A filha do Inverno escrita por Beatrice Ricci


Capítulo 1
A filha do inverno


Notas iniciais do capítulo

Olá, essa one é para o desafio do grupo oficial do Nyah! Universos Trocados. Espero que gostem, boa leitura.



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Em um instante ele estava voando sem rumo, iluminado pela enorme lua de um céu sem estrelas, no outro, era arremessado para o topo de uma árvore qualquer, por causa do vento. Apenas teve tempo de sentir os galhos arranhando sua face e rasgado sua capa preta, até bater o torax contra o galho maior, agradeceu por não sentir dor, ainda assim sentiu-se aborrecido, poucas vezes seu amigo, o vento, causava tal agressão.

Suspirou. Ergueu o corpo para ficar de pé, sustentou o peso em uma das mãos no tronco, seu cabelo com fios brancos acompanhavam a brisa que passou levemente por ele, como se zombasse de sua figura, com ironia o espírito do inverno riu, um riso de ironia, seguidamente ajeitou-se naquele árvore, a fim de analisar as leves escoriações nas mãos, fechou os olhos por tempo indeterminado, tentou imaginar como seria sangrar, ter o líquido vermelho percorrendo em suas veias, pulsando seu coração, qual não bate mais. Algo em seu interior revirou-se.

Enquanto sua alma tornava-se turbilhões, escutou de repente a voz de uma mulher vindo em sua direção, abriu o olhar suprerso, permaneceu imóvel, acreditando que ela não poderia vê-lo, franziu a testa em confusão, a viu ir até a beirada da lagoa congelada, colocando um pé e depois o outro, depois com um movimento firme começar a patinar.

A mulher tinha aparência jeitosa, mas, naquele momento, amargamente séria, o que desmerecia o efeito agradável de sua aparência. Um vestido de mangas em tom azul cobalto, outros detalhes transpareciam a fisionomia da nobreza, como as pedras alvas em toda veste, talvez diamantes ou cristais, ajustando-se completamente em sua silhueta. O cabelo loiro platinado, permanecia em uma trança lateral, havia também um broche de inverno perto de sua orelha. Contundo, foi as luvas nas mãos que chamou-lhe a concentração, eram horríveis, confirmou mentalmente.

Continuou a observa-la. Tão interessado com a presença daquele estranha, que sentou-se no galho da árvore, agarrou o cajado com as duas mãos e com um sorriso curto a testemunhou a deslizar sobre aquela camada de gelo, assemelhando-se a um floco de neve no ar, movimentos graciosos dificilmente encontrando em outras pessoas, trazendo-lhe um grau de divertimento.

Com a ponta do cajado criou um caminho de gelo da árvore até o lago, circulando em volta da jovem, o guardião sorriu não o suficiente para mostrar os dentes ou uma ou outra marca de expressão, mas ainda assim um sorriso.

A presenciou rodopiar, deslizar e girar, porém sem nunca deixar a fisionomia séria, e por um momento, Jack questionou-se o por quê dela não sorrir, todavia distraindo com os próprios dons de gelo, esqueceu de desviar o caminho, causando o desequilíbrio da mulher, qual teve a feição reduzida a espanto, buscando voltar ao eixo, porém viu-se indo de contra a uma árvore, batendo o corpo em amotoado de neve a beira do lago, o espírito piscou levemente, e com um sorriso quase envergonhado sussurrou:

— Ops, foi mal.

Ele acompanhou suas ações.

A desconhecida tentou levantar-se, no entanto foi impedida por um punhado de neve sobre a cabeça e corpo, formando um tipo de montanha, os braços para fora buscaram prontamente remover a quantidade de neve, terminando limpou o vestido e os ombros, seu semblante estampava irritação, e impinando o nariz levemente, suspirou em desagrado, Jack riu, um riso auditivo, fazendo-a lançar o olhar até ele, qual escondeu-se em meio às folhas da árvore. Era impossível vê-lo daquele altura, mesmo assim por reflexo fez, tanto tempo sem ser visto o tornou silêncioso em suas ações, ainda que gostasse de aprontar com aldeões e vendores de gelo.

