teddy - corrigiu mal humorado, fazendo as duas rirem.

Ana seguiu com Teddy para casa.

Os dois entraram pela porta dos fundos, pois Ana havia seguido pela rua detrás e estava com preguiça de virar tudo apenas por um porta.

— Mãe? Cheguei! - gritou, enquanto trancava a porta e Teddy já corria para dentro.

A garota ouviu a voz animada de Theodore mostrando seu carrinho e também a tatuagem legal de rena que havia feito em seu braço - um dragão em homenagem ao seu desenho preferido - enquanto subia as escadas em direção ao quarto.

Tomou um banho demorado, ficou de roupão esperando a hora passar, pintou as unhas do pé de vermelho, fez uma escova no cabelo e prendeu-o para o caso de sua mãe aparecer em seu quarto de repente e vê-la com o cabelo arrumado, e separou algumas peças de roupa em cima da escrivaninha, onde poderia esconder.

Odiava não ter trancas!

Sua mãe não a deixava ter tranca nem mesmo no banheiro do quarto.

Privacidade? O que era isso?

Às 22h, sua mãe lhe deu um beijo de boa noite, intimando-a a dormir também pois já estava tarde, e colocar uma roupa pois iria ficar doente.

Ana concordou com tudo, deu um sorriso largo e esperou as luzes do corredor serem apagas.

O quarto de sua mãe era no andar debaixo, o de Teddy no começo do corredor e o seu no fim, o que não dificultava suas fugas e muito menos as idas de Brad - seu namorado - para sua cama no meio da noite.

A garota se sentou na cadeira da escrivaninha e ligou o notebook enquanto soltava o cabelo e o arrumava como queria.

— E aí, Badzil? - saudou Lindsay, abrindo o bate papo, a rosto já carregado de maquiagem.

Ana não havia lhe contado sobre a gravidez, segundo ela, queria apenas mais um dia tendo uma vida boa, antes do pesadelo começar.

— Oi, monystar - cumprimentou a outra, já passando a base no rosto.

— Muito pesada? - perguntou a outra, sobre a sombra preta nos olhos.

— Para uma festa de universitários? Claro que não - respondeu a garota.

A maquiagem foi rápida, não tinha muito tempo.

— Blusa? - perguntou, mostrando duas opções.

— Verde água. Aquela de babados - Lindsay respondeu.

Aquela blusa só ficava boa com seu short de couro preto.

— Sapatos, por favor? - pediu a outra.

— Huum, branco - respondeu, abotoando o short.

— Couro?

— Sim. E você?

— Calça azul.

— Com a blusa rosa de babados?

— É.

— Não gostei - declarou logo.

— Olha aí.

A morena para a tela do notebook.

Não estava bom.

Mordeu o lábio sem nem precisar pronunciar as palavras.

— Tudo bem, acho que vou colocar a calça preta - disse a outra.

— Isso. Sapatos, por favor?

— Sapatilhas pretas.

— Perfeito, senhorita Letterman.

Ela piscou com um olho e se virou.

— Hey, casaco? - ela chamou.

— Jaqueta.

— Couro também.

— É a do Brad - esclareceu, levantando a peça.

— Huum, perfeito, senhorita Steele.

Ana não demorou a fechar o notebook e descer pela janela do quarto.

Duas horas mais tarde, na festa da Kappa ZT, tudo estava uma verdadeira orgia. Era mulher pegando mulher, homem pegando homem, mas pior era homem pegando mulher.

Festas de faculdade são sempre lendárias.

— José? - Letterman chamou.

Ele foi até elas, com o copo vermelho em uma mão e a garrafa de vodka na outra.

— E aí, meninas? Bem melhor que festas de ensino médio, não é?

— Okay, admitimos que não é tão ruim - disse Ana, xingando Lindsay mentalmente por ter chamado o outro até elas.

— Pode ficar melhor - ele disse.

Lindsay riu e apertou sua mão.

— Vou ali... Deu uma vontade de ir ali - ela disse, piscando para a amiga antes de se virar e sair.

Ana revirou os olhos.

— Então - José colocou a garrafa na bancada atrás dela e colocou o braço em seus ombros - nós fazemos um belo casal, não acha?

— Você está com um hálito de cachaça - informou. - Nesse momento, você não faz casal com ninguém. E além do mais, o Brad não é seu amigo?

— E a Mia, não é sua amiga?

Ela revirou os olhos.

Mia era a pior golpista que ela já vira em toda minha vida. Ela era a "piranha" da escola, sentia cheiro de dinheiro à distância e realmente acreditava que um dia seria uma estrela do cinema.

