Endou passeava pela cidade, no que é um dos seus últimos dias de verão. Tendo, ainda há pouco tempo, sido campeão mundial com os seus melhores amigos, vencendo a equipa congolesa e conquistando o seu sonho de ser a melhor equipa no mundo, ele não podia evitar sentir tristeza. Ele sabia que o futuro reservava grandes questões para ele e para os seus companheiros de equipa. Afinal, teriam que se separar quer quisessem, quer não. 

Endou andava pé depois de pé sempre com as mesmas perguntas a atormentá-lo. "Para que escola irei?", "Será que vou encontrar alguém lá?", "E se nunca mais conseguir jogar futebol com os meus amigos?, questionava-se, coçando a cabeça. De repente, Endou para. Tinha, inconscientemente, caminhado até à Raimon Junior High, a escola que lhe tinha dado todas as suas alegrias no mundo do futebol. Perplexo, não se continha ao ver o majestoso raio que erguia toda a escola com a sua imponência. O grande símbolo da equipa e da cidade, como sempre esteve, lá estava mais uma vez na fachada da escola, pronta para receber Endou. A alegria era demasiada e, por momentos, Endou esqueceu tudo o que o perturbara. Lembrou-se de como foram brutalmente derrotados no seu primeiro jogo às mãos da antiga equipa da Teikoku Academy, liderada pelo, agora seu grande amigo, Kidou, e como depois foram capazes de vencer os nacionais com a sua ajuda. Recordou também como sentiu o desespero quando viu a sua escola ser destruída por, alegados, extraterrestres e como, através de muito sofrimento e luta, conseguiu retornar o mundo à sua ordem natural.   No meio dos pensamentos, Endou ia aproximando-se do portão, cada vez mais perto de sentir aquela reunião há muito adiada. 

Os portões de ferro rangeram, como se gracejassem ao sentir o toque de Endou. Quando deu por si, tinha já entrado dentro da escola. Vazia. Nem uma alma por ali se via. Endou, claro, não estranhou esse facto. Era verão, ninguém haveria de estar na escola nessa altura.  Mesmo assim, não se sentia sozinho, com ele percorriam a escola, também, as suas memórias. Enquanto avistava o campo em que muitas vezes treinou, situado mesmo na frente das portas da escola, caminhava lentamente até ao que era o seu antigo, mas querido, barracão, que servia de ponto de encontro para o clube de futebol.

Velho, a cair de podre, com a mesma placa de madeira bolorenta na porta a dizer "Clube de Futebol". Lá estava o barracão. Endou sorriu, sentindo que lá estaria para sempre. Já não ouvia a voz na sua cabeça. As suas memórias tinham apagado qualquer traço de tristeza que as suas dúvidas pudessem ter alguma vez trazido. Estendeu a mão à porta e abriu-a. À sua frente, um quadro branco com riscos mal apagados que pareciam delinear uma nova maneira de dinamizar a frente de ataque da Raimon, uma caixa cheia de bolas pretas e brancas, como aquelas de antigamente, quase vazias, e um monte de sapatilhas mais que usadas e gastas pelos pés que uma vez pousaram naquele barracão.  

Endou não conteve uma lágrima. Contemplando ainda a visão do que fora o seu passado, limpou a cara com o braço e, antes de fechar a porta uma última vez, gritou "Obrigado!". Foi nesse momento que uma outra voz surgiu, surpreendendo Endou:

— Endou?

Endou virou-se. Era Kazemaru, o seu companheiro de longa data. 

— Kazemaru! Que tens feito durante o verão? – disse Endou por entre um sorriso que prendia nos dentes.

— Nada de mais, fui à praia, à piscina... 

Kazemaru não quis retribuir a mesma felicidade. Endou, no entanto, estava demasiado entusiasmado para reparar que, talvez, Kazemaru não estivesse muito contente por o ver.

— De certeza que também tens treinado!

— Endou... – Kazemaru balbucia desviando o seu olhar de Endou. 

— Devíamos treinar...

Endou é subitamente interrompido por um grito explosivo de Kazemaru:

— Endou! Como é que consegues estar feliz numa altura destas? Nós vamos-nos separar! Daqui a nada estaremos a competir uns contra os outros. Todos os nossos laços vão ser quebrados por causa da competição! – de súbito, Kazemaru interrompe a sua raiva com um momento mais reflexivo, acalmando a sua voz. – E tu sabes bem que não estás na melhor posição para me confortar sobre qualquer coisa que seja...