Os olhos azuis da mulher desviaram-se para os proprios pés, a brisa de inverno atingiu-lhe bagunçando ligeiramente seu cabelo, com o dedo indicador levou uma mecha loira atrás da orelha, a boca franziu ao notar o monte de neve, sentou-se em meio à neve alva, sob a árvore daquela floresta, recebendo do satélite natural a luz que iluminava seu rosto. Embora estivesse feliz por estar livre e ter a alegre irmã, seu coração asseava por mais, o amor.

Com as pontas dos dedos, como se alguém a pedisse para fazer, pegou um pouco de neve e começou a moldar uma menina de neve. Primeiro o vestido, depois desenhando contornos fez os braçinhos e perninhas, por fim a face, ainda assim faltava-lhe algo, a vida.

Teve a sensação que acabara de entrar num sono profundo, sem sonhos, sorriu e com o coração desejou que ela se tornasse real.

Uma solitária lágrima surge a seu olho esquerdo, contornado sua bochecha até cair ao solo branquinho, ela respirou profundamente por alguns segundos, fechou as pálpebras e refletiu sobre a vida que tinha.

Quando estava prestes a desaparecer, um peso atingiu-lhe. Caiu no solo de costas, esforçando-se para processar os acontecimentos, os olhos semicerrados, imaginando que a dor em sua fisionomia desparecia. No instante que soube quem foi o responsável, enrugou a testa e suas sobrancelhas quase se juntaram no espaço entre elas, deparando-se com um par de olhos azuis penetrantes, abriu a boca, mas tornou a fechá-la, fitando aquele olhar que a encaravam sem piscar, sua pele adquiriu um tom de vermelho vivo, um sujeito sobre seu corpo, os cotovelos a cada lado de seus ombros, quase-lhe tocando os lábios, a encara uma expressão envergonhada.

— Oi?… — perguntou em um fio de voz.

A respiração dele era gelada, como uma tempestade de inverno.

A rainha o empurrou com força, devencilhando-se da cena constrangedora, buscou a própria proteção, ainda que permanecesse sentada, o viu balançar a cabeça atordoado, acompanhou seu olhar lentamente, assemelhando-se a uma fera desconhecida, o estranho ergueu a vista para vê-la. Um sorriso rasgado e simpático se espalhou no semblante dele, ela sabia que era melhor correr, contundo persiste em estar ali, como não conseguiu encontrar explicação para essa reação, resolveu ignora-la.

— Você é forte. — afirmou ele.

— Quem é você? — interrogou ela, com uma ponta de medo.

Jack lançou-lhe um olhar festivo, lembrando das vezes que desejou ao homem na lua que alguém o visse, animais como cães, cavalos e lobos eram os únicos, mas o calor verdadeiro de um humano o comteplando era diferente, perguntava-se o momento qual teria esse privilégio, a solidão antes era real, o torturando o tempo todo, em um vazio incalculável nos dias mais confusos, e agora, na sua frente, uma mulher o mira com receio, quão modo deveria agir ou falar? A primeira apresentação foi um desastre, cair de uma árvore, porque o galho quebrou, usando-a para amortecer a queda, não foi o que ele queria.

— Seu nome, qual é?

A voz dele o tirou dos pensamentos, estava tanto tempo reflexivo, que esqueceu-se de respondê-la.

— Jack Frost. — respondeu em posição de lótus. E antes que ela dissesse quaisquer palavras continuou: — Desculpe pelo "pequeno" acidente, não era minha intenção.

Uma linha apareceu entre suas sobrancelhas, desviou atenção para a árvore e indaga:

— O que fazia no topo da árvore? — Voltou-se a ele. — Espionava-me por acaso? — A incerteza nublou as suas feições.

