Com amor, Lutávio escrita por Le petit prince egoiste


Capítulo 7
Engano (nem tanto)


Notas iniciais do capítulo

O baile de máscaras de Camilo com segredos a mais.



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O baile mascarado de Camilo revelara-se um verdadeiro palco de encontros secretos. Não bastassem Jane e Camilo tendo de encontrar-se às escondidas, Otávio e Lídia também se uniram para encontrar quem queriam sem levantar suspeitas. A mais nova das Benedito queria procurar Uirapuru. Randolfo, no movimento contrário, tentaria usar a festa para conquistar Lídia e convencê-la a se casar com ele. Já Otávio queria pelo menos uma dança com Luccino, embora por serem dois homens eles não pudessem necessariamente dançar no salão.

Lídia e Otávio chegaram juntos, ambos ainda carregando as incertezas de um provável casamento. Mas logo desmembraram a procurar seus reais pretendentes. Otávio viera com uma roupa diferente do uniforme que usava no quartel. Trajes de fato sociais, um terno elegante, sóbrio. Sua máscara ao rosto, os olhos percorrendo o espaço semi-iluminado para procurar Luccino.

O salão da casa de Julieta aos poucos ficava tomado de pessoas, e as luzes se adequavam a esse ritmo para manter o mistério da festa. Otávio percebeu que em alguns pontos estratégicos eles poderiam não ser tão notados e assim dançariam à vontade.

O capitão pensou que havia se esquecido de um detalhe crucial, que era combinar a cor dos trajes que vestiriam para se localizarem mais facilmente. Mas na ânsia de se encontrarem a qualquer custo, esqueceram. Até então, os únicos espaços nos quais poderiam ser eles mesmos eram a oficina e a casa de Brandão.

Otávio voltou a concentrar seu foco na busca, mas naquela escuridão... Partiu para os cantos da festa, lugares discretos onde Luccino poderia pensar em ficar. Atentou-se para um canto escuro no qual alguém, provável um homem, estava encostado e rígido. Chegou mais perto, para ter certeza de que era o italiano. Conseguiu visualizá-lo, mesmo no escuro, com aquelas roupas formais, o mesmo jeito de portar. Não havia dúvidas de que era ele.

Então, o capitão olhou para os lados um instante, para certificar-se de que era uma zona de segurança onde podiam se arriscar nas carícias. Até aquele instante, tudo garantia que conseguiriam ser discretos. Otávio apertou o ombro de quem seria Luccino e o virou em sua direção para que, sem ter tempo para pensar, pudesse beijá-lo “em público” como sempre quis. Mas algo naqueles lábios eram estranhos aos seus, inexistia a mesma maciez, a mesma entrega, o mesmo encaixe que existia com o mecânico.

Mãos afastaram o corpo de Otávio daquele que seria Coronel Brandão, embasbacado de que fora beijado por um de seus capitães. Assim que percebeu o mal entendido, Otávio ruborizou e começou a tropeçar com as palavras.

“Co-Coro-Ne-nel!”

Homem! Eu já lhe falei!”, falou, com o tom um pouco alto demais. Percebeu o local onde se encontrava e baixou a voz. “Que presepada é esta! Será que ainda crê que Mário não é Mariana?”

“Co-Co...” Otávio poderia se enterrar ali mesmo, arregalando os olhos.

O coronel fez um gesto enfático com as mãos.

“Deixe estar. Foi um mal entendido. Mas não volte a fazer de novo.” Desta fez, foi Brandão quem ruborizou.

“C-Claro!”

“O senhor está parecendo Randolfo, capitão!”

“Eu procurava... Procurava Luccino!”

“Pois bem, lá está ele. Poucos metros daqui. Acalme-se, Otávio. Está tudo bem.”

Brandão apontou para a inegável presença de Luccino bem perto dali, observando a cena com o rosto confuso e divertido. Otávio acenou com a cabeça exageradamente, agradecendo o capitão com nervosas sacudidelas em sua mão. Ele foi desnorteado em direção ao italiano, que ainda terminava de rir da cena insana que acabara de presenciar.

