Com amor, Lutávio escrita por Le petit prince egoiste


Capítulo 4
Carro e Casamento


Notas iniciais do capítulo

E se a conversa antes do casamento tivesse durado um pouco mais?



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Luccino não esperava que fosse demorar tanto a fazer o reparo que sua mãe queria. A oficina ficou aberta durante todo esse tempo, por isso, assim que ele chegou perto da porta, viu que havia rumor de alguma pessoa lá dentro. Era Otávio, que para sua surpresa estava sentado num carro prestes a tentar dar a partida. Luccino correu para que isso não acontecesse, impedindo-o com suas próprias mãos. O capitão enfim percebeu sua presença ali, olhando-o estabanado, os olhos vagos.

“Capitão, o que o senhor faz aqui? Querendo dar partida no carro?!”

“Eu sei lá... Eu estava em casa e... Precisava tomar uma atitude!”

“Mas que atitude? Desça daí, não é recomendável que...”

“Lídia, Luccino! Amanhã é meu casamento com Lídia e eu não posso...”

Otávio deixou o pensamento em suspenso, mas Luccino compreendeu perfeitamente. Lídia, a mais nova das Benedito, iria se casar com ele amanhã. Era muito claro que o capitão não estava nem um pouco feliz com essa união, mas ele insistia e iria até o fim. Dentro do carro, parecia apavorado com a possibilidade da relação ser consumada perante a igreja.

“O senhor tem medo de casamento?”

“De casamento com mul... Com Lídia. A mulher mais sedenta do Vale. Justo eu, Luccino, que entrei pro exército querendo fugir disso. Agora me diz, se eu disser que não como é que vou ficar? Vai parecer que não tenho palavra.”

“Eu sei bem que o senhor honra com seus compromissos. Mas olha, não precisa... Casar se não quiser. Você sabe como é a Lidia, ela vai ficar triste, mas supera.”, aconselhou Luccino.

Otávio agarrou o punho do mecânico bruscamente quando a ideia que o levou à oficina passou de novo pela sua cabeça. Luccino se assustou, sem o costume de ver aquele homem naquele estado. Tudo bem, era um pouco aparvalhado, mas nada que configurasse desespero.

“Você precisa me ensinar a dirigir!”

“Mas é o que estamos fazendo, não é?”, assustou-se.

“Só que agora! Preciso partir o quanto antes!”

“É impossível!”

“Dona Ofélia marcou o casamento pra amanhã. Eu não posso e eu preciso fugir!”

“Não tem como aprender de uma hora pra outra. Além do mais, esse carro tá quebrado”, Luccino respondeu, manso, para tentar trazer calma a Otávio. Ele continuava dentro do automóvel, paralisado, as mãos criando vincos vermelhos de tanto estarem segurando o volante.

O capitão voltou a falar num sussurro:

“Minha vida acabou. Não tem jeito, então.”

O mecânico abriu a porta do carro e se sentou ao lado de Otávio. O capitão ainda não retribuíra o olhar, mas sabia que estava sendo observado. Precisava encontrar o centro de si o quanto antes, pensar direito, encontrar uma alternativa.

“Você vai achar alguém que te faça não ter medo do altar. Se não for a Lídia tudo bem, o senhor não precisa se obrigar a isso”, Luccino tentou o conselho. Otávio retirou as mãos do volante, úmidas, e procurou as do italiano com urgência. Porém, como se algo venenoso, o rapaz logo a retirou do lugar, tornando a demonstrar medo.

“Você não entende, Luccino! Ninguém nesse maldito desse lugar me entende, aliás!”

Otávio ameaçou ir embora, tocando para abrir a porta. Luccino o segurou.

“Fica. Calma. Eu vou no seu casamento, se isso lhe acalmar.”

“Você vem? Ia ajudar muito!”

Luccino assentiu, aprazível. Ele conseguia compreender a situação, já que nunca sentiu tanto interesse com casamentos, sobretudo com mulheres. Nunca havia aparecido com namorada nenhuma, para o estranhamento da família. Otávio estava numa berlinda e ele não podia deixar de ficar preocupado.

“Consigo te entender, capitão. Eu às vezes...”, e parou por ali.

Otávio contemplou o restante da fala em sua própria mente. Os dois permaneceram em silêncio por um tempo, dentro do carro. O capitão fungava de vez em quando, nas vezes em que cruzava novamente com a realidade do casório.

“O que o pessoal do quartel vai pensar? Eu tenho que manter... Tenho que...”

“Capitão, preste atenção numa coisa. A sua felicidade tá acima do que os outros pensam.”

“E o que eu faço com a minha felicidade? Quando o que me faz feliz é completamente diferente daquela que me cerca e não aceita pessoas como eu? Volta e enterra tudo de novo?”, desabou Otávio, olhando para Luccino para tentar esclarecer sua tão esperada resposta.

“Otávio... É impossível viver privado da sua própria felicidade. Que outro motivo teríamos pra estar aqui que não fosse pra sermos felizes? Tente pensar... Isso, esse casamento, vai importar pra mim daqui há vinte anos? Então você acha a sua resposta. Porque no fundo você só vai poder ser feliz quando não se colocar mais em segundo plano. Você merece mais, Otávio.”

 Ele se concentrou em receber aquelas palavras, levando em consideração ao final que o italiano estava certo mais uma vez. Mas ele casaria, sabendo que era o maior erro que poderia cometer. Uma espécie de culpa com consciência. O capitão se aprumou para sair do carro e dessa vez não foi impedido. Luccino acompanhou seus movimentos, lamentando por aquele infeliz golpe do destino. Mas ao pensar nisso, ele completou seu pensamento:

“Às vezes, capitão, a gente acha que uma coisa é destino só pra nos conformarmos com nossas próprias decisões, só pra elas não pareceram tão duras. Mas no final das contas... Nós temos, sim, a opção.”

Otávio ia embora, mas ao ouvir isso, virou o rosto para ele.

“Preciso de você lá, Luccino. Não deixe de ir.”

Na qual o italiano respondeu:

“Eu irei.”


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam :D



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