O Fantasma escrita por Helen


Capítulo 1
Ato 1 – Identidade


Notas iniciais do capítulo

O Fantasma é apresentado como protagonista principal da peça. Seu único amigo é o narrador. Todos os outros são seus objetos de pesquisa e estudo, na sua busca incessante por entender e aprender sobre a vida, suas regras e como diabos ela funciona. Neste ato, ele procura interagir, mas acaba se desiludindo com a simplicidade com que tratam o amor.



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(Palco em silêncio, vazio. Entra Fantasma, sério e elevado como tal.)

Narrador: Eis aí, o Fantasma. Todos sabem quem ele é, mas ninguém sabe como ele sente.

(Passam um grupo de pessoas pela cena, acenam, Fantasma acena de volta, sorridente, não se assemelha àquele que entrou. Quando as pessoas saem, ele retorna ao seu estado anterior)

Narrador: O Fantasma não é alguém. É sempre impressão de outros.

(uma plateia de atores se aproxima da cena, fora do palco. Impressionam-se com sua atitude filosófica, seu olhar distante.)

Pessoa 1: Deve ser um artista!

Pessoa 2: (ri) Nossa, cara, que cara plena!

Pessoa 3: Que cabelo bonito...

Narrador: O Fantasma não é alguém. É a mistura de todos.

Fantasma: (voz aflita, robótica, estranha) Artista, cara, bonito... (repete algumas vezes, e em seguida, em tom alegre e despreocupado: Cara, eu sou um artista muito bonito!

Narrador: Este é o Fantasma, senhoras e senhores! Aquele que será tudo o que você imaginar, menos o que você espera.

(a plateia de atores se senta, se aquieta. Fantasma fica sozinho.)

Fantasma: (ri, debochando. Está pensando alto) Por que me chamam de fantasma? Quem é que me chama de Fantasma? Eu não sou um fantasma... né?

(silêncio)

Fantasma: Eu não sou um fantasma. Lógico que não. Eu estou vivo! Se eu fosse um fantasma, estaria morto...

(as pessoas do início passam de novo. Ninguém sequer nota o Fantasma)

Fantasma: (olha para as pessoas que passaram, assustado) Ei! Vocês não vão falar comigo? Ora, o que há?!

Alguém: (de costas para o Fantasma) Não precisamos de ajuda... não precisamos de ajuda... nos deixe em paz!

Fantasma: Mas eu quero ajudar...

(Alguém vai embora)

Fantasma: Por que ninguém quer minha ajuda? Por que todos tem problemas que não querem que eu resolva?

(Após algum momento de silêncio, Alguém se aproxima de alguém da plateia de atores.)

Alguém: Oi...

Pessoa 1: E aí.

Alguém: Eu tô passando por uns problemas e tal...

Pessoa 1: E o que eu tenho a ver com isso?

Fantasma: (a Alguém) Ei, que isso, meu! Coitado(a)!

Alguém: Aff. Pelo menos me escuta!

Pessoa 1: Tá bom, tá bom...

(Alguém se achega perto de Pessoa 1, e o abraça.)

Alguém: Sabe, às vezes eu sinto que minha vida não tem sentido...

Fantasma: Claro, você passa o dia inteiro se afogando nos seus problemas!

Alguém: (ignorando o Fantasma) ... sem você ao meu lado...

Fantasma: (decepcionado) Ah. Era uma cantada. Tudo faz sentido agora... tudo...

Pessoa 1: Muito bonito o papo mas eu tô dando o fora. Valeu. (sai)

Alguém: Mas...

Fantasma: (como que cantando) “E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou...”

Alguém: (se entristece. Começa a chorar) Ah, coração pra doer! Ah, coração pra inflamar... Se eu pudesse eu morria, morria de amar...

Fantasma: Ah, mas que belo verso da alma! Uma pena que foi por inspirada por um sujeito desses... Como é bom ser inocente e não saber as motivações daqueles que escrevem...

(o grupo de atores aparece no palco de repente, assustando o Fantasma. Todos voltam odiando-o como se ele que tivesse largado Alguém)

Pessoa 2: Ora, que coração frio é o teu!

Pessoa 3: Não considera o sentimento de ninguém!

(Se outra pessoa quiser e estiver disponível): Egoísta! Egoísta! Egoísta! Maldito egoísta!

Fantasma: (alterado. Agora revolta-se contra os que estão ao seu redor) De repente todos se importam tanto com alguém que até agora ninguém nomeou! Como podem ser tão ridículos? Tão dissimulados?

(Pessoa 3 vai até Alguém , e vai levando até fora da área de atuação.)

Fantasma: (à Pessoa 3) É bom que você não queira cantar ela(e) também!

Pessoa 3: (ignorando o Fantasma) (a Alguém) Olha, sempre que precisar de mim eu vou estar aqui... Eu pelo menos me importo com as pessoas que estão próximas...

Fantasma: (decepcionado e revoltado) Era só o que faltava. Será que tudo nesta vida se resume a gente querendo namorar gente?

(todos saem, menos o Fantasma. O Fantasma se senta no meio do palco.)

Fantasma: (falando consigo mesmo, talvez com a plateia) Mas o que é isso que chamam tanto de amor? É conquistar o olhar brilhante de alguém, ou conquistar a atenção de alguém por anos?

“O que é o amor, se não uma sucessiva coletânea de tentativas e erros?”

Terei algum dia a oportunidade de conhecer esse amor que tanto falam, mas que ninguém conhece? O amor de verdade... de verdade...

(o Fantasma sai. Fim da cena)


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Notas finais do capítulo

não sei se fiz bem em colocar Ato o que deveria chamar de Cena, mas enfim.



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