— Não! — O tom de sua voz saiu mais elevado do que pretendia. — Eu apenas a observava, achei estranho uma mulher estar sozinha no meio da floresta de noite, há ladrões, caçadores… e Lobos, isso lobos! Se algo acontecesse eu ajudaria. — apressou-se em meio a mentiras.

Sua expressão endureceu.

— Eu posso me defender sozinha, não preciso de estranhos atrás de folhas prestando-se como cavalheiro. — Odiava se tratada como uma dama em perigo, sempre foi subjugada como uma criança sem controle, protegida por guardas e uma porta, no entanto após liberta-se teve a certeza que a única pessoa além de sua irmã, que poderia protegê-la era ela mesma. — Apesar de seu ato imprutende, Senhor Frost, agradeço, mas como eu falei, não quero proteção e nem preciso — Limpando o vestido com as mãos enluvadas, fez-se em linha reta, olhando para baixo, onde Jack esta. — Com licença. — pediu, girando nos calcanhares.

— Espera! Qual é o seu nome? — Correu em sua frente, levando o cajado na mão direita. A primeira pessoa que o via, retém a única oportunidade de conversar com com alguém.

Ela franziu a testa e com um suspiro pronunciou:

— Rainha Elsa de Arendelle. — Usando as duas mãos fez um gesto de apresentação com o vestido.

— Oh, uma rainha. — Inclinou-se fazendo uma reverência profunda, e olhando no canto dos olhos continuou: — Prazer em conhecê-la, desculpe meus modos, milady. — acrescentou com um tom brincalhão.

A rainha levantou uma sobrancelha, pode sentir a atmosfera do lugar elevar-se para descontração.

Tendo-o defronte analisou suas vestes, consistindo em uma camiseta beje com abertura em V, um colete marrom e um calça da mesma coisa, para manter-se protegido do frio um poncho preto, com rastros de geada sobre ele.

— Tem algum significado? — interrogou o espírito do inverno.

Elsa não diz nada, parece perdida em seus pensamentos, sobretudo com sua aparência física, cabelos tão brancos, como a neve, em nenhuma circunstância encontrou pessoas com fios tão alvo, exceto seus avós, contra a luz da lua, as mechas se ilumininam como uma auréola.

— O quê? — Percebendo que precisava prestar contas com a falta de atenção, indaga, como se tivesse a pedir perdão a algo realmente grave.

— A menina de neve, tem algum significado?

Caminha num silêncio mediativo, ele ligeiramente atrás, sente insicera em dizer. Leva as mãos ao peito, com aquela elegância que possui, refletiu sobre sua pergunta, todavia a mente recorreu para si própria, e daí passou a considerar as íntimas reclamações do seu interior, a solidão.

— Nem tudo que fazemos tem um significado, Sr. Frost.

Seus olhares concentravam-se na figura de neve.

— Aprecio seus dons artísticos, ela parece ter vida.

Elsa principiou-se a sorrir.

— Mas me diga — apressou-se ela — ,os seus cabelos são brancos mesmos? — Precisava mudar de assunto.

— Interesse? — Ele mediu-a com o olhar, a boca transformou-se em um sorriso.

" Parecem flocos de neve". — pensou, adquirindo atenção brevemente para seus dentes.

— Talvez. — deu de ombros, ficando de costas a o guardião.

— Digamos que sou assim desde sempre, sem início.

— Difícil de acreditar. — zombou.

Precisando de uma desculpa para ficar na sua presença, Jack alegrou-se internamente pela curiosidade da rainha, os únicos que sabiam sobre si, eram o Homem na Lua e Sandman.

— Fazemos assim: Se eu lhe contar minha estória, você conta a sua. — Colocou o cajado nos ombros, seguido os passos da adulta.

— Expor minha vida a um estranho, meio presunçoso não?

— Um estranho? Isso me fere profundamente.

Desvia o olhar, fingindo estar com o ego ferido. A vê revirar os olhos, todavia presenteando-o com um curto sorriso, se antes o humor dela era sério, agora se tornou amigável.

