Catarina de Lurton: Além do tempo. escrita por Anabella Salvatore


Capítulo 2
O tempo passa por cartas.




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Canoth...

Após longos dias de viagem Catarina pôde avistar a ilha tão conhecida.

A rainha sabia que não poderia continuar na Cália, Afonso a acharia. Sendo assim, decidiu sair dali e partir para Elixir, sua mãe tinha terras lá e o titulo de duquesa pertencia a Catarina, ela perderá o trono, contudo não perdeu o estilo de vida. Viveria tão bem quanto. 

Elixir, tal como a Cália abrigava diversos reinos, 9 no total. A mãe de Catarina era a filha de um rico monarca que, ao morrer, deixou terras e um palácio para a amada filha. Lá Catarina viveria. As terras faziam parte do reino de Canoth e tudo sempre foi mantido e cuidado. 

—Majestade, estamos chegando. -Comunicou um dos homens. 

—Sim, estamos. 

Assim que pisou em terra firme Catarina teve certeza que tudo mudaria. 

°

—Princesa Catarina! -Exclamou a governanta do palácio. 

—Acássia. -Cumprimentou. 

—Não sabíamos da chegada de vossa alteza. 

—Não deu tempo avisar, peço desculpas. Foi uma longa viajem, tem algum quarto pronto? 

A mulher começou a assentir e guiou Catarina até um dos quartos, ao maior.

Lá a rainha tratou de se instalar e descansar. 

°

Nas semanas que se seguiram Catarina tratou de entender como tudo funcionava. Viu as finanças, observou que havia pouco lucro. Alguns homens lhe falaram que as plantações com frequência eram invadidas, ela tratou de assegurar que isso não iria mais acontecer. Colocou soldados por todos os lados, homens começavam a construir moradias para os inúmeros homens e mulheres que vieram com ela. 

Catarina andava pela plantação observando os trabalhadores colherem os frutos quando viu um homem, um pouco gordo e robusto, se aproximar. Ele começou a gritar com alguém, um servo correu para ir buscar algo. O homem se sentou, como se fosse dono de algo. 

—Aqui está senhor. -Disse o servo, em suas mãos tinha dois sacos, cheios de joias. 

Antes que estas chegassem nas mãos dele, Catarina pegou. 

—Oras, devolva-me! Agora. -Disse sério e com desdém. 

Devolver... -Catarina experimentou a palavra. -Por que faria isso?

—Mulher tola, esses sacos me pertencem! Sou o dono dessas terras! 

—O dono? É mesmo. -Catarina fez sinal para que alguns guardas se aproximassem. -Desde quando? 

—Essas terras pertencem a minha família a anos. 

Catarina sorriu maldosa. Olhou para o servo.

O dono das terras costuma vir muito até aqui? Costuma levar muitas coisas?

—Sim, senhora. 

O homem ameaçou ir em cima de Catarina, quando um soldado apareceu portando uma lança. 

—O que diabos está acontecendo aqui? -Exclamou revoltado. 

—Eu que lhe pergunto, o que diabos está fazendo nas minhas terras? 

—Suas terras? Não seja tola, maldita mulher. 

Catarina gargalhou.

—Eu sou Catarina de Lurton, única herdeira dessas terras e dos títulos que carrega. Sou rainha de Artena! E você, quem é?

O homem se encolheu e não disse nada. 

—Quem ele é?- Perguntou a um dos trabalhadores.

—Ele é o Marques de Glórius, majestade. -Disse uma mulher. 

—Marques... -Disse com ironia e riu com desdém, ela tinha o azar de conhecer marqueses incômodos. -Entendo que se ache muito esperto por usurpar as finanças que me pertencem, não lhe condeno, nunca precisei de nada disso. Contudo, lhe dou um simples aviso, você não sabe quem eu sou, portanto, não vai querer arrumar nenhuma briga comigo. 

—Sim, senhora.

—As terras estão protegidas e quem ousar tentar adentrar sem ser convidado irá pagar um preço muito caro. 

Os soldados o escoltaram até os limites do terreno. Catarina pediu para que reunissem todos os serviçais e trabalhadores. 

—ESCUTEM COM ATENÇÃO! VOCÊS NÃO DEVEM ENTREGAR NADA A NINGUÉM QUE NÃO SEJA APRESENTADO POR MIM A VÓS. EU SOU CATARINA DE LURTON, ESSAS TERRAS ME PERTENCEM. 

Eles pareciam ter entendido, mas Catarina sabia que ainda havia alguns problemas no futuro. 

A alguns dias ela se sentia mal, com enjoos e tonturas. Sua pressão com frequência descia, foi em uma dessas tonturas que ela desmaiou e a governanta chamou um médico de confiança. 

—A duquesa tem sentido esses sentimos com frequência? 

—Sim. Desde que sai do meu reino. 

—Há alguma possibilidade de vossa graça ter engravidado? 

O ar sumiu dos pulmões de Catarina. 

—Sim, eu estava grávida, contudo, uma queda me fez perder a criança. 

—Como sabe que perdeu?

—O médico da corte, supôs que perdi ao ver muito sangue sair... 

—Nem sempre um sangramento significa a perda do feto. Entendo que ele supôs isso pois a senhora está nos primeiros meses, contudo, afirmo que a senhora está gravida. 

O coração de Catarina estava acelerado, será que Deus tinha mesmo lhe dado essa segunda chance? Tinha lhe presenteado com a vida do seu filho?

O médico receitou algumas ervas para controle dos sintomas da gravidez. 

°

Com o passar dos meses, Catarina observou sua barriga crescer com alegria. Sentiu os primeiros chutes do seu herdeiro, fez com que alguns servos rissem ao vê-lá tão emotiva, chorou pela morte de um cavalo, teve desejos estranhos. Inúmeros convites de bailes e recepções chegaram, mas foram todos negados. Catarina só queria se apresentar quando tivesse controle do seu emocional. 