Sabe como é, uma menina de futuro, que com certeza logo vai engravidar de um milionário...

Crianças... Não, não pense em crianças.

José riu de novo e Ana nem sabia o que era tão engraçado.

A garota olhou para ele e fez cara de nojo.

Estava tão bêbado.

— Vamos lá para cima - ele disse.

Estava muito bêbedo.

— Tenho que ir para casa - anunciou, já se afastando.

— Ah, fala sério! Vamos lá, vai ser divertido - ele insistiu.

— Não estou a fim.

— Por quê?

— Por que não.

— Preciso de um motivo.

— Bom, você é o motivo.

— Garotas de 16 anos... - ele revirou os olhos.

— Eu tenho 17 - corrigiu-o.

— Melhor ainda. Posso te ensinar umas coisas – ele disse, meio enrolado.

— Que eu com certeza não estou a fim de aprender - completou ela.

— Ah, Steele. Vamos lá. Você vai gostar.

— Não enche, José - disse, e tirou seu braço dos seus ombros.

A garota saiu da casa e avistou Letterman com um garoto, pensou por dois segundos e resolveu não incomodá-la.

Pegou um táxi e foi para casa.

Pegou o celular, 02:34, dava para entrar pela porta da frente sem que sua mãe acordasse. Porém, quando ia bloquear o aparelho novamente percebeu as quatro ligações perdidas no celular, e as luzes da varanda estavam ligadas.

A garota suspirou, ou sua mãe havia descoberto que ela havia fugido, ou... Não, era isso mesmo, sua mãe sempre ligava as luzes da varando quando sabia que a garota estava fora.

Era um de dizer para ela voltar para casa em segurança.

A garota mandou uma mensagem para Lindsay enquanto atravessava o jardim e entrou em casa.

A luz do hall estava apagada, e a única claridade da casa vinha da sala de estar. A TV estava ligada, mas no mudo. Ana reconheceu o comercial sobre carros da Fox. Sua mãe sempre colocava no mudo quando os comercias começavam.

A garota colocou as chaves no criado mudo que havia ao lado da porta de entrada, e foi em direção à sala de estar.

Não havia ninguém.

— Mãe? - chamou baixinho, já pensando em subir as escadas correndo e depois alegar que nunca havia saído do quarto.

Nenhuma resposta. Então escutou o barulho vindo da cozinha.

Sua mãe já estava vindo, não podia negar.

A morena olhou novamente para a TV, fascinada com o novo comercial que passava, era sobre um shampoo de cabelo. Pegou o controle da TV de cima da mesa de centro e desativou o modo mudo.

— ...o cabelo mais brilhoso da balada será o seu. - a mulher falava, jogando o cabelo para um lado e para o outro.

E então a TV desligou. Ana franziu a sobrancelha.

Bom, a luz não havia acabado, pois a lâmpada no teto ainda funcionava.

O que houve com a TV?

A garota colocou o controle na mesa novamente e tirou a jaqueta. Só então realmente olhou para a TV desligada. O aparelho parecia um espelho quando desligado, refletindo o cenário que estava a sua frente... O cenário atrás de Ana.

Sua mãe estava deitada no sofá, a camisola estava molhada com alguma coisa escura, e ela olhava fixamente para o nada. Ana se virou rapidamente e viu a cena por si mesma, sem o embaçado da televisão.

Seu coração parou.

— Mãe! - chamou.

Ajoelhou-se na frente do sofá e sentiu sua pulsação. Não havia pulso. Seus olhos se encheram d'água, as mãos tremeram. Levou uma das mãos até bolso da jaqueta que havia jogado no chão e pegou o celular. Porém, algo chamou sua atenção. A luz da cozinha se apagou, o som de uma porta se fechando foi audível, e então os passos. Seu coração parecia querer sair do lugar. Apertou o 0 no celular com força, 911 foi discado automático, e esperou, sem se mexer, ainda com uma das mãos segurando a de sua mãe.

Então os passos se tornaram mais perto... e mais perto.

— 911, qual sua emergência? - a moça no telefone perguntou.

Não respondeu.

O corredor... e então a morena viu uma bota preta.

— Alô? - a mulher no telefone insistiu. - Estou fazendo um rastreamento, fique na linha, por favor.

Ele apareceu por completo e Ana seguiu até o olhar dele. Sua face era completamente destituída de qualquer tipo de emoção gentil, seus olhos tinham uma malícia superior, um sorriso macabro estampado no rosto, mas seus lábios diziam que ele finalmente conseguiu o que queria.

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Notas finais do capítulo

viiiish



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