Endou tomou cada palavra como uma seta ao coração e congelou. Era verdade, ele tinha recebido propostas de todas as escolas do país, cada uma oferecendo-lhe uma bolsa e benefícios caso ele aceitasse representar o seu clube de futebol no ano seguinte. Endou não teria que se preocupar com onde ser colocado, ele poderia literalmente escolher, independentemente dos seus recursos monetários, ou das suas notas da escola. 

— Pois Endou. – disse Kazemaru, reparando na reação de Endou. – Nem todos temos a tua sorte. E eu nem fui a pior situação! Ao menos consegui umas três bolsas... Mas sabes bem que houve quem não recebesse sequer uma!

— Kazemaru... Eu... 

Mas não havia nada que Endou pudesse dizer que conseguisse acalmar a raiva de Kazemaru. Ao ver como Endou estava a sofrer, Kazemaru caiu em si:

— Endou... desculpa. 

— Não tem mal. – retorquiu Endou, cabisbaixo.

Um silêncio perturbador persiste entre os dois. Kazemaru quebra o silêncio:

— Eu tenho estado em contacto com o Gouenji, o Kidou, o Someoka e o Hiroto... Tem se saído bem, muitas escolas os querem. Também me parece que o Fubuki não terá problemas, o mesmo digo para o Fudou. Mas... Sabes que o Midorikawa e o Kurimatsu não receberam nada. Nem uma. 

Endou e Kazemaru não conseguem olhar um para o outro. O silêncio retorna. 

— Porque é que voltaste à escola, Kazemaru?

As palavras de Endou apanham-no de surpresa.

— E-eu... Queria ver o barracão uma última vez. Queria sentir que as memórias e os laços nunca iriam dissipar. – nesse momento, Kazemaru sorri levemente. No entanto, tão rápido como ganha o sorriso, perde-o novamente. – Mas estava enganado. 

Kazemaru levanta a mão e aponta diretamente para Endou.

— Endou! Isto é uma declaração de guerra! A próxima vez que nos encontrarmos vai ser no campo de batalha da Football Frontier Aces! Eu lá estarei, com a camisola da Teikoku!

Endou mantém uma cara séria. Mas não resiste, sorri e responde:

— Desafio aceite, Kazemaru! Lá nos veremos. 

Nesse momento, Kazemaru baixa o braço, sorri, e vira costas. Endou consegue vê-lo a desaparecer no horizonte, a abandonar a escola. Enquanto o observa, só espera que nenhum dano tenha sido causado que tenha tornado a relação dele com os antigos colegas em algo irreparável. 

Como se nunca tivessem sequer abandonado a sua cabeça, as dúvidas voltaram a atacar Endou. Ainda sem saber quem representar e como estariam a passar os seus amigos, olhou uma última vez para o barracão, e disse adeus a todas as suas memórias, sorrindo para um novo futuro.

***

Numa cidade distante à de Raimon, encontramos um campo de futebol preenchido de jogadores a meio de um aquecido jogo de futebol! 

Equipamentos azuis listrados percorrem o campo cima a baixo. Há um rapaz, número 10, que tem a bola nos pés. Ele conduz o jogo. Há um defesa central, encorpado e alto, parece uma parede de ferro, que está entre o número 10 e a baliza. 

— Não vais passar desta vez, Narudoro!

O rapaz avista o seu ala direito a correr atrás de si. Sorri e deixa a bola para trás, para esta ser apanhada pelo seu ala. O ala corre numa velocidade tremenda até à bola, não dando nenhuma hipótese para o defesa reagir. Enquanto isto, o número 10 já se deslocou para a área adversária. 

— Força Naru! Está lá dentro! – grita o ala enquanto coloca um passe longo e alto na grande área.

 — Preparem-se... – diz Narudoro enquanto sorri e se agacha.

De repente, Narudoro salta mais alto que qualquer pessoa normal conseguiria e começa a rodopiar pelo ar, dando uma volta de 720º antes de congelar em posição de pontapé de bicicleta, com a bola perto do seu pé, graças ao passe do seu ala. Uma energia azul começa a percorrer o chão até ao seu corpo em ciclone, e encobre a bola por completo. 

— Cyclone... – Narudoro chuta a bola e o ciclone azul prolonga-se até à baliza. – Tornado! 

De súbito, a bola sai disparada do turbilhão de energia azul que se direcionava para baliza e vai disparada contra as redes com uma força nunca antes vista. O guarda redes nem reagiu, está agora perplexo de mãos no ar sem saber o que dizer.

— Espera por mim... – diz Narudoro, enquanto cai de novo no chão, com uma cara séria. – Endou! 

***

Quem será este personagem misterioso? Será que Endou vai conseguir escapar aos seus problemas? Não percam o próximo capítulo de Inazuma Eleven Aces, A Escolha!