As novas moradias estavam construídas, assim como, o jardim estava ao gosto dela, lembrava um pouco o de Artena, tinha um pequena labirinto e diversas flores. 

Quando as dores começaram ela estava lendo no jardim. Um dos soldados, que fazia a guarda dali, percebeu o desconforto da rainha. 

—Majestade, está bem? 

Catarina o olhou, uma careta se formou ao sentir uma nova contração, foi quando a bolsa estourou e ela, enfim, gritou. 

—Chamem um médico! O príncipe vai nascer. 

Eles correram, mas não dava tempo, Catarina gritava de dor. Acássia, a governanta, entrou no quarto com algumas servas. 

—O médico chegou? -perguntou Catarina, exausta. 

—Não senhora, creio que a senhora não irá aguentar muito e nem a criança, precisamos fazer o parto. 

Seu filho poderia morrer? Catarina se desesperou. 

—Façam! Agora.

A mulher preparou tudo e quando menos Catarina esperou o choro foi ouvido. 

—É um menino, majestade. 

—Um menino. -Sussurrou cansada.

Seus olhos queriam se fechar.

—Senhora?

Catarina não respondeu, seus olhos se fecharam e as mulheres gritaram. O médico, enfim, chegou, ao ver que o menino estava bem foi socorrer a rainha. Ela sangrava, porém, o sangramento foi contido e ela apenas dormia, cansada. 

°

Cália, em Montemor...

As coisas no reino não estavam bem, Afonso consegui controlar boa parte da população, contudo, Catarina tinha conseguido súditos leais que cobravam do rei explicações para o sumiço da rainha. Afonso não sabia o que fazer, nem ao menos sabia onde Catarina estava. Tinha mandado homens a procura dela e mandado cartas a todos os reinos da Cália. 

O conselho dos reis mandou uma carta de volta informando que o casamento estava anulado, o dinheiro só continuaria a ser dado por que eles pensavam que a rainha continuava gravida. E a criança perpetuará o sangue dos Monferato. Se eles souberam a verdade...  

Lucíola

Peço perdão pela demora em mandar outra carta, aconteceu algo muito importante que necessitava de toda a minha atenção. Meu filho nasceu. Sim, é um menino. Ele é forte, não chora muito e come como um touro. Está sentindo o meu orgulho? Não sei o que é isso, mas, eu me sinto muito bem. Parece que estou completa.  Ele se chama Heitor.

Lucíola riu, sentia vontade de pular de alegria. 

—Bem-vindo ao mundo, Heitor de Lurton e Monferato. Herdeiro de Montemor. -Sussurrou para si mesma. 

As terras prosperam, as plantações dão fartos frutos e a cada dia novos negócios são fechados. Aqui é diferente. As mulheres tem mais abertura e, se carregarem um bom titulo, são ouvidas e respeitadas como apenas os homens são na Cália. 

Não posso escrever mais, meu filho me chama. 

Até logo, 

Duquesa de Lurton.

Catarina, não usava seu nome, tinha medo que alguém percebesse. 

Lucíola riu, alegre. Algumas pessoas olharam para ela com estranheza. 

No castelo, Afonso estava concentrado com alguns papeis, quando Amália chegou. A plebeia vivia ali, o povo parecia está preparado para bate-lá e escorraça-lá da cidade. 

—Afonso, meu amor. -Chamou Amália. -Como está? -O beijou. 

—Tentando contornar a crise do reino. 

—O povo ainda está revoltado, mesmo com vocês mostrando certo controle. 

—Eles só pararam quando Catarina aparecer. 

—Espero que nunca. -Disse Amália com rancor. -Catarina é um monstro. Temos sorte de tê-lá longe. 

Afonso assentiu. Não acreditava que ela era um monstro, às vezes, ele se culpava pela morte do seu filho. O olhar de Catarina o assustava e o fazia ter pesadelos quando a noite chegava. 

—Logo anunciaremos nosso casamento. -Disse Amália o encaminhando para a cama. 

Querida Lucíola. 

Como estão todos? 

Já não sinto ódio, nem rancor, meu menino cresce forte. Recentemente ele deu os primeiros passos, pode imaginar minha alegria? 

A mulher riu. 

Ele já disse as primeiras palavras e, adivinha, foi "mamãe". Sente o meu orgulho? Meu menino será um grande rei. Ele tem os cabelos tão negros quanto o meu, mas tem os olhos dele. Me sinto em paz por está distante de Montemor, aqui meu filho não corre perigo, nem eu. 

Há alguma novidade a respeito do meu pai? Penso muito nele, espero que ele esteja bem. Se prepare, logo poderei trazer você e Dellano para cá. 

—O que ela está dizendo? -perguntou o homem curioso. 

—Fala do nosso príncipe... -Comentou sorrindo.- Disse que pretende nós buscar. 

—Espero que seja logo, ouvi de alguns homens que o rei pretende se casar com Amália. 

Lucíola fez uma careta. A raiva cresceu dentro de si. Não era a plebeia que deveria reinar e sim Catarina, ela deveria criar o príncipe no castelã, ele aprenderia a montar a cavalo ali. 

—O que me trás alguma paz é que Afonso não poderá ter essa alegria. Ele condenou a única chance que tinha por um amor que o cega. 

—Não poderá? 

—Sim, a plebeia não pode gerar herdeiros e, mesmo se pudesse, por um milagre ou bruxaria, eles nunca reinariam sobre Montemor.

Não tenho muito a acrescentar, poderia falar do meu filho e gastar muitos pergaminhos, no geral: Estou bem. Feliz. Espero vê-lá em breve. 

Duquesa de Lurton. 



 


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