— Bem, Sr. Frost, me deve respostas, afinal caiu sobre mim e — pausou a voz, laçando as íris azuis para a menina de neve, notou o cabelo defeito, assim como uma parte dos ombros, a queda dele fizera o estrago. Suspirando, negou-se acreditar na confiança qual envolvia-se nela, acreditando cegamente em um completo estanho — destrui parte de Snowflake.

— Snowflake? — interpela, confuso. E antes que tenha a resposta indentifica sozinho. — Deu nome a ela?

— Sim. — sussurrou.

— Floco de Neve… — riu ligeiramente, trazendo a singular atenção da soberana. — Soa bonito.

Alívio. Aguardava um julgamento ou risadas sarcásticas, no entanto aprecia a sua reação.

— Uma conversa e respostas esse é o trato. — afirma.

— E não se esqueça que devo ajudar com Snowflake. — Ajeitou o cajado na mão esquerda. — Temos um trato Elsa.

— Rainha Elsa para os desconhecidos. — intervém com sarcasmo.

— Só Jack para as rainhas. — retribuiu com o mesmo tom de fala brincalhona é um sorriso.

❆❆❆

Na ocasião quando sua irmã Anna a chamou para voltar para o castelo, com o tipo de preocupação nítida no semblante, Jack não estava mais lá, perguntou-se a razão dele sair sem dizer adeus, principalmente depois da longa conversa que tiveram, aquilo a chateou, todavia acreditou que o encontraria em breve.

Sentou-se na cama, após vestir-se com a roupa adequada para dormir, recordou-se do diálogo com ele, encontrar outra pessoa como poderes de gelo e neve a alegrou imensamente, e à medida que contavam-se suas estórias, remodelavam a menina de neve. Cada sorriso que o espírito lhe presenteava trazia-lhe um sentimento muito tempo esquecido, diversão.

Há três meses desde o incêndio, fechava-se a qualquer divertimento, as queimaduras em todo seu corpo, inclusive nas mãos tornaram cicatrizes da alma, arrependimento? Nunca, no que dia que salvou uma garotinha das chamas e entregou para mãe sentou-se útil, claro como rainha tinha deveres, como assinar papéis e prezar com o reino, contundo gostaria de fazer mais, por isso lembra-se das chamas consumido sua carne não a machucava, e sim o fato de ser julgada como um ser repugnante.

O amor nunca lhe bateu na porta de modo real, se antes encontrar alguém verdeiramente interessando em suas qualidades e não em um título da nobreza era complicado, depois do incêndio se tornou um desafio, acreditava que não precisava de um homem, e nunca precisou, contundo gostaria de ter um companheiro, o amor além do da irmã, admirava a relação dela com Kristoff, se pudesse viver algo parecido…

Sorriu. Encarou o floco de neve de gelo na costa da mão direita, Frost o fizera, seguidamente o relato do acidente e a perda dos poderes, um gesto carinhoso de sua parte, fazendo-a esquecer da queimadura n mão, ele não importou-se com aparência ou com a sensação de nojo que poderia causar ao olhar.

Depois de breves minutos dormiu, relembrando mais de uma vez a figura do espírito, como um sonho. Estando prestes a permanecer em um estado profundo de sono, sentiu um peso na curva de sua cintura.

— Anna volta dormir. — comentou sonolenta, de olhos fechados. E como o peso continuou a balançar seus ombros, com as mãos, ergueu a face. — Anna eu já disse… Espera…

Com espanto levantou-se da cama em um sobressalto, não era Anna, em vez disso na sua presença estava uma menina, aparetando três anos de idade, cabelos longos e brancos, assim como o vestido, em sua boca sustentava um sorriso brincalhão, todos fisionomia iluminava-se.

— Quem é você?

— Sou eu Snowflake, e gosto de brincar na neve.

Um tipo diferente de amor nasceu no coração de Elsa.


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Notas finais do capítulo

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Agradeço a você que reservou seu tempo para ler essa one.