“Ora, capitão! Beijou o coronel? Como vão se encarar no quartel depois dessa?”

“E você estava vendo tudo. Nem para me avisar...”

“Ah! Mas você não conhece mais a minha boca?”

Otávio riu de canto, o rosto de quem aprontaria uma das boas.

“Não conheço. Posso conhecer novamente?”

Luccino riu, e sem olhar para lado nenhum chegou bem perto dele e o beijou demoradamente. Aqueles sim eram lábios familiares. Luccino comandava desta vez, pressionando os seus contra os de Otávio com suavidade, sem nenhuma espécie de pressa. Otávio respirava ao seu alcance, formando um belo sorriso enquanto os dois terminavam o beijo.

“E agora? Vai saber reconhecer meu beijo no próximo baile?”

Otávio baixou o olhar, tímido.

“Eu certamente estava muito afoito em te tocar de novo e... Nem percebi que você... Se expandiu de uma maneira que nem liga em me beijar no escuro ou não. Ao contrário de mim...”

“Ei, ei ei...” Luccino levou o polegar ao lábio inferior do capitão. “Não diga isso... Ainda temos que tomar cuidado... Mesmo aqui.”

Otávio olhou-o.

“Pode tirar essa máscara?” O capitão pediu, tirando a sua antes. “Quero te ver como você é. Quero tudo claro entre nós.”

Luccino assentiu e tirou a máscara. Otávio, ao cair dentro daqueles olhos, teve uma ideia brilhante. Sacudiu o dedo indicador para o italiano, demonstrando que havia algo passando em sua mente. Ele o pegou pela mão e, pelos lados, saíram da mansão de Julieta para algum canto invisível do jardim. Chegando a um ponto do enorme terreno da rainha do café, se espreitaram em meio a um espaço livre entre as roseiras.

Otávio, assim, assumiu uma posição formal de convite à dança: aquela onde ele ficava curvado com uma mão nas costas e, com a outra, pedia a de Luccino para que pudessem dançar.

“Aceita esta dança comigo?”

Luccino respondeu:

“Recomenda a dança para incentivar o amor?”

No que Otávio devolveu, gracejando:

“Mesmo que o parceiro mal seja tolerável.”

Luccino riu mais uma vez e aceitou a dança. Eles encaixaram os dedos um no espaço do outro e seguiram o ritmo da dança, olhos nos olhos, sendo únicas testemunhas as roseiras do espaço secreto do jardim. A música seguia em marcha inspiradora e não se ouviam os corpos do salão em suas passadas, as barras dos vestidos das moçoilas tocando o chão, nem os sapatos dos rapazotes seguindo os passos. Nada disso se ouvia. Mas o proibido daqueles corações se encontrando secretamente, se ouviam batendo em igual dança e sintonia.

“Para um bom capitão... Um bom dançarino basta...” Otávio disse.

Luccino deitou seu rosto devagar nos ombros do capitão, deixando-se levar nos movimentos. Até que Otávio parou junto à música, mas deixou que Luccino permanecesse confortável ali onde ele tanto adorava. Enlaçou o corpo dele com seus braços passou a sentir outro som: o peito do amado indo e voltando, aos poucos encontrando calma e ritmo.

“Melhor?”

Luccino respondeu:

“Melhor.”

Otávio levou o queixo de Luccino nas suas mãos, precisando que eles se olhassem novamente. Otávio deu um beijo casto na testa de Luccino e, em seguida, o mecânico retribuiu com um na boca.

Se as rosas pudessem falar, diriam de esperanças no coração e roubariam o perfume que exalava do sentimento de Otávio e Luccino naquela proibida noite.


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Notas finais do capítulo

Digam se curtiram! :D momento fofura inspirado no baile de Camilo e na dança do musical. Beijos!